Hoje parei diante de uma cena conhecida, dessas que a gente lê desde cedo, mas raramente enxerga com outros olhos. Era a história do Jovem Príncipe Rico, aquele que te procurou de coração cheio… de posses. Queria herdar a vida eterna, mas não pôde soltar as mãos do mundo. Escolheu ficar com seus bens. Uma escolha óbvia — e errada.
Fechei a Bíblia e fiquei pensando. Aquele rapaz talvez tivesse terras, ouro, servos e roupas finas. Mas depois me ocorreu: de que adiantava toda aquela riqueza?
Ele não podia acender um interruptor e encher de luz sua casa à noite.
Não podia tomar uma anestesia para a dor de dente, nem penicilina para uma infecção.
Não viajava de avião, não ouvia coral com órgão de tubos, não mandava mensagens nem fazia chamadas de vídeo.
Nunca lavou pratos com água quente saindo da torneira.
Nunca dormiu num colchão de molas, nem digitou uma carta.
Não fazia a barba com espuma, nem ouvia Bach num fone de ouvido.
E aí, Senhor, me veio a pergunta. Se ele era o "rico" da história… então, o que sou eu?
Tenho tanto. Tão mais do que ele.]
E, ainda assim, corro o mesmo risco de fazer a mesma escolha errada.
Porque as riquezas mudaram de forma, mas continuam com o mesmo efeito: preenchem as mãos para esvaziar o coração.
Hoje, eu moro numa época em que a geladeira canta baixinho, o celular me diz que horas são, e a água chega tratada e corrente até a minha pia. Vivo numa era de conforto — e distração. E a pergunta do Jovem Príncipe ainda ecoa: "Que farei para herdar a vida eterna?"
Senhor, confesso que às vezes sou esse jovem. Não mais com túnica e sandálias, mas com cartão de crédito e conexão wi-fi. Seguro firme o que tenho, hesito em soltar. E, no fim, corro o risco de sair triste — mesmo tendo tanto.
Ensina-me, então, a ser rico de outra forma:
Rico de tempo contigo.
Rico de compaixão.
Rico de renúncias que libertam.
Rico de céu por dentro.
E se sou mais rico que o Príncipe, que eu tenha também mais sabedoria. Para fazer a escolha certa, enfim.
Com gratidão e reverência,
Um aprendiz da renúncia.
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