“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós.” — João
1:14
Deus não foi surpreendido pela miséria humana. Sabia,
desde o princípio, até onde a liberdade que Ele mesmo concedera ao homem
poderia levá-lo. Ainda assim, criou. Criou sabendo. Amou desde antes, com total
ciência das quedas, dos desvios, das recusas, das dores que viriam. Nada disso
foi obstáculo. Pelo contrário — foi justamente diante da condição humana, tão
marcada por sua própria limitação, que Deus decidiu intervir. Não porque estivesse obrigado. Não porque se sentisse em
dívida. Mas porque quis. A iniciativa foi inteiramente d’Ele. O movimento
partiu do alto. A resposta viria da Terra, mas o primeiro passo veio do Céu.
A decisão foi tomada no coração da Trindade. O Pai, o
Filho e o Espírito não agem em desacordo. São um só Deus, uma única essência,
em três Pessoas distintas. E o plano — se é que se pode chamá-lo assim — era
que o Filho viria ao mundo. Ele não viria em glória, cercado de exércitos, num
deslocamento triunfal. Viria no silêncio, no pequeno, no comum. Viria como um
ser humano em tudo, exceto no pecado.
A decisão de Deus foi, antes de tudo, santa. Santa em
origem, santa em propósito, santa em forma. Quando decidiu vir ao mundo, Deus não agiu por impulso ou
por emoção. Ele não reagiu com surpresa ao pecado da humanidade. Ele não foi
empurrado por nenhuma necessidade. A vinda de Deus ao mundo foi fruto de uma
deliberação eterna, perfeita, santa.
A Trindade, em sua comunhão indivisível, não ignorava a
condição da Terra. Sabia da corrupção do coração humano, da violência, da
idolatria, da desobediência estrutural que atravessava gerações. Mas o olhar de
Deus para o mundo nunca foi contaminado por desprezo, e sim marcado por
compaixão sem conivência.
Deus não poderia unir-se ao pecado. Por isso, a vinda do
Filho ao mundo exigia um caminho especial, único, distinto de qualquer outra
entrada humana na história: uma concepção sem pecado, uma carne sem mancha.
Isso não era vaidade divina — era exigência da santidade.
No seio da Trindade, antes de tudo que existe, há Deus.
Deus uno, simples, pleno — e em Si mesmo comunhão viva: Pai, Filho, Espírito.
Três Pessoas. Um só Ser. O Pai gera o Filho. Não no tempo, mas na eternidade. O
Verbo é a Palavra que o Pai pronuncia eternamente, imagem perfeita, espelho sem
mancha, o Filho gerado, não criado.
E do amor entre ambos, procede o Espírito, Sopro, Vida,
Fogo, Laço. Ali, tudo é plenitude, ali, nada falta. Mas ali também — arde o
amor que cria.
Deus cria o mundo. E no mundo, o homem — à Sua imagem.
Mas o homem se quebra. Afasta-se. Cai. Não por erro da criação, mas por
liberdade ferida. O mundo, então, geme. E a humanidade, sem saber, clama: “Vem,
Senhor... Vem.”
É então que, na eternidade, a decisão se firma: descer.
Mas quem entre as Três Pessoas viria? Quem assumiria a carne? Por que o Verbo? Porque o Verbo é o Filho. E o Filho é a
imagem do Pai. É Ele quem revela o invisível, quem diz o que está escondido,
quem faz o Pai ser conhecido. Por que a Segunda Pessoa? Porque o Verbo é a
revelação do Pai. Porque o Filho é o enviado. Porque é próprio do Verbo se
tornar visível. Porque a Palavra, quando desce, salva. O Pai é a fonte. O Verbo
é a Palavra que revela o Pai. E o Espírito é o Amor que os une. Assim, é
próprio ao Verbo manifestar. E o mistério da Encarnação é revelação em carne.
“Ninguém jamais viu a Deus; o Filho unigênito, que está
no seio do Pai, é quem o revelou.” (João 1:18)
Além disso: o pecado entrou no mundo pela desobediência
de um homem (Adão). Por justiça e amor, um novo homem obediente o resgataria.
Mas esse novo homem não poderia ser um simples justo: teria que ser Deus feito
homem.
Eis o Verbo: Filho eterno, obediente, revelador, ponte
entre o invisível e o visível. Somente Ele poderia descer — e subir de novo,
levando-nos consigo.
O Verbo desce. Não sai do céu, porque nunca deixa de
estar com o Pai. Mas entra na história, sem deixar a eternidade. Assume a carne, sem perder a divindade. Desce: do trono
da glória à pobreza de um ventre. Da luz inacessível ao escuro de uma célula.
Da comunhão eterna à fome, ao frio, ao pranto humano.
Desce: para ensinar a caminhar. Para ensinar a morrer. Para ensinar a amar. E o
faz como Verbo, porque o Verbo não cala. O Verbo diz. O Verbo se faz ouvir — e
ver — e tocar.
Ele desce. Não deixa de ser o que é, mas assume o que não
era: a nossa carne. Não abandona o céu, mas entra na história. Torna-se
localizável, nomeável, vulnerável. Aprendeu a andar. Caiu. Teve amigos. Chorou
por Lázaro. Sentiu sede. Perdoou. Morreu.
Se Ele já habitou o ventre de uma virgem, pode habitar o
vazio do meu coração. Se Ele aceitou ser carne, também aceita tocar minhas
feridas.
Por isso, o Espírito Santo é quem realiza a concepção.
Não há mistura de linhagem ou legado humano na origem de Cristo. O que há é um
milagre silencioso e limpo. O Altíssimo cobre Maria com a Sua sombra, não para
violar, mas para consagrar. O que começa ali é, desde o primeiro instante,
sagrado.
O Filho eterno assume a carne, mas não assume a culpa.
Ele entra na história, mas não herda o pecado de Adão. Desde a primeira célula,
o que cresce em Maria é santo. O anjo diz: “O ente santo que de ti há de
nascer...” — e essa expressão não é retórica. É definição.
Cada passo da Encarnação foi envolvido por santidade. O
ventre de Maria tornou-se lugar de presença, mas também de separação. Aquele
corpo, embora humano, era diferente. Não em estrutura biológica, mas em
identidade: ali estava o Santo de Deus.
Durante a gestação, o Filho eterno não apenas se deixava
formar — Ele santificava, com Sua presença, o próprio processo. A placenta, o
sangue, os tecidos, o coração que começava a bater, os pulmões que ainda não
respiravam — tudo isso acontecia de forma comum, mas tudo era conduzido pelo
Espírito. O que ali se formava não estava separado da natureza humana, mas
estava totalmente separado do pecado.
A santidade do Filho não é uma qualidade periférica. É a
própria essência de Sua presença na Terra. Ele viria viver entre os pecadores, mas sem nunca ser um
deles em natureza caída. Ele caminharia entre os homens, mas nunca se
corromperia. Seria tentado, mas nunca cederia. Seria tocado pela morte, mas sem
jamais ser vencido por ela.
A decisão de vir, portanto, é inseparável da santidade
que acompanha cada gesto de Deus. Ele não veio para adaptar-se ao mundo, mas
para revelar o Pai em pureza absoluta. Ele não encarnou para ficar semelhante a
nós no erro, mas para nos devolver à semelhança que havíamos perdido.
A santidade de Cristo não o afastou da humanidade — foi o
que permitiu a aproximação verdadeira. Porque só um santo pode se entregar
pelos profanos. Só um puro pode limpar os impuros. Só um sem culpa pode
carregar a culpa alheia.
Ao vir ao mundo, Deus não se despediu de sua santidade —
Ele a trouxe consigo. Ela brilhou no ventre, no parto, na infância, nas
palavras, nos gestos, na cruz e no túmulo vazio. A decisão de vir foi livre,
amorosa e santa. Porque o que desce do Céu não desce para negociar. Desce para
transformar.
A decisão de Deus foi tão concreta quanto radical.
Envolveria tempo, carne, sangue, história, maternidade, crescimento,
obediência. O Filho não apenas visitaria a humanidade: Ele a assumiria. De
dentro. Por inteiro. Corpo, alma, mente, emoções, fragilidade, tudo. A decisão
envolvia esvaziar-se. Não abdicar da divindade, mas escolher não usá-la em
proveito próprio. Escolher depender, crescer, obedecer, sofrer.
Ele aceitaria nascer. Cresceria no ventre de uma mulher.
Submeter-se-ia às condições normais de todo ser humano: uma placenta, um cordão
umbilical, o sangue da mãe alimentando seu sangue nascente. Submeter-se-ia ao
tempo, à lentidão do desenvolvimento fetal, à vulnerabilidade do parto, à
dependência do cuidado alheio.
E isso era apenas o início. A decisão envolvia muito
mais: o frio das noites, a poeira das estradas, a humilhação das dúvidas, a
hostilidade dos próprios irmãos de fé. O cansaço físico, a fome, o suor, as
incompreensões.
A decisão incluía também a cruz — não apenas a madeira,
mas tudo o que a antecedia: traição, abandono, solidão, angústia, o aparente
silêncio de Deus. Mesmo assim, Ele veio. Porque essa era a forma perfeita de
amar. Não à distância, mas de perto.
Não de cima, mas por dentro. Um Deus que decide vir
pessoalmente não está interessado em manter-se na segurança do trono. Está
comprometido com o destino de suas criaturas.
Era uma tarde de silêncio espesso, como se a própria
criação segurasse o fôlego. Do lado de fora, o mundo seguia seu curso — entre
sons, pesos e distrações. Mas do lado de dentro, um homem sentava-se à beira de
si, imerso numa pergunta: Como pôde o Verbo eterno habitar uma célula humana?
Não era curiosidade. Era reverência.
Uma pergunta feita de joelhos, como quem se aproxima de
um véu sagrado que ninguém pode rasgar, apenas tocar com os olhos da alma.
O Verbo. Não uma palavra qualquer, mas a Palavra antes de
todas as palavras. O Som que antecede o tempo, o Sentido que dá sentido a tudo.
E, ainda assim, esse Verbo eterno — aquele que era desde sempre, que tudo
criou, que nada precisava — decidiu caber.
A Encarnação não foi um evento simbólico. Foi o Infinito
comprimido em carne. Foi o Altíssimo ajoelhando-se para entrar pela porta
estreita da humanidade. Foi Deus dizendo: "Eu quero ser um de vocês."
No ventre da Virgem, o invisível se tornou visível. Não
por milagre exterior, mas por amor que se dobra, por humildade que desce, por
compaixão que deseja tocar a carne com as próprias mãos.
E porque Ele entrou no nosso corpo, o nosso corpo se
tornou caminho, caminho de fé, caminho de redenção, caminho de glória.
Hoje, ainda que as células envelheçam, a verdade
permanece: o Verbo já habitou a carne. E por isso, toda carne pode ser habitada
por Deus.
Como pôde o Verbo eterno caber numa célula? Como coube o
Infinito no útero de uma jovem virgem, no silêncio de um povo oprimido, no
exílio de um mundo partido?
O Verbo de Deus não assumiu uma pessoa humana, mas a
natureza humana. Em outras palavras: Jesus não é um homem que se tornou Deus. É
Deus que se revestiu de humanidade, criando-a especialmente para Si no seio de
Maria.
Segundo Billy Graham, o maior acontecimento da história
não foi o homem subir e pisar na lua, foi Deus descer e pisar na Terra. Essa
citação destaca a visão cristã de que a encarnação de Deus em Jesus é o evento
mais significativo da história, pois representa a reconciliação entre Deus e a
humanidade.
A meta da vida cristã não é apenas “salvação”, mas
participação na vida divina. O corpo humano é digno, pois foi assumido por
Deus. Se Deus assumiu a carne humana, toda carne foi elevada.
Nunca antes e nunca depois algo semelhante aconteceu ou
acontecerá: Deus se uniu hipostaticamente a uma natureza humana. Ele não
"entrou" numa pessoa pronta, nem criou um corpo para
"usar". Ele passou a ser aquele homem.
O corpo já não é prisão da alma, mas templo de Deus (1Co
6:19). O sofrimento humano pode se unir ao de Cristo, e ter valor redentor (Cl
1:24). A fragilidade não é mais maldição, mas possibilidade de
encontro com o Eterno.
A Encarnação revela o valor do ser humano. A Encarnação
nos compromete com o concreto, o corporal, o pobre, o ferido — pois é ali que
Deus se esconde. A Encarnação não é apenas um fato do passado, mas uma
realidade viva que toca cada dimensão da fé, da oração, da Igreja e do ser
humano.
O Filho, o Verbo eterno, não foi criado — Ele sempre
existiu, com o Pai e o Espírito. Mas, no tempo marcado, Ele assumiu a natureza
humana. Não perdeu sua divindade, mas uniu a ela nossa humanidade. Jesus
Cristo, o Filho eterno de Deus, não deixou de ser Deus, mas assumiu também a
condição humana — verdadeiramente Deus, verdadeiramente homem.
União hipostática, esse é o nome teológico: a união das
duas naturezas — divina e humana — em uma única Pessoa, Jesus Cristo. Não se
misturam nem se confundem. São completas: Jesus tem uma mente divina e uma
mente humana; uma vontade divina e uma vontade humana. Sente fome, cansaço, dor — como homem. Mas conhece os
corações, acalma os ventos, perdoa pecados — como Deus.
O processo da Encarnação se deu sem confusão: a natureza
divina e a humana não se misturam como se fossem um híbrido; sem mudança:
O Verbo não se transformou em homem, mas assumiu a
natureza humana; sem divisão – não há duas pessoas em Cristo (uma humana e
outra divina). Sem separação: as duas naturezas estão unidas perfeitamente na
mesma Pessoa.
E onde começa esse milagre? Não no palácio. Não no
templo. Começa num útero. No ventre da Virgem, no escuro do corpo de uma mulher
silenciosa, Deus faz morada. Ali, no segredo do instante da concepção, o Verbo eterno
é envolvido por uma célula. Não por metáfora, mas por realidade. Ali, o
Infinito habita um embrião. A eternidade pulsa em sangue humano. O Santíssimo
repousa na carne mais pequena.
Na divisão celular daquela nova vida, já se ouvia — no
céu — o eco da cruz. Cada membrana que se forma carrega dentro de si a
salvação do mundo. A célula se divide. O embrião cresce. A vida toma forma. E
Deus está inteiro ali.
A célula se torna céu. Na célula fecundada em Maria, Deus
encontra morada. Ali, a Trindade se inclina. Ali, o Verbo repousa. Ali, o
eterno começa a bater como coração humano.
Toda a descida se cumpre ali. E dali, começará a subida:
pelo nascimento, pela vida, pela cruz, pela ressurreição.
Desde o primeiro suspiro no ventre de Maria até o último
na cruz — o Verbo estava entre as células. Um processo que começou no seio da mulher. Desde o
primeiro instante do embrião gerado em Maria, ali estava Deus. A humanidade foi
criada já unida à Pessoa divina. Não houve "espera", nem adoção
futura. Foi um ato instantâneo e completo. Não foi algo simbólico ou apenas
espiritual. Jesus foi um embrião. Teve placenta. Cresceu no ventre de Maria.
Nasceu com sangue, dor e choro.
“Não foi por sangue de bodes nem de bezerros, mas pelo
seu próprio sangue que ele entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, e
obteve eterna redenção.” — Hebreus 9:12
Entrou num tempo. Entrou num ventre. Entrou numa célula.
Não um templo imenso. Não um palácio. Mas uma célula humana. Uma partícula viva, frágil, microscópica — e ali, Deus
estava inteiro em sua divindade, e inteiro em sua entrega.
Aquela primeira célula dividiu-se. O embrião cresceu. E
com ele, a eternidade foi tomando forma. Cada nova célula que se multiplicava
era também um sim de Deus à matéria. Cada pulsação do pequeno coração de Jesus
era uma aliança entre o céu e a terra.
Não há poesia suficiente para isso. Não há explicação que
baste. Mas há silêncio. O mesmo silêncio que Maria ouviu quando o anjo partiu.
O mesmo silêncio que envolveu José quando aceitou o mistério. O mesmo silêncio que hoje envolve todo aquele que
contempla que Deus já foi uma célula.
E se Ele pôde habitar um embrião, então pode habitar
também um coração cansado. Uma memória ferida. Uma esperança frágil.
No mais profundo silêncio da criação, num momento que
nenhum olho humano viu, começou a correr, pela primeira vez, o sangue de Deus.
Não em rios, nem em sacrifícios antigos, mas dentro do corpo de Maria. Ali, no
espaço oculto do útero, veias começaram a nascer. Minúsculas. Transparentes.
Vivas. Um fio vermelho, como linha bordando o invisível, serpenteava por dentro
da carne recém-tecida. A cada segundo, multiplicava-se. E em cada ramificação —
mistério.
Veias, artérias, vasos… sendo traçados não por engenharia
genética apenas, mas por um desígnio eterno de amor. Era o mapa sagrado do
Redentor. Era a estrada do Calvário em formação. Porque aquele sangue — ainda
silencioso — um dia seria derramado.
Maria não sabia de tudo. Mas seu corpo sabia. A natureza
sabia. O Espírito sabia. Ela sentia crescer dentro de si algo que não era
apenas dela, e, ao mesmo tempo, a tornava plena.
Seu ventre não apenas nutria —santificava. O sangue que
se formava em Jesus não era herança de José, nem dom da carne de um pai humano. Era um sangue inédito, formado de maneira sublime e
misteriosa a partir dela, com a sombra do Altíssimo a fecundar.
Cada gota daquele sangue seria: – penhor de redenção, –
preço de resgate, – sinal de nova aliança, – vida para os mortos, – perdão para
os caídos.
Aquele sangue — ainda em gestação — já carregava toda a
humanidade. Porque Deus se fez corpo. E o corpo tem sangue. E o sangue circula.
E a circulação é vida.
Talvez as primeiras pulsações tenham acontecido num
momento comum, numa tarde simples, enquanto Maria lavava as mãos, ou caminhava
sozinha, ou dormia. E, dentro dela, Deus pulsava.
O primeiro batimento cardíaco de Jesus não foi apenas
fisiologia. Foi liturgia escondida. Foi o Sagrado entrando no ritmo da criação.
Desde então, nenhum sangue humano seria indiferente.
Nenhuma veia seria banal. Nenhuma lágrima seria esquecida. Porque Deus teve
sangue. E esse sangue começou a correr no ventre de Maria.
Tudo isso é parte da encarnação. Não se trata de teatro
divino, mas de entrega. É a realidade mais profunda que já aconteceu na
história do mundo. O Verbo não parece humano. Ele é. Tem olhos. Tem pulmões.
Tem sede, tem fome, tem sono. Tem coração. E em tudo isso, permanece Deus. Não
há momento em que Ele “se torne” divino. Não há instante em que deixe de sê-lo.
O processo da Encarnação culmina na Cruz — onde o Deus
encarnado entrega sua vida por amor. Mas não termina aí. O corpo glorificado do
Cristo ressuscitado ainda é humano. Ele ascende aos céus como Deus e como
homem. E um dia voltará, em corpo e alma, glorioso e visível, para reinar.
Nunca mais poderemos dizer que Deus está distante. Ele já
andou entre nós. Sentiu o que sentimos. Tocou as feridas da humanidade. Elevou nossa carne à dignidade do Céu. Hoje, há um homem
— Jesus, glorificado — no coração da Trindade. E isso muda tudo.
"Desci do céu, não para fazer a minha própria
vontade, mas a vontade daquele que me enviou." — João 6:38
Se Ele já foi célula, pode refazer as minhas. E se Ele
desceu tanto — do trono à célula — é porque deseja subir conosco da dor à
glória.
O mistério permanece. Não compreendo. Mas creio. Não
explico. Mas me ajoelho. Porque o Verbo ainda habita a matéria. Ainda atravessa
o tempo. Ainda se dá — em amor, em gesto, em Espírito. E ainda hoje, entre as
minhas próprias células, há lugar para Ele.
Não oramos para um Deus distante. Orar é falar com Alguém
que já respirou o mesmo ar que nós. Jesus nos ensina a orar como quem conversa
com o Pai de dentro do corpo, e nos convida a orar com o corpo: joelhos, mãos,
voz, lágrimas. (Pr. Maurício)
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