sábado, 23 de agosto de 2025

Morte e Ressurreição:Travessia e Graça; Ausência e Plenitude!

A morte não é criatura, não é criação, não tem essência própria. Ela não possui corpo nem voz. Ela é apenas ausência de vida, vazio, silêncio que se instala quando a presença se retira. É sombra que se estende quando a luz se oculta, que só existe quando o sol se esconde e a presença se afasta. É o deserto que surge fora do rio. Não foi criada por Deus como fim, nem faz parte de seu plano original. Ela é consequência — consequência da separação, da escolha humana, do pecado que rompeu a comunhão com a Fonte da vida.

Mas mesmo nesse vazio, Deus está. A morte, por mais intrusa que pareça, não tem domínio sobre a vida que vem d’Ele. A morte revela o espaço que o homem perdeu, a fragilidade da forma, o eco do silêncio. E é justamente nesse espaço que Deus derrama Sua vida eterna e abundante, que preenche o vazio e transforma a ausência em presença. A morte, então, é bem-vinda, não como inimiga, mas como travessia, como porta que se abre para a vida plena. É a ausência que permite a presença plena de Deus.  A morte, assim, é ao mesmo tempo consequência e oportunidade: consequência da ruptura humana, oportunidade para que a graça divina se manifeste. O homem não fica vazio. O vazio não persiste. A ausência não domina. A Vida divina preenche, restaura e transborda.  

Assim como a cruz é o remédio para o pecado, a morte cumpre sua função dentro da graça de Deus: é o remédio que redime, espaço para a vida abundante de Deus. Na obra divina ela revela, mostra o vazio, a ausência, a fragilidade do homem, mas que não tem domínio sobre a vida divina. Ao contrário, ela permite que a vida se manifeste. Deus não se alegra na morte, no vazio, na solidão, na separação ou na ausência que ela traz. Ele preenche, corrige, transforma. Onde a morte deixa espaço, Deus insere Sua vida abundante, eterna, inextinguível. A morte é travessia, é sombra que, ao encontrar a luz, revela a glória da vida eterna. É silêncio que se enche de canto, ferida que se converte em caminho, noite que anuncia o amanhecer.

Cada homem está ordenado a morrer — esse é o desígnio temporal —, e a morte deve ser reconhecida com consciência. Mas reconhecer não é temer. Não é aceitar que a ausência seja definitiva. Ao contrário: é saber que, no momento em que ela se manifesta, Deus entra e preenche o vazio com Sua vida, assim como o Filho de Deus, ao ressuscitar, “dissipou a morte” como poder de separação.

Atravessá-la não é perder, mas descobrir que nada pode separar a essência humana da vida eterna. É a travessia que revela o infinito, a ausência que se converte em plenitude, o silêncio que se enche do sopro divino.

E então, diante da morte, podemos chorar e alegrar-nos: chorar pela forma que se desfaz, que se vai, alegrar-nos pela vida que permanece, que se revela, pelo sopro que preenche, pela luz que jamais se extingue, pela vida que jamais se ausenta.  O corpo se desfaz, a forma se curva, mas o espírito que se une a Deus se ergue. Cada instante de ausência é preenchido com presença; cada sombra, com luz; cada vazio, com o sopro divino.

O homem não fica só. O vazio não persiste. A ausência não é soberana. Onde a morte tenta se instalar, Deus preenche. Onde a forma se vai, a essência permanece. A Vida divina não conhece interrupção, não admite derrota, não aceita que o homem permaneça esvaziado.          
A morte é ausência, sim. Mas na presença de Deus, não é fim. É travessia, é caminho, é espaço que a graça transforma em plenitude. Ela não domina, não encerra, não apaga. Ela apenas revela o que já existia em potencial: a vida de Deus, que é infinita, completa e eterna.

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