“Afim de que o homem de Deus seja perfeito (teleios) e
perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (II Timóteo 3,17).
Com uma só oferta, Cristo, o cordeiro abatido no calvário, tornou perfeitos para sempre os que são santificados!
O adjetivo grego “teleios” ocorre 19 vezes no NT e pode ser traduzido por “perfeito” ou por “maduro”, dependendo do contexto. Teleios = aquilo que é plenamente desenvolvido; inteireza; completude. Raramente significa “perfeito” num sentido absoluto. “Teleios” contrasta com a criança ou bebê (I Co.3,1). Assim, é melhor entendermos “teleios” como “maduro”.
Por isso, o homem só pode desempenhar plenamente tal propósito andando com Aquele que o criou: “anda na minha presença…”.
Em Mt 19:21, no convite que Jesus faz ao jovem rico, também temos “teleios” relacionado à caminhada: “se queres ser perfeito… vem, e segue-me“. Andar com o Senhor é a condição para ser perfeito. Abraão decidiu ouvir a voz de Deus, mas o jovem rico considerou importante demais tudo o que possuía e não alcançou a perfeição.
Aquele que se converteu a Cristo pode dizer: “Eu sou uma nova criatura, uma nova criação, e tudo o que Deus faz é perfeito”.
Quando Deus criou o homem, Ele o colocou no jardim do Éden, que era uma perfeição absoluta, havia harmonia absoluta, não havia conflitos na natureza, não havia confusão alguma. Tudo o que Deus criou era perfeito. A Palavra diz, no livro de Gênesis, que tudo quanto Deus criava, ele dizia: “É bom”. Tudo o que Deus fez e faz é perfeito, maravilhoso.
Mas quando o homem pecou, virou as costas para Deus. O Senhor poderia tê-lo destruído, acabado com ele, porém, fez um plano glorioso de restauração. O plano de tomar o que sobrou e restaurar de tal forma, que o homem pudesse refletir, aqui na terra, a própria imagem do Criador.
Talvez você se olhe no espelho e diga: “Ah, eu estou tão acabado, meu semblante é feio, eu não estou tão bem”, mas você não é somente o lado de fora, você é o que é do lado de dentro. Nós somos um ser espiritual. Quando você se converteu, nasceu de novo. Naquela hora, Deus plantou dentro de você a realidade da vida de Jesus: a perfeição.
Satanás era perfeito, e o Senhor até dizia que ele era perfeito, mas, ao se rebelar, ele deixou de ser perfeito, e agora ele procura destruir a perfeição de Deus na vida das pessoas.
A vontade de Deus é que você seja perfeito, por isso que Jesus perguntou: “Você quer ser perfeito?” Você quer refletir, realmente, a minha vontade? Em Colossenses 3:14 está escrito: “[...] acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição”.
Na realidade, o mistério do Homem só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente. Adão, o primeiro Homem, era efetivamente figura do futuro, isto é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu amor, revela o Homem a si mesmo e descobre-lhe a sua vocação sublime.
A esta humanidade caída, como ovelha perdida, o Filho de Deus, enviado pelo Pai, vem buscar. Na plenitude dos tempos, o novo Adão maravilhosamente restaurou, em si mesmo, o que o velho Adão havia perdido e institui, com a raça de Adão, uma nova e eterna aliança que não pode ser quebrada.
A imagem de Deus resplandece na natureza humana pela sua inteligência, liberdade e consciência moral(...) ser capaz de ser chamado por Deus(...). Na verdade, esta imagem, obscurecida e deformada pelo pecado, foi maravilhosamente restaurada por Cristo, ‘que é imagem de Deus invisível, primogénito de toda a criatura’ (Col. 1,15). Nele foram criadas todas as coisas no céu e na terra, e tudo subsiste nele (Col. 1,16-17).
Assim, todas as esperanças, como todo o fim supremo da sociedade humana, não podem ser encontradas senão em Cristo, pelo qual Deus quis reconciliar tudo, pacificando todas as coisas pelo o sangue da sua cruz (Col. 1,20) para a liberdade da glória de filhos de Deus (Rom. 8,21).
Todas as coisas criadas chamam o Homem para Deus (Jo. 1,3; Col. 1,17). Porém, em Cristo Jesus, Deus fala diretamente ao Homem que pode, assim, verdadeiramente o ouvir e reconhecer. Por Ele e n'Ele tudo foi criado, Ele que é o Verbo do Pai (Col. 1,16). Vindo ao mundo, o Verbo encarnado revelou o pleno sentido das coisas criada.
Na verdade, Cristo Jesus, o único Filho de Deus, tornou-nos participantes de uma vocação mais elevada (Hb. 13,14): para que, acreditando n'Ele e no Pai que o enviou, tenhamos a vida eterna.
Sobre o sentido do Homem na revelação de Jesus Cristo, em toda a criatura humana Deus reconheceu a sua ‘imagem e semelhança’ (Gn. 1,26).
Para restituir o esplendor original e a verdadeira dignidade, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher (Gal. 4,4). Como Homem, Jesus Cristo foi constituído pessoa na sua própria relação pessoal com o Pai. N'Ele Deus revelou, de modo perfeito, ao mundo, como deve ser o Homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Também ‘pela encarnação, a natureza humana foi levada à sua máxima perfeição. Assumindo a nossa humanidade, Jesus Cristo foi constituído como o primogénito dos filhos de Deus, partícipe da imensa comunidade dos Homens, seus irmãos. Portanto, Cristo é o único que conhece o Homem, só Ele conhece verdadeiramente o Homem por dentro.
O mistério da encarnação integra todos os valores terrenos e humanos, incluindo as conquistas da técnica e da civilização. Neles, a Igreja deve descobrir a ação dinâmica de Deus e ver a continuação da ação criativa e transformadora do Verbo incarnado.
A revelação divina não só manifesta o que é Deus, mas também o que é o Homem na sua plenitude. O mistério de Cristo não é só a epifania de Deus, mas também a epifania da plenitude do Homem. Manifesta profundamente qual é a vocação do Homem para a glória de Deus...e a sua colaboração na criação e no domínio da terra. Cristo é na verdade novo Adão e o rei do mundo. A missão da Igreja deve situar-se na linha da missão cósmica de Cristo: não é apenas um serviço de solidariedade, mas tende à redenção e transfiguração do mundo.
Uma escatologia de dimensão cósmica, com incidência na história, fundada no acontecimento de Cristo aparecerá como transformação gloriosa da realidade histórica presente e assim responder-se-á positivamente à escatologia triunfante do marxismo, como realização secular das aspirações do Homem. É preciso falar do Homem porque a Igreja existe para o Homem e vice-versa. A Igreja deve amar o mundo como Cristo o amou. Tenhamos uma liturgia cósmica para cantar verdadeiramente a glória de Deus.
O Homem não se conhece a si mesmo: Para si mesmo, de fato, o Homem é um ser cheio de mistério. Criado à imagem de Deus, ele não consegue entender-se totalmente se não no Homem perfeito, Cristo Jesus (Ef. 4, 13), que não é apenas, como todos nós, imagem de Deus, mas que é, ele próprio, pessoalmente, a Imagem do Deus invisível e único Filho do Pai.
O Novo Adão (1 Cor. 15, 45), ilumina todos os Homens que vêm a este mundo (Jo. 1, 9), e só ele sabe o que está no Homem (Jo. 2, 25).
Na verdade, o mistério do Homem não se torna totalmente claro, exceto através da contemplação do mistério do Verbo encarnado. Adão, o primeiro Homem, era de fato "a figura daquele que havia de vir", Cristo, o Senhor (Rm. 5,4). Então, é Cristo, o novo Adão, o Homem perfeito, quem realmente revela o Homem a si mesmo, ao mesmo tempo que nos revela Deus e o amor do Pai: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo. 14,9). Ele é para nós o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo. 14,6).
Olhando hoje o mundo, vê-se logo que o nó mais profundo de todos os problemas é sempre o Homem. Por isso, a antropologia cristã é um elemento essencial em todo o esquema: todo ele se situa na perspectiva do Homem e sua condição. E, para dar resposta às aspirações do mundo de hoje e aos problemas suscitados pela atual mudança da humanidade, o esquema procura expor o que a Igreja pensa do Homem e da sua salvação. Procura ver o que a escritura lhe diz sobre o Homem e verifica que, só à luz do mistério de Cristo, é que se pode compreender o que é o Homem e qual a sua vocação.
Falar do Homem significa mostrar Cristo como origem e fonte da perfeição humana, e igualmente como modelo supremo: por isso é que é em Cristo que o capítulo sobre a vocação do Homem é concluído, no qual se encontra a palavra última e suprema da verdade, que não exclui a própria cruz.
Só em Cristo, no mistério da sua encarnação, se revela plenamente o que é o Homem criado à imagem de Deus e qual é o seu destino. Deve ficar bem claro que Cristo, assumindo a morte e ressuscitando de entre os mortos, como primogênito, mudou radicalmente o destino do Homem, o que é ilustrado pelo paralelismo paulino entre Adão e Cristo. A conformidade a Cristo, imagem invisível, começa no batismo e será finalizada pela configuração com Ele na ressurreição. Tal antropologia poderá responder aos problemas levantados pela filosofia existencialista.
Que se diga explicitamente que esta irrupção de Cristo Senhor no mundo ou na pessoa, é qualquer coisa de totalmente novo. Jesus é Deus e Homem e Redentor: não se pode chegar nunca a Cristo por meio de uma demonstração filosófica e nem sequer por um mero desejo humano.
Enquanto destinatário do amor do Pai, o Homem consegue saber, até as últimas consequências, quem é ele mesmo. A verdade revelada é verdade de salvação. É precisamente esta verdade a que nos diz quem é o Homem, ao dar-nos a conhecer a que está chamado. Enquanto destinatário da revelação salvífica, o Homem, é por conseguinte, também, neste modo derivado, objeto da mesma.
Razão e meta da criação, Cristo coloca em verdadeira luz a dimensão de revelação da mesma criação. A criação está voltada para Cristo. Ele próprio é a plenitude da criação, a palavra final da palavra criadora, o mais alto desfecho e plenitude da obra criada, sobretudo do Homem, que, em Cristo, encontra sua nova e verdadeira imagem. Jesus é assim, o verdadeiro Homem, o segundo, e autêntico Adão. Cristo e ninguém mais, é que se aplica o ‘Ecce Homo’ (1Cor. 15, 21; 45-49).
Imagem de Deus invisível (Col. 1,15), Ele é o Homem perfeito, que restitui aos filhos de Adão semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que, n'Ele, a natureza humana foi assumida, e não destruída, por isso mesmo, também em nós, ela foi elevada a sublime dignidade. De fato, pela sua encarnação, o Filho de Deus uniu-se de certa forma a cada Homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado (Hebr. 4,15).
Vários resultados que a paixão trouxe para o Homem:
Primeiro, o Homem conhece, por este fato, quanto Deus o ama, sendo assim incentivado a amá-lo também, e é aí que está a perfeição da salvação humana.
Segundo, deu-nos o exemplo de obediência, de humildade, de constância, de justiça e das demais virtudes que demonstrou na paixão de Cristo, necessárias todas para a salvação humana. É o que diz a primeira Carta a Pedro (2,21): 'Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos as suas pegadas'.
Terceiro, Cristo, pela sua paixão, não apenas livrou o Homem do pecado, mas também lhe mereceu a graça santificante e a glória da bem-aventurança.
Quarto, mostra-se ao Homem, por esse fato, que é ainda mais necessário ele se manter imune ao pecado, segundo a primeira Carta aos Coríntios (6,20): 'Alguém pagou o preço do vosso resgate. Glorificai e levai a Deus no vosso corpo'.
Quinto, esse fato conferiu uma maior dignidade ao Homem. Ou seja, como o Homem fora vencido e enganado pelo diabo, seria também um Homem a vencer o diabo; e como o Homem merecera a morte, seria também um Homem, ao morrer, que venceria a morte.
Portanto, foi mais conveniente que fossemos libertados pela paixão de Cristo do que somente pela exclusiva vontade de Deus. Isso foi também conveniente para vencer a soberba do diabo, que é o desertor da justiça e o amante do poder, a fim de que Cristo vencesse o diabo e libertasse o Homem, não apenas pelo poder da sua divindade, mas também pela justiça e abatimento da paixão.
Ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra - e não tem outra - Deus disse-nos tudo ao mesmo tempo e de uma só vez nesta Palavra única e já nada mais tem para dizer. Porque o que antes disse parcialmente pelos profetas, revelou-o totalmente, dando-nos o Todo que é o seu Filho. E por isso, quem agora quisesse consultar a Deus ou pedir-Lhe alguma visão ou revelação, não só cometeria um disparate, mas faria agravo a Deus, por não pôr os olhos totalmente em Cristo e buscar fora d'Ele outra realidade ou novidade.
Cristo é a verdade no sentido de que ser a verdade é a única verdadeira explicação do que a verdade é.
Portanto pode-se perguntar a um apóstolo, pode-se perguntar a um cristão, ‘o que é a verdade’ e em resposta à pergunta o apóstolo e esse cristão apontarão a Cristo e dirão: olha para ele, aprende dele, ele era a verdade. Isso significa que a verdade no sentido em que Cristo é a verdade não é uma soma de afirmações, não é uma definição etc., mas uma vida. E, portanto, entendida do ponto de vista cristão, a verdade naturalmente não é saber a verdade, mas ser a verdade. No momento da encarnação do Verbo e, particularmente, na gloriosa ressurreição de Jesus Cristo, que é o ‘primogénito entre os mortos’ (Col. 1, 18; Ap. 1,5), a criação inteira adquiriu um novo e pleno sentido, cumprindo-se, n'Ele, as expectativas que ansiosamente esperavam, a revelação dos filhos de Deus (Rom. 8,19).
Por meio de Jesus Cristo e através do mistério da redenção, continua, em direção ao Homem, a intensa corrente dessa chamada da fé, na qual o Homem encontra-se a si mesmo e dá-se conta de que é o centro do plano interno do Pai, desse amor que se abriu para o mundo. A consciência da redenção diz respeito ao Homem na sua integridade e refere-se tanto à sua realidade interior como à sua 'situação' no mundo visível.
A consumação da história humana em Cristo constitui algo assim como o núcleo mesmo da consumação do mundo. Cristo é aquele sobre o qual se funda e mediante o qual deve realizar-se esta 'consumação cósmica': Christus Consumator. A 'consumação do mundo' corresponde à 'redenção do mundo.
O Evangelho revela a realidade do espírito humano não de um modo fragmentário, mas em todo o complexo pessoal e concreto de ser, de conhecimento e de ações, dos quais é composto o Homem. O Evangelho contém uma plena revelação do mundo pessoal e da ordem pessoal do mundo. O Evangelho é, sempre, em todos os tempos, a revelação do Deus vivo na sua abertura ao Homem, na sua aproximação a ele. Ao mesmo tempo, o Evangelho é também, em cada época, a revelação do Homem.
Cristo é a verdade que não conhece ocaso: n'Ele Deus encontra cada Homem, e é n'Ele que todo o Homem pode ver Deus (Jo. 14,9-10). Nenhum encontro com o mundo será fecundo, se o fiel deixar de fixar o olhar no mistério da encarnação do Filho de Deus.
O vazio que hoje muitos experimentam diante do interrogativo acerca do porquê da vida e da morte, sobre o destino do Homem e o sentido do sofrimento só pode ser colmado com o anúncio da verdade que é Jesus Cristo. O coração do Homem será sempre "inquieto", enquanto não repousar n'Ele, que é o verdadeiro alívio para os 'cansados e oprimidos' (Mt. 11,28).
O Redentor do Homem, Jesus Cristo, é o centro do cosmos e da história. Deus, depois de ter falado outrora aos nossos pais, muitas vezes e de muitos modos, pelos Profetas, falou-nos nestes últimos tempos pelo Filho’, por meio do Filho-Verbo, que se fez Homem e nasceu da Virgem Maria. Com este ato redentor a história do Homem atingiu, no desígnio de amor de Deus, o seu vértice.
Deus entrou na história da humanidade e, enquanto Homem, tornou-se sujeito à mesma, um dos milhares de milhões e, ao mesmo tempo, Único! Deus, através da encarnação, deu à vida humana aquela dimensão, que intentava dar ao Homem já desde o seu primeiro início e deu-lha de maneira definitiva - daquele modo a Ele somente peculiar, segundo o seu eterno amor e a sua misericórdia, com toda a divina liberdade.
O Homem que se quer compreender até ao fundo de si mesmo deve, com a sua inquietude, incerteza e inclusive com a sua debilidade, acercar-se de Cristo. Deve, por assim dizê-lo, entrar n'Ele com todo o seu ser, deve “apropriar-se” e assimilar toda a realidade da encarnação e da redenção para encontrar-se a si mesmo.
Redentor do mundo! N'Ele se revelou de um modo novo, de maneira admirável, aquela verdade fundamental respeitante à criação. Assim como no Homem-Adão este vínculo foi quebrado, assim no Homem-Cristo foi de novo reatado o Homem. Cristo, Redentor do mundo, é Aquele que penetrou, de uma maneira singular e que não se pode repetir, no mistério do Homem e entrou no seu coração. Na realidade, só no mistério do Verbo encarnado se esclarece verdadeiramente o mistério do Homem. Adão, de fato, o primeiro Homem, era figura do futuro (Rom. 5, 14), isto é, de Cristo Senhor. Cristo, que é o novo Adão, na própria revelação do mistério do Pai e do seu Amor, revela também plenamente o Homem ao mesmo Homem e descobre-lhe a sua vocação sublime.
O ‘Homem, no seu sentido pleno, é Jesus Cristo.
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