"Mas Sião diz: O Senhor me desamparou, o meu Senhor, se esqueceu de mim. Pode uma mulher esquecer-se de seu filho de peito, de maneira que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti. Eis que nas palmas das minhas mãos eu te gravei; os teus muros estão continuamente diante de mim" (Isaías 49, 14-16).
Nos tempos de exílio, o profeta agia entre os exilados da Babilônia… e foi de lá que o povo de Israel estava passando por uma situação de angústia e por momentos difíceis, pela terrível humilhação do cativeiro… vivia-se um período de opressão e de escuridão, da escravidão do serviço obrigatório imposto pelos tiranos do império babilônico, onde também foram obrigados a adorar outros deuses.
O deus falso Marduque, repetidas vezes desafiava a Deus verdadeiro, o Senhor dos exércitos, para um juízo contraditório. Esse povo acreditava que as suas vitórias e a grandeza do seu império eram mais poderosas do que o próprio Deus de toda a terra. Daí, Babilônia, a orgulhosa, cruel, confiava nos seus deuses e na sua mágica, temíveis e atrativas também para Israel. Por isso vemos o povo de Israel com ódio no seu coração, com desejos de vingança, com saudades da terra prometida, com anseios de libertação! Esses sentimentos vêm acompanhados de crise de fé e de esperança.
As palavras do povo eram: “A minha sorte está oculta ao Senhor, o meu Deus ignora a minha causa”. Palavras que refletem muito bem a decepção e a tristeza de muitos contemporâneos do profeta.
Deus liberta sim, Deus liberta Seu povo das garras do inimigo, e do terror do exílio, causado pelos poderosos aniquiladores e assoladores que tiraram deles toda liberdade humana.
O Deus que ama, é um Deus que ouve o Seu povo, que se queixa no meio da dor, da exploração e da injustiça. Deus que consola e que dos aflitos, compadece.
Nosso Deus é um Deus apaixonado. Nessa perspectiva, o profeta anuncia a vinda iminente do Reino de Deus e do socorro no dia da salvação, pregando a restauração e libertação. Ele abriu uma nova visão, dizendo:
Todos saberão que Eu sou o Senhor, o Seu Salvador e o Seu Redentor, o Poderoso de Jacó; e que aqueles que esperam em Mim, não serão envergonhados.
Deus trazia nova vida e liberdade. Não exigia, mas dava, não esmagava, mas erguia, não julgava, mas removia fardos e deixava o povo respirar livremente. Rompia e transcendia os marginalizados, os oprimidos. Deus dava esperança, Deus mesmo manifestava o Seu próprio amor. E mesmo assim, o Seu povo estava triste, muito triste, decepcionado, frustrado e derrotado.
“O Senhor me desamparou; o Senhor se esqueceu de mim”. Declaração, onde se percebe um sério confronto de Seu povo contra Deus.
Mas, se analisarmos as profundezas desse texto, notaremos que não há uma declaração e sim, uma acusação forte e severa: O Senhor me desamparou, o Senhor Se esqueceu de mim. Acusação, que não deixa de ser humana com toda a sua expressão mais intima e profunda de abandono e esquecimento.
Muitas vezes falamos assim, quando nossas orações parecem não serem escutadas, quando nossas lágrimas e choros parecem não adiantar nada e nossos gritos de desespero por uma libertação e cura em todo nosso ser, ficam no esquecimento da mente de Deus – porque Ele não sai ao nosso encontro; Ele está num silêncio profundo, dando-nos a ideia de que está longe e não pode nos ouvir, nem enxergar que somos parte de Sua criação.
E, quando uma cruz se torna pesada demais, quase insuportável, explodimos. Revoltamos contra Deus: será que Deus não vê o que se passa comigo? Será que Deus não olha mais para mim? Por que Ele deixa isso acontecer? E, justamente comigo? Mas afinal, o que foi que eu fiz para merecer isso? Que Deus é esse? Um Deus que nos abandona, se é que Ele existe mesmo!
Deus que ama, é um Deus que jamais esquece de Seus escolhidos, Ele nos consola e nos ajuda. Ele diz:
“Acaso, pode uma mulher esquecer-se do filho que ainda mama, de sorte que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas, ainda que esta viesse a se esquecer dele, Eu, todavia, não me esquecerei de Ti”.
Deus se revela de uma maneira especial e contundente. Deus se compara com todo Seu amor, não esquecendo da experiência da maternidade. Sim, a maternidade é uma experiência inesquecível. Uma mãe amamentando a seu filho recém-nascido tem sentimentos inexprimíveis de união e ternos laços de amor e afeto pelo fruto de seu ventre. A mãe sabe que essa união é muito estreita e profunda; ela é a fonte de seus cuidados e sustentação que o recém-nascido recebe. Mesmo assim, Deus disse que uma mulher pode se esquecer de seu bebê – de fato, uma coisa dificilíssima e impossível – mas Deus nunca, jamais se esquece de Seu povo.
Embora seja impossível que uma mãe esqueça de seu filho recém-nascido fruto de seu ventre, ela como um ser humano pode esquecer mesmo dessa relação intima; os jornais nos falam de mães que abandonam seus filhos e os deixam num total abandono e esquecimento. Mas… Deus nunca vai se esquecer de nós, porque Ele nos ama, cuida de nós e nunca nos abandona.
Para enfatizar o grande amor de Deus para com Seus filhos, a memória de Deus é ainda mais profunda do que a memória de uma estreitíssima relação humana. Sua memória por nós está acima da compreensão humana. Sua resposta é uma resposta profunda: Eu nunca me esquecerei de ti.
Como Deus faz para não se esquecer de nós? “Eis que nas palmas das Minhas mãos te gravei, os teus muros estão continuamente perante Mim.”
Isaias mais uma vez usa uma figura antropomórfica que atribuem a Deus certas características humanas, “As palmas de Deus”.
Uma maneira de expressar amor e uma contínua lembrança de seus queridos entre as famílias e parentes segundo os costumes da cultura oriental e judaica, era feita por meio de gravação, o que chamaríamos de tatuagem, que consistia em tatuar, gravar no corpo, os nomes daqueles que amavam carinhosamente, enquanto que para aqueles que amavam com menos amor profundo, superficialmente, só dava presentes materiais.
O processo da tatuagem é muito desagradável. Quando uma pessoa deseja tatuar seu corpo, comumente o faz no braço, nas costas, ou no peito; mas, nunca vemos tatuadas as palmas das mãos de um homem. Sabe por que? Porque as palmas das mãos são sensíveis demais e muito delicadas. A dor que produz uma tatuagem nas palmas das mãos é muito grande para suportar.
Mesmo assim, Deus diz: Eis que nas palmas das minhas mãos te gravei! Deus está dizendo que toma muito tempo olhar no braço, ou nos ombros, nas costas ou no peito, partes essas que estão cobertas por vestimentas; Ele tem-nos tatuado nas palmas de Suas mãos, e ali pode ver-nos permanentemente. Antes da cruz do calvário, Deus também suportou a dor de ter-nos tatuados nas palmas de Suas mãos.
Não é muito doloroso para Deus gravar nossos nomes e Seu nome, porque Ele nos ama com ternura:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
Deus, está mostrando quanto cuida de nós: Eis que nas palmas das Minhas mãos te tenho gravado. Está dizendo que tomou uma parte muito delicada, muito sensível de Seu ser, e ali tatuou nossos nomes. Na realidade, está dizendo: “Amo tanto e não quero que Meu amor fique coberto debaixo das minhas vestes! Não quero que Meu amor fique oculto, de tal forma que não possa ser visto”. Isto também é amor!
Quando se percebe a beleza desta passagem começamos a apreciar a compaixão de Deus e o amor de Deus:
"Ao cansado Ele dá força. Ao que não tem mais energia Ele multiplica o vigor, porque os que esperam no Senhor renovam a suas forças; crescem-lhes asas como de águias, correm, mas não se fatigam, caminham e não se cansam".
À comunidade, Jesus testemunha que ressuscitou, que Ele não está morto, mas vivo, demonstrando assim, que o Seu amor, doado até a morte, é sinal de vitória e alegria. Aos discípulos, com medo e de portas fechadas, Jesus entra e diz: Paz seja convosco!
E a Tomé: “Estenda aqui o seu dedo e veja as minhas mãos. Estenda a sua mão e toque o meu lado. Não seja incrédulo, mas tenha fé”.
Num primeiro momento, ele não tinha acreditado que Jesus apareceu aos outros discípulos durante a sua ausência e disse: “Se eu não vir o sinal dos pregos nas suas mãos e não meter o meu dedo nesse sinal dos pregos e a minha mão no seu peito, não acredito” (Jo 20, 25).
As marcas que Jesus mostrou, foram aquelas onde Deus gravou para sempre os nossos nomes. Jesus foi reconhecido como Aquele que tem o nosso nome gravado na palma de Suas mãos; e agora, não tanto pelo rosto quanto, pelas chagas. Tomé considera que os sinais qualificadores da identidade de Jesus são agora sobretudo as chagas, nas quais se revela até que ponto Ele nos amou!
E esta é a forma que Deus se lembra de nós, continuamente. Não há um dia, uma hora, um minuto, ou um segundo sequer que Deus não se lembra de nós.
Certamente, nós cristãos podemos e devemos afirmar que “tocamos” o Jesus ressuscitado, com as mãos da fé.
Nós, os filhos de Deus, verdadeiramente temos sido gravados nas palmas das mãos de Deus!
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