Há quem pense que o milagre de Ezequias foi apenas cósmico — um fenômeno astronômico, uma pausa no relógio do universo. Mas o verdadeiro milagre não estava no céu, e sim no coração do rei. O sol não retrocedeu no firmamento: ele voltou dentro dele. A luz que parecia se apagar reacendeu no íntimo de sua alma.
O milagre de Deus não é espetáculo de astros; é movimento interior. O tempo que se move não é o do calendário, mas o do espírito. Quando Ezequias orou, Deus não precisou mover o cosmos — apenas tocou a eternidade escondida dentro do homem.
Em Josué, na batalha de Gibeão, o dia prolongou-se. Os soldados viram o sol demorando-se no céu, mas de fato, o milagre foi na experiência deles, não no planeta inteiro. Se assim fosse, o calor concentrado do sol parado queimaria tudo naquele local antes mesmo de todos perceberem. No entanto, cada coração exausto, cada braço levantado, cada olhar vigilante percebeu o tempo estendido, pois, Deus, soberano sobre os astros, não precisou alterar o cosmos inteiro: Ele atuou naquilo que era necessário para cumprir Sua promessa.
Deus é Senhor do Tempo e da História. Ele respeita as leis físicas que Ele mesmo instituiu, mas age acima delas, porque Sua misericórdia não se prende às engrenagens da criação.
Apesar de toda a grandeza do universo, a Terra — nosso lar azul suspenso no infinito — é apenas uma viajante. Ela gira ao redor do Sol, que está a cerca de 149,6 milhões de quilômetros de nós, e, junto com nosso sistema solar, move-se em direção à estrela mais próxima a mais de 40 trilhões de quilômetros de distância. É um balé colossal, silencioso e incessante, que revela o quanto somos pequenos diante da imensidão do tempo e do espaço.
E, no entanto, mesmo viajando a essas distâncias insondáveis, sinto que há algo em mim que permanece. A Terra se move, os séculos passam, as estrelas nascem e morrem — mas o espírito não envelhece. Ele pertence a outra ordem de realidade: àquela em que não há distâncias nem relógios, onde o ontem e o amanhã se encontram diante do eterno agora de Deus, na eternidade que deus colocou em nosso coração.
Quando oro, entro no 3º céu onde está o Trono de Deus e toco esta eternidade que Deus colocou em mim.
A resposta à minha oração já existe, mas percorre caminhos invisíveis, atravessando barreiras e resistências, como a de Daniel, cuja súplica foi ouvida desde o primeiro dia, mas somente manifestada após vinte e um dias. Posso não perceber o instante exato, mas sei que, no coração de Deus, tudo já foi dado desde o primeiro sopro da palavra.
O tempo se curva diante da fé; as distâncias se dissolvem diante do amor.
O humano se une ao divino, e meu espírito se expande para além das órbitas, das estrelas, das imensas distâncias que meu corpo jamais poderia percorrer.
Sinto que a alma, silenciosa e livre, atravessa o espaço e o tempo como se fossem um sopro, como água que flui sem obstáculos, e chega até o Trono de Deus.
Se, por um instante, a Terra realmente parasse ou o Sol recuasse em seu curso, o universo inteiro se desintegraria: mares se ergueriam em tsunamis, continentes tremeriam, e o calor queimaria tudo em seu redor. Mas o Criador não precisa suspender o movimento das estrelas para operar um milagre — basta mover o que é mais sagrado: o coração humano.
Quando alguém é curado de uma doença incurável, não é o sol celeste que retrocede — é o sol interior que renasce, é o tempo que se refaz e se prolonga no íntimo da alma.
O pecado transtornou o universo, trouxe o caos e a morte. Mas a misericórdia de Deus pôs ordem em tudo — e continua pondo. Cada conversão, cada oração sincera, cada lágrima transformada em fé é um novo tempo criado por Ele. Quando aceitamos Jesus, o tempo da nossa vida é prolongado, porque o tempo de Deus — o eterno — começa a habitar em nós.
Lembro-me do filme em que o Super-homem, movido pelo amor, voa ao redor da Terra em sentido contrário à sua rotação, revertendo o tempo para salvar a mulher amada.
Um gesto impossível na realidade natural, mas profundamente simbólico: o herói move o tempo porque o amor o impulsiona. Assim também é Deus — não altera as órbitas celestes, mas move o tempo dentro de nós para restaurar o que foi perdido.
E é assim que, muitas vezes, vivemos o mesmo milagre. O tempo para, avança ou retorna dentro de nós. Há dias em que Deus faz o sol demorar-se em nosso coração, só para que possamos vencer uma batalha, como Daniel; o sol parar em Gibeom, como em Josué; há dias em que Ele o faz retroceder, para nos conceder nova chance de amar e recomeçar, como o rei Ezequias.
Não há distâncias na dimensão do espírito. A oração rompe o limite do espaço-tempo, une o finito ao infinito, o tempo à eternidade, o humano ao divino. Quando a alma ora verdadeiramente, ela transcende o relógio do mundo e entra no coração de Deus.
Nesse instante sagrado, o tempo se curva diante da fé — porque a alma entra na eternidade de Deus, a eternidade que o próprio Deus colocou dentro do homem.
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