sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

Como Deus é Grande!



A Bíblia menciona diversas vezes que Deus apareceu em meio a nuvens. Não eram nuvens de chuva, nuvens normais como as que vemos no céu; eram nuvens relacionadas à glória divina. Acompanhe este artigo e seja encorajado em sua caminhada cristã.

Era noite. Chegamos ao destino de nossa viagem, uma igreja no Nordeste onde eu iria fazer uma palestra sobre a Volta de Cristo, os sinais dos tempos e nosso comportamento como cristãos. O pastor me apresentou e fez uma pequena introdução falando: “Hoje à noite Jesus pode voltar porque tem nuvens no céu!” Por pouco não caí na gargalhada, mas fiquei sério, já que em mais de 40 anos de trabalho missionário no Brasil me acostumei com muita coisa. Mas a menção às nuvens foi meio chocante, e esse não foi um caso isolado, mostrando todo o despreparo dos líderes cristãos quando o assunto é profecia bíblica.

No Brasil, diferente da Europa onde me criei, muitos meses são de céu azul e a falta de chuva transforma grandes territórios em quase desertos. Por isso o pastor associou chuva com bênção e falou nas nuvens, tão esperadas pelo povo sofrido. Ele estava se reportando à passagem clássica sobre o Arrebatamento dos crentes: “Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts 4.17). Aí questionamos, com razão: será que o Arrebatamento se dará como a decolagem de um avião, que sobe lentamente até desaparecer entre as nuvens? Vale muito a pena parar e pensar um pouco mais sobre “nuvens” no contexto bíblico, permitindo-nos ver aspectos fascinantes da grandeza do nosso Deus.

Êxodo 13.21 diz acerca do povo de Israel que Deus conduzira para fora do Egito: “Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite”. Essa coluna de nuvem e de fogo sinalizava a presença do próprio Deus, como podemos ler em Êxodo 14.24: “No fim da madrugada, do alto da coluna de fogo e de nuvem, o Senhor viu o exército dos egípcios e o pôs em confusão”. A Bíblia Viva traduz esse texto da forma que o encontrei em diversas traduções alemãs: “De madrugada, o Senhor olhou da nuvem para as tropas egípcias...”. Não é interessante? Deus olhou para fora da nuvem. Ele estava na nuvem, de onde olhou para os inimigos de Israel.

Dali, da nuvem, Deus protegeu os israelitas e castigou os egípcios: “A coluna de nuvem também saiu da frente deles e se pôs atrás, entre os egípcios e os israelitas. A nuvem trouxe trevas para um e luz para o outro, de modo que os egípcios não puderam aproximar-se dos israelitas durante toda a noite” (Êx 14.19b-20). O próprio Deus olhava da nuvem para os egípcios, interferindo sobrenaturalmente para barrar o ataque iminente do inimigo, deixando claro que Ele lutava por Israel (v. 25). Para os leitores mais críticos, o texto bíblico sublinha: “Naquele dia o Senhor salvou Israel das mãos dos egípcios, e os israelitas viram os egípcios mortos na praia” (v. 30). Todos podiam ver e se admirar com o que Deus fizera, percebendo a forma maravilhosa com que Ele libertou Israel dos egípcios.

Essa nuvem divina significava que Deus estava manifestando visivelmente a Sua presença em um lugar específico. “Assim que Moisés entrava, a coluna de nuvem descia e ficava à entrada da tenda, enquanto o Senhor falava com Moisés” (Êx 33.9). Deus estava legitimando Seu servo Moisés com Sua presença impressionante, visível a todos no arraial, com a descida da coluna de nuvem. Ela simbolizava o encontro entre Deus e Moisés quando falava com ele no santuário, como um amigo, face a face (Êx 33.11; Dt 34.10). Em inglês é comum encontrarmos o termo nuvem teofânica quando a Bíblia relata a manifestação divina em uma nuvem especial, sobrenatural e celestial.

No início da jornada pelo deserto, Moisés queria ver a glória de Deus. “Então disse Moisés: “Peço-te que me mostres a tua glória”. E [Deus] acrescentou: ‘Você não poderá ver a minha face, porque ninguém poderá ver-me e continuar vivo’. Quando a minha glória passar, eu o colocarei numa fenda da rocha e o cobrirei com a minha mão até que eu tenha acabado de passar. Então tirarei a minha mão e você verá as minhas costas; mas a minha face ninguém poderá ver” (Êx 33.18,20,22-23).

Essa presença velada e escondida de Deus, uma presença como que filtrada, pode ser melhor entendida com a análise de outros versículos sobre o assunto: “Então o Senhor falou a vocês do meio do fogo. Vocês ouviram as palavras, mas não viram forma alguma; apenas se ouvia a voz” (Dt 4.12). Deus parece se esconder dos homens.

Jesus explicou essa realidade: “ Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito, que está junto do Pai, o tornou conhecido” (Jo 1.18). E mais: “Ninguém viu o Pai, a não ser aquele que vem de Deus; somente ele viu o Pai” (Jo 6.46). O apóstolo João diz a mesma coisa: “Ninguém jamais viu a Deus...” (1Jo 4.12). Paulo fala da necessidade de uma transformação completa para chegar perto de Deus: “Irmãos, eu declaro a vocês que carne e sangue não podem herdar o Reino de Deus nem o que é perecível pode herdar o imperecível” (1Co 15.50).

“Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (Jo 4.24). A Bíblia nos mostra que o Deus vivo não é material, que a substância divina é espírito e que, além disso, Ele é supratemporal. E foi esse Deus que criou o universo material e o “tempo” físico. Nossa própria percepção de tempo e espaço, portanto, também é algo criado, assim como foram criadas a matéria e a energia. O próprio Deus é muito maior que o cosmo que Ele criou. E Deus é eterno!

O que a Bíblia chama de “eterno” é uma situação intemporal. E em circunstâncias intemporais, ou seja, em um constante e permanente presente, não existe um antes nem um depois. Com isso, torna-se supérflua a pergunta: “Quem criou a Deus?”, ou “de onde veio a informação que Deus usou na Criação?”. Pois o Deus-Espírito, que é atemporal e está acima do espaço, que é onisciente e infinitamente inteligente, esse já existe desde sempre. Isso também significa que tudo, tudo mesmo, sem exceção, é do conhecimento Dele. Não existe o mais ínfimo detalhe que Ele não conheça. Por exemplo, Ele sabe tudo sobre cada uma das moléculas de nosso corpo, do Sol, da nebulosa de Andrômeda... Ele conhece e sabe da situação de cada molécula do universo todo. Exatamente esse é o significado de “onisciente” ou “infinitamente inteligente”. E é com um Deus assim que lidamos, como explicou o cientista e evangelista alemão Werner Gitt. Deus, no final, é Aquele em quem está incorporado todo o universo material. Essas coisas, porém, não podem ser analisadas cientificamente, uma vez que não são materiais. Elas só podem ser compreendidas pela fé.

O salmista exclama maravilhado: “Ele determina o número de estrelas e chama cada uma pelo nome. Grande é o nosso Soberano e tremendo é o seu poder; é impossível medir o seu entendimento” (Sl 147.4-5). “Ergam os olhos e olhem para as alturas. Quem criou tudo isso? Aquele que põe em marcha cada estrela do seu exército celestial, e a todas chama pelo nome. Tão grande é o seu poder e tão imensa a sua força, que nenhuma delas deixa de comparecer!” (Is 40.26).

Por que razão esse ser inimaginavelmente grandioso e poderoso, majestosamente elevado acima das infindáveis profundezas do universo, se interessaria justamente por nós, por você e por mim? O Salmo 8 se ocupa com essa questão: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?” (v. 3-4).

A Bíblia nos mostra claramente que Deus não nos achou mais ou menos por acaso no universo, mas que o cosmo todo, com todos os seus 10 na 80ª potência de átomos - quantidade de átomos que existem no Universo (estima-se hoje que eles seriam em torno de 10 elevado a 80 - ou 10^80) - foi criado para nós, homens. Além disso, fomos criados na imagem de Deus. Isso significa que temos muitas características que o próprio Deus tem, por exemplo a linguagem, a criatividade e o pensamento matemático. Criamos coisas completamente inéditas. Isso nenhum animal faz! Só que o homem caiu profundamente ao pecar pela primeira vez e decaiu de seu estado inicial perfeito. A Bíblia relata essa queda e suas consequências. Mesmo assim, homens e mulheres continuam sendo produtivos e criadores de muitas coisas novas, úteis e maravilhosas. Pena que se afastaram de Deus, de livre e espontânea vontade. Por isso, Deus amaldiçoou o cosmo inteiro, que Ele havia classificado de “muito bom”. Por causa dessa maldição é que vemos tanto mal no mundo. E por isso é que os homens se tornaram semelhantes a animais e hoje suas características divinas são apenas um resto do que já possuíram e resquícios do que já foram capazes. Nesse dilema todo, porém, o que traz esperança e alento é saber que um dia essa maldição será suspensa e tudo voltará a ser como foi planejado desde o início.

Esse Deus grandioso, onipresente, onisciente e todo-poderoso trabalha agora de forma individual no coração de todos os que O aceitam, que creem e confiam Nele. “Pois Deus, que disse: ‘Das trevas resplandeça a luz’, ele mesmo brilhou em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo” (2Co 4.6). Assim, hoje a presença de Deus é tangível pela fé, e essa divina presença transforma nossa vida.

O rei Salomão, extremamente inteligente, se perguntava diante da grandeza e majestade de Deus: “Mas será possível que Deus habite na terra? Os céus, mesmo os mais altos céus, não podem conter-te. Muito menos este templo que construí!” (1Rs 8.27). E mais tarde ele disse: “O templo que vou construir será grande, pois o nosso Deus é maior do que todos os outros deuses. Mas quem é capaz de construir um templo para ele, visto que os céus não podem contê-lo, nem mesmo os mais altos céus? Quem sou eu, então, para lhe construir um templo, a não ser como um lugar para queimar sacrifícios perante ele?” (2Cr 2.5-6).

Salomão acertou o ponto. Já há 3.000 anos, quando outros povos adoravam o Sol e a Lua, animais, árvores e pedras como seus deuses, Israel já sabia mais: sabia que tudo o que vemos é criação de Deus, mas não é o próprio Deus!

Deus é ainda muito maior do que o universo, que segundo avaliações atuais, tem um raio de mais de 70 bilhões de anos-luz. Nosso Sol tem uma circunferência de 4.366.813 quilômetros, que equivale a 109 vezes a circunferência da terra (12.756 km), e nossa Lua alcança meros 3.476 km. A distância da terra à Lua é de 384.400 km e até o Sol são 146.000.000 de quilômetros. A luz precisa de 8 minutos e 19 segundos para chegar do Sol até nós (à velocidade da luz, que é de 299.792,458 km por segundo). Se um raio de luz circundasse o Sol, levaria 14,6 segundos.

Essa pequena acrobacia numérica serve para dar suporte à nossa imaginação quando nos movemos em direção à estrela hipergigante VY Canis Majoris. Para circundá-la, um raio luminoso precisaria de oito horas e meia. Para entender melhor, façamos uma simulação: entremos num avião e circundemos o Sol a uma velocidade de 900 quilômetros por hora. Essa viagem levaria quase meio ano e ao redor de VY Canis Majoris precisaríamos de 1.165 anos. Como já dissemos, para circundar o Sol um raio de luz precisa de 14,6 segundos e para Canis Majoris, 8,5 horas. Se representarmos a Terra com uma moeda de 1 Real, VY Canis Majoris seria uma bola gigantesca de 10 quilômetros de diâmetro. Se simularmos o tamanho de Canis Majoris no tamanho de uma bola de basquete, o Sol seria ainda menor que um grão de poeira.

Portanto, existem sóis que são milhões de vezes maiores e brilham milhões de vezes mais intensamente que o Sol. Os astrônomos conhecem, hoje, algumas dessas estrelas. Se chamam Eta Carinae, Betelgeuze, HR 5171A, Antares A, V 354 Cephei, Cassiopeia, R 136a1 e Mira. Se já ficamos cegos olhando para o Sol por muito tempo, como seria olhar para VY Cannis Majoris, milhões de vezes mais forte que o Sol? E tudo isso é apenas parte da criação de Deus! Por isso está escrito que Deus é “o único que é imortal e habita em luz inacessível, a quem ninguém viu nem pode ver. A ele sejam honra e poder para sempre. Amém” (1Tm 6.16).

Em relação a Jesus Cristo está escrito que Deus “...nestes últimos dias falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas e por meio de quem fez o universo. O Filho é o resplendor da glória de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, ele se assentou à direita da Majestade nas alturas” (Hb 1.2-3).

Jesus Cristo é a irradiação da glória de Deus e a expressão exata da Sua substância e do Seu ser. Foi por isso que Jesus perguntou a Seus discípulos cheios de dúvidas: “Você não me conhece, Filipe, mesmo depois de eu ter estado com vocês durante tanto tempo? Quem me vê, vê o Pai. Como você pode dizer: ‘Mostra-nos o Pai’?” (Jo 14.9). Em outra passagem lemos: “Então Jesus disse em alta voz: ‘Quem crê em mim, não crê apenas em mim, mas naquele que me enviou. Quem me vê, vê aquele que me enviou’” (Jo 12.44-45). Tudo o que Jesus falou, a maneira como agiu e, finalmente, tudo o que Ele fez por nós reflete com exatidão e espelha perfeitamente o coração de Deus, o Ser de Deus e os propósitos divinos para conosco! Isso não é maravilhoso?

Ao invés de ficarmos matutando sobre um Deus como ser espiritual e no lugar de ficarmos arrepiados ao tentar imaginar a grandiosidade de um Deus tão inacessível à nossa compreensão, podemos olhar para Jesus. Aí saberemos exatamente o que é amor, compaixão e bondade e compreenderemos o que significa disposição para o sacrifício em lugar de outros. O Senhor Jesus fala em nome do Seu Pai: “Não se perturbe o coração de vocês. Creiam em Deus; creiam também em mim. Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu teria dito a vocês. Vou preparar lugar para vocês. E, quando eu for e preparar lugar, voltarei e os levarei para mim, para que vocês estejam onde eu estiver” (Jo 14.1-3).

Jesus Cristo em forma humana é como que o “transformador” divino. O que significa isso? Cito um exemplo: a gigantesca hidrelétrica brasileira de Itaipu, perto das Cataratas do Iguaçu, gera eletricidade. As 20 turbinas (no máximo 18 funcionam) produzem 700 megawatts de energia elétrica. No início a voltagem é de 6.600 volts, que então é transformada em 345.000 volts e transportada até importantes instalações industriais, onde chega com 138.000 volts. Parte da energia chega mais fraca a vilas e cidades, com apenas 13.800 volts, suficiente para abastecer entre 5.000 e 10.000 domicílios, agora transformada em 110 ou, conforme a região, 220 volts. O que aconteceria se 13.800 volts fossem jogados diretamente nas redes residenciais? Quase todos os aparelhos elétricos iriam queimar. Algo semelhante aconteceria se víssemos a Deus. Nossos sentidos não suportariam Sua glória e teríamos de morrer imediatamente. Por isso precisamos de Jesus para servir de transformador e “filtrar” a presença divina. O que Moisés viu ou conseguiu ver foi um pouco da glória divina – que não era nada mais do que Jesus Cristo antes de Sua encarnação (veja Fp 2.6-9).

Essa presença de Deus parcialmente visível também se manifestou mais tarde, no Templo, através da nuvem e no meio da nuvem: “Quando os sacerdotes se retiraram do Lugar Santo, uma nuvem encheu o templo do Senhor, de forma que os sacerdotes não podiam desempenhar o seu serviço, pois a glória do Senhor encheu o seu templo” (1Rs 8.10-11). Obviamente era impossível descrever acertadamente essa maravilhosa presença divina; com ela, era preciso entrar em contato de forma direta e pessoal.

Cena semelhante aconteceu quando Jesus dirigiu a palavra ao funcionário público Levi, sentado na coletoria, e o chamou para que O seguisse (Mc 2.14). Levi percebeu imediatamente que uma pessoa muito especial estava falando com ele, pois em Jesus “o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14).

Jesus veio em forma de servo e em figura de homem (Fp 2.6). Mas houve uma situação especial no monte da Transfiguração, mais uma das pequenas e raras aberturas da dimensão celestial: “Ali ele foi transfigurado diante deles. Sua face brilhou como o sol, e suas roupas se tornaram brancas como a luz. Naquele mesmo momento, apareceram diante deles Moisés e Elias, conversando com Jesus... Enquanto ele ainda estava falando, uma nuvem resplandecente os envolveu, e dela saiu uma voz, que dizia: ‘Este é o meu Filho amado de quem me agrado. Ouçam-no!’” (Mt 17.2-3,5). Quatro coisas extraordinárias chamam nossa atenção aqui: Jesus resplandeceu na glória divina com um fulgor tão forte como o Sol. Essa é uma fonte de luz e de energia que não conhecemos, não dessa forma. Aí apareceram Moisés e Elias falando com Jesus. Mais uma vez a velha e conhecida nuvem filtrou a presença divina, envolvendo todo o cume do monte, e a voz de Deus se fez ouvir. Que momento sublime! Não foi por acaso que, de repente, Jesus começou a brilhar tão intensamente como o Sol. No Apocalipse lemos acerca da maravilhosa Jerusalém celestial: “A cidade não precisa de sol nem de lua para brilharem sobre ela, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a sua candeia” (Ap 21.23).

As últimas palavras de Moisés foram: “Como você é feliz, Israel! Quem é como você, povo salvo pelo Senhor?” (Dt 33.29). Será que ele estava certo falando assim? A experiência de Israel no monte Sinai representou uma significativa etapa em sua formação e um marco em sua história. Lá aconteceu algo único, um evento singular que diferenciou Israel de todas as outras nações. O próprio Deus disse que essa era uma prova da Sua existência: “Perguntem, agora, aos tempos antigos, antes de vocês existirem, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra; perguntem de um lado ao outro do céu: Já aconteceu algo tão grandioso ou já se ouviu algo parecido? Que povo ouviu a voz de Deus falando do meio do fogo, como vocês ouviram, e continua vivo? Ou que deus decidiu tirar uma nação do meio de outra para lhe pertencer, com provas, sinais, maravilhas e lutas, com mão poderosa e braço forte, e com feitos temíveis e grandiosos, conforme tudo o que o Senhor fez por vocês no Egito, como vocês viram com os seus próprios olhos?... Reconheçam isso hoje, e ponham no coração que o Senhor é Deus em cima nos céus e embaixo na terra. Não há nenhum outro” (Dt 4.32-34,39).

Com o majestoso evento no monte Sinai Deus estava sublinhando visivelmente a Sua vinda e a Sua presença, conferindo peso e significado ao Seu falar especial com Moisés. Foi um começo marcante, carregado de simbolismo, para deixar bem claro a todo o povo de Israel a seriedade de Sua eleição “dentre todos os povos”: “Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e raios, uma densa nuvem cobriu o monte, e uma trombeta ressoou fortemente. Todos no acampamento tremeram de medo. Moisés levou o povo para fora do acampamento, para encontrar-se com Deus, e eles ficaram ao pé do monte. O monte Sinai estava coberto de fumaça, pois o Senhor tinha descido sobre ele em chamas de fogo. Dele subia fumaça como que de uma fornalha; todo o monte tremia violentamente, e o som da trombeta era cada vez mais forte. Então Moisés falou, e a voz de Deus lhe respondeu” (Êx 19.16-19).

Esses acontecimentos extraordinários impressionavam e assustavam os povos que viviam em Canaã e arredores (veja Nm 14.11-16). Isso fica comprovado no diálogo de Raabe quando protegia os espias israelitas: “e lhes disse: ‘Sei que o Senhor deu a vocês esta terra. Vocês nos causaram um medo terrível, e todos os habitantes desta terra estão apavorados por causa de vocês. Pois temos ouvido como o Senhor secou as águas do mar Vermelho perante vocês quando saíram do Egito, e o que vocês fizeram a leste do Jordão com Seom e Ogue, os dois reis amorreus que vocês aniquilaram. Quando soubemos disso, o povo desanimou-se completamente, e por causa de vocês todos perderam a coragem, pois o Senhor, o seu Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra’” (Js 2.9-11). O medo do poderoso rei moabita Balaque e de seus anciãos midianitas, quando mandaram chamar Balaão para enfraquecer Israel por meio de uma maldição (Nm 22-24) testemunha seu grande pavor diante desse Deus poderoso. 

A coluna de nuvens indicava as datas e demarcava os locais da singular peregrinação do povo de Israel pelo deserto, mostrando quando o povo devia parar e quando devia desmontar acampamento e seguir a jornada. Um povo estava sendo preparado. “Durante o dia o Senhor ia adiante deles, numa coluna de nuvem, para guiá-los no caminho, e de noite, numa coluna de fogo, para iluminá-los, e assim podiam caminhar de dia e de noite” (Êx 13.21; veja Nm 9.15-23). Deus conduzia e protegia Israel como um pastor faz com seu rebanho.

Com o movimento da nuvem Ele treinava Seu povo nas áreas de obediência, persistência, confiança e disposição. Essa descrição da nuvem indo com eles é um pequeno aperitivo da maravilhosa presença de Deus que um dia estará sobre Seu Santo Monte Sião, quando a terra voltará a estar acoplada à dimensão divina: “o Senhor criará sobre todo o monte Sião e sobre aqueles que se reunirem ali uma nuvem de dia e um clarão de fogo de noite. A glória tudo cobrirá” (Is 4.5). Por essa razão, em Pentecostes apareceram chamas de fogo acima dos discípulos, para expressar visivelmente a presença de Deus no coração de cada salvo e Sua morada em todos os crentes (At 2.3).

A glória de Deus em uma nuvem pode ser vista mais uma vez em Ezequiel: “Olhei e vi uma tempestade que vinha do norte: uma nuvem imensa, com relâmpagos e faíscas, cercada por uma luz brilhante. O centro do fogo parecia metal reluzente” (Ez 1.4).

No livro de Ezequiel encontramos revelações proféticas grandiosas. Ele viu antecipadamente a invasão de exércitos inimigos em uma nação de Israel restaurada e o arrasador juízo divino sobre Gogue de Magogue, que virá do extremo Norte. Ezequiel também apresenta dados exatos e detalhados do futuro Templo, o quarto Templo judeu no Reino Milenar de Paz com sede em Sião. E mais: o relato de Ezequiel nos capítulos 47 a 48 fecha perfeitamente com a revelação do Apocalipse (capítulo 21). E ainda existem pessoas que questionam onde o Novo Testamento fala que Israel tem um futuro planejado por Deus!

Ezequiel viu a vinda (velada) de Deus na nuvem de glória (Ez 1). A revelação divina, Seu falar especial com Israel e a manifestação de Sua vontade para essa nação perpassam a Bíblia toda, como um fio conduzindo a história desse povo. Na revelação divina à queda em pecado, a perdição do homem e a necessidade de salvação ocupam um grande espaço. Porque Deus nos ama e nos busca, Ele manifestou Sua presença, para nós hoje ainda invisível e inacessível, repetidamente e de forma velada, porém perceptível, e isso se deu quase exclusivamente através do povo de Israel. Mas nós, gentios e não judeus, também podemos saber que nosso Senhor Jesus nos abriu o Céu e, com Sua morte em sacrifício por nós, Ele garante que voltará e nos buscará para estarmos com Ele.

E as nuvens divinas no Novo Testamento? A ascensão de Jesus também poderia ser chamada de arrebatamento de Jesus. No começo do livro de Atos encontramos os detalhes desse evento: “Tendo dito isso, foi elevado às alturas enquanto eles olhavam, e uma nuvem o encobriu da vista deles” (At 1.9). A tradução dessa passagem em outros idiomas diz que uma nuvem veio e O levou, encobrindo-O ao seu olhar. Portanto, o Senhor não foi subindo cada vez mais até sumir na camada de nuvens. O arrebatamento de Jesus não tem nada a ver com distância; Ele não viajou até as bordas do nosso universo para então alcançar o Céu onde Deus está. Não! Uma nuvem veio e O levou, como um portal que se abriu para recebê-Lo em outra dimensão. As nuvens divinas sempre aparecem quando o Céu se abre. Aí, nas nuvens, as dimensões divinas normalmente inacessíveis se abrem e se tornam acessíveis. O Arrebatamento da Igreja também envolve essas misteriosas nuvens divinas: “Depois nós, os que estivermos vivos, seremos arrebatados com eles nas nuvens, para o encontro com o Senhor nos ares. E assim estaremos com o Senhor para sempre” (1Ts 4.17).

Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma com que sou plenamente conhecido” (1Co 13.12).

Essas nuvens não têm nada, absolutamente nada em comum com nuvens de chuva e vapor condensado. Elas representam janelas no Céu, aberturas da dimensão divina. Enquanto o Arrebatamento acontecerá em um momento, num piscar de olhos, lemos em Apocalipse 11 do arrebatamento diferente, lento, de duas pessoas muito curiosas: as Duas Testemunhas, que serão arrebatadas ao Céu depois de três anos e meio de ministério em Jerusalém. Esses homens serão assassinados pelo governante mundial e depois de três dias e meio, ressuscitarão espetacularmente por meio da intervenção sobrenatural divina e então serão chamados ao Céu: “Então eles ouviram uma forte voz dos céus, que lhes disse: ‘Subam para cá’. E eles subiram para os céus numa nuvem, enquanto os seus inimigos olhavam” (Ap 11.12). A subida das Duas Testemunhas poderá ser observada por todos, nos mínimos detalhes, pois a mídia mundial se encarregará de transmitir ao vivo o seu arrebatamento ao Céu. Esse arrebatamento não será o da Igreja. Serão dois profetas judeus desaparecendo da vista humana. E mais uma vez temos uma nuvem servindo de portal para a entrada na dimensão de Deus.

Esse acontecimento se dará em um período muito marcante, pois será dentro dos sete anos apocalípticos. Mesmo sendo um tempo tão breve, o mundo verá o cumprimento de numerosas e antigas profecias bíblicas. A Bíblia fala muitas e muitas vezes de coisas que irão acontecer nesta que será a septuagésima semana de que falou o profeta Daniel. Esses sete anos somente poderão ter seu início depois que a Igreja de Jesus tiver sido tirada desta terra, após o final da Era da Igreja. Esses sete anos apocalípticos concluirão o plano de salvação de Deus com Israel. Pedro toca no centro desse ponto quando declara: “É necessário que ele [Jesus] permaneça no céu até que chegue o tempo em que Deus restaurará todas as coisas, como falou há muito tempo, por meio dos seus santos profetas” (At 3.21). E então todo o Israel será salvo!

O final glorioso da aparição dessas nuvens de Deus é mencionado por Jesus Cristo diante do sumo sacerdote: “... eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu” (Mt 26.64). Jesus, nesse confronto decisivo com as autoridades espirituais, apontou para o Filho do Homem de quem já falara o profeta Daniel: “Em minha visão à noite, vi alguém semelhante a um filho de homem, vindo com as nuvens dos céus. Ele se aproximou do ancião e foi conduzido à sua presença” (Dn 7.13).

O sumo sacerdote entendeu imediatamente de quem Jesus estava falando: do Messias divino. Infelizmente ele rejeitou a última oportunidade de reconhecer Jesus como o Salvador enviado por Deus. Ao rasgar suas vestes sumo sacerdotais, a rejeição de Israel estava selada de forma irreversível, e por um longo tempo o véu do endurecimento caiu sobre o povo escolhido. Com certeza a liderança religiosa daquela época conhecia o Salmo 104, que falava do Senhor “envolto em luz como numa veste, ele estende os céus como uma tenda, e põe sobre as águas dos céus as vigas dos seus aposentos. Faz das nuvens a sua carruagem e cavalga nas asas do vento” (v. 2-3). Mas o sumo sacerdote não queria, de forma alguma, relacionar tudo isso com a pessoa de Jesus Cristo, bem ali à sua frente. Essas nuvens em que Jesus virá em poder e glória para governar o mundo todo significam que o Céu se abrirá e a terra será reconectada: “Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as nações da terra se lamentarão e verão o Filho do homem vindo nas nuvens do céu com poder e grande glória” (Mt 24.30).

Todos os homens do mundo todo verão Jesus Cristo, o Messias de Israel: “Eis que ele vem com as nuvens, e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram; e todos os povos da terra se lamentarão por causa dele. Assim será! Amém” (Ap 1.7).

Ainda vivemos pela fé e não pelo que vemos: “Agora, pois, vemos apenas um reflexo obscuro, como em espelho; mas, então, veremos face a face. Agora conheço em parte; então, conhecerei plenamente, da mesma forma com que sou plenamente conhecido” (1Co 13.12). E mais: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é” (1Jo 3.2). Um dia estaremos frente a frente com nosso amado Senhor Jesus! Por isso, nesta vida tão passageira e tão fugaz, continuemos a seguir em frente mesmo em meio a todas as limitações, problemas e temores que nos assolam, sabendo que no final “não haverá maldição nenhuma. O trono de Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão. Eles verão a sua face, e o seu nome estará na testa deles” (Ap 22.3-4). O alvo divino e a coroação final então será: “Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos” (1Co 15.28) — Reinhold Federolf - (Extraído de Revista Chamada da Meia-Noite setembro de 2016).

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