1. O primeiro equívoco na prática do jejum bíblico é pensá-lo como meio isolado de se chegar a resultados imediatos diante de Deus.
a) Alguns segmentos religioso-evangélicos entendem o jejum de forma extremamente anômala, em razão de nunca terem ouvido falar do assunto de outro modo. Estão acostumados a ouvir certos tipos de mensagens tais como: irmãos vamos jejuar para conseguirmos, ou, irmãos vamos jejuar para que nossos problemas sejam resolvidos! É lógico que, com tão fortes apelos, o jejum passa a ser visto como elemento indispensável para a solução de qualquer problema – o que é um equívoco. Falando de equívoco, vamos analisar os mais praticados na atualidade, como segue:
* Nessa concepção, a atitude de quem jejua será sempre no sentido de imaginar o jejum como fonte isolado de poder. Essa maneira equivocada vem afastando muita gente da coerência.
- As pessoas passam a jejuar não porque querem estar na presença de Deus, mas, porque jejuando, seus problemas podem ser resolvidos.
II. SACRIFÍCIO?
1. O segundo equívoco cometido quanto à prática do jejum bíblico é concebê-lo como sacrifício.
a) Conforme o ensino do Novo Testamento sobre o jejum bíblico, ele deve ser concebido tão somente como um componente, resultando da comunhão com Deus; jamais como prática isolada de se obter resultados isolados.
* Os que assim entendem - erradamente, é lógico - vêem o jejum como meio eficaz para a morte do “eu”.
* Os que assim o interpretam, não raro, enveredam pelos mais tortuosos caminhos da autoflagelação, da autopunição, da autonegação, objetivando aniquilar vontades profanas. Acreditam piamente que, fazendo assim, estão se tornando invulneráveis, indestrutíveis, imunes e poderosos.
* Os crentes que pensam no jejum bíblico como sacrifício, são capazes de resistir, por vários dias, à vontade de comer, numa obcecada demonstração de força. Este é o verdadeiro sacrifício de tolo, que vem provocando traumas irreversíveis em pessoas que, quase sempre, não sabem quando parar.
* Há muita gente jejuando a fim de ganhar independência no uso dos dons divinos. O jejum bíblico feito, à semelhança de um sacrifício, tem produzido o intolerante comportamento de se exigir que Deus faça as coisas acontecerem.
* Os que agem assim estão vivendo, via de regra, o falso estado de que pagaram o preço diante de Deus e, por conseguinte, terem o direito ao poder. É a partir desta estranha concepção que alguns famosos evangelistas ousam fazer certas declarações, demonstrando absoluta imaturidade e uma estranha atitude de querer mandar em Deus, no sentido de domesticá-lo (domá-lo). Isto tem sido uma tragédia no meio cristão.
III. SUPERIORIDADE ENGANOSA.
1. O terceiro equívoco é admitir o jejum bíblico como sinal de piedade superior.
a) Conta-se, de certa pessoa, antigamente, que quando jejuava julgava-se pronta para enfrentar qualquer desafio, e a sua garantia era o fato de ter jejuado. Esse equívoco era tão forte que o fazia ver a maioria das pessoas como inaptas e inadequadas para serem usadas por Deus; pois no seu entendimento legalista, achava que as demais pessoas não estavam preparadas. Ledo engano!
* A rigor, as pessoas que usam fazer “muito jejum” se esquizofrenizam (...distúrbios mentais) e começam a se achar melhores e mais especiais do que as outras pessoas. Infelizmente, o comportamento de milhares de pessoas ainda hoje é este. Pensam e agem assim pelo fato de entenderem o jejum como sinal de piedade superior. Todavia, este sentimento de superioridade é meramente psicológico e resultado de imaturidade.
IV. REALIZAÇÃO PIEDOSA.
1. O terceiro equívoco na prática do jejum bíblico é interpretá-lo como uma realização piedosa.
a) Jejuar tem sido mais fácil e mais cômodo para algumas pessoas do que comer menos e repartir com os outros. Isto porque o que pratica jejum acha que isso preenche e satisfaz todas as exigências da piedade.
Não sabem estes que esta devoção pode se tornar – e quase sempre se torna – extremamente histórica, egoísta, escapista, e, portanto, reprovada por Deus, quando feita de forma intimista e presunçosa.
* Os fariseus, acostumados a terem este tipo de comportamento mesquinho, receberam fortes críticas de Jesus, em razão de estarem sempre se escondendo por traz da máscara da piedade.
- Através da pessoa de Jesus, a idéia de um jejum sacrificial, externo, exibicionista, ostensivo, traduzido como uma realização piedosa foi totalmente abolida.
V. SUPER-HOMENS, OU, SUPER CRENTES?
1. O quarto equívoco cometido na prática do jejum bíblico é entendê-lo como fonte de poder.
a) Muitas pessoas estão jejuando com o objetivo de se tornar super-homens. Mas não há nenhum poder no jejum nem na sua prática. Este tipo de concepção deve-se às inversões das verdades bíblicas sobre este assunto. Nem Jesus, nem mesmo os apóstolos, admitem essa possibilidade.
* A única vez que o filho de Deus tratou do assunto, em Mt 6.16-18, denunciou a maneira exibicionista de conduzir o jejum como realização piedosa e sinal de superioridade espiritual. Posto isto, essa maneira de associar o jejum ao poder é absoluta distorcida. Isto em razão do fato de que não é o jejum que nos garante o poder, porque este dom - o poder - é de Deus, não vem do esforço humano; é resultado único da graça de Deus.
VI. ELEMENTO ESSENCIAL À VIDA CRISTÃ?
1. O quinto equívoco na prática do jejum bíblico é pensá-lo como elemento essencial à vida cristã.
a) Há pessoas que passam o tempo todo afirmando que para se ter uma vida de absoluto êxito é preciso jejuar muito. Há ainda aqueles que brincam com a credulidade humana receitando sete dias mágicos de jejum para se resolver qualquer problema.
* Qual é o essencial à vida cristã? É seguir as pisadas de Jesus. Logo, toda a prática cristã -inclusive a prática do jejum - é conseqüência da nossa comunhão com Ele.
- Os que entendem o jejum como prática essencial à vida cristã, vivem em prol disso e acabam deixando o fundamental de lado. Conceber assim o jejum bíblico é admiti-lo como prática isolada, e isto fere o princípios bíblicos. Observe: nem sempre que se está na presença de Deus se jejua, mas, sempre que jejua é porque se está na presença de Deus.
- Quando alguém planeja ficar na presença de Deus, sem interesses, sem segundas intenções, apenas para estar com Ele, quase sempre esta nobre ocupação traz como conseqüência o jejum e todos os outros ingredientes da contrição. No entanto, quando alguém premedita fazer um jejum em nome daquilo que o jejum pode lhe dar, como o poder, as respostas imediatas e a solução de todos os seus problemas, está sendo egoísta e interesseiro, além de estar dando ao jejum bíblico a essencialidade e a potencialidade que ele não tem.
VII. ABSTINÊNCIA CLÍNICA.
1. O sexto equívoco é se sentir culpado ou pertencente ao “grupo de inferiores” por não conseguir ficar sem se alimentar.
a) Muitas pessoas se sentem absolutamente inúteis pelo fato de terem sido afastadas clinicamente da possibilidade de jejuar. É gente que não pode ficar sem comer, por estar sob intervenção médica.
* O essencial na prática do jejum bíblico não é ficar sem comer, mas torná-lo um exercício constante de abstenção de todos os vícios. Esta é a melhor maneira de jejuar, o que raramente acontece. Será que alguém ao comer, às vezes não o faz por mero vício?
- Evidentemente, com estas ponderações sobre a maioria dos equívocos cometidos na prática do jejum bíblico, não estamos sugerindo, de forma alguma, que não se faça mais jejum. Longe de mim tal coisa.
= A nossa preocupação recai sobre a sutileza de começarmos a exacerbar, a macro valorizar a prática do jejum, só pelo que ele pode nos dar, e não por uma questão de preenchimento a partir do relacionamento com Deus.
b) Segundo o que a Palavra de Deus nos ensina, podemos transformar o jejum bíblico numa prática extremamente incoerente e vazia de sentido mais profundo, se não observarmos determinados detalhes como os que observamos a seguir:
* O jejum cristão e bíblico deve ser antes de qualquer coisa, um abster-se do que segue:
- Do criticismo (limite da situação em que se consegue jejuar), com vistas ao louvor.
- Da auto-piedade (pena ou dó de si mesmo por ter que jejuar), com vistas à alegria.
- Do ressentimento (profunda mágoa contra alguém, inclusive por tê-lo forçado a jejuar), com vistas ao perdão.
- Do ciúme (sentimento doentio de medo de perder..., inclusive contra alguém que consegue jejuar mais), com vistas ao amor.
- Do orgulho (sentimento de soberba por ter conseguido jejuar mais que alguém), com vistas à humildade.
- Do egoísmo (sentimento de amor por si só sem se importar com o próximo, inclusive quando tiver que jejuar por alguém...), com vistas ao altruísmo.
- Do medo (sentimento de ameaça, pavor, terror,... por não ter conseguido jejuar), com vistas à fé.
VIII. TRÊS TIPOS DE JEJUM BÍBLICO. A Bíblia fala sobre três tipos de jejum. Ainda que de diferentes maneiras, estes jejuns obtém o mesmo resultado. Vejamos os três tipos de jejum encontrados na Bíblia:
1. O primeiro, é o jejum sobrenatural. É o jejum sem alimento e sem água.
a) Ocorreu no ministério de Moisés, no monte Sinai, quando ele foi pela segunda vês para receber os dez mandamentos – Ex 34.27,28.
* No sobrenatural, o homem pode jejuar vários dias sem alimento e sem água, porém, não é aconselhável fazer um jejum deste tipo, a não ser divinamente inspirado ou dirigido pelo Espírito Santo.
- Nenhum ser humano, sem a divina presença pode viver por um longo período de tempo sem água. Para o homem, no corpo natural, isto seria impossível.
2. O segundo, é o jejum completo natural. Sem alimento, mas com água, porque a água não é alimento.
a) Muitas pessoas pensam que a água quebra o jejum, quando na realidade, a água ajuda na realização do jejum. Mas por que a água não quebra o jejum? Vejamos:
* A água não contém calorias, nutrientes nem gorduras. Portanto, não é alimento.
- Desde que oitenta por cento do corpo humano é água e parte dessa água é evaporada diariamente, vê-se que a água é essencial à vida e deve ser recolocada constantemente no organismo.
= No jejum natural, o homem pode praticar o jejum sem água por poucos dias, isto é, no máximo três dias. A partir do terceiro dia de um jejum sem água, a pele começa a secar, pois os poros não liberam mais o suor pelo fato de não haver água suficiente no corpo. Portanto a água é essencial e necessária.
3. O terceiro, é o jejum parcial. Este tipo tem sido posto de lado pelos que ensinam acerca do assunto. Só consideram o jejum total, o qual muitos não têm fé nem condições físicas para realizar.
a) Alguém já perguntou se este jejum é válido, e se é bíblico. A própria definição da palavra jejum aprova este fato: é a abstinência total ou parcial de alimentos. Em outras palavras, este é o jejum no qual devemos nos abster parcialmente dos alimentos.
* A prova bíblica deste jejum e quem o praticou é o profeta Daniel. Dn 10.3.
- Daniel não declara que não comeu pão, mas declara que não comeu manjar desejável. A palavra “desejável” no hebraico é “chamadote”, que traduzida é: nada delicioso. A Bíblia não diz que ele não comeu nada, mas que ele não se alimentou de alimentos gostosos ao paladar. O que ele comeu? Não sabemos. Provavelmente alimentou-se muito pouco...
= Muitas pessoas freqüentemente tentam jejuar, mas ficam tão fracas que são incapazes de continuar.
> É importante não confundirmos o jejum bíblico com dieta. Na dieta, quando subimos na balança humana perdemos peso; no jejum, quando subimos na balança celestial, ganhamos peso!
José Admir Ribeiro
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