sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

O Portal Celestial e o Portão do Esterco

Caminhar pelas ruas de Jerusalém é como mergulhar nas páginas de um best-seller – um livro de ação, histórico, cheio de romance e guerra. Por isso, às vezes precisamos dar uns passos para trás. Afinal, abrir mão da procura por respostas exatas cria espaço em nós para que nos percamos no enredo da cidade.

A primeira vez que vemos uma menção do Portão do Esterco, é no livro de Neemias – quando o povo judeu voltando do exílio na babilônia reconstrói as muralhas da cidade de Jerusalém.

“A porta do Vale foi reparada por Hanum e pelos moradores de Zanoa. Eles a reconstruíram e colocaram as portas, os ferrolhos e as trancas no lugar. Também repararam quatrocentos e cinqüenta metros do muro, até a porta do Esterco.” Neemias 3,14

Um dos portões de Jerusalém era o “Portão dos Montes de Cinzas”, usualmente chamado de “Portão do Esterco”. Ficava a uns mil côvados (445 m) ao L do Portão do Vale, e, portanto, ao S do monte Sião. Este portão era provavelmente chamado assim por causa do lixo acumulado no vale de Hinom, situado abaixo dele e para o qual dava acesso; o lixo da cidade possivelmente era levado para fora dela através deste portão.

Neemias chegou em Jerusalém por volta do ano 444 a.C. – e se este portão estava na lista de edificações reconstruídas, pode-se presumir que ele tenha estado presente antes do exílio – quando o Templo de Salomão ainda estava de pé.

De fato, precisa-se dizer que esse nome charmoso que recebeu o portão soa um pouco melhor em hebraico. O nome do portão é “שער האשפות” – e seria melhor traduzi-lo como “Portão do Lixo”. É provável que ele tenha recebido este nome em particular por ser o portão mais próximo do monte do templo, por onde os sacerdotes removiam o lixo e as cinzas dos sacrifícios antigos – que eram despejados no vale de Hinom, localizado a poucos metros dali.

Depois desta menção no livro de Neemias, registros históricos confiáveis desaparecem. É possível que o portão tenha evoluído junto com as muralhas da cidade, que mudaram de tamanho e posição inúmeras vezes ao longo dos séculos.

Evidências concretas sobre o portão ressurgem no século XVI. Entre 1537-1541, o Sultão Otomano, Suleiman o Magnífico, reconstruiu as muralhas da cidade antiga. O portão do esterco, uma das nove portas da cidade, era a mais insignificante delas. Uma abertura estreita e comprida, por onde passaria não mais do que um jumento.

Entretanto, com o passar dos anos a população da cidade cresceu. Assim, cresceu o comércio entre aldeias ao sul e a cidade. Além disso, durante os meses de verão os poços de água na cidade não davam conta da demanda. E o acesso mais rápido à Fonte de Gihon, próxima do tanque de Siloé, era passando por este portão.

Alguns séculos passaram até que em 1952, o governo jordaniano – que agora dominava a região – determinou que o portão fosse alargado para permitir a passagem de carros. Finalmente, depois de 1967 com a reunificação de Jerusalém sob domínio israelense, o portão do esterco passou por mais algumas reformas, e recebeu sua estrutura atual. Por ele passam uma infinidade de turistas e moradores locais em seu caminho para o muro das lamentações – o Kotel.

“Eis que reprovarei a vossa semente, e espalharei esterco sobre os vossos rostos, o esterco das vossas festas solenes; e para junto deste sereis levados”. Ml. 2,3

O uso do esterco para cozer pão em Ez 4.12-16, refere-se ao seu emprego como combustível, o que é ainda comum no oriente – mas a sua proximidade tornaria o pão impuro para os judeus.  O texto não manifesta dúvidas, os bolos de cevada, serão cozidos sobre o fogo do estrume, “e cozê-los-ás sobre o esterco que sai do homem” (Ez 4,12). Esta é uma pratica milenar dos habitantes do deserto, não existe outra maneira, e nem se poderia entender de outro jeito. Adulteramos o texto dizendo, que “Deus mandou o homem comer suas próprias fezes”.

Ezequiel, apresentando uma cena profética do sítio de Jerusalém, objetou quando Deus lhe mandou que usasse excremento humano como combustível para assar pão. Deus bondosamente permitiu-lhe usar em vez disso estrume de gado. (Ez 4,12-17). Isto parece indicar que não era costume fazer isso em Israel. O profeta Ezequiel recebeu instruções de retratar as condições igualmente penosas do sitio que sobreviria a Jerusalém por cozinhar a sua comida com fezes por combustível.

Em algumas partes da terra, até o dia de hoje, esterco seco de gado, chamado por alguns de “****** de vaca”, serve de combustível. Se tal conceito sobre o esterco de pombas for correto, então a narrativa declara simplesmente o custo do alimento (neste caso a cabeça dum jumento) e o custo do combustível para cozinhá-lo. Talvez a sugestão mais provável seja a de que o esterco era usado como combustível. Alguns dos povos nômades talvez usassem esterco como combustível.

Beduínos no deserto de Judá e no Negev ofereceram um chá feito na hora e o fogo era alimentado por raízes e ramos secos. Sem dúvidas o estrume dos animais, cabras, camelos etc., depois de secos é combustível para alimentar o fogo e o cozimento de alimento.

O estrume era a palha regada com líquidos imundos (Is 25,10), ou então as varreduras das ruas e das estradas, que eram ajuntadas fora da cidade em determinados sítios (Ne 2,13). Aplicava-se o esterco às arvores, abrindo covas em volta das raízes (Lc 13.8). Sentar-se alguém no monturo era sinal do mais profundo desalento (1 Sm 2.8 – Sl 113.7 – Lm 4.5).

Havia um “lugar privativo” ou “latrina” à disposição dos soldados de Israel, fora dos acampamentos do seu exército, e eles deviam cobrir seu excremento (Dt 23,12-14). Isto preservava a pureza do exército perante Jeová e também ajudava a prevenir que se espalhassem doenças infecciosas transmitidas por moscas.

Essa porta tem tudo a ver conosco hoje em dia, essa porta significa a porta do lixo. Em hebraico lemos essa palavra como “ashpoth” estrume (esgoto, lixo). Era através dessa porta onde era retirado o lixo, a sujeira da cidade de Jerusalém. E esse lixo era lançado no Vale do Hinom, em grego Geena, que significa inferno. Ali esse lixo todo era queimado para não vir mau cheiro para a cidade e também para não contaminar a cidade.

Quando aceitamos Jesus, todo o resto é esterco. Nós aceitamos Jesus e isso é o princípio para reconhecermos que precisamos Dele e para Ele entrar em nossa vida. Conforme vamos vivendo com Ele, Ele vai nos limpando, vai nos lavando com Seus rios de águas vivas, e vai nos ajudando através do Espírito Santo, a jogar todo o lixo, a sujeira que estava dentro de nós, para fora. E, ao invés do pecado, Ele nos preenche com Sua palavra, Seus ensinamentos e valores, para assim nos fazer uma pessoa melhor e por conseguinte levar-nos à Salvação.

A Bíblia nos mostra em 2 Coríntios 5,17 “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.”

Em Mateus 23,27 nos mostra que não podemos ser como sepulcro caiado, bonito por fora e morto e podre por dentro.

Que possamos olhar para dentro de nós mesmos. Que consigamos arrancar a sujeira que possa estar nos contaminando, o pecado que está nos impedindo de alcançar as bênçãos.

O apóstolo Paulo usou a palavra “esterco” (ou “lixo”, segundo algumas versões) para se referir aos valores que antes considerava superiores, e aos quais renunciou depois de conhecer Jesus Cristo como Salvador e Senhor.

“Mas o que para mim era lucro, passei a considerar perda, por causa de Cristo. Mais do que isso, considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por cuja causa perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo e ser encontrado nele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé”. Fp. 3,7-9]

Os valores a que Paulo se referiu diziam respeito a posição social, religião, prestígio pessoal, convicções pessoais, e outros. Evidentemente cada um de nós tem a sua escala de valores. Uns consideram importante possuir bens materiais, outros elegeriam como valor superior pertencer a um determinado grupo. Outros prezam mais um diploma. Assim como no caso de Paulo, há valores que abraçamos que se tornam incompatíveis com a fé em Jesus e com a vida cristã. Por isso, frequentemente é necessário avaliar se aquilo que estamos valorizando não precisa considerado como “esterco”.    

É surpreendente que muitos cristãos estejam trilhando o caminho inverso ao de Paulo. Ensinados desde crianças a prezar os valores cristãos, estão abandonando a comunhão com Cristo e com os demais cristãos, esquecendo a fé antes professada e a vida devocional, para aderir aos valores do mundo. Precisamos, como Paulo, esquecer as coisas que ficaram para trás e avançar para as que estão adiante, pois nosso alvo é Cristo.

Devemos exalar o perfume de Cristo, como vemos em 2 coríntios 2,15, para exalar aquilo que carregamos dentro de nós.

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