Jesus iniciou o seu ministério conclamando os homens ao arrependimento (Mt 3.8). Em seu primeiro, maior e mais famoso discurso, Jesus ensina os elevados padrões de santidade que devem nortear a conduta cristã (Mt 5-7). Temos ali, muitas exortações, entre elas: "Não vos assemelheis a eles" (Mt 6.8)... mas, "Sede, pois, perfeitos como é perfeito o vosso Pai Celeste" (Mt 5.48).
Esta chamada à santidade é algo muito claro, forte e recorrente na Escrituras Sagradas: "Sede santos porque eu sou santo" (1Pe 1:16); E esta nossa vocação é reiterada pelo Apóstolo Paulo: "Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação" (1Ts 4,3); "Porque não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação" (1Ts 4.7). Paulo afirma que Jesus deu a sua vida para promover não apenas a nossa salvação, mas também a nossa santificação (Ef 5.25-26).
Então, o crente não deve se conformar com o mundo (Rm 12.1-2), não deve manchar as suas roupas com a imundícia do pecado (Ap 3.4), mas deve ser santo em todo o seu procedimento (1 Pe 1.13-16), deve ser obediente e fiel até a morte (Ap 2.10; 26; Gl 6.9). Pois sem santidade não há salvação (Hb 12.14). Sem vida com Deus aqui, não haverá vida com Deus no céu (1 Ts 4.7-8). Sem santidade na terra não há glória no céu (Ap 3.2-5).
Não basta estar, é preciso permanecer e também frutificar. O ramo que não produz o devido fruto está prestes a ser cortado e lançado fora (Jo 15.2), e o crente morno corre o risco de ser vomitado (Ap 3.16), pois de Deus não se zomba, aquilo que o homem plantar, isto mesmo ele irá colher (Gl 6.7). Cuidado para que "ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus" (Hb 12.15). Os apóstolos expressamente advertem que os que cultivam um estilo de vida pecaminoso não herdarão o Reino dos céus (Gl 5.21). O nascido de Deus não pode viver na prática do pecado (1Jo 5.18). "Se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados" (Hb 10.26). Ao povo escolhido, Deus adverte: "Riscarei do meu livro aquele que pecar contra mim" (Ex 32.33). Portanto, somos exortados a mortificarmos os desejos pecaminosos pois eles nos colocam sob a condenação de Deus (Cl 3.5-6). Sendo assim, "purifiquemo-nos de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (2Co 7.1), "Agora, libertos do pecado e feitos servos de Deus, tendes o vosso fruto para santificação, e por fim a vida eterna" (Rm 6.22).
Por esta mesma razão é que o Apóstolo Paulo exorta: "Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está em vocês? A não ser que tenham sido reprovados" (2Co 13.5). E João escreveu seu livro para levar certeza para os salvos, afirmando existirem frutos como evidência da salvação: "Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem não ama permanece na morte" (1Jo 3.14); A fé salvadora é aquela que opera por meio do amor (Gl 5.6), pois a "fé sem obras é morta" (Tg 2.26); crentes sem frutos não encontram base para segurança da sua salvação (Jo 15.2). Temos que entender que a natureza da salvação não se resume a justificação, mas também inclui regeneração, santificação e, por fim, glorificação.
Jesus Modelo de Santidade!
O chamado para partilhar da comunhão e da amizade com Deus é o fundamento para uma vida de santidade. Pois somos naturalmente influenciados por aqueles com quem passamos a conviver. O texto de Marcos 3:14 nos ensina que, em primeiro lugar, os discípulos foram chamados para estarem com Jesus e não para fazerem qualquer outra coisa.
Os discípulos admiravam a Jesus e naturalmente queriam ser parecidos com ele. Não devemos subestimar o poder de tal estímulo e identificação. Se o convívio com pessoas admiráveis realmente causa um grande impacto na vida do admirador, o que dizer, então, do poder de atração do carisma do Deus encarnado?
É natural do ser humano a busca de ídolos com quem possa se identificar. Isto começa na infância e costuma seguir por toda a vida. Enquanto, heróis humanos acabam desapontando com o passar do tempo, Jesus, ao contrário, jamais decepciona. Jesus é o protótipo do verdadeiro homem. Nele, podemos e devemos nos inspirar.
Jesus, fonte de santidade!
Ser como Cristo é uma tarefa humanamente impossível. Mas, "o que é impossível para os homem é possível para Deus" (Mc 10.27)! Jesus não apenas é modelo de santidade, como também é a própria fonte dela (Ez 36.26-27). Ele é ao mesmo tempo o alvo e o caminho (Jo 14.6)! Santidade não é uma obra da carne, mas do Espírito (Gl 5.16)!
Jesus não apenas nos chama à uma vida de santidade, mas também nos capacita (Ez 36.26-27). "Porque Deus é quem opera em nós tanto o querer como o realizar" (Fp 2.13). Jesus não apenas realizou uma obra a favor de nós, mas também opera uma obra dentro de nós (Tt 3.5)! Jesus não apenas perdoa pecados, mas também transforma vidas (Rm 5.8). Jesus transformou pescadores comuns em pescadores de homens (Mt 4.18-20). Transformou Simão em Pedro, Saulo em Paulo. Pois Jesus não apenas justifica, mas também regenera (2Co 5.17). Não apenas nos declara santos, mas também nos torna santos (Jo 15.3). Não apenas nos livra da condenação do pecado, mas também nos livra do domínio do pecado (Rm 6.14). Não apenas é Salvador, mas também é Senhor (Rm 10.9; Fl 2.10-11; 1Tm 6.15; Tg 4.7). Não apenas nos convida a crer, mas também nos conclama ao arrependimento (Mt 3.8; 4.17; Mc 1.15; Lc 13.3). Pois, não basta apenas crer, é necessário obedecer (Ef 5.6; 6.6; 1Jo 3.6, 24). Não basta ser crente, é necessário ser discípulo (Mc 8.34; Lc 9.23; Mt 28.19). Não basta receber o amor, é necessário amar (1Jo 3.16, 23). Porque os que conhecem verdadeiramente a Deus são os que o amam (1Jo 4.8), e os que o amam, verdadeiramente lhe obedecem (Jo 14.21). De modo que não basta apenas receber o perdão, é necessário perdoar (Mt 6.14-15), pois os que são objetos do seu perdão devem também se tornar perdoadores, sob o risco de terem o perdão de seus pecados cancelados pelo Supremo Credor (Mt 18.23-34).
Contamos também com a graça do seu Espírito regenerador que nos torna participantes da natureza divina e nos capacita para um viver condizente com o sublime nome que carregamos (1 Pe 1.23). “Deus nos concedeu todas as condições necessárias para a vida e a piedade” (2Pe 1.3); para vivermos como filhos de Deus, e para “escaparmos da corrupção deste mundo” (2 Pe 1.4). Jesus não apenas nos exorta a sermos santos (Mt 5.48), mas também nos capacita. Recebemos um novo coração (Ez 36.26), a mente de Cristo (1Co 2.16) e toda a armadura de Deus (Ef 6.10-13) para vencermos o mal (2Co 10.4) e vivermos de modo digno do Evangelho (Fl 1.27). Portanto, assim como faz cair a chuva, propiciando por sua graça as condições necessárias para que a terra produza os seus frutos (Hb 6.7), Deus já nos deu tudo de que precisamos para um novo viver.
Sendo assim, o trabalho de Deus a nosso favor e em nós deve ser a base e o incentivo para o nosso próprio esforço para o crescimento espiritual. Deus nos deu graça e todas as condições para a vida e a piedade (2 Pe 1.3), "por isso" devemos nos esforçar para cumprir a nossa parte (2Pe 1.5). Paulo ensinou o mesmo a Igreja de Corinto, quando lhes disse: "Caríssimos, já que temos tais promessas, vamos purificar-nos de toda mancha do corpo e do espírito. E levemos a cabo a nossa santificação no temor de Deus" (2 Co 7.1).
Assim, compreendemos melhor o que Jesus quis dizer com a frase: “...o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Mt 11:12) e também o que está registrado em Lucas 13:23-30 “E alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos? Respondeu-lhes: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão”. Jesus advertiu a seus discípulos dizendo: "Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus (Mt 5.20). “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2.12), pois “...de Deus somos cooperadores” (1Co 3:9). "Empenhem-se para serem encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis" (2Pe 3.14). "Não sabeis que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? correi de tal maneira que o alcanceis" (1Co 9.24,25).
Portanto, a santificação é um processo contínuo (Fp 3.12) que começa na regeneração (Tt3.5) e é incrementada através de outras experiências marcantes com o Espírito de Deus como também por experiências cotidianas de renovada consagração e plenitude do Espírito (Ef 5.18), até que todos cheguemos à medida da estatura completa de Cristo (Ef 4.13).
Somente revestidos de toda a armadura de Deus é que somos capazes de vencer as tentações do maligno (Ef 6.11-13). "Porque as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus para destruição das fortalezas; Destruindo os conselhos, e toda a altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo o entendimento à obediência de Cristo" (2 Co 10.4-5). Portanto, é possível andarmos no Espírito de modo a jamais satisfazermos as concupiscências da carne (Gl 5.16). Ciente desta verdade é que o Apóstolo João afirma: "Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não peca; mas o que de Deus é gerado conserva-se a si mesmo, e o maligno não lhe toca" (1 Jo 5.18). E o Apóstolo Paulo afirma o mesmo quando diz: "Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para lhe obedecerdes em suas concupiscência" (Rm 6.12).
Portanto, as exortações de Cristo e de seus apóstolos são para que vivamos uma vida de vitória sobre o pecado. O pecado não deve ser a norma do cristão, embora possa vir a acontecer excepcionalmente: "Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo" (1 Jo 2.1). A graça de Jesus continua operando tanto para o perdão dos pecados como também para a purificação dos corações dos filhos de Deus! (1 Jo 1.9).
Cuidado com o legalismo
Mas, precisamos tomar cuidado para não cair no legalismo que leva ao orgulho espiritual e produz apenas santidade exterior, cristãos de fachada, sepulcros caiados. A santidade é produto da graça, é fruto do Espírito, de modo que não temos do que nos gabar. A santidade é humilde e misericordiosa, é mansa e pacífica, é compassiva e sofredora como bem ensinou Jesus no início do Sermão do Monte (Mt 5.1-12). A santidade não nos coloca acima dos fracos, mas a serviço deles. Não nos faz sentir superiores, mas servos. A santidade não é elitista, pois é solidária. Ela não nos afasta das pessoas, mas nos aproxima delas. Não é cheia de condenação, antes, é repleta de compaixão. A santidade é amor!
O caminho da santidade não está no estabelecimento dos limites e regras, pois a tendência humana é a de caminhar na direção para onde os seus olhos estão apontados. Por exemplo, o motorista experiente não fica de olho na margem externa de uma curva acentuada tentando se manter distante dela, mas, sim, fixa os olhos na margem interna procurando manter-se próximo a ela.
Assim também acontece na vida cristã, pois, se fixarmos os olhos naquelas coisas que devemos evitar, vamos acabar sendo atraídos por elas. Mas, se, ao invés disto, nós passarmos a nos preocupar mais em estar mais perto de Cristo, naturalmente estaremos nos afastando do pecado, pois quanto mais perto de Jesus, mais distante nos encontraremos do mal. Eis aí o caminho para uma vida santa! Tendo sempre a Jesus como o alvo, o caminho, a verdade e a vida!
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