“E deu à luz o
seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles na estalagem” (Lc 2,7).
Em uma noite
estrelada, não muito diferente daquela que testemunhou o nascimento de Jesus há
séculos, encontrei-me perdido à sombra de uma montanha, em busca de algo que
ainda não compreendia totalmente. A escuridão era densa, o silêncio profundo, e
minha ansiedade crescia a cada passo incerto.
Era 24 de setembro de 2016. Ao pé da montanha, vi-me um pouco assustado, ansioso
sem saber como chegar ao meu destino. Era muita escuridão, muito silêncio e
muita expectativa.
Foi então que,
como uma estrela que surge no céu noturno, avistei a tênue luz de uma pequena
igreja. Um refúgio simples, onde almas humildes se reuniam para adorar a Deus.
Eram pessoas do campo, preparadas para o culto com uma simplicidade tamanha.
Sem fazer muitas perguntas, minha esposa e eu nos juntamos a eles, participando
daquela celebração que se desenrolava entre cânticos, leituras da Bíblia e
palavras inspiradoras.
A emoção, as
lágrimas e a surpresa que experimentei naquela noite me conduziram a uma
reflexão profunda: a semelhança com a noite de Belém, onde Jesus nasceu em uma
manjedoura entre um boi e um burro, tornou-se clara como as estrelas no céu.
Assim como naquela noite sagrada, ali estávamos, envoltos em simplicidade e
humildade, testemunhando a presença divina.
O Filho de
Deus, Jesus, veio ao mundo, escolhendo um berço modesto, uma manjedoura como
primeiro leito, entre um boi e um burro, para nos ensinar a amar a pobreza e a
valorizar a riqueza do coração, não a acumulação material. A mensagem era
clara: Ele amou tanto a humanidade que escolheu a pobreza, o sofrimento e a
morte por nós. Veio a nós numa cocheira, entre um boi e um burro, conforme fora
escrito pelo profeta Isaías:
"Conhecerá
o boi o seu dono e o asno conhecerá o presépio de seu Senhor” (Is. I, 3).
Imagino a cena
daquela noite extraordinária, com o cheiro do líquido amniótico misturado à
urina dos animais, em uma condição que poderia ser considerada sub-humana. No
entanto, naquele ambiente humilde, Deus se manifestou. O bebê fragilizado,
rodeado por desconforto e impurezas, era o próprio Criador do Universo, o Salvador
do mundo. É uma condição inferior ao que se pode chamar de sub-humano…
A cocheira, onde
os animais deixam no chão suas imundícies e comem no coxo, carregam o odor da
serragem, restos de estrume e a presença persistente de moscas, é uma caixa
úmida, com restos de ração e também limbo da boca dos animais, e por mais que
sempre lavem e escovem, torna-se um símbolo marcante da Igreja. A Igreja
permanece humilde, sem brilhar com luz própria, mas irradiando a luz de Cristo.
Jesus nasceu
numa cocheira e foi reverenciado por gente vinda de lugares distantes. Uma
cocheira de 2000 anos atrás, numa das regiões mais pobres do mundo, localizada
às vizinhanças de um deserto. Maria, uma gestante, sentindo dores de parto, foi
instalada numa dessas cocheiras e ali deu à luz a um bebê, que sem nenhuma
outra possibilidade, foi embalado em alguns poucos panos limpos e deitado no
coxo para que a mãe pudesse descansar por alguns instantes.
E pensar que
hoje, vemos “presépios” decorativos de natal, todos iluminados, coloridos, com
pedras e cristais ornamentais e outros fru-frus, quando na verdade, esta
palavra “presépio”, ou “estrebaria”, “cavalariça”, “curral”, não se refere a
outra coisa senão a uma cocheira! Os presépios decorativos que muitas vezes
adornam nossas casas durante o Natal, com suas luzes cintilantes e ornamentos,
podem ofuscar a verdadeira essência da palavra "presépio", uma
cocheira, uma estrebaria, um lugar simples e despretensioso.
Jesus nasceu
mesmo num lugar humilde, provavelmente numa cocheira, e seu primeiro berço foi
uma manjedoura. Por que? Porque não havia lugar para Ele em nenhuma estalagem
(Lucas 2:6). Na maioria dos corações das pessoas hoje ainda está escrito
"NÃO HÁ VAGA" para Jesus. E no seu? O nascimento de Jesus nos
corações humanos é um dos grandes e mais belos momentos de nossa história. A
manjedoura é um exemplo de simplicidade e humildade, onde aquele frágil
bebezinho que ali repousava numa dessas cocheiras imundas, com tamanho olor,
moscas, calor, serragem, poeira e desconforto, era simplesmente Deus!
É uma lição
para nós humanos, cegos num mundo materialista e de acúmulo. Atentemos: A
riqueza reside no coração, não nos palácios. Esta Igreja, pobre e humilde, não
brilha com sua própria luz, mas com a luz de Cristo! Uma Igreja pobre, que não
tem outras riquezas. Sua grande virtude deve ser não brilhar como luz própria,
mas brilhar com a luz que vem de seu Esposo, Cristo.
“Pois conheceis
a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de
vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos” (2 Cor 8, 9).
Pobre, pequeno,
nascido em uma cocheira, não representava nenhuma barreira para a aproximação.
Ninguém teria receio de chegar a um estábulo. Ele estaria facilmente ao alcance
tanto de pobres como de ricos. Identifica-se com a sorte humana na sua condição
mais baixa, a morte de cruz. Desceu até nós a fim de restaurar o que o primeiro
homem perdera no Paraíso pelo pecado e a rejeição a Deus. É dessa forma que o
Homem das Dores se identifica com o sofrimento humano e reergue a humanidade
até a condição de filhos de Deus.
Assim, como a
Igreja que testemunhei naquela noite estrelada, humilde e pobre, que não busca
brilhar com sua luz própria, mas sim irradiar a luz que provém de seu Esposo,
Jesus Cristo, torna-se uma lição valiosa em um mundo obscuramente materialista.
O Pastor Helder
Alencar, da cidade de Gonçalves MG. no Bairro Lambari, deixou sua vida
palaciana, para assistir aos irmãos junto a uma cocheira, com a fundação da
Igreja Evangélica Apostólica Coluna de Fogo. Louvores ao Senhor Jesus! (Pr. Maurício de Souza Lino).
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