Antes que houvesse dor, havia comunhão. Antes que o suor molhasse o rosto, havia brisa suave. Antes que o homem se escondesse, havia passos divinos entre as árvores. O Éden não era apenas um jardim — era um lugar de encontro. Um espaço onde o tempo não corria, onde o trabalho era prazer, e onde a presença de Deus não era buscada, mas vivida. Ali, o homem e a mulher foram colocados como guardiões da criação. Não como servos, mas como filhos. Adão e Eva não apenas habitavam o Éden — eles pertenciam a ele. Cada folha, cada rio, cada animal, tudo estava em harmonia com o propósito divino.
E no centro, duas árvores: uma que dava vida, e outra que exigia escolha. Foi ali que a antiga voz voltou a sussurrar.
A serpente, símbolo da rebelião celestial, agora se movia entre os galhos. A mesma mentira que derrubou Lúcifer agora se dirigia ao homem: “Sereis como Deus...” Não era apenas uma tentação — era uma proposta de autonomia. De independência. De ruptura.
E o homem caiu.
“Então foram abertos os olhos de ambos, e perceberam que estavam nus; por isso, entrelaçaram folhas de figueira e fizeram cintas para si.”
— Gênesis 3:7
A queda não foi apenas moral — foi relacional. O que antes era transparência tornou-se vergonha. O que antes era liberdade tornou-se medo. E quando Deus veio ao encontro, o homem se escondeu. A comunhão foi quebrada. O Éden, profanado.
“E o Senhor Deus lançou fora o homem do jardim do Éden, para lavrar a terra de que fora tomado.”
— Gênesis 3:23
A espada flamejante que passou a guardar o caminho da árvore da vida não era apenas punição — era misericórdia. Porque viver eternamente em estado de queda seria condenação sem fim. O jardim foi fechado. E o exílio começou.
Mas o Céu não nos esqueceu.
Mesmo fora do Éden, Deus continuou falando. Vestiu o homem com peles — sinal de sacrifício. Prometeu um descendente — sinal de redenção. E mesmo quando o solo se tornou árido e o suor passou a molhar o rosto, a esperança não foi apagada.
O jardim fechado tornou-se símbolo da separação. Mas também da promessa. Porque se há um caminho bloqueado, há também um Deus que prepara pontes. E a história do homem, embora marcada pela queda, é também marcada pela busca. Pela saudade. Pelo desejo de voltar.
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