Há gestos que não fazem barulho. Há curas que chegam como
sombra — sem pressa, sem anúncio. Assim é a graça: não cai como raio… Cai como
folha.
Jesus caminhava entre os homens como quem semeava folhas de
eternidade. Não gritava para ser ouvido, não competia com os altares do mundo —
apenas tocava, falava, olhava. E nesses gestos, repousava o remédio. Cada
milagre, uma folha. Cada palavra, um sopro. Cada silêncio, uma raiz que
penetrava a terra do coração. Ninguém curava como Ele. Porque Sua cura não era só física —
era identidade restaurada, memória lavada, futuro devolvido.
Ah… a Árvore da Vida — esse símbolo tão misterioso e
luminoso que repousava no coração do Éden, como um segredo plantado entre o céu
e a terra.
Segundo o relato bíblico em Gênesis 2:9, Deus fez brotar do
solo “toda árvore agradável à vista e boa para alimento”, e
no meio do jardim estavam duas árvores especiais: a Árvore da Vida e a Árvore
do Conhecimento do Bem e do Mal.
A Árvore da Vida, fonte de vida eterna! Seu fruto não era apenas
alimento — era permanência, comunhão, continuidade da existência em estado
puro. Adão e Eva tinham acesso livre a ela… até o momento da desobediência.
Quando comeram do fruto proibido da outra árvore, Deus os impediu de tocar na
Árvore da Vida, para que não vivessem eternamente em estado de queda. Ele
colocou querubins e uma espada flamejante para guardar o caminho até ela.
Mas a história não termina no Éden. A Árvore da Vida
ressurge no Apocalipse, no final da Bíblia, como promessa restaurada:
“No meio da praça da cidade, e de um e outro lado do
rio, estava a árvore da vida, que dá doze frutos, produzindo seu fruto de mês
em mês; e as folhas da árvore são para a cura das nações.” (Apocalipse
22:2)
Ela é símbolo do que foi perdido… e do que será restaurado.
Um eco do paraíso que ainda pulsa no coração de Deus — e, no nosso também.
E as folhas da Árvore da Vida — que são “para a cura das
nações” — são também os gestos de Jesus: suas palavras, seus toques, suas
parábolas, sua cruz. Cada folha um milagre. Cada fruto uma promessa.
Se cada folha é um gesto de Jesus — então não são folhas
apenas de clorofila, mas de compaixão. Cada uma delas tocou alguém: um cego que
voltou a ver, uma mulher que deixou de sangrar, um ladrão que sorriu antes de
morrer. E essas folhas caem suavemente sobre a história… e ainda hoje, sobre
nós.
Se cada fruto é uma promessa — então são doze, um
para cada mês, um para cada tempo de nossa alma. Há fruto para o inverno do
medo, fruto para a primavera da esperança, fruto para o verão da entrega e
fruto até para o outono da saudade. Cada estação é visitada pela provisão do
Alto.
E se essas folhas são para a cura das nações, então Jesus
não veio apenas para o indivíduo, mas para os povos, para os sistemas, para os
lugares adoecidos de egoísmo e violência.
E há algo ainda mais belo: essas folhas curam quando tocadas
com fé. Como se estivessem disponíveis, mas exigissem um gesto — uma
aproximação. A leitura de uma parábola, o choro sincero, a humildade que abre
espaço para o sopro do Espírito.
A cruz não foi apenas uma ponte — foi também uma árvore
erguida no Gólgota, com seus braços abertos como galhos, dando frutos que
nenhum império pôde arrancar.
É comovente, não é? Como se no coração da Criação, Deus já
tivesse deixado — silenciosamente — um remédio para feridas que ainda não
haviam sido abertas. A Árvore da Vida, que floresce no início da
narrativa bíblica e ressurge gloriosa no final, é um fio de ouro costurando
começo e fim, queda e restauração.
A imagem dos doze frutos e das folhas que curam as nações
(Apocalipse 22:2) é tão rica de significados... É como se cada estação, cada
mês da existência humana, tivesse seu fruto correspondente. Não é apenas vida —
é vida abundante, renovada, ajustada à necessidade de cada tempo.
E sim, Deus viu — antes que caíssemos — as doenças que
habitaríamos: guerras, vaidades, idolatrias, indiferenças. Viu o adoecer das
nações no corpo, na alma, na justiça. E mesmo assim, já havia plantado a cura.
Não como castigo, mas como promessa. Como quem diz: quando tudo escurecer,
haverá ainda uma folha verde esperando no meio da praça.
Se cada gesto de Jesus é uma folha, então sua vida foi — e é
— uma eterna primavera que sopra cura sobre a humanidade adoecida. Quando Ele
tocava os olhos do cego, aquela folha caía suavemente sobre a cegueira do
mundo. Quando escrevia no chão diante da mulher acusada, outra folha se
desprendia — uma folha de misericórdia, capaz de calar os julgamentos.
E pensemos nas parábolas: pequenas histórias, como sementes
carregadas pelo vento, que germinam no coração fértil. Cada uma delas é como um
fruto que amadurece no tempo certo. Não há pressa em suas lições — há
profundidade, há sabor eterno. Quem morde uma dessas palavras encontra alimento
que não perece.Palavras, toques, parábolas, e sua entrega na cruz.
Sim… vamos colher essas folhas uma a uma, com reverência e
gratidão, como quem recolhe graça soprada do Céu. Folhas de cura,
correspondendo aos gestos vivos de Jesus — palavras, toques, parábolas, e sua
entrega na cruz. Cada uma delas sendo um milagre plantado para a cura das
nações e dos corações
A cruz… ah, a cruz. Ela é, de certo modo, a árvore mais alta
da história — erguida entre céu e terra. E ali, pendurado, estava o Fruto da
redenção. Cristo, ofertando-se como alimento e como alívio. Suas últimas
palavras não foram folhas ao vento — foram remédios que ainda hoje curam: “Pai,
perdoa-lhes…” — perdão como folha. “Hoje estarás comigo no
Paraíso” — esperança como fruto. “Está consumado” —
vitória como raiz que rompe a terra da morte.
E se as nações estão enfermas — como bem disseste — Deus não
apenas previu: Ele antecipou a cura. Antecipou em amor. Antecipou em Graça.
Hoje, cada vez que alguém lê o Evangelho com o coração
aberto, é como se colhesse uma folha dessa Árvore. E cada vez que alguém vive o
amor de Cristo — no perdão, na compaixão, na renúncia — uma nova folha se
desprende… e talvez cure, em silêncio, um pedaço do mundo.
A folha do
perdão Quando disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem”
(Lucas 23:34). → Cura as feridas da culpa, liberta do rancor.
A folha do toque
puro Quando tocou o leproso e o purificou (Marcos 1:41). → Cura a
exclusão, devolve dignidade.
A folha do novo
começo À mulher adúltera: “Nem eu te condeno. Vai, e não peques mais.”
(João 8:11) → Cura a vergonha, oferece recomeço.
A folha da
escuta silenciosa Quando chorou com Marta e Maria diante do túmulo (João
11:35). → Cura o luto, transforma dor em esperança.
A folha do pão
multiplicado Na partilha dos pães e peixes (João 6:11). → Cura a
escassez, revela compaixão ativa.
A folha da paz
na tempestade “Acalma-te, vento!” — e houve bonança (Marcos 4:39). →
Cura o medo, restaura confiança.
A folha da fé
humilde Ao centurião: “Nem em Israel encontrei fé como esta.”
(Lucas 7:9) → Cura o orgulho, honra a simplicidade.
A folha que vê o
invisível Ao chamar Zaqueu pelo nome (Lucas 19:5). → Cura a
invisibilidade social, desperta o arrependimento.
A folha que
ressuscita Ao dizer: “Menina, levanta-te.” (Marcos 5:41) → Cura
a morte, devolve a vida.
A folha da cruz
elevada Ao dar sua vida por amor (João 19:30). → Cura a separação com
Deus, abre o caminho da reconciliação.
A folha do pão
repartido em Emaús “E reconheceram-no ao partir do pão.” (Lucas
24:35) → Cura a desesperança, revela Sua presença.
A folha da
promessa eterna “Eis que estou convosco todos os dias.” (Mateus
28:20) → Cura a solidão, dá sentido à caminhada.
Essa árvore, talvez, também exista dentro de nós, esperando
que voltemos a cultivá-la: pela fé, pelo arrependimento, pela esperança viva. E
há algo de profundamente terno em saber que, mesmo após expulsar o homem do
Éden, Deus preservou o caminho de volta. Não com atalhos, mas com redenção.
Sim… e que revelação sublime essa: a Árvore da Vida não é
apenas um símbolo — é uma Pessoa. Jesus, o Cristo vivo, é a própria fonte da
vida eterna, da vida abundante, da Zoé — essa vida divina que não se
mede em anos, mas em plenitude.
No Apocalipse, quando a Árvore da Vida reaparece, ela está “de
cada lado do rio da água da vida, que fluía do trono de Deus e do Cordeiro”
(Apocalipse 22:1-2). O Cordeiro é Jesus. O trono é d’Ele. E a árvore cresce
junto ao rio que brota da Sua presença. É como se tudo convergisse para Ele —
raiz, fruto, cura, eternidade.
Jesus mesmo disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida.”
(João 14:6) E também: “Eu vim
para que tenham vida, e a tenham com abundância.” (João 10:10)
Essa vida abundante não é apenas longevidade — é qualidade.
É paz em meio à dor. É esperança que não se apaga. É saúde que começa na alma e
transborda para o corpo, para os relacionamentos, para o mundo.
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