Ninguém o vê. Ele não tem cor vistosa, não ocupa o centro do prato, nem se gaba do próprio valor. E, no entanto, quando falta, tudo parece sem graça. O sal é um desses pequenos milagres cotidianos que trabalham em silêncio.
Pensei nisso hoje enquanto mexia a colher na panela e via o sal se desfazendo. Dissolve-se tão rápido que quase passa despercebido. Mas logo, com a primeira prova, percebe-se sua presença. Discreto, porém indispensável. Invisível, porém essencial. Que bela metáfora para a vida!
“Vós sois o sal da terra”, disse Jesus. E desde então, venho tentando entender o que isso quer dizer. Talvez ser sal não seja aparecer, mas influenciar. Não seja brilhar, mas temperar. Não seja ocupar espaço, mas dar sabor.
O sal se entrega. Some para que o outro sobressaia. Cumpre sua missão no íntimo das coisas. E quando não cumpre, perde a razão de ser. O sal que não salga é apenas poeira branca. Assim também, talvez, sejamos nós quando deixamos de amar, de servir, de cuidar.
Ser sal é uma arte esquecida em tempos de vitrines. É ser útil sem vaidade. É ser presença sem palco. É viver para fazer diferença, mesmo que ninguém aponte o dedo e diga: “ali está o sal”.
Porque o sal verdadeiro está onde faz falta — e se nota não quando está presente, mas quando se ausenta.
E se no fim do dia alguém disser que sentiu um gosto bom, uma paz inexplicável, uma presença que acalmou... então, o sal cumpriu sua missão.
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