Epifania significa “manifestação”. No sentido original
significa a primeira luz que aparece no horizonte, antes de sair o sol. Essa
luz foi tomada como símbolo da iluminação espiritual em muitas religiões; por
isso, a luz vem sempre do Oriente. Toda manifestação de Deus tem a marca da
universalidade. Na relação com Deus estão excluídos os privilégios e
exclusivismos. “Fora da Igreja há salvação!”
Na Epifania, não estamos celebrando a data de um
acontecimento, mas a realidade de quem é Deus e a imensa alegria de poder
descobri-Lo presente em tudo e em todos.
Se o Senhor não se manifestasse, sua Encarnação não teria
chegado à toda a humanidade. Pois bem, a manifestação de Deus em Jesus tem um
alcance universal, está destinada a toda humanidade.
É interessante que a tradição tenha interpretado que os Três
Magos procediam dos três continentes até então conhecidos: África, Ásia e
Europa. O mago negro aparece sempre. No Reino de Jesus Cristo não há distinção
de raça ou de origem, não há diferenças nacionais, nem sociais, nem raciais. Todos
somos filhos do mesmo Pai. Jesus Cristo une todos os povos e todas as pessoas,
sem perder a riqueza de sua diversidade.
A tradição também relacionou os três reis com as três idades
da vida do ser humano: a juventude, a idade madura e a velhice. Deste modo,
todos podemos nos ver representados nos três magos que vão ao encontro do
menino-Deus.
Jesus Cristo como “estrela”, é guia da humanidade e por isso
desce à terra. De fato, a estrela se deteve no presépio, onde estava Jesus. A
estrela, portanto, é Jesus presente no cosmos; logo, o cosmos fala
implicitamente de Cristo, embora sua linguagem não seja totalmente decifrável
para o ser humano.
A Criação deixa transparecer os atributos do Criador:
bondade, compaixão, verdade, justiça... Desperta também a expectativa, mais
ainda, a esperança de que um dia este Deus se manifestará plenamente.
A partir de então, as verdadeiras estrelas da humanidade são
as pessoas que nos mostram o novo caminho para o Deus encarnado.
Também hoje continuamos necessitados de estrelas que
iluminem nossos caminhos e guiem nossos corações, porque a noite é escura, as
certezas se debilitam ou se petrificam, os abusos de poder violentam, destroem
e marginalizam, a esperança continua sendo um desafio para quem consentiu
acreditar.
Essas estrelas são pessoas, gestos, conversações que
iluminam nossa vida cotidiana e nos recordam a verdade salvadora que se encarna
em Jesus. Mas também são acontecimentos, sinais dos tempos, mudanças que ajudam
a crescer e a melhorar, porque guiam para esses lugares que nos fazem mais
humanos, que nos ajudam a compreender que nem tudo está dito e nos recordam que
Deus continua sendo surpresa e impulso, que sua salvação não é algo do passado
ou de um futuro distante e enigmático, mas presente e atuante em cada geração e
em cada pessoa.
Como Igreja e como cristãos temos de repensar muitas coisas,
mas não a partir do poder (Herodes e Jerusalém), mas a partir da Luz. A
revelação, a estrela, estão no fluxo da história da Igreja e da humanidade;
precisamos procurar fazer nossa essa luz para que ilumine cada situação humana
e eclesial.
A Boa Notícia de Jesus nos levanta, nos convida a caminhar
com a certeza de que sempre haverá estrelas que alimentem nossa esperança,
orientem nossos projetos, nos sustentem nos momentos vulneráveis, nos abram na
obscuridade. Nem sempre é fácil pôr-se de pé, fugir das seguranças do poder e
do êxito, começar de novo... Mas, aí está uma multidão de estrelas que
continuarão comprometidas em acompanhar-nos em todos os nossos esforços.
Mais uma vez somos convidados(as) a ser “magos/as”,
caminhantes e buscadores que sabem seguir a estrela sem medo a que nos leve a
lugares desconhecidos, surpreendentes ou inesperados. Magos/as que presenteiem
perdão, bondade e solidariedade sem esperar outra coisa em troca a não ser fraternidade
e empatia.
Magos(as), em definitiva, que coloquem a confiança naquilo
que constrói e liberta, e abandonem tudo aquilo que é imposto, violento ou
interesseiro. Não é um caminho fácil. Não basta escutar o chamado do coração; é
preciso pôr-se em marcha, expor-se, correr riscos.
O gesto final dos magos é sublime. Não matam o menino, mas o
adoram. Inclinam-se respeitosamente diante de sua dignidade; descobrem o divino
no humano. Esta é a mensagem de sua adoração ao Filho de Deus encarnado no
menino de Belém.
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