sexta-feira, 7 de julho de 2023

Deus Sofredor

 

“Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade” (Salmos. 86,15).

Amados, hoje quero meditar sobre o Deus sofredor. Sim, é isso mesmo: Deus sofredor! “Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade” (Sl. 86,15). “Piedoso e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia” (Sl. 145,8). Quando li esses versículos, fiquei muito surpreso. Quem diria, Deus que sofre? Mas, como? Que quer dizer sofredor? Assim, deixo aqui minhas reflexões a respeito.

Primeiramente, procurei conhecer o significado, segundo o dicionário Aulete, da palavra sofredor: padecedor, padecente, aquele que sofre dor. Seu antônimo: bem-aventurado, feliz.

Reportei-me então, no primeiro livro da Bíblia, Gn. 3,16-17: “E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição; com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará. E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz da tua mulher, e comeste da árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela: maldita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela, todos os dias da tua vida”.

Na verdade, quem vai sofrer essas dores, é Deus!

Em Ex. 34,6-7 onde diz: “Passando, pois, o Senhor perante a sua face, clamou: Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos, e sobre os filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração”, Deus está concedendo a Moisés uma visão de seu amor! A glória de Deus é revelada através da sua misericórdia, graça, compaixão, fidelidade, seu perdão e justiça.

Devido à sua grande compaixão, na verdade, quem sente essas dores todas, é Deus, pois, veja: Compadecer: padecer com; sofrer dor alheia, sentir compaixão de participar dos sofrimentos alheios, condoer-se. É o que Deus sente e faz! Ele foi o primeiro a sentir as dores do homem; o Deus que sofre!

 

Mais do que isso, segundo Is.53,3-5, “Era desprezado, e o mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos: e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si: e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniquidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados”.

Ele sofre! Ele é o Deus sofredor, o Homem das dores! O nosso Senhor das dores! Não tem o que falar. A Bíblia fala por si mesma.

A condição humana de sofrimento, dores e provações é uma realidade em nosso mundo por diversos motivos. Uma dessas razões é a existência do pecado no mundo. Desde a queda de Adão e Eva, o pecado entrou no mundo e trouxe consequências dolorosas para a humanidade. O pecado afetou todas as áreas da vida humana, causando separação de Deus, desordem nas relações humanas e distorções na natureza criada.

Embora Jesus tenha realizado a obra redentora na cruz do calvário, trazendo libertação e salvação, isso não significa que todos os efeitos do pecado tenham sido totalmente eliminados neste mundo presente. A obra de Jesus é uma realidade já presente, mas também algo que será completamente consumado no futuro. Nós, como cristãos, vivemos em um tensionamento entre o "já" e o "ainda não" do Reino de Deus.

Em Cristo, temos acesso à vida eterna e à habitação do Espírito Santo em nós. O Reino de Deus está presente por meio da presença de Jesus em nossas vidas e na igreja. No entanto, ainda vivemos em um mundo caído, sujeito às consequências do pecado. Isso significa que enfrentaremos tribulações, provações e dores neste mundo, mas a esperança cristã está firmada na certeza de que Jesus venceu o mundo e nos conduziu à vida eterna.

A obra de Jesus na cruz nos oferece perdão, reconciliação com Deus e promessa da vida eterna. No entanto, a plena realização dessa realidade será experimentada no retorno de Cristo, na ressurreição dos mortos e no arrebatamento dos crentes. É nesse momento que seremos completamente transformados e entraremos na plenitude da vida eterna em comunhão íntima com Deus.

Enquanto aguardamos a consumação final, somos chamados a viver em esperança, confiando na graça de Deus que nos sustenta e nos fortalece nas provações.

O Reino de Deus já está no meio de nós, mas ainda não em sua plenitude. Continuamos a buscar a Deus, a crescer em nossa fé, a ser transformados à imagem de Cristo e compartilhar o amor e a graça de Deus com os outros neste mundo caído.

Deus se fez sofredor ao encarnar como Jesus Cristo. Ao se tornar humano, Jesus experimentou as dores e sofrimentos da condição humana.

Ele sucumbiu, experimentou incompreensão, tentações e, finalmente, suportou a crucificação, que foi uma morte extremamente dolorosa e humilhante. Jesus aceitou o peso do pecado e carregou nossas dores e aflições em seu corpo.

Ao fazer isso, Deus provou seu profundo amor pela humanidade, identificando-se com nossas fraquezas e sofrimentos. Ele não é um Deus distante e indiferente ao nosso sofrimento, mas um Deus que se importa profundamente conosco. Ele entende o que é passar por dificuldades, angústias e perdas, e está presente para nos confortar, fortalecer e nos oferecer esperança.

A encarnação de Jesus e seu sofrimento são uma expressão suprema do amor de Deus e de sua graça redentora. Ele escolheu compartilhar em nossos sofrimentos para nos oferecer salvação e reconciliação. Sua morte na cruz é o maior exemplo de satisfações e amor altruísta, onde ele deu sua própria vida para nos libertar do pecado e nos oferecer a vida eterna.

Podemos afirmar que Deus se fez sofredor em Jesus Cristo, para que pudesse compartilhar em nossas dores e nos redimir. Isso demonstra seu profundo amor e misericórdia para nós, e nos oferece esperança e consolo em meio às dificuldades que enfrentamos nesta vida.

Em Hebreus 2:10, encontramos a afirmação de que Jesus foi aperfeiçoado "por meio de sofrimentos". Essa declaração enfatiza o propósito e a necessidade dos sofrimentos que Jesus causou ao longo de sua vida terrena. Embora Jesus seja o Filho de Deus, ele escolheu se identificar plenamente com a humanidade, experimentando todas as suas dores, lutas e provações.

Ao afirmar que Jesus foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos, o autor de Hebreus está ressaltando a importância e o valor redentor dessas experiências. Esses sofrimentos não foram em vão, mas tiveram um propósito maior.

Eles serviram para qualificar Jesus como o sacrifício perfeito pelos pecados da humanidade e como o sumo sacerdote supremo que intercede por nós diante de Deus.

Através de sua encarnação e dos sofrimentos que senti, Jesus demonstrou sua total solidariedade com a humanidade e sua disposição de suportar as consequências do pecado. Ele sentiu em nossas dores, angústias e fraquezas, experimentando a plenitude da condição humana.

Essa experiência o capacitou a ser o sofrimento final pelos nossos pecados, pois ele entendeu em profundidade o que significa ser humano e a necessidade de redenção.

Além disso, os sofrimentos de Jesus também o qualificaram para ser o sumo sacerdote perfeito. Ele se tornou o mediador entre Deus e os seres humanos, capaz de interceder por nós de forma eficaz e compassiva. Ao enfrentar as provações e sofrimentos, Jesus adquiriu empatia e compaixão, compreendendo plenamente as lutas e tentações que enfrentamos. Ele conhece nossas fraquezas, mas também conhece a vitória sobre o pecado, pois ele mesmo foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos.

A afirmação de que Jesus foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos nos leva a refletir sobre a natureza sacrificial de sua missão e sua identificação completa com a humanidade. Sua obra redentora foi realizada através de sua encarnação, sofrimentos, morte e ressurreição, tornando-o o Salvador perfeito e o sumo sacerdote eterno.

Que possamos contemplar com reverência e gratidão os sofrimentos de Jesus, reconhecendo o significado profundo de seu sacrifício e aperfeiçoamento em nossa redenção. Que isso nos leve a viver vidas de devoção e entrega a Ele, confiando em sua graça e buscando seguir seu exemplo de amor sacrificial.

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