“Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade” (Salmos. 86,15).
Amados, hoje quero meditar sobre o Deus sofredor. Sim, é
isso mesmo: Deus sofredor! “Mas tu, Senhor, és um Deus cheio de compaixão, e
piedoso, sofredor, e grande em benignidade e em verdade” (Sl. 86,15). “Piedoso
e benigno é o Senhor, sofredor e de grande misericórdia” (Sl. 145,8).
Quando li esses versículos, fiquei muito surpreso. Quem diria, Deus que sofre?
Mas, como? Que quer dizer sofredor? Assim, deixo aqui minhas reflexões a
respeito.
Primeiramente, procurei conhecer o significado, segundo o
dicionário Aulete, da palavra sofredor: padecedor, padecente, aquele que sofre
dor. Seu antônimo: bem-aventurado, feliz.
Reportei-me então, no primeiro livro da Bíblia, Gn. 3,16-17:
“E à mulher disse: Multiplicarei grandemente a tua dor, e a tua conceição;
com dor terás filhos; e o teu desejo será para o teu marido, e ele te dominará.
E a Adão disse: Porquanto destes ouvidos à voz da tua mulher, e comeste da
árvore de que te ordenei, dizendo: Não comerás dela: maldita é a terra por
causa de ti; com dor comerás dela, todos os dias da tua vida”.
Na verdade, quem vai sofrer essas dores, é Deus!
Em Ex. 34,6-7 onde diz: “Passando, pois, o Senhor perante
a sua face, clamou: Jeová, o Senhor, Deus misericordioso e piedoso, tardio em
iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares;
que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem
por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos, e sobre os
filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração”, Deus está concedendo a
Moisés uma visão de seu amor! A glória de Deus é revelada através da sua
misericórdia, graça, compaixão, fidelidade, seu perdão e justiça.
Devido à sua grande compaixão, na verdade, quem sente essas
dores todas, é Deus, pois, veja: Compadecer: padecer com; sofrer dor alheia,
sentir compaixão de participar dos sofrimentos alheios, condoer-se. É o que
Deus sente e faz! Ele foi o primeiro a sentir as dores do homem; o Deus que
sofre!
Mais do que isso, segundo Is.53,3-5, “Era desprezado, e o
mais indigno entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos: e,
como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele
caso algum. Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as
nossas dores levou sobre si: e nós o reputamos por aflito, ferido de Deus, e
oprimido. Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas
iniquidades: o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados”.
Ele sofre! Ele é o Deus sofredor, o Homem das dores! O nosso
Senhor das dores! Não tem o que falar. A Bíblia fala por si mesma.
A condição humana de sofrimento, dores e provações é uma
realidade em nosso mundo por diversos motivos. Uma dessas razões é a existência
do pecado no mundo. Desde a queda de Adão e Eva, o pecado entrou no mundo e
trouxe consequências dolorosas para a humanidade. O pecado afetou todas as
áreas da vida humana, causando separação de Deus, desordem nas relações humanas
e distorções na natureza criada.
Embora Jesus tenha realizado a obra redentora na cruz do
calvário, trazendo libertação e salvação, isso não significa que todos os
efeitos do pecado tenham sido totalmente eliminados neste mundo presente. A
obra de Jesus é uma realidade já presente, mas também algo que será
completamente consumado no futuro. Nós, como cristãos, vivemos em um
tensionamento entre o "já" e o "ainda não" do Reino de
Deus.
Em Cristo, temos acesso à vida eterna e à habitação do
Espírito Santo em nós. O Reino de Deus está presente por meio da presença de
Jesus em nossas vidas e na igreja. No entanto, ainda vivemos em um mundo caído,
sujeito às consequências do pecado. Isso significa que enfrentaremos
tribulações, provações e dores neste mundo, mas a esperança cristã está firmada
na certeza de que Jesus venceu o mundo e nos conduziu à vida eterna.
A obra de Jesus na cruz nos oferece perdão, reconciliação
com Deus e promessa da vida eterna. No entanto, a plena realização dessa realidade
será experimentada no retorno de Cristo, na ressurreição dos mortos e no
arrebatamento dos crentes. É nesse momento que seremos completamente
transformados e entraremos na plenitude da vida eterna em comunhão íntima com
Deus.
Enquanto aguardamos a consumação final, somos chamados a
viver em esperança, confiando na graça de Deus que nos sustenta e nos fortalece
nas provações.
O Reino de Deus já está no meio de nós, mas ainda não em sua
plenitude. Continuamos a buscar a Deus, a crescer em nossa fé, a ser
transformados à imagem de Cristo e compartilhar o amor e a graça de Deus com os
outros neste mundo caído.
Deus se fez sofredor ao encarnar como Jesus Cristo. Ao se
tornar humano, Jesus experimentou as dores e sofrimentos da condição humana.
Ele sucumbiu, experimentou incompreensão, tentações e,
finalmente, suportou a crucificação, que foi uma morte extremamente dolorosa e
humilhante. Jesus aceitou o peso do pecado e carregou nossas dores e aflições
em seu corpo.
Ao fazer isso, Deus provou seu profundo amor pela
humanidade, identificando-se com nossas fraquezas e sofrimentos. Ele não é um
Deus distante e indiferente ao nosso sofrimento, mas um Deus que se importa
profundamente conosco. Ele entende o que é passar por dificuldades, angústias e
perdas, e está presente para nos confortar, fortalecer e nos oferecer
esperança.
A encarnação de Jesus e seu sofrimento são uma expressão
suprema do amor de Deus e de sua graça redentora. Ele escolheu compartilhar em
nossos sofrimentos para nos oferecer salvação e reconciliação. Sua morte na
cruz é o maior exemplo de satisfações e amor altruísta, onde ele deu sua
própria vida para nos libertar do pecado e nos oferecer a vida eterna.
Podemos afirmar que Deus se fez sofredor em Jesus Cristo,
para que pudesse compartilhar em nossas dores e nos redimir. Isso demonstra seu
profundo amor e misericórdia para nós, e nos oferece esperança e consolo em
meio às dificuldades que enfrentamos nesta vida.
Em Hebreus 2:10, encontramos a afirmação de que Jesus foi
aperfeiçoado "por meio de sofrimentos". Essa declaração enfatiza o
propósito e a necessidade dos sofrimentos que Jesus causou ao longo de sua vida
terrena. Embora Jesus seja o Filho de Deus, ele escolheu se identificar
plenamente com a humanidade, experimentando todas as suas dores, lutas e
provações.
Ao afirmar que Jesus foi aperfeiçoado por meio de
sofrimentos, o autor de Hebreus está ressaltando a importância e o valor
redentor dessas experiências. Esses sofrimentos não foram em vão, mas tiveram
um propósito maior.
Eles serviram para qualificar Jesus como o sacrifício
perfeito pelos pecados da humanidade e como o sumo sacerdote supremo que
intercede por nós diante de Deus.
Através de sua encarnação e dos sofrimentos que senti, Jesus
demonstrou sua total solidariedade com a humanidade e sua disposição de
suportar as consequências do pecado. Ele sentiu em nossas dores, angústias e
fraquezas, experimentando a plenitude da condição humana.
Essa experiência o capacitou a ser o sofrimento final pelos
nossos pecados, pois ele entendeu em profundidade o que significa ser humano e
a necessidade de redenção.
Além disso, os sofrimentos de Jesus também o qualificaram
para ser o sumo sacerdote perfeito. Ele se tornou o mediador entre Deus e os
seres humanos, capaz de interceder por nós de forma eficaz e compassiva. Ao
enfrentar as provações e sofrimentos, Jesus adquiriu empatia e compaixão,
compreendendo plenamente as lutas e tentações que enfrentamos. Ele conhece
nossas fraquezas, mas também conhece a vitória sobre o pecado, pois ele mesmo
foi aperfeiçoado por meio de sofrimentos.
A afirmação de que Jesus foi aperfeiçoado por meio de
sofrimentos nos leva a refletir sobre a natureza sacrificial de sua missão e
sua identificação completa com a humanidade. Sua obra redentora foi realizada
através de sua encarnação, sofrimentos, morte e ressurreição, tornando-o o
Salvador perfeito e o sumo sacerdote eterno.
Que possamos contemplar com reverência e gratidão os
sofrimentos de Jesus, reconhecendo o significado profundo de seu sacrifício e
aperfeiçoamento em nossa redenção. Que isso nos leve a viver vidas de devoção e
entrega a Ele, confiando em sua graça e buscando seguir seu exemplo de amor
sacrificial.
Nenhum comentário:
Postar um comentário