«Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.» (Jo. 1,51).
É uma estranha promessa que Jesus faz àqueles dois discípulos. Vereis o céu aberto? Que será isso -- o céu aberto? -- Entendemos que Jesus não fala do céu estrelado, do espaço, no qual se movem a terra, o sol, as estrelas. Ele fala do céu invisível, do Reino de Deus, da realidade dos anjos e dos exércitos celestiais, que obedecem ao Criador sem restrição alguma.
Vereis o céu aberto. Que promessa! Entendemos que ela vale também para nós. E não é este o nosso problema número um de não conseguirmos ver tal céu aberto, de não crermos naquela bendita abertura de que Jesus fala? O céu aberto -- isto é, que é possível ter a experiência do poder e da presença graciosa de Deus! Mas se ao menos houvesse uma prova! Um sinal! Nem precisava ser milagre, visão de anjos que sobem e descem, ou coisa parecida. Apenas uma prova clara de que Deus existe e de que ele se interessa por nós, por suas criaturas todas, pela igreja, pelo mundo. Mas este céu, se existe, parece ser uma realidade tão distante. Às vezes, uma voz interna diz que tudo não passa de um sonho, de um belo ideal...
O inferno — este sim! É só ler os jornais. É só ler a página que trata das ocorrências policiais: crimes, assaltos, vinganças, roubos, sequestros, torturas. Sim -- o inferno parece aberto, com entrada franca. Os maus espíritos parecem soltos. Muitas vezes os homens agem assim como se um fosse o diabo do outro. E não é só nos jornais que os maus espíritos marcam passagem. É no nosso próprio ambiente, na irritação que reina em nosso lar. Na desonestidade de nosso relacionamento com vizinhos e colegas. Na injustiça social que nos rodeia e na qual nós próprios estamos envolvidos. Sim — é dentro de nosso próprio coração que o inferno se manifesta. Pensamentos de ódio, de inveja, medo, desânimo, desespero. Paixões descontroladas. Egoísmo grosseiro ou refinado. Sim — nossa experiência pessoal parece provar que o céu para nós está fechado.
Porque tudo isso que acabamos de mencionar não pode existir no céu, já que o céu é justiça, paz, amor, alegria. É bom admitirmos com toda a honestidade que estamos vivendo fora do céu. A própria Bíblia o diz, afirmando que Deus colocou anjos à porta do paraíso para guardar o caminho da árvore da vida.
Contudo há um lugar onde o céu está aberto. Que este lugar está relacionado com a pessoa de Jesus: Na noite de seu nascimento, os anjos anunciam a boa mensagem da salvação: Céu aberto, portanto.
Na hora do batismo de Jesus, ouve-se uma voz do céu que diz: Este é meu Filho amado em quem me comprazo. Outra vez — Céu aberto. A glorificação de Jesus no monte, quando suas vestes se tornaram brancas como a neve: Céu aberto. Getsêmani, Gólgota e a vitória no dia da ressurreição: Anjos que confortam, santos que saem dos túmulos, jovens de vestes brancas que anunciam a ressurreição de Jesus. Céu aberto. Dia da ascensão — Céu aberto. E a esperança da volta de Jesus em poder e glória: Céu aberto, definitivamente aberto!
Entendemos que esta mensagem não representa nenhuma ninharia. Se é verdade o que ela diz, então a nossa vida não é nenhuma prisão escura, nenhuma prisão sem saída. Então Deus acendeu uma luz, então Ele realmente nos abriu uma porta para a realidade chamada «céu», que nós, por nós mesmos, não conhecemos, nem somos capazes de criar.
Se é verdade. . . — A Bíblia diz que é. E a Bíblia é um livro sério. Um livro comprometido, bem no seu centro, com a verdade, com a verdade última e total. — Mas, mesmo que eu consiga crer na mensagem da Bíblia: Não basta que eu saiba, ou que acredite que sobre Jesus o céu está aberto, que junto a Ele o acesso a Deus está livre. Será preciso que eu chegue lá, que eu experimente aquela abertura do céu, que eu reconheça que o céu está aberto para mim, para nós, para todos. Será preciso que a realidade «céu» se manifeste claramente em nossa vida e que nos torne capazes de vencermos aquela realidade perturbadora desta terra e mesmo a do inferno, que muito bem conhecemos.
Podemos chegar a descobrir para nós o céu aberto — de uma forma que nossa vida fique modificada, iluminada, agraciada. Poderíamos citar como exemplo o caso de Filipe, o qual Jesus tinha encontrado no caminho e ao qual tinha dito: «Segue-me!» Filipe tinha encontrado o lugar. Mas talvez você diga: Filipe não serve como exemplo. Porque ele foi convidado por Jesus mesmo, e isso não acontece comigo. Se eu encontrasse Jesus e se Ele me convidasse, então a situação seria diferente.
Natanael foi encontrado por Filipe, por um simples homem, homem sujeito a todas as falhas e fraquezas próprias de um ser humano. O que aconteceu a Natanael, poderá acontecer a qualquer um de nós. Encontrarmos uma pessoa que foi encontrada por Cristo e que não consegue esconder a experiência que fez junto ao Senhor. Que não se cala, envergonhada, escondendo a sua fé no Cristo de Deus. Repare bem: Natanael não foi uma pessoa que logo pegava fogo.
Ele era uma pessoa bem reservada, crítica, quem sabe, desconfiada. Ele sabia que o mundo anda cheio de falsas mensagens e de falsos mensageiros. Quando Filipe lhe diz que encontrou o Salvador prometido pelos profetas, Jesus de Nazaré, ele dá de ombros: «De Nazaré pode sair uma coisa boa?» Ele tinha argumentos para pensar assim. Os profetas não haviam apontado Nazaré como sendo a cidade do Messias. Nazaré um homem de Nazaré -- que novidade poderia haver aí? Natanael não vê razão alguma para concordar com Filipe, para aceitar a convicção dele.
Aí Filipe poderia ter desistido. Ele não tinha feito sua obrigação? Não tinha dado seu testemunho? Se aquele Natanael não queria — paciência! Mas Filipe não desistiu. Também não tentou argumentar com Natanael, citando passagens bíblicas para provar que de Nazaré podia sair coisa boa. Talvez ele nem conhecia tão bem a Bíblia que tivesse sido capaz para isso. Mas ele fez uma coisa muito mais importante. Ele pegou Natanael pelo braço e disse-lhe: «Vem e vê!» — Foi só. Mas foi a coisa mais decisiva que alguém já tinha dito na vida deste homem: «Vem e vê!»
E Natanael acompanhou Filipe — para ver. E descobriu que, antes que pudesse ver e conhecer, ele já havia sido visto e conhecido por Jesus: «Jesus viu Natanael aproximar-se e disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita em quem não há dolo falsidade.» E quando Natanael, admirado, pergunta a Jesus. «Donde me conheces?» — Jesus lhe diz aquelas palavras cheias de segredo, mas também cheias de conforto: «Antes de Filipe te chamar, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.»
Então Natanael veio para ver, e descobriu que já tinha sido visto. Natanael achou que tinha sido encontrado por um homem, chamado Filipe, e ficou sabendo que o Filho de Deus já o tinha encontrado antes. Descobriu que o seu encontro com Jesus não era nenhum acaso, mas que era parte do plano de Deus que ele não tinha conhecido.
O que é que Natanael terá feito debaixo da figueira? Será que tinha orado? Ou apenas tinha colhido figos? Não o sabemos. Mas estas palavras de Jesus — elas não são realmente confortadoras para nós? Nós achamos que estamos sozinhos, abandonados, solitários, rodeados de problemas, na fossa, sem ter alguém com quem falar. E em realidade os olhos de Deus já nos descobriram. Estávamos sendo guiados, sem o sabermos. Ao descobrir esta realidade milagrosa, Natanael se dá por achado: «Mestre, tu és o Filho de Deus -- tu és o Rei de Israel.» E então Jesus lhe diz que verá coisas maiores do que estas — que verá o céu aberto e os anjos descendo e subindo sobre o Filho do homem.
Será que é possível fazermos esta experiência ainda hoje? Eu lhe digo que sim. Se você for um Natanael que desconfia, eu gostaria de ser um Felipe para você, hoje. Um Filipe que lhe diz: Vem e vê. Vem para onde? Ora, onde Jesus está. — E onde ele está? «No meio deles», como Ele mesmo disse. No meio daqueles que se acham reunidos em Seu nome. Onde sua palavra é ouvida. Onde se realiza o batismo, onde se celebra a Ceia. Onde um discípulo dá testemunho de Seu poder e de Seu amor. Vem e vê.
Natanael vai descobrir esta coisa maravilhosa: Jesus me conhece. Ele me conheceu antes de eu O conhecer. Ele sabe o que me falta. Ele tem a resposta para as minhas perguntas. Ele tem uma tarefa para mim, uma missão, um serviço — para os quais eu fui criado. Eu posso segui-lo sob o céu aberto, livre de meu fardo, de minha culpa, de minhas dúvidas. O que é que Natanael mais precisa?
E se você for um Filipe, um homem ou uma mulher que já conhece o céu aberto? Então as coisas também estão claras. Então passe adiante o que você viu e ouviu. Não faltará um Natanael que, talvez bem no íntimo, esteja à espera de alguém que lhe diga com toda a singeleza: Vem e vê! Vem e vê, porque já foste visto. Vem comigo ao lugar onde o céu está aberto.
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