terça-feira, 6 de março de 2018

ASPECTOS PEDAGÓGICOS DA PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS NA CEIA DO SENHOR


No Antigo Testamento as crianças participavam da Páscoa judaica. Inclusive, uma das orientações era que os pais explicassem aos seus filhos o porquê de todo aquele ritual:

“Quando vossos filhos vos perguntarem: Que rito é este? Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou.” (Ex 12.26)

É evidente que é possível que uma criança a partir de certa idade (talvez quando já estiver entrando na pré-adolescência) consiga compreender com exatidão todas as implicações envolvidas na Ceia do Senhor. Se essa criança tem essa possibilidade, poderá fazer seu discipulado, ser examinada, fazer sua profissão de fé e participar da Ceia normalmente. Os pais devem se esforçar por explicar o que está acontecendo ali e preparar seus filhos para que possam participar totalmente desse momento único.

Outra observação importante é que as crianças, mesmo não participando dos elementos, não devem ser excluídas do momento de comunhão. Pelo contrário, devem ser incentivadas a compreendê-lo cada vez mais, a fim de crescerem espiritualmente e no conhecimento das coisas de Deus. Pois, muito da Páscoa estava focalizado sobre as crianças e requeria a participação das mesmas. As crianças não ficavam em alguma outra sala, numa “igreja para crianças”. Os pais não devem fugir das perguntas, antes, devem aproveitar esse momento para a instrução de seus filhos, no Senhor.

A doutrina da Ceia do Senhor apenas de adultos é um erro da Igreja Católica remanescente, que se incorporou à Igreja devido à adoção da doutrina da transubstanciação pelo IV Concílio de Latrão, em 1215. A comunhão é para os crentes e suas crianças. Este é o fato evidenciado pela relação da Páscoa com a Ceia do Senhor, pela natureza familiar dos pactos e sacramentos bíblicos, pela natureza de uma “ceia” e pelo registro histórico.

A Páscoa era uma refeição da qual as famílias judaicas participavam, a despeito da idade dos seus membros (a refeição era para a “família” - Êxodo 12:3) e foi antecipado que as crianças perguntariam qual era significado daquele culto Pascoal (Êxodo 12:26). Além do mais, a Páscoa se focalizava, em parte, sobre as crianças, porque ela celebrava como o Senhor em Sua misericórdia livrou os primogênitos, mesmo os infantes (Êxodo 12:27-30). A noção de que as crianças devem ser excluídas da ceia não tem precedente na Escritura. Por exemplo, as crianças dos levitas podiam comer a mesma carne dos sacrifícios que os pais deviam comer: a Páscoa já mencionada acima. Todas as referências às crianças no contexto dos pactos dizem que as crianças estavam incluídas no pacto. A criança bem pequena não tem consciência de pecado, por isso pode participar da Ceia do Senhor. Nessa idade ela ainda não sabe sobre o significado dos elementos da Ceia, mas sua participação não traz condenação e pode ser uma oportunidade para ensiná-las o amor que Jesus demonstrou por nós e a necessária reverência desse momento, lembrá-las de como Cristo se importa conosco e ir despertando esses sentimentos em relação ao sacrifício de Jesus.

No caso de crianças maiores, que não nasceram de novo, mas já tem entendimento para participar com consciência, é importante fazer o apelo antes para que ela tenha oportunidade de receber a Cristo como Senhor da sua vida. Essas crianças precisam ser orientadas a só participar se realmente sentirem que são nascidas de novo. Quanto às crianças que já nasceram de novo, elas estão aptas a participar de tudo que o Reino de Deus disponibiliza para elas, inclusive a Ceia. No antigo testamento os meninos e meninas participavam ativamente da vida religiosa junto com os adultos. Em várias passagens na Bíblia podemos observar esse fato. Em Deuteronômio 31:12 está escrito:

“Congregai o povo, homens, mulheres e crianças e os estrangeiros, que estão dentro de vossas portas, para que ouçam e aprendam e temam ao senhor vosso Deus, e tenha cuidado de cumprir todas as palavras desta lei”.

A Bíblia também ensina as crianças a aprenderem através da atenção que lhes é dada nas respostas às suas perguntas, em Êxodo 12. 26 e 27 a Palavra ensina sobre a páscoa dizendo:

“E acontecerá que, quando vossos filhos vos disserem: que culto é este? Então direis: este é o sacrifício da páscoa ao Senhor, que passou as casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu aos egípcios, e livrou as nossas casas. Então o povo inclinou-se, e adorou”.

O próprio Jesus em Lucas 18:16 disse:

“Deixai vir a mim os meninos, e não os impeçais, porque dos tais é o Reino de Deus.”

Baseado na importância que o próprio Deus deu às crianças e de como elas foram tratadas como pessoas que precisam, tanto quanto o adulto, dos benefícios da vida cristã, poderão serem incluídas em atividades do culto como a Ceia do Senhor. O cuidado será trazer para criança o verdadeiro sentido do que ela está participando, trazer o conhecimento, a consciência e compreensão chegará com a maturidade do seu crescimento físico emocional e espiritual.

Faça sempre o apelo para novo nascimento, antes da cerimônia da Ceia, não deixe esse momento para o final do culto para que todas as crianças participem da ceia, só peça que haja reverência por esse momento, ensinando-as a discernir o corpo de Cristo para que conheçam e tenham consciência do Seu sacrifício.

Finalmente, se prepare para celebrar o culto de Ceia com muita propriedade, trazendo para a criança o sentimento e a seriedade que o momento pede, não deixando que haja brincadeiras e nem conversas paralelas para que o momento com as crianças seja especial.

É importante sublinhar que há uma diferença importante entre a Eucarístia dos católicos e a ceia dos protestantes. Os católicos acreditam que o corpo e o sangue de Cristo, apresentados pelo padre, se transformam em corpo e sangue de Cristo.

Os protestantes, invés, não tem essa fé, embora historicamente a questão seja bem complexa, visto que Lutero era favorável à "consubstanciação" (o pão e o vinho mantêm sua natureza, mas ao mesmo tempo se tornam substância do sangue e corpo de Cristo), Zwingli diz que há somente um significado simbólico e Calvino fala de uma presença espiritual e de uma participação real ao corpo de Cristo.

Na Bíblia, o fundamento para essa celebração se encontra no momento em que Jesus diz para repetir, em sua memória, o gesto que fez com os discípulos (1Coríntios 11,24). Mas nada é dito sobre quem pode ou não participar dessa celebração, exceto a recomendação de Paulo aos Coríntios, sobre a coerência que supõe tal liturgia (1Coríntios 11,17-33).

A Ceia do Senhor é uma refeição comunitária. Para os povos antigos havia um sentido especial para as famílias estarem em união. Famílias inteiras participavam destas celebrações, inclusive as crianças.
Nas refeições o chefe da família abençoava os alimentos, assim todos os que participavam da refeição recebiam uma participação na bênção.

A Ceia da Páscoa, era também a recordação dos atos misericordiosos de Deus que livraram o povo de Israel da opressão e da escravidão no Egito. O ritual se iniciava quando um filho (uma criança) perguntava: “Que ritual é este?”. Então o chefe da família começava a celebração lembrando do significado da Páscoa. Ninguém do povo de Israel podia ficar sem participar da Ceia da Páscoa, ninguém do povo de Israel podia ser excluído. Em Ex 12:3-5, Deus ordena às famílias pequenas que convidassem seus vizinhos para a refeição pascal.

 “Jesus explica o significado salvador de sua morte: dar a salvação “Em favor de muitos”, ou seja, de todos. Deus quer colocar toda a humanidade em uma nova relação com ele, sendo assim; É impossível excluir as crianças.

Podemos dizer, portanto, que, ao instituir a Ceia do Senhor, Jesus inaugura o culto cristão: cultuar a Deus significa celebrar a morte e a ressurreição de Jesus. O culto era a reunião do Corpo de Cristo, judeus e gentios, homens e mulheres, adultos e crianças. Acreditava-se que das crianças vinha o perfeito louvor. (Mt 21:15-16). 

Assim como a aliança de Deus era com uma pessoa, mas envolvia toda sua família e sua descendência, o culto cristão era algo para o adulto que entrava em aliança com Deus e também sua família e sua descendência, inclusive seus filhos, suas crianças.

A criança como herdeira do Reino de Deus, deve participar da Ceia do Senhor, preferencialmente junto com seus pais, ou outros familiares, ou acompanhadas pelas pessoas responsáveis pela sua educação cristã, depois de terem sido orientadas pelos mesmos sobre a relevância da celebração e o seu significado.

Criança não entende o sacrifício de Jesus – No Antigo Testamento, eram os pais, os responsáveis legais e espirituais da criança que deviam ter a fé em Deus, optar por participar da Aliança com Deus e buscar entender a vontade de Deus.

Ensinamos nossos filhos a falar, mesmo sabendo que pequeninos ainda não conseguem entender o sentido das palavras. Eles são educados através da repetição, do testemunho, do amor. 

A Bíblia em Provérbios 22:6: “Educa a criança no caminho em que deve andar”.

Em 1Corintios 3:6-7 diz: Nós “lançamos a semente” e “regamos a semente”, mas quem dá o crescimento é Deus".

A criança deve participar da Ceia do Senhor não porque é capaz de entender ou não entender, mas porque é amada por Deus. 

Certa vez eu ouvi de um Pastor a seguinte frase; “Jesus não deu Ceia para criança”. É verdade, mas Jesus também nunca batizou ninguém, nem criança nem adulto. Jesus nunca nomeou um pastor ou pastora. Nunca construiu um templo nem nunca recolheu ofertas. Jesus nunca teve um discípulo brasileiro. Jesus não se casou nem teve filhos. O fato de Jesus não ter feito não quer dizer que não temos de fazê-lo, poderemos fazer sim se parecer bem ao Espírito Santo de Deus (At 15:28). A não ser quando que a palavra de Deus determine que não.

Hoje o mesmo Espírito que chamou brasileiros para serem discípulos de Jesus, que chamou mulheres para o pastorado da igreja, também nos desafia a pensar nas crianças como parte da Igreja de Jesus e em particular a participação das crianças na Ceia do Senhor. Não há nenhuma restrição bíblica quanto à participação das crianças na Ceia do Senhor. Todos os argumentos contrários à participação das crianças na Ceia do Senhor resumem-se de fato a preconceitos e desinformação, sem falar na cegueira espiritual.

A Bíblia fala do autoexame para discernir o Corpo de Cristo –1Co 11:17-34. O objetivo deste texto era para os adultos que tinham condições de discernir o Corpo e não o estavam fazendo. Apresentavam um modo de vida indigno do Evangelho de Cristo. Pecavam deliberadamente. A Igreja estava dividida em grupos inchada de orgulho, tolerando a imoralidade, a prostituição, a idolatria, a confusão e a desordem nos cultos inclusive na celebração da Ceia do Senhor.  O medo de alguns é que a participação das crianças na Ceia do Senhor vulgarize a Ceia e tire a “expectativa” das crianças de tornarem-se membros da Igreja.

Nós respeitamos todos os grupos cristãos. Deus nos deu um caráter e uma personalidade própria. Assim como os dedos das mãos e os membros de uma mesma família não são iguais. Não devemos ser como as demais denominações apenas por que eles não concordam com a nossa prática.   

Não fomos autorizados a impedir o acesso de quem quer que seja à mesa da Ceia do Senhor. As crianças devem ser incentivadas a participar da Ceia do Senhor.

Temos a responsabilidade de orientar as famílias e as crianças sobre a participação delas na Ceia do Senhor; é um momento de comunhão.  Com certeza “Onde há o Espírito do Senhor aí há liberdade”; (1Co 14:40); “Mas, devemos fazer tudo com ordem e decência”. 

A participação das crianças na Ceia do Senhor não fere a santidade da Ceia, mas a falta de seriedade com as coisas do Senhor, com certeza, fere a santidade necessária à celebração da Ceia do Senhor, com ou sem as crianças.

Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: “Quem é o maior no Reino dos Céus?” Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus. Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo. Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar. (Mateus: 18.1-6); e, também: “Deixai os pequeninos e não os estorveis de vir a mim, porque dos tais é o Reino dos Céus”.

Agora, quando elas tiverem com a idade de 12 anos, daí sim, precisam arrepender-se de seus pecados para que se possam participar da Ceia do Senhor. A Ceia é para os santos e, as crianças também são santas; ou não são? Você desejaria que seus filhos, ainda pequenos, ficassem aqui, no arrebatamento da Igreja de Cristo? Certamente que não; então, por que é que não participam da Ceia? Sendo que serão também arrebatadas por Cristo! 

Que nossas crianças possam ser aceitas e reconhecidas como chamadas pelo amor e pela graça de Deus. Que possam ser aceitas e reconhecidas na resposta de gratidão e amor que a Igreja presta com seu culto ao Senhor. Que as crianças possam ser aceitas e reconhecidas como parte da Igreja do Senhor Jesus.
Que fique bem claro para adultos, leigos ou pastores, pais e mães, etc., que não há orientação ou motivos bíblicos e teológicos contra a participação de crianças na Ceia do Senhor. Uma das coisas que as pessoas querem saber é o que a Bíblia diz. Por isso é importante explicar bem que na Bíblia não há argumentos contrários à participação de crianças na Ceia do Senhor.

Não há argumentos contrários à Ceia do Senhor para crianças. Pelo contrário, parece haver vários argumentos a favor. Parece-nos cada vez mais importante não excluir, mas incluir as crianças. Geralmente argumentos contrários à participação das crianças na ceia do Senhor resumem-se de fato a preconceitos e desinformação.

A prática da participação das crianças poderia começar com os pais levando junto de si seus filhos para participarem da Ceia do Senhor e ali repartirem com os filhos, se possível, o pão e o cálice (onde não for possível, os próprios pais devem tomar os elementos da ceia e entregá-los às crianças, dizendo ali mesmo de forma reverente e sintética do amor de Jesus por elas e de como é bom sermos povo de Deus!). Possivelmente podem aparecer algumas situações delicadas que serão precisos ser administradas com tato, sensibilidade e amor.

“O amor cobre todas as transgressões” (Pv 10:12). “Onde está o espírito do Senhor aí há liberdade” (2Co3:17). “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito – diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4:6).

Não devemos ter um culto separado exclusivamente para as crianças. Pelo contrário, o nosso culto, como toda a nossa igreja, deve ser projetado para todas as idades. O Senhor Jesus diz:

“Deixai vir os meninos a mim, e não os impeçais; porque dos tais é o reino de Deus”.

Será que esse impedimento ou embaraço, como diz outras traduções bíblicas, não seria a atitude insana de pseudo-teólogos, que insistem em negar a participação de nossas crianças em cerimoniais bíblicos em nossas igrejas? Não poderá existir imagem mais linda do que esta: um menino, uma menina, uma criança participando do Corpo e do Sangue do Senhor dentro de um templo!

Também não deixemos de participar e nem proibamos as criancinhas. “Deixai vir a mim os pequeninos”, os visitantes, os pecadores...

A ceia foi feita principalmente para eles! A ceia é um ato de adoração que relembra o Salvador na cruz; e lá na cruz, ele não excluiu ninguém do seu sacrifício.

Que história é essa que inventaram de que A, B e C não podem participar? Onde está na Bíblia esse critério? Onde é que diz que a Ceia do Senhor é só para os batizados? Jesus disse simplesmente para “fazer isso em memória de mim, pois quando comerdes este pão e beberdes deste cálice, anunciais a minha morte, até que eu venha”.

Deixemos Jesus cear conosco, abramos a porta de nossa Igreja para o que Ele estabeleceu. Abramos a porta de nossa Igreja para a verdade que é Ele. Abramos a porta, chega de pré-conceitos, de pré-tradições, chega de portas fechadas, de mentes fechadas.

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