Paulo foi chamado pelo Senhor para ser missionário, e ele é conhecido como o Apóstolo aos gentios. Caído ao chão, na estrada de Damasco, Paulo ouviu Cristo lhe dizer: Levante-se, pois estou te mandando aos gentios, “para abrires os plhos, e das trevas os converteres à luz, e do poder de Satanás a Deus; a fim de que recebam a remissão de pecados, e herança entre os que são santificados pela fé em mim”. Atos 26:18. Após sua conversão, comissão e batismo, Paulo pregou Cristo na sinagoga de Damasco, provando que Jesus é o próprio Cristo, para a frustração dos judeus. Por causa de um plano para matá-lo, o apóstolo foge para a Arábia, por algum tempo. Volta, depois, a Damasco. Três anos mais tarde vai à Jerusalém. Pela segunda vez, Paulo escuta que deve ir aos gentios; que o povo de Jerusalém não receberá seu testemunho. Em obediência a seu chamado, Paulo vai se embrenhando, cada vez mais, em território pagão. Ele quer pregar o Evangelho onde o nome de Cristo nem era conhecido, para que não pudesse edificar sobre o alicerce de outra pessoa. Com este espírito pioneiro, quer ir a Roma e à Espanha, pois quer convertidos tanto em Roma quanto entre os gentios. O Apóstolo não se envergonha em pregar o Evangelho, seja onde for, embora saiba que vai encontrar zombaria e desprezo. “Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê”. Romanos 1:16.
A fim de entender a audácia destas palavras, temos que ouvi-las com os ouvidos de um romano. Lá estava um judeuzinho insignificante, com a cabeça cheia de idéias sobre outro judeu, a quem o governador romano entregara para ser crucificado, a fim de satisfazer outros judeus e manter a ordem na província. Era nisto o que um romano pensaria sobre Paulo e sua mensagem. O Apóstolo, porém, sabia que possuía boas novas, que trariam salvação a todos quantos cressem nela.
O QUE É O EVANGELHO
Damos graças a Deus por termos uma declaração na Bíblia que define o que é o evangelho, mas, a fim de sermos mais claros e para que fique mais explicado, trataremos do assunto tanto negativamente, quanto positivamente.
Negativamente:
1. A Bíblia não é o Evangelho.
Seria uma definição muito vaga e geral. A Bíblia contém o Evangelho e muitas outras verdades também. Toda a verdade da Bíblia não é a verdade do Evangelho. Há, na Palavra de Deus, a verdade sobre a lei, o pecado, a morte, o julgamento e muitas outras coisas que não são o Evangelho. Há muitos que pensam que o Velho Testamento é a lei e o Novo testamento é o Evangelho. Porém, a verdade é que tanto a lei quanto o evangelho podem ser encontrados no Velho e Novo Testamentos. Alguns dos textos mais preciosos do Evangelho se encontram no Velho Testamento, ao passo que textos específicos sobre a lei se encontram no Novo Testamento. O capítulo 53 de Isaías é repleto do Evangelho. Baseado neste capítulo, Filipe pregou Jesus ao eunuco e ele foi salvo. Paulo e os outros só possuíam o Velho Testamento e era com ele que pregavam o Evangelho.
A lei deve ser pregada, assim como a Bíblia inteira também. A lei, quando pregada corretamente, vai revelar ao homem que ele é pecador e também vai destruir toda a justiça própria. Foi por isso que Cristo a pregou ao jovem rico (Mateus 19:16) e a um certo doutor da lei (Lucas 10:26). Pela lei se reconhece o pecado. Paulo não sabia que era um pecador perdido, até que viu o que a lei exigia (Romanos 7:9). A lei diz ao homem o que ele deve fazer; o Evangelho diz ao pecador o que Cristo fez. A lei condena o melhor dos homens; o Evangelho justifica o pior deles. A lei faz exigências; o Evangelho abençoa. A lei trata com justiça; o Evangelho com misericórdia. A lei pertence ao pacto das obras; o Evangelho, ao pacto da graça!
2. O batismo não é o Evangelho.
Paulo diferencia claramente batismo e Evangelho ao dizer: “Porque Cristo enviou-me, não para batizar, mas para evangelizar (pregar o Evangelho)”. I Coríntios 1:17. Ele relembrou aos coríntios os poucos que havia batizado e depois à igreja como um todo, quando disse: “Porque eu pelo evangelho vos gerei em Jesus Cristo”. I Coríntios 4:15.
O Batismo e a Ceia do Senhor não são sacramentos que salvam, porém são símbolos que pregam o Evangelho. Eles não causam a salvação, mas a proclamam, através de Cristo. Não são atos que salvam, mas contém uma mensagem simbólica que salva. O batismo sem dúvida, lava o pecado simbolicamente, mas é o sangue de Cristo que realmente o tira por completo. O batismo tem seu lugar na vida cristã, mas não deve se tornar um substituto para o sangue de Cristo como objeto de fé ou confiança.
3. A igreja não é o Evangelho.
Tornar-se membro de uma igreja não é a mesma coisa que crer no Evangelho. É preciso, primeiro, crer-se no Evangelho antes de se tornar membro de uma igreja.
4. O novo nascimento não é o Evangelho.
O novo nascimento é uma experiência – uma obra realizada em nós. O Evangelho são as boas novas de algo feito por nós. O Evangelho é a luz objetiva (II Coríntios 4:4); o novo nascimento dá a luz subjetiva a fim de que o Evangelho possa ser compreendido de modo a salvar o pecador (II Coríntios 4:6, João 3:3). O Evangelho é a história do que Cristo fez na cruz; o novo nascimento é o que o Espírito Santo faz em nós, ao nos dar a vida. A justificação é o resultado da morte de Cristo por nós (Romanos 4:24); a regeneração é o efeito da obra do Espírito Santo em nós. Justificação é vida imputada, regeneração é vida concedida.
5. O arrependimento não é o Evangelho.
É o que o pecador deve fazer para ser salvo. O Evangelho é o que Cristo já fez por nossa salvação. “Arrependei-se e crede no Evangelho” (Marcos 1:15). Vemos aqui que o arrependimento e o Evangelho são coisas distintas. Nenhum homem é salvo pela fé no arrependimento. A salvação vem pela fé no Evangelho.
6. A fé não é o Evangelho.
Pelo contrário, ele é o objeto da fé. A fé, por si, não salva. É preciso que seja fé no Evangelho a fim de salvar. Não temos que ter uma fé perfeita, a fim de sermos salvos, mas tem que haver um Evangelho perfeito, para que a salvação real aconteça.
Positivamente:
1. O Evangelho são as boas novas.
O Evangelho é para os pecadores; é a revelação da justiça providenciada por Deus, através de Cristo, aos injustos (ímpios). Romanos 1:17.
2. O Evangelho são as boas novas sobre uma pessoa, o Senhor Jesus Cristo.
“E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos”. Atos 4:12. Os homens não são salvos por fazerem isto ou aquilo, nem por irem aqui ou acolá. Eles são salvos quando vão ao Senhor Jesus Cristo, que graciosamente disse: “O que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora”. João 6:37. Salvação não é questão de geografia (local). Não existe lugar seguro, para se escapar da ira de Deus em canto nenhum do mundo. Também não é uma atitude corporal, mas sim atitude do coração de confiança e sinceridade nAquele que é nossa Páscoa; que foi sacrificado por nós.
3. O Evangelho consiste de certos fatos históricos com uma teoria incontestável e particular e a explicação para estes fatos.
Estes fatos são dados a nós em I Coríntios 15:3-4: “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Ou, como Paulo diz em Romanos 4:25: “O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação”.
A menor parte de um fato é sua parte visível, e não há significado sem uma explicação. Por isso, Paulo, não apenas dá os fatos, mas os explica também. O simples fato de Jesus de Nazaré ser crucificado não é mais Evangelho do que os dois ladrões que O ladeavam. É a explicação deste fato que faz de Sua morte o Evangelho, e não a morte dos ladrões. Quem morreu foi Cristo, o Filho de Deus, e foi por nossos pecados.
Cristo, o Filho de Deus, morreu por nossos pecados. O que isto significa? Há quem diga que Ele simplesmente morreu a nosso favor, mas não como nosso Substituto. Insistem que não deve haver a teoria da expiação, mas se investigarmos um pouquinho, veremos que tais pessoas a têm. Deixe que digam como Cristo morreu a nosso favor – como Sua morte nos salva – a menos que tenha morrido como nosso Substituto, a fim de dar a satisfação divina pela justiça divina por nossos pecados. Para que Sua morte nos salvasse, teria que cancelar nossa culpa perante a lei de Deus, mas como faria isto, a menos que Ele tivesse sofrido a culpa que era nossa? Ele sofreu, o Justo pelo injusto, e como isto poderia acontecer, a menos que tivesse sofrido em nosso lugar? Se Cristo tivesse morrido como um mártir por uma boa causa, ou como um simples exemplo de fidelidade até a morte ou como gesto de amor que conquistasse o coração do homem, de modo algum remiria os pecadores da maldição da lei. A justiça divina exige o castigo divino e o único modo que o pecador pode escapar de tal castigo é Cristo sofrendo o castigo devido ao pecador. Aqueles que negam o sangue da remissão adoram um deus diferente do que o da Bíblia e praticam uma religião diferente do que há na Bíblia também.
O QUE O EVANGELHO FAZ
Em uma palavra: o Evangelho salva todo aquele que crer nele. E o Evangelho verdadeiro é o que diz que Cristo, o Filho de Deus, fez em dar Sua vida por nossos pecados e a tomou de volta para nossa justificação. Romanos 1:16 é usado freqüentemente para dizer que a pregação do Evangelho tem o poder de converter os pecadores. Mas não é isto que este versículo está dizendo. Ele é o poder de Deus para os crentes. Ele pressupõe que haja um crente. O Evangelho salva os crentes, mas não tem poder de fazer crentes. A pregação do Evangelho é o meio de fazer crentes, pois a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus. Repetimos: a pregação do Evangelho é o meio necessário à fé, pois “Como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” Romanos 10:14. Se os pecadores são salvos, o Evangelho deve ser pregado a eles como meio para a fé e salvação resultantes. Contudo, há diferença entre meio para a fé e poder para a fé. O poder para fazer crentes é o chamado eficaz do Espírito Santo. Paulo pregou Cristo crucificado indiscriminadamente a judeus e gregos. Ao judeu, tal evangelho era uma pedra de tropeço; ao grego, uma loucura; mas para o chamado, tanto judeu quanto grego, era a sabedoria e poder de Deus no plano da salvação no Senhor Jesus Cristo crucificado.
O Apóstolo não está escrevendo sobre o poder da sua pregação, mas sobre o poder do que pregava. E o que pregava? Cristo crucificado, que tinha o poder de cancelar a dívida do pecado. Cantamos: “Há poder, sim, força sem igual, só no sangue de Jesus”, o que significa que o sangue de Cristo tem poder para expiar o pecado. João diz que o sangue de Jesus Cristo, o Filho de Deus, nos purifica de todo o pecado. Aquilo que o povo acha vergonhoso e tolo é exatamente o que Deus usa para salvar os pecadores. O que Cristo fez, ao morrer e ressuscitar, tem poder para cancelar a dívida do pecado. O Evangelho foi outorgado por Deus, não é um recurso humano. Deus enviou Seu Filho para morrer; Ele colocou sobre Cristo a nossa iniqüidade. Não somos salvos porque os homens mataram Jesus: isto seria assassinato. Somos salvos porque “Ele foi aflito, ferido de Deus e oprimido”. Isaías 53:4. Deus sacrificou Seu próprio Filho para nossa salvação (segurança eterna). Espantoso? Extraordinário? Maravilhoso? Com certeza! Mas devemos lembrar que o pecado é terrível em sua natureza e efeitos e, nada, a não ser uma solução extraordinária, poderia remediá-lo.
ILUSTRAÇÃO
Um homem comete um homicídio e por isso é condenado à pena de morte. O assassino fora contratado por outro homem, o qual já estava sob pena de morte, sem nenhum direito ao perdão. Mas a lei permite um substituto, que morre no lugar do assassino, por puro amor ao condenado. A morte do substituto cancela a culpa do assassino e o liberta. O tribunal fica satisfeito com a morte do substituto e o culpado recebe a liberdade. Interpretação desta parábola: o homem se tornou pecador contra Deus pelo engano de Satanás, o qual já está condenado ao inferno sem nenhuma chance de perdão. A lei divina permite que um substituto tome o lugar do homem pecador. O Filho de Deus, de bom grado, Se entrega como substituto do pecador, sofrendo, o Justo pelo injusto, para que o pecador não morra por causa dos seus pecados.
BENEFICIÁRIOS DO EVANGELHO
Paulo diz: “De todo aquele que crê”. Romanos 1:16. A morte de Cristo não vai fazer nenhum bem a quem zomba ou se recusa a confiar nela. “Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” João 3:36.
Uma explanação mais completa sobre a fé que salva, será tratada em outro sermão. Contudo, há espaço, aqui e agora para algumas considerações. Há tanta coisa que se faz passar pela fé que salva. Temos que estar atentos, para que não cometamos um erro a este respeito. A fé que salva é algo mais que o simples concordar da mente à uma proposta, mesmo sendo verdadeira. É preciso se confiar no Senhor Jesus Cristo com todo o coração. A fé que salva não se satisfaz com o eu; ela se satisfaz com o que Cristo fez na cruz, para a nossa salvação. Aquele que se satisfaz com Cristo nunca ficará satisfeito com qualquer outra coisa.
O valor da fé depende do valor do seu objeto. Se eu confio numa pessoa ou objeto que não possa ou não queira me salvar, então minha fé não tem valor – é vã, mesmo que seja forte. A fé tanto pode ser enganosa quanto salvadora. Não há perigo em se confiar no Senhor Jesus Cristo, pois Ele está disposto e também tem poder para salvar. Ele pode nos salvar porque está vivo. Um morto não pode ser um salvador verdadeiro, nem deve ser objeto de fé. É ofício do sacerdote fazer as pazes entre os pecadores e Deus. Os sacerdotes do Velho Testamento não podiam fazer isto por dois motivos: não viviam para sempre como sacerdotes nem tinham sacrifícios que salvavam a oferecer. Era “impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados”. Hebreus 10:4. Mas Cristo é sacerdote para sempre e tem um sacerdócio imutável. “Portanto, pode também salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles”. Hebreus 7:25. Eis a base para a fé que salva e um desafio à fé forte. Aleluia! Que Grande Salvador!
Published by C. D. Cole on 05/11/2015http://palavraprudente.com.br/
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