João Ferreira de Almeida (1628-1691), um português que recebeu a sua educação teológica na Holanda, empreendeu a primeira tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa, a partir do original grego. Em 1670 a tradução estava concluída e onze anos depois foi publicada. João Ferreira de Almeida faleceu antes de completar a tradução de todo o Antigo Testamento do original hebraico.
No entanto traduziu-o, de Gênesis a Ezequiel, enquanto estava em Java (Indonésia). Em 1819 foi publicada a primeira edição da Bíblia em Português, de Gênesis a Apocalipse, traduzida por João Ferreira de Almeida, sendo as versões revistas e atualizadas, posteriormente, as quais continuam a ser utilizadas pelos cristãos evangélicos de língua portuguesa.
A sua infância e juventude
João Ferreira de Almeida nasceu em 1628, em Torre de Tavares, concelho de Mangualde (Portugal). Filho de pais católicos, mudou-se para a Holanda, passando a residir com um tio e onde aprendeu o latim e se iniciou no estudo das normas da Igreja Católica.
Aos 14 anos, em 1642, aceitou a fé evangélica, na Igreja Reformada Holandesa, impressionado pela leitura de um folheto em espanhol, “Diferencias de la Cristandad”, que tratava das diferenças entre as diversas correntes da crença cristã.
Em 1644, aos 16 anos, João Ferreira de Almeida iniciou uma tradução do espanhol para o português, dos Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos, os quais, copiados a mão, foram rapidamente espalhados pelas diversas comunidades dominadas pelos portugueses. Para este grandioso trabalho, João Ferreira de Almeida também usava como fontes as versões latina, de Beza, francesa e italiana, todas elas traduzidas diretamente do grego e do hebraico. No ano de 1645, a tradução de todo Novo Testamento foi concluída; mas apenas seria editada em 1681, em Amsterdã.
Em 1648, relata J. L. Swellengrebel, um holandês que teve acesso às Atas do Presbitério da Igreja Reformada da Batávia e às Atas da Companhia Holandesa das Índias Orientais, João Ferreira de Almeida já desempenhava as funções de capelão visitante de doentes, em Malaca, Malásia, “percorrendo diariamente os hospitais e casas de doentes, animando e consolando a todos com as suas orações e exortações”.
Em Janeiro de 1649, foi escolhido como diácono e membro do presbitério. Nessa função tinha a responsabilidade de administrar o fundo social, que prestava assistência aos pobres. Durante os dois anos em que desenvolveu essa função, continuou a sua obra de tradução e, após a tradução do Novo Testamento, dedicou-se e traduziu o Catecismo de Heidelberg e o Livro da Liturgia da Igreja Reformada. As primeiras edições dessas obras foram publicadas em 1656 e posteriormente em 1673.
Em março de 1651, foi para a Batávia, para a cidade de Djacarta, ainda como capelão visitante de doentes, mas simultaneamente, desenvolvia os seus estudos de Teologia e revisava o Novo Testamento.
Em 17 de março de 1651, foi examinado publicamente, sendo considerado candidato a ministro. Depois de ser examinado, pregou com eloquência sobre Romanos 10:4. Desenvolveu também um ministério importantíssimo entre os pastores holandeses ensinando-lhes o português, uma vez que ministravam nas igrejas portuguesas das Índias Orientais Neerlandesas. Em setembro de 1655, João Ferreira de Almeida o exame final, quando prega sobre Tito 2.11-12, mas só recebeu a sua confirmação em 22 de agosto de 1656. Neste mesmo ano, quase um mês depois, em 18 de setembro, é enviado como ministro para o Ceilão, hoje Sri Lanka.
Perseguição, Inquisição e Obstáculos à Publicação da Tradução
Em 1657, João Ferreira de Almeida encontrava-se em Galle, no sul do Ceilão. Durante o seu ministério em Galle, assumiu uma posição tão firme contra o que ele chamava de “superstições papistas”, que o governo local resolveu apresentar uma queixa a seu respeito ao governo da Batávia.
Durante a sua estadia em Galle é que, provavelmente, conheceu e se casou com Lucretia Valcoa e Lemmes, ou Lucrécia de Lamos, jovem também vinda do catolicismo romano. O casal completou-se como família tendo dois filhos, um menino e uma menina, dos quais os historiadores não comentam mais nada. No decorrer da viagem de Galle para Colombo, Almeida e a sua esposa foram milagrosamente salvos da investida de um elefante.
A partir de 1658, e durante três anos, Almeida desenvolveu o seu ministério na cidade de Colombo e ali de novo enfrenta problemas com o governo, o qual tentou, sem sucesso, impedi-lo de pregar em português. O motivo dessa medida, estava provavelmente relacionado com as firmes e fortes ideias anti-católicas de João Ferreira de Almeida.
Em 1661, Almeida seguiu, no sul da Índia, onde ministrou o evangelho durante um ano, mas onde também foi perseguido. As Tribos da região negaram-se a ser baptizadas ou ter os seus casamentos abençoados por ele, pelo facto da Inquisição ter ordenado que um retrato de Almeida fosse queimado numa praça pública em Goa.
Em 1676, após ter dedicado vários anos a aprender grego e hebraico e a aperfeiçoar-se na língua holandesa, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do Novo Testamento para a língua portuguesa, passando a batalhar pela publicação do texto, já que para ter o aval do presbitério e o consentimento do Governo da Batávia e da Companhia Holandesa das Índias Orientais, o seu texto deveria passar pelo crivo dos revisores indicados pelo presbitério.
Em 1680, quatro anos depois do início da revisão, desiludido com a morosidade da publicação, envia o seu manuscrito, para ser publicado na Holanda por conta própria. O seu desejo é que a Palavra de Deus seja conhecida pelo povo de língua portuguesa. Mas, o presbitério percebeu a situação e conseguiu sustar o processo, interrompendo a impressão.
Depois de alguns meses, quando João Ferreira de Almeida já estava prestes a desistir da publicação, recebeu cartas vindas da Holanda, informando que o texto tinha sido revisto e que estava a ser impresso. Em 1681, foi publicada a primeira edição do Novo Testamento de Almeida e, no ano seguinte, em 1682, chegou à Batávia. Quando começou a ser manuseada foram percebidos vários erros de tradução e revisão. Tal facto foi comunicado à Holanda e todos os exemplares que ainda não haviam saído foram destruídos, por ordem da Companhia Holandesa das Índias Orientais. As autoridades holandesas determinaram também que se fizesse o mesmo com os exemplares que já estavam na Batávia.
Mas, ao mesmo tempo, providenciaram para que se começasse, o mais rapidamente possível, uma nova e cuidadosa revisão do texto. Apesar das ordens recebidas da Holanda, nem todos os exemplares foram destruídos, e correções foram feitas a mão com o objectivo de que cada comunidade pudesse fazer uso desse material. Um desses exemplares foi preservado e encontra-se no Museu Britânico em Londres. O trabalho de revisão e correção do Novo Testamento foi iniciado e demorou dez longos anos para ser terminado. Somente após a morte de João Ferreira de Almeida, é que essa segunda versão foi impressa, na própria Batávia, e distribuída.
A Dedicação no Final da Vida
Apesar da sua saúde estar abalada, entregou-se ainda mais à tradução do Antigo Testamento. Um ano depois, em 1683, já havia traduzido o Pentateuco. João Ferreira de Almeida faleceu em Outubro de 1691, deixando a esposa e um casal de filhos.
Nessa altura, tinha traduzido o Antigo Testamento, para a língua portuguesa, até Ezequiel 48.21. A tradução do Antigo Testamento foi completada em 1694 por Jacobus Op Den Akker, pastor holandês. Depois de passar por muitas mudanças, ela foi impressa na Batávia, em dois volumes: o primeiro em 1748 e o segundo, em 1753.
Datas importantes da tradução de João Ferreira de Almeida da Bíblia
- 1676 – Conclusão da tradução do Novo Testamento para português;
- 1681 – Data da publicação, na Holanda do Novo Testamento, em português;
- 1691 – Morte de João Ferreira de Almeida. Tinha traduzido até Ezequiel 48:21;
- 1753 – Publicação da Bíblia, na tradução de João Ferreira de Almeida, em três volumes;
- 1819 – Primeira impressão da Bíblia completa em português, em um único volume. Tradução de João Ferreira de Almeida. Publicada em Londres;
- 1898 – 1ª Revisão da tradução de João Ferreira de Almeida, que recebeu o nome de «Revista e Corrigida»;
- 1932 – Versão de Matos Soares, elaborada em Portugal;
- 1956 – Publicação da versão “Revista e Atualizada”, pela Sociedade Bíblica do Brasil;
- 1968 – Publicação da versão dos padres Capuchinhos;
- 1993 – 2ª Edição da versão Revista e Atualizada;
- 1995 – 2ª Edição da versão Revista e Corrigida.
Fonte: verdadeviva.net
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