Porque não temos sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado. Hebreus 4:15.
A palavra fraqueza no Novo Testamento, quase não é empregada com um sentido puramente de força física. Ela se refere mais a uma fraqueza mental, moral e emocional, a uma ausência de forças. As fraquezas, por si mesmas, não constituem pecado, mas minam nossa resistência, tornando-nos mais vulneráveis à tentação. No Novo Testamento, a palavra fraqueza aplica-se a certos aspectos da natureza humana que podem pre-dispor-nos ou inclinar-nos a pecar, por vezes até mesmo sem uma decisão consciente de nossa parte. O escritor do livro de Hebreus aplica essa figura ao nosso grande Sumo-Sacerdote e Mediador, o Senhor Jesus Cristo. Como Ele nunca tinha pecado, como nunca tinha cedido à tentação, o que não era o caso dos sacerdotes do Antigo Testamento, nunca necessitara executar o holocausto por si mesmo. Mas já que fora tentado, já que fora provado em todas as coisas como nós o somos, temos um grande Sumo-Sacerdote que pode “compadecer-se das nossas fraquezas”. Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados. Hebreus 2:18.
Se ele apenas entendesse o fato de termos fraquezas, já seria o suficiente. Mas a situação é ainda melhor. Ele conhece a sensação que temos em nossas fraquezas e não apenas as deformidades, não apenas a fraqueza em si, não apenas os traumas emocionais e conflitos interiores, mas também a dor que tudo isso nos inflige. Ele compreende as frustrações, aflições, depressões, mágoas, os sentimentos de abandono e solidão, isolamento e rejeição. Aquele que conhece a sensação que temos em nossas fraquezas experimenta toda a gama de emoções que acompanham nossas enfermidades e deformidades.
E qual é a prova disso? Em que se baseia o autor de Hebreus para afirmar que Jesus sabia como nos sentimos por causa de nossas fraquezas? Ele, Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu Hebreus 5:7-8.
Será que essa oração foi feita em silêncio e tranqüilidade? Não. Ele ofereceu “com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte”. Isso nos fala do Getsêmani, da sua paixão e sofrimento da cruz. O nosso Senhor Jesus passou por tudo isso. Ele sabe o que é chorar com muitas lágrimas. Sabe o que é orar a Deus em prantos. Ele lutou com emoções que quase o despedaçaram. Ele conhece isso. Já passou por isso e pode sentir o que sentimos. Ele sofre conosco. Irmãos estamos diante de um Pai celeste que compreende nossos sentimentos e nos chama para que lhe falemos deles.
Por isso, podemos aproximar-nos do trono da Graça com toda a confiança, sabendo que encontraremos graça e misericórdia diante dele, nos momentos de dificuldades. Podemos nos achegar a Ele quando precisarmos de perdão, quando sentirmos o peso da culpa de nossos pecados. E podemos nos aproximar também, quando estivermos sendo torturados e atormentados pelo reconhecimento de nossas fraquezas. Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna. Hebreus 4:16.
A experiência que Jesus Cristo teve na condição de ser humano acha-se agora conosco na pessoa do Espírito Santo, que nos ajuda em nossas fraquezas, havendo uma colaboração mútua, para a cura delas. Mas tem muitas pessoas que não querem ser curadas. Eles preferem serem vítimas dos seus traumas emocionais. O vitimismo as deixa totalmente paralisadas espiritualmente. Para que o nosso Senhor Jesus nos curasse de nossa paralisia, foi necessário Ele ficar paralitico naquela cruz. Lembra-se de que Ele foi pregado na cruz? As costas estavam feridas pelas chicotadas, assim como as suas também ficam feridas às vezes.
Jesus deve ter tido muita vontade de remexer-se um pouco, para mudar de posição, para aliviar o peso do corpo, mas não podia se mover. Ele sabe o que você está sentindo meu irmão, minha irmã. Ele conhece a sua profunda dor. O Filho de Deus havia sentido as tamanhas dores que torturavam seu corpo naquela cruz. Somente Jesus conhece aquela sensação de desamparo que eu e você muitas e muitas vezes sentimos. Marcos 15:34 À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Muitas vezes, agradecemos a Deus pelo fato de Jesus haver levado sobre si os nossos pecados na cruz. Mas precisamos lembrar outra coisa. Em sua plena identificação com nossa condição humana, principalmente quando se achava na cruz, ele levou sobre si todos os nossos sentimentos, e carregou as nossas sensações de fraqueza, para que não precisássemos ter que levá-las sozinhos. Não podemos ter nenhuma dificuldade em crer que quando Jesus Cristo foi crucificado, nós também fomos crucificados com Ele.
Hoje Cristo é a nossa vida, é esta certeza que nos fornece as bases para termos esperança e sermos curados. O fato de sabermos que Deus não apenas sabe de tudo e nos ama, mas também compreende plenamente o que passamos é um fator altamente terapêutico para a cura de nossos traumas emocionais. Lucas 9:11 Mas as multidões, ao saberem, seguiram-no. Acolhendo-as, falava-lhes a respeito do Reino de Deus e socorria os que tinham necessidade de cura.
Qual é a sua necessidade de cura? Em qual área de sua vida há necessidade de cura? A Bíblia esta dizendo que Jesus acolhe e se tiver necessidade de cura, Ele cura. Você pode crê que Ele cura? Então a sua doença é puro vitimismo de sua parte. Você sabe onde encontrar a cura, mas você quer ser curado? Marcos 9:23 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê.
Muitas vezes, nós, os pregadores, damos aos ouvintes a enganosa ideia de que o novo nascimento irá automaticamente resolver esses problemas emocionais. Mas isso não é verdade. A grande experiência com Cristo, embora seja importante e de valor eterno, não constitui um atalho para a cura de nossos males mentais. Não é uma cura instantânea para nossos problemas de personalidade. É necessário que compreendamos bem isto, primeiro, para que possamos aceitar-nos bem, e permitir que o Espírito Santo opere em nós, de uma forma toda especial, a fim de curar nossas mágoas e complexos. Precisamos entender isso também, para não julgarmos os outros com muita dureza, mas termos paciência com aqueles que demonstram uma conduta contraditória e confusa.
Agindo assim, evitaremos fazer críticas injustas e julgamentos errados contra nossos irmãos. Pois eles são pessoas, como nós, com suas mágoas, cicatrizes emocionais e formação errada, e essas coisas interferem na conduta do momento. Se compreendermos bem que a salvação não nos dá uma cura imediata dos males emocionais teremos uma compreensão melhor com relação à doutrina da santificação. É impossível saber o grau de espiritualidade de uma pessoa simplesmente pela observação de sua conduta exterior. Romanos 11:16 E, se forem santas as primícias da massa, igualmente o será a sua totalidade; se for santa a raiz, também os ramos o serão.
Quais são suas doenças emocionais? Uma das mais comuns é um profundo sentimento de desvaJor, uma perene sensação de ansiedade, incapacidade e inferioridade, uma vozinha interior que vive a repetir: “Não presto para nada. Nunca serei nada. Ninguém pode gostar de mim. Tudo que faço dá errado.” O que acontece a esse indivíduo quando se converte? Uma parte de seu ser crê no amor de Deus, aceita o perdão de Deus e sente paz por algum tempo. Mas depois, de repente, parece que algo dentro dele acorda e grita: “É tudo mentira! Não creia nisso! Não ore! Não há ninguém lá em cima para escutá-lo. Ninguém pode aliviar sua aflição. Como Deus poderia amar e perdoar a uma pessoa como você? Você é ruim demais!” O que aconteceu? Aconteceu que as Boas-Novas do evangelho não atingiram o mais íntimo recesso de seu ser, que foi traumatizado, que também precisa receber a mensagem do evangelho. Essas cicatrizes profundas precisam ser alcançadas pelo “Bálsamo de Gileade” e por Ele curadas. Jeremias 17:14 Cura-me, SENHOR, e serei curado, salva-me, e serei salvo; porque tu és o meu louvor.
Algum tempo atrás eu li em um livro uma história de um teólogo que havia sido entrevistado por um repórter, desses teólogos que esposam a tese de que Deus está morto, O repórter lhe perguntou: O que é Deus, para o senhor? Deus? Ah, para mim, Deus é aquela vozinha interior que está sempre dizendo: “Ainda não está bom!” Com isso, ele não falou muito acerca de Deus, mas revelou muita coisa sobre seus traumas. E acredito que pessoas doentes assim só podem produzir doutrinas enfermas. Irmãos, como o complexo de perfeccionismo derrota a muitos na caminhada cristã! E como afasta as pessoas do reino de Deus! O Senhor Jesus veio buscar os estropiados e não os perfeitos para levá-los para o Seu reino. Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Mateus 21:31b.
Quando Paulo escreveu sua primeira carta aos coríntios, abordou todos os problemas humanos possíveis e imagináveis, e alguns dos mais inimagináveis. Falou sobre disputas, divisão da igreja em grupos, casos de tribunais, contendas acerca de propriedades e vários tipos de problemas sexuais, desde o incesto até a prostituição. Falou sobre sexo pré-conjugal, conjugal e extra-conjugal. Analisou questões tais como viuvez, divórcio, vegetarianismo, bebedices por ocasião da Ceia do Senhor, dons de línguas, mortes e enterros, o levantamento de ofertas e campanhas pessoais dentro da igreja. Contudo, ele inicia sua carta dizendo que não queria saber nada entre eles, a não ser “Jesus Cristo, e este crucificado”. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. 1 Coríntios 2:2. A cura da nossa paralisia está numa Pessoa, Cristo.
Claudio Morandi
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