terça-feira, 14 de maio de 2013

Os Conselheiros de Jó




“Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai de misericórdias e Deus de toda consolação. É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar aos que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus” (2 Co 1.3,4).


Os três amigos de Jó procuraram aconselhá-lo com respeito à sua aflição e também interpretaram as palavras de Jó como se estivessem progredindo para uma solução. Na verdade, a condição espiritual de Jó estava em declínio sob o falso aconselhamento deles. O cristão sábio aprenderá com os erròs dos conselheiros de Jó.

MÉDICOS DA ALMA QUE NÃO SABEM CONSOLAR (Jó 2.11-13; 16.1-5; 26.1-4)

Os conselheiros de Jó não estavam completamente errados. Existem vários aspectos de seu ministério que precisam ser reconhecidos: 1) sua visita para confortar Jó (Jó 2.11); 2) seu reconhecimento silencioso do sofrimento de Jó (2.12,13); 3) o fato de levarem diretamente a Jó sua opinião em lugar de dizê-la a outrem; e 4) sua lealdade a Jó e posterior submissão (42.7-11).

O propósito de Elifaz, Bildade e Zofar era consolar Jó (Jó 2.11). Quando os três homens chegaram à casa de Jó, imediatamente reagiram ao sofrimento que lhes foi dado ver. Choraram alto, rasgaram suas vestes, jogaram poeira para o ar e permitiram que esta caísse sobre o seu rosto (v. 12). Esses atos indicavam sua participação no sofrimento intenso do amigo.

Quando os amigos de Jó descobriram que o sofrimento dele era inexplicável e inexprimível, guardaram para si mesmos os seus pensamentos, mantendo-se em silêncio durante sete dias e sete noites (v. 13). Talvez o silêncio mudasse de uma simpatia inexprimível para uma admissão de fracasso durante esses sete dias e noites. O discurso de Elifaz acusou Jó de ser presunçoso em sua afirmativa de inocência (Jó 15.1-35). A resposta de Jó foi seca: “Tenho ouvido muitas cousas como estas; todos vós sois consoladores molestos” (Jó 16.2).


 O desinteresse de Jó pelo conselho dos amigos estava-se tornando bastante evidente. Tinha ouvido as mesmas frases feitas de todos eles. A superficialidade deles só merecia o seu desprezo. Tinham tido a idéia de consolar, mas só aumentavam o seu desconforto.

Jó, a seguir, acusa seus conselheiros de proferirem palavras sem nenhum conteúdo e terem uma atitude negativa (Jó 16.3). Por seu lado, Jó afirmava que ele fortaleceria e confortaria os amigos se estivessem no seu lugar, e isso apesar de poder também falar de maneira pouco consoladora como eles estavam fazendo (v 4,5). (Veja 2 Co 1.3-7 e 1 Ts 5.14,15.)

Depois do último discurso dos conselheiros (Jó 25.1-6), Jó mais uma vez se refere ao ministério ineficaz dos mesmos (Jó 26.1-4). As palavras dos amigos não tinham-lhe dado nem força, nem compreensão, nem sabedoria (vv. 1-3). Voltando-se para Bildade, Jó pergunta: “Com a ajuda de quem proferes tais palavras? E de quem é o espírito que fala em ti?” (v. 4). Esses conselheiros na verdade não deram nenhum consolo à alma de Jó. (Veja Jr 23.30.)

FALSOS MÉDICOS DA ALMA (Jó 6.14-30; 21.34)

O desespero de Jó aumentou ainda mais com o fracasso dos amigos em encontrar um meio de impedi-lo de abandonar, gradualmente, o “temor do Todo-Poderoso” (Jó 6.14). Os três companheiros de Jó eram tão desapontadores quanto os ribeiros do Oriente Próximo (w. 15-20). Os amigos de Jó estavam cheios de simpatia até que se puseram a falar. Agora, quando ele mais precisava da compreensão deles, estavam secos e não lhe davam consolo.

Os três conselheiros tinham medo de consolar Jó, porque temiam que tal identificação pudesse levá-los a serem condenados com ele (v. 21). Jó não pediu ajuda financeira (v. 22) nem um grande ato de heroísmo (v. 23). Tudo o que pediu foi o seu conselho compreensivo.

Uma parte da falsidade desses homens estava na afirmação irreal de que Jó prosperaria novamente se confessasse os seus pecados e se afastasse deles. Provar que ele era perverso era desonesto, mas foi o que tentaram fazer. Apesar de todas as acusações hipócritas, Jó manteve-se irredutível na defesa de sua inocência. Se houvesse pecado em sua vida, ele com certeza o saberia (w. 29,30).


MÉDICOS DA ALMA INSENSATOS (Jó 12.1-6; 13.1-12)

Além de não darem consolo e de faltarem com a verdade, os conselheiros de Jó não mostraram sabedoria. O fato de recorrerem à desonestidade provou sua falta de sabedoria. A maneira como apresentaram seus conselhos pouco sábios se relaciona especificamente às suas filosofias individuais com respeito à vida espiritual.

Elifaz, Bildade e Zofar tinham tanta confiança na retidão da sua crença, que Jó comentou com sarcasmo: “Na verdade, vós sois o povo, e convosco morrerá a sabedoria” (Jó 12.2). Esta resposta foi dirigida especialmente a Zofar, que baseava suas convicções religiosas em suas próprias suposições. Zofar era um consumado dogmatista religioso. Devido à sua visão rígida da Providência, Zofar concluiu com presunção: Jó é. um homem cheio de pecado.

Dogmatismo religioso de Zofar: Jó 11.6-20; 20.4,5. Jó respondeu com o argumento de que possuía tanto conhecimento religioso quanto qualquer de seus amigos (Jó 12.3; 13.1,2). A experiência de Elifaz era a mesma de Jó. As tradições de Bildade eram idênticas às aprendidas por Jó. Este, porém, não chegou às mesmas conclusões específicas desses homens, mas usou a experiência, a tradição e as suposições de maneira a desenvolver as suas crenças, que provaram ser corretas com grande surpresa dos três amigos (Jó 42.7).

Como moralista religioso que era, Elifaz fez uso do raciocínio dedutivo, para chegar à sua visão extremamente rígida da Providência. Ele deduziu: se Jó não tivesse pecado, não estaria sofrendo tanto.

Bildade era um legalista religioso. Suas crenças tinham base na tradição. Como tradicionalista, a visão de Bildade sobre a Providência era também muito estreita. A inferência de Bildade foi esta: Jó deve ter pecado, portanto, ele é um hipócrita.
Os três consoladores se tinham transformado em juizes em lugar de irmãos. Todos concluíram que o sofrimento de Jó era punitivo. Exigiram que ele confessasse um pecado que não tinha cometido e acabaram por levá-lo a* uma atitude errada em relação ao seu sofrimento e ao seu Deus. (Veja Jó 33.8-11; 34.36,37; 35.15,16.)

Em vista de suas falsas filosofias, os amigos de Jó começaram a zombar dele e desprezá-lo (Jó 12.4,5). Muito pior, entretanto, foi sua provocação a Deus (v. 6). (Veja G1 6.1-10.)

A seguir, Jó passou a apresentar seu caso a Deus, uma vez que os amigos tinham demonstrado tão pouca simpatia (Jó 13.3,4). Finalmente, ele clamou desesperado: “Vós, porém, besuntais a verdade com mentiras, e vós todos sois médicos que não valem nada” (v. 4). Em lugar de serem bons médicos, os conselheiros de Jó mostraram-se inúteis como médicos da alma.

As defesas da experiência, da tradição e da suposição são como argila diante do Deus da verdade. Nenhuma das três é completamente errada, mas todas falham, quando alguém se baseia explicitamente nelas e deixa de lado a revelação divina. A experiência, o tradicionalismo (que, segundo as declarações de Bildade, é geralmente autoritário e legalista) e o humanismo são sistemas errados. Eles são ineficazes quando se trata de satisfazer as necessidades das pessoas. Não proporcionam consolo, são inverídicos e pouco sábios. Os que se preocupam realmente com os seus irmãos na fé rejeitarão esses sistemas imaginados pelo homem.

Os conselheiros espirituais devem demonstrar preocupação sincera e constante, assim como proporcionar o consolo necessário, a verdade e a sabedoria.

EXAMINE A SUA VIDA

Você está sempre disposto a consolar outros? Ê possível determinar a razão do sofrimento de alguém? Quais as qualificações necessárias a um conselheiro espiritual? Para julgar a condição de alguém, num sentido espiritual, podemos nos apoiar na tradição e no legalismo?

Pastor Josias Moura

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