sábado, 6 de abril de 2013

Jonas, um Profeta no Porão



Jonas foi um profeta que exerceu seu ministério no governo do Rei Jeroboão II, inicio do século VII ( 793 a 753 a.C). Filho de Amitai, nativo de Gate Hefer, Jonas era nacionalista e de temperamento um tanto curioso: teimoso, exclusivista, mal humorado, enfim como pode alguém com essas características ser mensageiro de Deus? Eis a beleza dessa narrativa que se desenrola sob o manto do amor pelos perdidos e imperfeitos. Deus ama simplesmente e como hábil escultor, Ele molda nosso caráter e espírito considerando que somos homens, “sujeitos a paixões” Tg 5:17. Perfeito é Deus e Seus caminhos, nós caminhantes ainda que indignos de Sua presença, somos aceitáveis por tudo que não somos, pois nessa relação entre céu e terra, Soberano é o Senhor a quem Jonas designa de “O Deus do céu, que fez o mar e a terra” Jn 1:9. Somos absolutamente dependentes da graça Divina para viver.


Jonas era hebreu e fora comissionado para pregar o arrependimento a cidade de Nínive, uma viagem de 1300 km para o Oriente aquém de sua morada. Nínive era inimiga de Israel e vivia a saquear os territórios de Israel e Judá. Deus diz: “Vai Jonas, fala para aquele povo se arrepender antes que eu envie meu juízo e destrua a nação”. Deus sempre concede oportunidades de arrependimento, Eclesiastes 9:11: Voltei-me, e vi debaixo do sol que não é dos ligeiros a carreira, nem dos fortes a batalha, nem tampouco dos sábios o pão, nem tampouco dos prudentes as riquezas, nem tampouco dos entendidos o favor, mas que o tempo e a oportunidade ocorrem a todos.” E a oportunidade estava sendo renovada para Nínive, era tempo de arrependimento e perdão. Jonas, contudo fez seu próprio julgamento e concluiu serem os ninivitas pecadores demais para merecerem perdão de Deus.

“E veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Levanta-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até à minha presença. Porém, Jonas se levantou para fugir da presença do Senhor para Társis. E descendo a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e desceu para dentro dele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor . Mas o Senhor mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se. ”Jonas 1:1-4

O profeta arruma a bagagem e embarca rumo a um destino oposto ao ordenado. Társis era praticamente o último lugar do mapa, ficava na Espanha e seu nome pode ser traduzido como “refinaria”. Társis era um grande centro metalúrgico de comércio bem desenvolvido. Jonas estava certo de que Társis era um lugar onde não seria notado, afinal a cidade era agitada, muitos navios e pessoas embarcando e desembarcando, ele seria apenas mais um:” Nínive? Que nada! Não vou perder tempo com aqueles ímpios! Társis me espera, vou observar as refinarias e desistir de “refinar” pecadores!.

Jonas é tão parecido conosco, olhamos para pessoas e as julgamos serem elas desprovidas de amor Divino, tão erradas e indignas que sequer merecem nossa atenção.


Jonas é um de nós que recusa seguir a direção indicada por Deus e compra passagem para destino contrário. Sabendo o que devemos fazer, não fazemos. Ignoramos os avisos e nos enganamos por não lembrar ( ou fazer questão de esquecer) que nada está oculto diante de Deus. Quem pode fugir de Seus olhos?

“Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face?Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar,Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá.” Salmos 139:7-10

A ponte, próxima ao porão
E enquanto curtia sua viagem, deitado no porão do navio, Deus envia uma forte tempestade que abala a embarcação em que Jonas estava: “Mas o SENHOR mandou ao mar um grande vento, e fez-se no mar uma forte tempestade, e o navio estava a ponto de quebrar-se... Jonas, porém, desceu ao porão do navio, e, tendo-se deitado, dormia um profundo sono. Jonas 1:4-5

Parecia que a história não era com o profeta, o mundo desabando e ele lá, no porão.

Quantas vezes isso aconteceu conosco? Nos metemos em enrascadas por livre escolha e as pessoas ao nosso redor sofrem as consequências? É quando chegamos ao porão, ao lugar mais baixo de uma embarcação. E ficamos como que adormecidos em pecado, desobediência e sem horizonte. Deus viu Jonas no porão. E os marinheiros também. E cada um clamava ao seu deus, mas Jonas permanecia calado.

E quando os filhos de Deus se calam, as pedras clamam. Quando os filhos pecam, os ímpios parecem mais prudentes, porque mesmo desconhecendo o Deus verdadeiro O temem. E os que O conhecem o desprezam.


Terrível lugar é esse porão!
Direto para boca do peixe
Os marinheiros clamam por socorro e tomados de grande temor, pedem que Jonas ore para Deus acalmar o mar. Jonas não apenas ora como pede para ser lançado ao mar para que este se acalme:

“E ele lhes disse: Levantai-me, e lançai-me ao mar, e o mar se vos aquietará; porque eu sei que por minha causa vos sobreveio esta grande tempestade.” Jonas 1:12

E quando provocamos uma tempestade, não é justo ficarmos isentos de sofrer as consequências. É preciso tomar decisões, não se esquivar, mas confessar a culpa e pagar o preço para que venha a calmaria. Só sabe a dor do açoite das ondas, quem as enfrenta. Descer ao porão é ser culpado, mas negar a culpa. É se meter no escuro e fechar os olhos para não ver a luz. Mas é bem próximo ao porão dos navios que fica a ponte para a proa. É pegar a ponte e mudar a direção, a situação.

Os marinheiros pegaram a ponte com Jonas nos braços e o lançaram ao mar: “E levantaram a Jonas, e o lançaram ao mar, e cessou o mar da sua fúria.” Jonas 1:15.

As mesmas pessoas que sofrem pelos erros por nós cometidos, são capazes de nos fazer refletir, agir e reagir. É preciso que não desprezemos aos que machucamos. É impossível ter paz no coração, estando em guerra com as pessoas de nosso convívio. Elas podem não confessar a mesma fé, os mesmos ideais, contudo o mundo é essa reação em cadeia onde plantamos e colhemos dentro e fora dos limites de nosso jardim.

Esteja onde estiver, Deus vê

"Preparou, pois, o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites nas entranhas do peixe. E orou Jonas ao Senhor, seu Deus, das entranhas do peixe." Jn 1:17- 2:1.

Dentro do peixe não era lá um lugar agradável de se estar. Não dava para continuar dormindo. Era algo desconfortável, assombroso. Ver as entranhas da baleia, enquanto se dá voltas pelas profundezas, escutando o ruído tenebroso do mar. Solidão, frio, pavor. Esse é o pós porão. É quando se sai do estado de pecado para o arrependimento. É doloroso. É você e Deus. Era Jonas e Deus. Porque chega o momento em que palavras e gestos humanos não são suficientes para curar a alma. É se desnudar para Deus com intensidade e conhecer Sua vontade, ou naufragar.

Quando desfalecia em mim a minha alma, lembrei-me do Senhor; e entrou a ti a minha oração, no teu santo templo. Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra seca. Jonas 2: 7-10

Jonas em Nínive
Agora sim, pela segunda vez Deus fala a Jonas para que siga a Nínive e ele obedece. “E levantou-se Jonas, e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era uma cidade muito grande, de três dias de caminho. E começou Jonas a entrar pela cidade caminho de um dia, e pregava, dizendo: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.” Jonas 3:3-4

Três dias de caminho e o profeta fez seu trabalho em um só dia? Que teimoso esse Jonas! Não sei o que se passou em sua mente, se cansou rápido, desanimou, fez o trabalho relaxadamente, não sei. Apesar do pouco tempo proclamando a Palavra de Deus, as pessoas se arrependeram, se humilharam, buscaram a Deus e Ele as ouviu.

“E Deus viu as obras deles, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha anunciado lhes faria, e não o fez. “Jonas 3:10

Ah graça de Deus, que nos faz viver, que nos abraça em tempo de angústia, que acalenta os que A procuram! Onde encontraríamos tamanho perdão? Quem ordenaria recomeços, onde o passado se apaga como névoa dando lugar a paz de espírito? Quem amaria dessa forma? Somente Deus, somente Jesus que em Seu sofrimento se solidarizou conosco e em Sua ressurreição nos gerou de novo para uma viva esperança! (I Pedro 1:3) Louvado seja o Senhor!

Deus perdoou os Ninivitas e está pronto para perdoar a mim e você. Ele anela por nos tirar do porão, nos fazer levantar do pó: “ Sacode-te do pó, levanta-te “ Is 52:2. Deus não tem prazer na derrota, nem na morte. Ele se alegra em realizar milagres na vida dos que esperam e confiam em Seu Nome. Deus é bom. E em meio a porões e tempestades, Ele aguarda nossa oração disposto a atender. Ele convida ao arrependimento sem fazer acepção de pessoas.

A revolta de Jonas
"Mas isso desagradou extremamente a Jonas, e ele ficou irado." Jn 4:1

Jonas deveria ter ficado feliz com o arrependimento dos habitantes de Nínive, mas não ficou. Sua decepção era tanta que chega a pedir à morte. Essa atitude do profeta é bem egoísta e distante da essência Divina. Ele queria muito que fosse cumprido o desejo de seu coração de destruir a cidade, mas ignora que Deus atenda aos clamores de arrependimento da nação inimiga de Israel. O nacionalismo de Jonas, fala mais alto. No Reino de Deus, porém, pessoas têm mais valor que nacionalidade. Judeus, gregos, africanos, em qualquer lugar onde se voltarem para Deus em arrependimento sincero, Ele ouve. O fato de Jonas ser hebreu e fazer parte do povo da aliança não lhe garante exclusivismos.

Podemos criticar Jonas, achar absurdo seu comportamento, mas ele é mais comum do que possamos admitir. Muitos cristãos têm essa “síndrome de Jonas”, julgam-se melhores e mais merecedores do que os não cristãos e nessa aforia cria-se uma nação de triunfalistas que olha para os “Ninivitas” de cima para baixo, faltando amor e sobejando rancor, maldições.

“Então Jonas saiu da cidade, e sentou-se ao oriente dela; e ali fez uma cabana, e sentou-se debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade. ”Jonas 4:5

Deus faz crescer uma farta aboboreira para dar sombra a Jonas, a temperatura da região era elevada e o sol castigava: “E Jonas se alegrou em extremo por causa da planta” Jn 4:6. Aboboreiras são rasteiras podendo enramar para o alto e os lados, assim foi para com Jonas que se viu cercado pela sombra e cuidados da planta. Deus tem todo domínio sobre a natureza. Primeiro ordena a um grande peixe que guarde ao profeta com cuidado e o vomite em terra seca, depois em alguns instantes faz crescer uma planta e mesmo depois de tudo isso o coração do missionário continuava endurecido. A misericórdia de Deus lhe era favorável mas a lição de amor dada por Deus, estava sendo difícil de ser compreendida.

E Deus retira a aboboreira da vida de Jonas, destruindo-a completamente. Claro que o teimoso não gosta da morte da planta.

“Então disse Deus a Jonas: Fazes bem que assim te ires por causa da aboboreira? E ele disse: Faço bem que me revolte até à morte. E disse o Senhor: Tiveste tu compaixão da aboboreira, na qual não trabalhaste, nem a fizeste crescer, que numa noite nasceu, e numa noite pereceu; E não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive em que estão mais de cento e vinte mil homens que não sabem discernir entre a sua mão direita e a sua mão esquerda, e também muitos animais? ”
Jonas 4:9-11

A reação de Jonas remete ao consumismo, onde coisas tem mais valor que pessoas. Onde a comodidade e conforto são prioridade e tudo o mais é secundário. Jonas não quer perder e também não quer que os outros ganhem, especialmente se esses outros forem inimigos políticos. Bem, digamos que Jonas não era tão egoísta assim porque pensava em todo o Israel e no sofrimento que os Ninivitas já haviam causado para eles.

Mas era hora de ser transformado, de perdoar e fazer as pazes. De reconhecer quão grandiosa era a graça e o amor de Deus e Sua disposição em perdoar.

Quantas lições aprendemos com a história de Jonas!

- Deus é soberano e sempre realiza sua vontade
- É impossível qualquer tentativa para fugir de Deus
- Os preconceitos nos tornam sem amor pelos incrédulos
- Quando estamos em desobediência nos tornamos maldição onde quer que vamos
- Quando amamos os secundários, nossa vida se torna mesquinha e sem alegria.
- O caminho da desobediência sempre nos coloca em enrascadas
- Quão apaixonadamente Deus ama os pecadores
- Deus ouve orações vindas de corações arrependidos
- Tempestades, adversidades, são momentos que nos moldam e proporcionam mudança de direção.

Autor: Wilma Rejane
www.atendanarocha.com.br

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