Numa tarde de sol escaldante na Babilônia, Jeremias percorre com os olhos tristes o cenário desolador de seus irmãos desterrados, como ele, em trabalhos forçados e sendo humilhados pelos feitores caldeus. Os feitores zombam da miséria do povo judeu, pedindo-lhes que cantem os cânticos da sua terra natal. Suportando a humilhação, todos se recusam a fazer isto: não há motivo. Como cantar se não há alegria, somente escravidão? E, já, pouca memória ficou dos dias áureos do povo em Jerusalém. Há muito, o povo saboreia um coquetel amargo de tristeza e revolta, desejando que os inimigos dos caldeus espanquem e lancem os filhos deles contra as pedras. Jeremias se recolhe e em suas lamentações, ora a Deus:
“Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e da amargura. Minha alma certamente se lembra, e se abate dentro em mim. Entretanto disto me recordo, e, portanto, tenho esperança: as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, pois as suas misericórdias não têm fim. Novas são a cada manhã, grande é a tua fidelidade. A minha porção é o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele. Bom é o Senhor para os que nele esperam para a alma que o busca. Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor. Bom é para o homem suportar o jugo na sua mocidade. Assente-se solitário, e fique em silêncio, porque Deus o pôs sobre ele. Esconda o rosto no pó; talvez ainda haja esperança. Dê a sua face ao que o fere, e farte-se de afronta pois o Senhor não rejeitará para sempre. Embora entristeça a alguém, usará de compaixão segundo a grandeza das suas misericórdias. Pois não aflige nem entristece de bom grado aos filhos dos homens. Pisar debaixo dos pés a todos os presos da terra, perverter o direito do homem perante a face do Altíssimo, privar o homem de justiça, não o veria o Senhor? Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor não o mande? Não é da boca do Altíssimo que saem o mal e o bem? De que se queixa o homem vivente? Queixe-se cada um dos seus pecados. Esquadrinhemos os nossos caminhos, experimentemo-los e voltemos para o Senhor”
Jeremias, naquele momento, via o resultado da quebra dos marcos antigos colocados por Deus para que o povo respeitasse. Reconheceu que o motivo de estarem todos ali foi terem se esquecido de Deus, de fazer o que cada um julgava reto e acolher ideias e práticas estranhas à palavra de Deus. E apresenta a solução ao povo: voltar a Deus; reconhecer onde cada um falhou e recomeçar com sinceridade para que suas vidas sejam restauradas. Os marcos antigos constituem-se de todos os mandamentos, estatutos, juízos e ordenanças dados por Deus para o povo israelita. Tanto em Dt. 2 e 27, Deus estabeleceu as consequências para quem desobedece a Ele. Essas ordenanças foram lidas para todo o povo do alto dos montes, de modo que chegasse ao conhecimento de todos ali presentes.
Os marcos foram estabelecidos não só para que Deus fosse glorificado pelo cumprimento deles, mas para benefício do próprio homem, pois obedecendo as leis, teria para si garantidas, as bênçãos do Senhor, além de praticar a justiça para com o próximo, sendo dela, também beneficiado. Deveriam ser ensinados às crianças, pois a disciplina da Palavra de Deus liberta a alma do inferno. A quebra de marcos gera injustiças por parte de quem não os obedece e punição direta de Deus, porque vê a injustiça produzir impiedade e desamor pelo outro. Sendo, a iniquidade, o resultado prático da quebra de marcos, também é uma abominação para Deus, as leis injustas, pois são preceitos humanos fundamentados fora da Palavra de Deus. Embora o descumprimento dessas leis – ainda que injustas – seja passível de punição humana, diante de Deus, essas leis são chamariz de maldições, pois por um preceito humano se violam os mandamentos eternos de Deus. Ao cobrar obediência, Deus não se esquece do pobre, nem do necessitado, principalmente se forem eles os alvos da injustiça humana. Remover marcos gera, além de injustiças, o esquecimento de Deus. O Senhor manifestou a Jeremias, o seu dissabor pela teimosia do homem, porque, apesar de tantas demonstrações vivas de marcos estabelecidos ao redor do homem, este não para a fim de refletir sobre o porquê de havê-los por toda a parte e ele ser o único a não cumprir os seus, impostos por Deus. Um grave reflexo da desobediência em nossos dias esta cada vez mais sendo observado: a transferência para os textos das leis humanas, da exigência de atitudes que, desde os tempos antigos, eram consideradas traços de caráter do homem. Não havia necessidade de se cobrar, por exemplo, o respeito aos idosos, o trato honesto das coisas públicas, o tratamento sem violência às crianças e adolescentes; e outros procedimentos porque eram ensinados no lar, eram preceitos monitorados na educação dos filhos pelos pais e parentes. O Direito, como ciência, está sendo forçado a criar leis que absorvam o papel educacional dos pais, pois pela quebra de marcos, famílias estão sendo desestruturadas. Vários exemplos podem ser dados como consequência de quebras de marcos: o caso dos quatrocentos casamentos anulados pela Igreja Católica em Goiânia – GO, pois o padre era casado sem consentimento de seus superiores. Esses casamentos foram legalmente reconhecidos em cartório. Muitos ali eram da vontade de Deus, mesmo assim, a Igreja Católica mandou anular todos eles, pois foram celebrados por um padre que estava fora das normas – humanas, diga-se de passagem – sendo que o que Deus juntou não deve ser separado. Diga-se, ainda, que a Bíblia também não condena o casamento de sacerdotes. Arão era sacerdote e, tanto ele como seus filhos, ministrava no templo, diante do altar. Outro exemplo que podemos dar, é a questão da união entre homossexuais, que fere frontalmente os mandamentos do Senhor. Citem-se, ainda, os casos de políticos que usam e abusam do foro privilegiado para escaparem da condenação por diversos crimes. Para completar nosso elenco de exemplos, podemos citar as consequências da prática corriqueira do adultério: aumento, a ponto de causar morosidade à justiça nos tribunais, das ações por danos morais por parte de cônjuges magoados. Resultado de adultérios são, também, os processos administrativos que culminaram com a demissão de servidores públicos por utilização, no horário de serviço, de sítios pornográficos e de relacionamento extraconjugal da internet em sistemas de propriedade de seus empregadores.
Somente Deus é onisciente, onipresente e onipotente, dentre outros atributos. Uma das principais razões da existência de mandamentos é a necessidade – e a maior dificuldade – de memorizar e praticar as ordenanças de Deus.
Deus promove a memória dos seus filhos e das obras dos que lhe são obedientes, mas extingue a memória dos maus e dos seus atos. Para o povo memorizar os feitos de Deus, foram estabelecidas as festas: Páscoa, Colheita; Dos Tabernáculos e do Pentecostes. Os símbolos que compõem os adornos das vestes sacerdotais de Arão são mnemônicos importantes. Preservando a memória, os marcos se conservam. Daí porque é ordenança contínua o sempre meditar na Palavra, de manhã, de tarde e de noite. O louvor é parte do nosso dever. O Senhor jamais permitirá que haja esquecimento de suas leis porque ele mesmo é seu próprio memorial, é um Deus vivo e atuante.
Irmãos, façamos nossa a atitude de Jeremias: reconheçamos os nossos erros em todos os pormenores. Lamentemo-nos diante do Senhor quanto aos pecados, sobre os quais não temos conseguido vitória e peçamos seu auxílio.
Tenhamos gosto pela meditação constante na Bíblia, pedindo para que Deus nos capacite a viver todas as coisas conforme nos mandou. Louvemos incessantemente ao Senhor que, por infinita misericórdia nos tem preservado para ter um povo fiel para reinar com ele na glória.
Mário Márcio Barros da Silva
Nenhum comentário:
Postar um comentário