Fostes santificados e vos tornastes santos, pois que eu sou santo; não vos torneis, portanto, impuros com todos esses répteis que rastejam sobre a terra. Sou eu, Lahweh, que vos fiz subir da terra do Egito para ser o vosso Deus: sereis santos, porque eu sou santo” (11,44-45).
No estabelecimento de regras sobre o que era puro ou impuro para os hebreus, pode-se notar que pureza e santidade são duas leis que se unem e se complementam. Era considerado puro o que podia se aproximar de Deus e impuro o que era impróprio para o seu culto. Todavia, veremos, em numerosos exemplos em outros textos, a insistência dos profetas a respeito da pureza do coração: “...lavai-vos, purificai-vos! Cessai de praticar o mal, aprendei a fazer o bem! Buscai o direito, corrigi o opressor! Fazei justiça ao órfão, defendei a causa da viúva” (Isaías 1,16-17)
Vendo televisão, acompanhando os noticiários, assistindo aos filmes ou novelas, fica difícil pensar em pureza ou santidade: parece que saiu da moda, virou assunto ultrapassado, perdeu o sentido. Ganhou destaque o vencedor, o rico, o forte, mas também o espertalhão, o inescrupuloso, o enganador, o mentiroso, o hedonista...
Quem sabe fosse bom esclarecer o sentido de pureza que vai muito além de uma difusa conotação sexual. Pureza é autenticidade, característica do que é genuíno, sem misturas que deturpam, estragam. A pureza é confiável, desejável. O próprio comércio, que tem poucas intenções de santidade, atribui maior valor ao que é puro: mel puro, algodão puro, seda pura, vinho puro, ouro puro; buscamos todos ar puro, condenamos os artificialismos que estão acabando com nossa vida. Pureza é, portando, também sinônimo de naturalidade.
Assim, se Deus é puro, é natural que sejamos puros, isto é, naturalmente, imagem e semelhança dele. Não nasci para “rastejar sobre a terra” como répteis, mas para transformá-la em casa acolhedora; não fui criado para olhar para baixo, para me contentar com a poeira, mas para buscar o infinito. Deus me tirou da terra do Egito, isto é, me fez livre para que eu possa ser, plenamente, aquilo a que fui chamado a ser: Santo.
Mas, talvez, seja prudente ajuntar que a santidade não é passiva e implica praticar o bem (sempre e não em ocasiões especiais), ajudar o mais frágil, cuidar do mais fraco (e eles dão trabalho mesmo, graças a Deus), defender e praticar a justiça, buscar, dizer e viver a verdade, corrigir (pelo exemplo e não pelo discurso) o opressor (aquele que se opõe à verdade, ao bem, á justiça) e não aliar-se a ele com intenção de obter poder, benefícios ou prestígio, por mais atraentes e inocentes que possam parecer.
Os chamados santos tentaram fazer isso. Nem sempre conseguiram, mas foram humildemente persistentes, corajosos, fiéis. Decidiram que queriam ser genuinamente filho de Deus, irmãos de todos e simplesmente se entregaram. A santidade que neles e deles reconhecemos é a alegria, a felicidade profunda pelo fato de terem se aproximado de Deus e não mais deixado sua amorosa companhia.
A santidade é simples, complicados somos nós quando inventamos atalhos para nos desviarmos do essencial.
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