“Eis-que, só isto achei: que Deus fez o homem direito, mas eles buscaram muitas invenções” Ecl. 7,29.
“Nada de grande
existe na terra a não ser o homem; nada há de grande no homem a não ser sua
mente”. Sir William Hamilton.
“Que obra prima é
o homem! Como é nobre pela razão! Como a sua faculdade é infinita! Em forma de
movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um
anjo! Na inteligência como se parece com um Deus”. Shakespeare.
“O homem é maior
que o universo; o universo pode esmagá-lo, mas não sabe que está esmagando um
ser humano”. Blaise Pascal.
“Nem uma
excelente alma está isenta de um misto de loucura”. Aristóteles
“Não existe
grande gênio sem uma tinta de loucura”. Sêneca.
“Homo mortalis
deus”. Cícero.
“Há na verdade
muitas coisas espantosas, mas a mais espantosa de todas é o Homem” Sófocles,
Antígona.
“Sabei que o
Homem sobre-excede infinitamente o Homem... Somos incompreensíveis para nós
próprios”. Blaise Pascal.
“O Homem é um
mistério, deve ser desvendado. E se tal levar uma vida inteira, não digas que é
um desperdício de tempo. Eu estou preocupado com este mistério porque quero ser
um ser humano” Fyodor Dostoevsky.
“É preciso
restaurar o Homem. Ele é a essência da minha cultura. Ele é a chave da minha
Comunidade. Ele é o princípio da minha vitória”. Antoine de Saint-Exupéry.
Ao tratar do
homem como criação de Deus, pode-se chegar a conclusões como essa: existe uma
dignidade latente no homem. Existe algo de realmente grandioso no homem. Mas
deve-se ressaltar que isso é apenas perceptível no homem original.
Não podemos
elevar o homem às alturas, pelo fato de que hoje não está na mesma condição,
está destituído de Deus, alheio à sua vida. É como um belo pássaro livre
gravemente machucado, tem asas, mas não pode voar.
Devemos ter uma
concepção clara do que é o homem original, quais suas qualidades essenciais,
sua postura, suas características pessoais e espirituais. Temos que abordar o
homem original como peça única de toda uma criação, visto que após ele apenas há
resquícios da criação original.
O homem, mesmo
sendo criado à imagem de Deus, não é a representação exata de Deus. O homem
possui características derivadas do próprio Deus, que dão a ele a dignidade de
ser um ser humano. Sem tais características, o homem não pode ser humano. Mesmo
a insanidade não reduz o homem a uma condição animal, nem mesmo a uma categoria
subumana, mas obscurece essa imagem em que o homem foi criado. Não há dúvidas
que o fato do homem ser criado segundo a Imagem de Deus implica que até mesmo
os aspectos mais naturais do homem derivem Dele. Ou seja, as faculdades intelectuais,
sentimentos naturais, liberdade moral e a volição, no homem são reflexos do que
Deus é em primeiro lugar.
Por ser criado à
Imagem de Deus o homem dispõe de uma capacidade moral e racional. Essas
capacidades asseguram a condição de homem ao ser humano, e é impossível que
participe dessa condição sem a presença dessas dádivas.
Ou seja, embora o
homem hoje esteja em um estado de pecado, não perdeu completamente essas
características, mas é impossível que elas sejam exatamente como foram outrora.
Portanto, é
importante evidenciar que, ainda que o homem tenha a capacidade moral e
intelectual, ela foi maculada pelo pecado. Entretanto, é válido demonstrar que
mesmo após a queda o homem é apresentado como sendo imagem de Deus (Gn.9,6; 1Cor.11,7;
Tg.3,9). Segue-se que é impossível afirmar que o homem perdeu totalmente a
Imagem de Deus, da mesma forma que é impossível afirmar que ela seja
identicamente a mesma.
A imagem de Deus
no homem, mesmo hoje, ainda aufere a tal uma dignidade que ninguém pode retirar
dele.
Contudo, é
necessário que se afirme que apenas Cristo é a Imagem de Deus de maneira
completa. Isso é observado em Hb.1,3, onde
afirma que Cristo é a “expressão exata do ser de Deus”. Em Cl.1,15 fala
que Cristo é a Imagem do Deus invisível. Assim, Cristo é de forma absoluta a
Imagem de Deus.
Como é de
conhecimento geral, Deus é santo por definição. Para que Deus possa ser Deus, é
necessário que Ele usufrua de Santidade Absoluta. Se o homem é criado à Imagem de um Deus absolutamente
Santo, é óbvio que este desfrute da santidade de Deus. Entretanto, o homem
original é o reflexo finito deste atributo moral de Deus, que lhe foi
comunicado.
Em Eclesiastes,
Salomão faz um reconhecimento muito verdadeiro. Segundo seu entendimento Deus
fez o homem “reto” (Ec.7,29).
A palavra usada
por Salomão, traduzido por reto, denota que Deus fez o homem “upright”, “em
pé), em todos os seus caminhos, ações, modo de vida, intenções do coração,
mente e vontade.
O homem original
era plenamente consciente sobre suas obras. Ele não era uma criança que não tem
conhecimento da maldade que pode realizar, e não pode compreender plenamente
suas capacidades morais, a ponto de descobrir que pode fazer mal uso delas. O
homem original é marcado pelo pleno conhecimento:
“Não mintais uns
aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com seus feitos, e vos
revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem
daquele que o criou”
(Cl.3,10)
Se o homem
original é marcado por um conhecimento pleno, não é possível que sofra da
deficiência exigida por aqueles que afirmam sua inocência.
É impossível que
o homem deixe de conhecer ou compreender perfeitamente sua condição moral.
Logo, não é ingênuo, é santo. O Novo Testamento testemunha esse fato. Em Efésios,
Paulo faz semelhante afirmação:
“…e vos revistais
do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da
verdade” (Ef.4,24).
Na salvação, o
homem retorna a uma posição que perdeu com a entrada do pecado. O homem
original vivia plenamente em justiça e retidão. Retidão é exatamente a mesma
palavra utilizada em Lc.1,75, quando Zacarias afirma que Deus os libertou para
que pudessem adorar sem temor e em “santidade”.
É certo que a
palavra em questão, em sua literalidade, significa santidade. Se isto é
verdadeiro, a conclusão correta é que a condição do homem original é de
Santidade (Retidão) e Justiça.
Portanto, a
criação do homem segundo esta imagem moral implica que a condição original do
homem era de santidade.
“O primeiro homem, formado da terra, é
terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno, tais
são também os demais homens terrenos; e como é o homem celestial, tais os
celestiais” (1Cor 15,47-48).
Identifica o
homem no estado em que foi criado: quer dizer, o homem em seu estado primeiro,
tal como saiu das mãos do Criador.
O homem antes de
pecar: esta expressão identifica o homem sem pecado. É Adão antes de cometer o pecado
de desobediência a Deus. É o homem perfeito, assim como o senhor o criou.
O homem em seu
estado de inocência: Não havia pecado e nem culpa, e por isso o estado do homem
era de completa inocência.
O homem criado
segundo os propósitos de Deus. Esse homem, criado em inocência e santidade,
atendia perfeitamente aos propósitos de Deus: um ser com o qual pudesse ter
comunhão.
A Bíblia declara
a criação do homem há milhares de anos, enquanto a teoria da evolução surgiu
relativamente há pouco tempo. Que a teoria da evolução é uma falácia pode-se
provar de diversas maneiras. Hoje ela está ultrapassada. A Bíblia declara mais de
uma vez a criação do homem por Deus. O homem provém de Deus e foi criado por
Ele.
O homem foi
criado por Deus. Os outros seres foram criados por uma ordem de Deus: “Haja”.
Mas o homem recebeu um tratamento completamente diferente.
O homem foi
formado em duas partes. Quando Moisés escreveu o livro de Genesis, não estava querendo
expor uma doutrina da constituição do homem. Ele diz apenas:
Deus formou o
homem do pó da terra; Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida; o homem
passou a ser alma vivente.
Cristo, o novo homem,
segundo o Evangelho, proclamou solenemente a dignidade do homem.
Adão, o primeiro
homem, foi criado à imagem do Homem Futuro, do Homem Pleno, Cristo Senhor.
Quando Deus
amassava o barro, pensava em Cristo, o Homem Futuro. E assim, isso que Deus
formou, fazia-o à imagem de Cristo. A imagem era a encarnação, isso que Deus
tinha em mente era a encarnação, e isso plasmou-se já ao formar Adão. O homem
foi criado à luz de Cristo, o Homem Futuro, reproduzindo, já em si, a imagem do
Verbo que havia de encarnar. A vocação de todo homem é tornar-se imagem do Adão
Celeste, Cristo. Ao criar o homem, Deus predestinou-o a finalizar-se em Cristo.
No último Adão, o primeiro encontra a sua realização e plenitude.
O homem foi
chamado a configurar-se com Cristo porque foi constituído, no seu ser, pela
chamada de Deus à comunhão com Ele.
O homem não se
conhece a si mesmo. Para si mesmo, de fato, o homem é um ser cheio de mistério.
Criado à imagem de Deus, ele não consegue entender-se totalmente se não no
Homem Perfeito, Cristo Jesus, que não é apenas, como todos nós, imagem de Deus,
mas que é, Ele próprio, pessoalmente, a Imagem do Deus invisível e único Filho
do Pai.
O homem só se
compreende plenamente a partir de Cristo que é o "Homem Perfeito", a
"imagem de Deus invisível", o "novo Adão". Por isso, só
n'Ele o homem pode atingir a sua plena realização. Só em Cristo se revela
integralmente o que significa "ser criado à imagem de Deus".
Como protótipo da
humanidade, Cristo é a única resposta para dar ao homem de hoje, pois é à luz
de Cristo que a Igreja percebe a grande dignidade do homem, a sublimidade da
sua vocação e a excelência do fim a que se destina. Cristo, o Novo Adão,
ilumina todos os homens que vêm a este mundo, e só Ele sabe o que está no
homem. O Verbo de Deus fazendo-se homem e inserindo-se nos dinamismos do mundo
e da história, não só revelou o sentido profundo das realidades humanas, mas
enriqueceu-as com uma nova significação.
Na verdade,
Cristo Jesus, o único Filho de Deus, tornou-nos participantes de uma vocação
mais elevada: para que, acreditando n'Ele e no Pai que o enviou, tenham a vida
eterna. Fê-los participantes dos bens da graça divina, que, elevando os homens
à dignidade de filhos de Deus, converte-se em poderosíssima defesa e ajuda para
uma vida mais humana, possibilitando aos homens, iluminados pela luz de Cristo,
compreender bem aquilo que são realmente, a sua excelsa dignidade e o seu fim.
Cristo chama os homens à filiação divina, inaugura a nova criação.
A esta humanidade
caída, como ovelhas perdidas, o Filho de Deus, enviado pelo Pai, veio buscar.
Na plenitude dos tempos, o novo Adão maravilhosamente restaurou, em si mesmo, o
que o velho Adão havia perdido e institui, com a raça de Adão, uma nova e
eterna aliança que não pode ser quebrada. A criação do homem acontece sob o
signo da encarnação de Cristo, ou seja, Adão existe em razão do Novo Adão que
ele prefigura; o homem existe em razão de Cristo.
O homem é
primeiro, criatura e só depois, é elevado à ordem sobrenatural, para a
liberdade da glória de filhos de Deus. O homem foi enaltecido por Cristo e
elevado à sua máxima dignidade.
A Igreja tem a
missão de conduzir os homens a essa verdade plena que se revela em Cristo, a
fim de que estes possam atingir a sua realização verdadeira, uma vida mais
humana de acordo com sua dignidade inerente. Apenas Cristo pode esclarecer
plenamente o mistério da vida humana, de fazê-los descobrir e a concretizar a
sua vocação sublime, a saber, a divina.
O mistério que
habita todo ser humano, só poderá ficar plenamente iluminado através da luz que
brota do Evangelho, que revela ao homem o plano de Deus sobre si próprio e, ao
mesmo tempo, dá-lhe uma visão integral de si mesmo e da sua vocação, não só
terrena, mas também eterna.
Cristo é “o novo
Adão” não no sentido cronológico (vem depois do primeiro), mas no sentido
ontológico, ou seja, é o “novíssimo Adão”, o Último e Perfeito.
I Jo 3,2 diz: “Caríssimos,
desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou.
Sabemos que por ocasião desta manifestação, seremos semelhantes a Ele, porque o
veremos tal como Ele é”. Entendemos que a imagem diz respeito à situação
atual, mas a semelhança aponta para o futuro, a escatologia final.
Portanto, a
humanidade encontra-se orientada a Cristo e é n'Ele consumada. Verificamos,
assim, que a encarnação precede a criação e que esta encontra nela o seu ponto
culminante. Cristo é o "Homem Perfeito" que vem restaurar a
semelhança divina alterada pelo pecado.
A concretização
da criação é visualizada em Cristo, o Homem Perfeito, do qual o primeiro era
figura. O homem, tendo sido criado por Deus, possui já, de certo modo, uma
identidade crística, está predestinado a Cristo.
Todo o homem,
amado e salvo por Deus, foi chamado pelo nome e alcançará a plenitude da sua
vocação com a visão beatífica de Deus e a sua participação na vida divina.
Cristo é a chave,
o centro e a meta do homem na história. Cristo é na verdade novo Adão e o rei
do mundo. Em Cristo, Deus se comprometeu de forma irrevogável com a humanidade.
Ao desvelar o
rosto paterno de Deus, manifestou também a verdade profunda sobre nós próprios,
mostrando que fomos criados à imagem de Deus e que somos chamados a uma vida de
comunhão com Ele.
Os homens podem
ser conduzidos à verdade plena que se revela em Cristo e atingir a sua
realização verdadeira quando acolhem o significado mais profundo da existência,
na busca de uma compreensão por meio do mistério de Cristo. Iluminados pela Sua
luz, ensinando aos homens a passar pelos bens temporais de modo a não perder os
bens eternos, podem compreender a sua própria existência. Cristo dá sentido a
todas as dimensões do homem.
Em toda a
criatura humana, Deus reconhece a sua imagem e semelhança. Para restituir o
esplendor original e a verdadeira dignidade, Deus enviou o seu Filho, nascido
de uma mulher. Como homem, Jesus Cristo foi constituído pessoa na sua própria
relação pessoal com o Pai. N'Ele Deus revelou, de modo perfeito, ao mundo, como
deve ser o homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Também pela encarnação,
a natureza humana foi levada à sua máxima perfeição. Assumindo a nossa
humanidade, Jesus Cristo foi constituído como o primogénito dos filhos de Deus,
partícipe da imensa comunidade dos homens, seus irmãos.
Portanto, Cristo
é o único que conhece o homem, só Ele conhece verdadeiramente o homem por
dentro. Cristo, como Novo Adão, Homem Perfeito, revela o homem ao próprio
homem, a sua origem e o seu destino. A realização integral do Homem, terá a sua
plenitude em Cristo, no fim dos tempos.
Falar do homem
significa mostrar Cristo como origem e fonte da perfeição humana, e igualmente
como modelo supremo: por isso é em Cristo que o capítulo sobre a vocação do
homem é concluído, no qual se encontra a palavra última e suprema da verdade,
que não exclui a própria cruz.
Em Cristo somos
nova criação, nova humanidade, chamada à vida plena no Espírito, a sermos
"filhos no Filho.” Na realidade, o mistério do homem só se esclarece no
mistério do Verbo encarnado. Porque Adão era figura do que havia de vir. Ou
seja, a fé cristã não conta com uma definição abstrata da realidade humana; o
que o homem é, é-nos explicado na realidade concreta de Cristo, que, sendo
"imagem de Deus", "é também o Homem Perfeito", não já em
sentido moral, mas ontológico.
Só à luz de
Cristo, o Homem Perfeito, se poderá compreender completamente o homem, a sua
vocação e o seu destino. Em Cristo, Deus e o homem comunicam perfeitamente.
Cristo revela o pai e revela o homem. O homem é para si mesmo mistério. Cristo,
ao revelar o Pai e ao ser revelado por Ele, acaba por revelar o homem a si
mesmo. Ao tomar posse do homem, agarrando-o e mergulhando até ao fundo do seu
ser, obriga-o, igualmente, a descer até dentro de si mesmo, levando-o a
descobrir, de forma inesperada, regiões até então desconhecidas. Por Cristo, a
pessoa torna-se adulta, o homem emerge definitivamente do universo, toma plena
consciência de si.
Aquele que é
imagem de Deus é o Homem Perfeito, que restitui, aos filhos de Adão, a
semelhança com Deus.
A vinda de Jesus
coroa a atividade criadora e testemunha Deus que manifesta o Seu amor na
comunicação da vida. Jesus vem trazer essa vida em plenitude, cumprindo o
desígnio criador de Deus. Cristo, o Filho de Deus, é o modelo do homem. Deus
quer que o homem alcance a sua plenitude humana e assim se torne Seu filho.
Toda a obra de
Jesus consistiu em, mediante o dom do seu amor, capacitar o homem para que
possa realizar em si mesmo o projeto de Deus que fez-se referência à situação
do homem ferido pelo pecado, mas restaurado em Cristo. Gestos de Deus na
história.
Somos obras das
mãos poderosas e cuidadosas de um Deus pessoal.
Imagine uma
“máquina perfeita”, composta por 640 músculos. Três bilhões de fibras nervosas.
Trinta trilhões de células vermelhas. Um esqueleto leve como alumínio,
resistente como aço e quatro vezes mais forte que o concreto. Um espetacular
produto de engenharia, por dentro e por fora.
No interior dessa
joia da engenharia, bem ao centro, a sala de máquinas bombeia sangue através de
96 mil quilômetros de veias. E repete a operação 40 milhões de vezes ao ano. E
o mais espantoso: há pouco mais de 8 bilhões de exemplares espalhados pelo
planeta Terra. Únicos: nenhum igual ao outro. A “máquina perfeita” dispara
pelas ruas das pequenas e grandes cidades. E quem poderia detê-la? Ela é
impressionante!
Claro, essa
“máquina perfeita” é o ser humano. Criado para ser diferente!
O texto bíblico é
claro ao descrever a natureza original do ser humano. E o faz de modo
impressionante: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos
céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis
que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou.
E Deus os abençoou
e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a;
dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que
rasteja pela terra” (Gn.1,26-28).
O ser humano foi
criado para ser dependente de Deus. Isso significa que não lhe foram concedidas
qualidades para que atue independentemente de Deus. Assim, no momento em que o
ser humano se considera independente de Deus, destrói sua identidade; deixa de
ser a criatura que Deus criou, o que impossibilita compreender a Deus e
compreender a si mesmo.
Há um valor
intrínseco no ser humano. Por partilhar da semelhança divina, possuímos valor
intrínseco para Deus e os pares. Uma demonstração desse valor, no caso de Adão
e Eva, foi o fato de receberem a incumbência de reinar sobre a terra, como uma
espécie de vice gerentes de Deus.
Desse modo, o
Senhor deixou claro que criou o ser humano com o mais elevado futuro e as mais
nobres consecuções, tendo em vista uma eternidade de realizações criativas.
Foi Deus quem deu
vida ao ser humano. Podemos pensar, então, que a vida humana só é possível
devido à Fonte de vida. Separado de Deus, o ser humano morre, pois não tem vida
em si próprio. Assim, não existe a ideia de “alma imortal”.
Gênesis 1,26-28
fala de um todo significativo. Em nenhum momento é dito que há uma parte humana
mais significativa, algo como: a parte espiritual é mais importante que a
mental, ou que o emocional está acima do físico. Fica claro que a imagem de
Deus não está localizada em algum aspecto ou característica particular do ser
humano. O ser humano, como um todo, reflete o caráter de Deus. Isso é
importante para o processo da salvação, pois o que precisa ser resgatado é o
todo do ser humano, e não apenas as questões de ordem espiritual.
A perfeição dos
seres humanos, conforme Deus os criara, envolve pelo menos quatro dimensões.
Inicialmente, a perfeição implica um estado de virtude e retidão. A inocência e
ausência de malícia de Adão e Eva eram resultado de haverem sido criados
moralmente virtuosos e perfeitos.
A imagem de Deus
inclui aspectos espirituais.
Com isso queremos dizer que nossa característica espiritual permite que nos
relacionemos com Deus mediante oração, louvor e estudo da Escritura. Além
disso, vivemos neste mundo pautados pela “agenda celestial” de Deus.
Os aspectos
morais são essenciais
na imagem de Deus no ser humano. Fomos criados como seres moralmente
responsáveis por nossas ações, diante do Criador e do próximo. Além disso,
diferentemente dos animais, assumimos posturas e comportamentos porque sabemos
escolher conscientemente, e não meramente porque temos medo da punição ou
porque esperamos recompensa. Dessa forma, nosso estilo de vida é motivado pela
busca de santidade, que é nossa resposta livre ao amor de Deus.
Além disso, somos
à imagem de Deus devido aos aspectos mentais. Em outras palavras, fomos
criados com a capacidade de pensar, de raciocinar logicamente; também usamos
linguagem abstrata e complexa. Por outro lado, porque somos capazes de
raciocínio complexo, temos consciência do futuro. A razão também nos permite a
capacidade inventiva, criativa, aplicada a áreas como arte, música, literatura,
ciência e tecnologia.
Os aspectos
emocionais também atestam
nossa semelhança com Deus. Pelo fato de sermos à imagem de Deus, possuímos
emoção, sentimento, numa complexidade tal que nos alegramos, choramos,
chateamos; igualmente nos indignamos, sensibilizamos e ficamos irados. A imagem
de Deus ainda inclui elementos sociais.
Somos capazes de
relacionamentos conosco mesmos (solilóquio), caracterizando-nos como seres
intrapessoais; mas também nos relacionamos com os outros, de modo íntimo, seja
com uma pessoa do sexo oposto (casamento entre um homem e uma mulher) ou em
relacionamentos fraternos, com amigos e amigas.
Essa capacidade
relacional também nos permite estabelecer vínculos com a criação de modo geral,
passando a administrar o que Deus criou.
Finalmente, aspectos
físicos fazem parte da imagem de Deus. Embora não devamos pensar que,
necessariamente, Deus tem um corpo como o nosso, é também verdade que, assim
como Ele, temos a capacidade de ver, ouvir e falar.
Espiritualmente, demonstravam o desejo natural de amar,
adorar e louvar ao Senhor; moralmente, eram responsáveis por todas as
suas ações; mentalmente, eram altamente inteligentes, aptos a aprender
tudo o que quisessem; emocionalmente, possuíam
emoções e sentimentos altamente complexos; socialmente, estavam
preparados para se relacionar um com o outro, com Deus e com a natureza; fisicamente,
eram belos, não apresentavam nenhum defeito e nem imaginavam o que era baixa
autoestima.
Criado perfeito. Adão
e Eva, os primeiros seres humanos, foram criados em total inocência. Gênesis 2,25
afirma que “o homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha”.
Obviamente, podemos deduzir que eles não possuíam nenhum tipo de malícia e que
o lugar onde estavam era também perfeito. Além disso, eles não conheciam o que
era praticar um ato errado. “Em suma, além de não conhecerem nenhum tipo de
culpa por qualquer tipo de pecado, eles também eram inocentes com relação ao
pecado”.
Ou seja, ser uma
pessoa reta não significava meramente a ausência de maldade e malícia, mas a
presença de bondade. Mais do que dizer que não tinham vício nenhum, seria
correto enfatizar que Adão e Eva tinham as melhores virtudes. Perfeição também
tem que ver com um estado de domínio.
Por que tudo
isso? Deus é amor (1João 4,8). Então podemos deduzir que Seu amor
impulsionou Seu ato criador. Logo, a criação não existe por acaso.
Com esse
propósito em mente, Ele constituiu o matrimônio (Gênesis 2,22-25). Ao cumprirem
a ordem divina da procriação, Adão e Eva – e os seres humanos de hoje –
receberam o privilégio de participar da obra criadora.
Por outro lado,
no Salmo 19,1 está escrito que “os céus declaram a glória de Deus; o
firmamento proclama a obra de suas mãos”. Assim, a criação desempenha o
papel de testemunha de Deus, revelando Sua glória, Seu poder. E por que isso
ocorre? De acordo com Romanos 1,20, Deus tem a intenção que Suas obras criadas
conduzam as pessoas a Ele.
Dessa forma,
conhecemos melhor Seu poder, Sua criatividade, Seu cuidado e Sua bondade.
Conhecendo essas qualidades, temos a oportunidade de incorporá-las em nossa
própria vida.
Somos obras das
mãos poderosas e cuidadosas de um Deus pessoal; esse Ser quer continuar
mantendo proximidade conosco, objetivando o dia em que a comunhão original do
Éden será restaurada. Então, novamente perfeitos, poderemos tributar a Ele a
honra e glória merecidas. E faremos isso por toda a eternidade.
Fontes:
ADOLFO SUÁREZ,
pós-doutor em Teologia, é reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de
Teologia (SALT); Marcelo Berti.
Catecismo da Igreja Católica.
Bíblia de Aplicação Pessoal
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