domingo, 4 de setembro de 2022

O Homem do Presente e do Futuro

 
“Eis-que, só isto achei: que Deus fez o homem direito, mas eles buscaram muitas invenções” Ecl. 7,29.

“Nada de grande existe na terra a não ser o homem; nada há de grande no homem a não ser sua mente”. Sir William Hamilton.

“Que obra prima é o homem! Como é nobre pela razão! Como a sua faculdade é infinita! Em forma de movimentos, como é expressivo e maravilhoso! Nas ações, como se parece com um anjo! Na inteligência como se parece com um Deus”. Shakespeare.

“O homem é maior que o universo; o universo pode esmagá-lo, mas não sabe que está esmagando um ser humano”. Blaise Pascal.

“Nem uma excelente alma está isenta de um misto de loucura”. Aristóteles

“Não existe grande gênio sem uma tinta de loucura”. Sêneca.

“Homo mortalis deus”. Cícero.

“Há na verdade muitas coisas espantosas, mas a mais espantosa de todas é o Homem” Sófocles, Antígona.

“Sabei que o Homem sobre-excede infinitamente o Homem... Somos incompreensíveis para nós próprios”.  Blaise Pascal.

“O Homem é um mistério, deve ser desvendado. E se tal levar uma vida inteira, não digas que é um desperdício de tempo. Eu estou preocupado com este mistério porque quero ser um ser humano” Fyodor Dostoevsky.

“É preciso restaurar o Homem. Ele é a essência da minha cultura. Ele é a chave da minha Comunidade. Ele é o princípio da minha vitória”. Antoine de Saint-Exupéry.

Ao tratar do homem como criação de Deus, pode-se chegar a conclusões como essa: existe uma dignidade latente no homem. Existe algo de realmente grandioso no homem. Mas deve-se ressaltar que isso é apenas perceptível no homem original.

Não podemos elevar o homem às alturas, pelo fato de que hoje não está na mesma condição, está destituído de Deus, alheio à sua vida. É como um belo pássaro livre gravemente machucado, tem asas, mas não pode voar.

Devemos ter uma concepção clara do que é o homem original, quais suas qualidades essenciais, sua postura, suas características pessoais e espirituais. Temos que abordar o homem original como peça única de toda uma criação, visto que após ele apenas há resquícios da criação original.

O homem, mesmo sendo criado à imagem de Deus, não é a representação exata de Deus. O homem possui características derivadas do próprio Deus, que dão a ele a dignidade de ser um ser humano. Sem tais características, o homem não pode ser humano. Mesmo a insanidade não reduz o homem a uma condição animal, nem mesmo a uma categoria subumana, mas obscurece essa imagem em que o homem foi criado. Não há dúvidas que o fato do homem ser criado segundo a Imagem de Deus implica que até mesmo os aspectos mais naturais do homem derivem Dele. Ou seja, as faculdades intelectuais, sentimentos naturais, liberdade moral e a volição, no homem são reflexos do que Deus é em primeiro lugar.

Por ser criado à Imagem de Deus o homem dispõe de uma capacidade moral e racional. Essas capacidades asseguram a condição de homem ao ser humano, e é impossível que participe dessa condição sem a presença dessas dádivas.

Ou seja, embora o homem hoje esteja em um estado de pecado, não perdeu completamente essas características, mas é impossível que elas sejam exatamente como foram outrora.

Portanto, é importante evidenciar que, ainda que o homem tenha a capacidade moral e intelectual, ela foi maculada pelo pecado. Entretanto, é válido demonstrar que mesmo após a queda o homem é apresentado como sendo imagem de Deus (Gn.9,6; 1Cor.11,7; Tg.3,9). Segue-se que é impossível afirmar que o homem perdeu totalmente a Imagem de Deus, da mesma forma que é impossível afirmar que ela seja identicamente a mesma.

A imagem de Deus no homem, mesmo hoje, ainda aufere a tal uma dignidade que ninguém pode retirar dele.

Contudo, é necessário que se afirme que apenas Cristo é a Imagem de Deus de maneira completa.  Isso é observado em Hb.1,3, onde afirma que Cristo é a “expressão exata do ser de Deus”. Em Cl.1,15 fala que Cristo é a Imagem do Deus invisível. Assim, Cristo é de forma absoluta a Imagem de Deus.

Como é de conhecimento geral, Deus é santo por definição. Para que Deus possa ser Deus, é necessário que Ele usufrua de Santidade Absoluta.  Se o homem é criado à Imagem de um Deus absolutamente Santo, é óbvio que este desfrute da santidade de Deus. Entretanto, o homem original é o reflexo finito deste atributo moral de Deus, que lhe foi comunicado.

Em Eclesiastes, Salomão faz um reconhecimento muito verdadeiro. Segundo seu entendimento Deus fez o homem “reto” (Ec.7,29).

A palavra usada por Salomão, traduzido por reto, denota que Deus fez o homem “upright”, “em pé), em todos os seus caminhos, ações, modo de vida, intenções do coração, mente e vontade.

O homem original era plenamente consciente sobre suas obras. Ele não era uma criança que não tem conhecimento da maldade que pode realizar, e não pode compreender plenamente suas capacidades morais, a ponto de descobrir que pode fazer mal uso delas. O homem original é marcado pelo pleno conhecimento:

“Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com seus feitos, e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou” (Cl.3,10)

Se o homem original é marcado por um conhecimento pleno, não é possível que sofra da deficiência exigida por aqueles que afirmam sua inocência.

É impossível que o homem deixe de conhecer ou compreender perfeitamente sua condição moral. Logo, não é ingênuo, é santo. O Novo Testamento testemunha esse fato. Em Efésios, Paulo faz semelhante afirmação:

“…e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Ef.4,24).

Na salvação, o homem retorna a uma posição que perdeu com a entrada do pecado. O homem original vivia plenamente em justiça e retidão. Retidão é exatamente a mesma palavra utilizada em Lc.1,75, quando Zacarias afirma que Deus os libertou para que pudessem adorar sem temor e em “santidade”.

É certo que a palavra em questão, em sua literalidade, significa santidade. Se isto é verdadeiro, a conclusão correta é que a condição do homem original é de Santidade (Retidão) e Justiça.

Portanto, a criação do homem segundo esta imagem moral implica que a condição original do homem era de santidade.

 “O primeiro homem, formado da terra, é terreno; o segundo homem é do céu. Como foi o primeiro homem, o terreno, tais são também os demais homens terrenos; e como é o homem celestial, tais os celestiais” (1Cor 15,47-48).

Identifica o homem no estado em que foi criado: quer dizer, o homem em seu estado primeiro, tal como saiu das mãos do Criador.

O homem antes de pecar: esta expressão identifica o homem sem pecado. É Adão antes de cometer o pecado de desobediência a Deus. É o homem perfeito, assim como o senhor o criou.
O homem em seu estado de inocência: Não havia pecado e nem culpa, e por isso o estado do homem era de completa inocência.
O homem criado segundo os propósitos de Deus. Esse homem, criado em inocência e santidade, atendia perfeitamente aos propósitos de Deus: um ser com o qual pudesse ter comunhão.

A Bíblia declara a criação do homem há milhares de anos, enquanto a teoria da evolução surgiu relativamente há pouco tempo. Que a teoria da evolução é uma falácia pode-se provar de diversas maneiras. Hoje ela está ultrapassada. A Bíblia declara mais de uma vez a criação do homem por Deus. O homem provém de Deus e foi criado por Ele.

O homem foi criado por Deus. Os outros seres foram criados por uma ordem de Deus: “Haja”. Mas o homem recebeu um tratamento completamente diferente.

O homem foi formado em duas partes. Quando Moisés escreveu o livro de Genesis, não estava querendo expor uma doutrina da constituição do homem. Ele diz apenas:

Deus formou o homem do pó da terra; Deus soprou em suas narinas o fôlego de vida; o homem passou a ser alma vivente.

Cristo, o novo homem, segundo o Evangelho, proclamou solenemente a dignidade do homem.

Adão, o primeiro homem, foi criado à imagem do Homem Futuro, do Homem Pleno, Cristo Senhor.

Quando Deus amassava o barro, pensava em Cristo, o Homem Futuro. E assim, isso que Deus formou, fazia-o à imagem de Cristo. A imagem era a encarnação, isso que Deus tinha em mente era a encarnação, e isso plasmou-se já ao formar Adão. O homem foi criado à luz de Cristo, o Homem Futuro, reproduzindo, já em si, a imagem do Verbo que havia de encarnar. A vocação de todo homem é tornar-se imagem do Adão Celeste, Cristo. Ao criar o homem, Deus predestinou-o a finalizar-se em Cristo. No último Adão, o primeiro encontra a sua realização e plenitude.

O homem foi chamado a configurar-se com Cristo porque foi constituído, no seu ser, pela chamada de Deus à comunhão com Ele.

O homem não se conhece a si mesmo. Para si mesmo, de fato, o homem é um ser cheio de mistério. Criado à imagem de Deus, ele não consegue entender-se totalmente se não no Homem Perfeito, Cristo Jesus, que não é apenas, como todos nós, imagem de Deus, mas que é, Ele próprio, pessoalmente, a Imagem do Deus invisível e único Filho do Pai.

O homem só se compreende plenamente a partir de Cristo que é o "Homem Perfeito", a "imagem de Deus invisível", o "novo Adão". Por isso, só n'Ele o homem pode atingir a sua plena realização. Só em Cristo se revela integralmente o que significa "ser criado à imagem de Deus".

Como protótipo da humanidade, Cristo é a única resposta para dar ao homem de hoje, pois é à luz de Cristo que a Igreja percebe a grande dignidade do homem, a sublimidade da sua vocação e a excelência do fim a que se destina. Cristo, o Novo Adão, ilumina todos os homens que vêm a este mundo, e só Ele sabe o que está no homem. O Verbo de Deus fazendo-se homem e inserindo-se nos dinamismos do mundo e da história, não só revelou o sentido profundo das realidades humanas, mas enriqueceu-as com uma nova significação.

Na verdade, Cristo Jesus, o único Filho de Deus, tornou-nos participantes de uma vocação mais elevada: para que, acreditando n'Ele e no Pai que o enviou, tenham a vida eterna. Fê-los participantes dos bens da graça divina, que, elevando os homens à dignidade de filhos de Deus, converte-se em poderosíssima defesa e ajuda para uma vida mais humana, possibilitando aos homens, iluminados pela luz de Cristo, compreender bem aquilo que são realmente, a sua excelsa dignidade e o seu fim. Cristo chama os homens à filiação divina, inaugura a nova criação.

A esta humanidade caída, como ovelhas perdidas, o Filho de Deus, enviado pelo Pai, veio buscar. Na plenitude dos tempos, o novo Adão maravilhosamente restaurou, em si mesmo, o que o velho Adão havia perdido e institui, com a raça de Adão, uma nova e eterna aliança que não pode ser quebrada. A criação do homem acontece sob o signo da encarnação de Cristo, ou seja, Adão existe em razão do Novo Adão que ele prefigura; o homem existe em razão de Cristo. 

O homem é primeiro, criatura e só depois, é elevado à ordem sobrenatural, para a liberdade da glória de filhos de Deus. O homem foi enaltecido por Cristo e elevado à sua máxima dignidade.

A Igreja tem a missão de conduzir os homens a essa verdade plena que se revela em Cristo, a fim de que estes possam atingir a sua realização verdadeira, uma vida mais humana de acordo com sua dignidade inerente. Apenas Cristo pode esclarecer plenamente o mistério da vida humana, de fazê-los descobrir e a concretizar a sua vocação sublime, a saber, a divina.

O mistério que habita todo ser humano, só poderá ficar plenamente iluminado através da luz que brota do Evangelho, que revela ao homem o plano de Deus sobre si próprio e, ao mesmo tempo, dá-lhe uma visão integral de si mesmo e da sua vocação, não só terrena, mas também eterna.

Cristo é “o novo Adão” não no sentido cronológico (vem depois do primeiro), mas no sentido ontológico, ou seja, é o “novíssimo Adão”, o Último e Perfeito.

I Jo 3,2 diz: “Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação, seremos semelhantes a Ele, porque o veremos tal como Ele é”. Entendemos que a imagem diz respeito à situação atual, mas a semelhança aponta para o futuro, a escatologia final.

Portanto, a humanidade encontra-se orientada a Cristo e é n'Ele consumada. Verificamos, assim, que a encarnação precede a criação e que esta encontra nela o seu ponto culminante. Cristo é o "Homem Perfeito" que vem restaurar a semelhança divina alterada pelo pecado.

A concretização da criação é visualizada em Cristo, o Homem Perfeito, do qual o primeiro era figura. O homem, tendo sido criado por Deus, possui já, de certo modo, uma identidade crística, está predestinado a Cristo.

Todo o homem, amado e salvo por Deus, foi chamado pelo nome e alcançará a plenitude da sua vocação com a visão beatífica de Deus e a sua participação na vida divina.

Cristo é a chave, o centro e a meta do homem na história. Cristo é na verdade novo Adão e o rei do mundo. Em Cristo, Deus se comprometeu de forma irrevogável com a humanidade.

Ao desvelar o rosto paterno de Deus, manifestou também a verdade profunda sobre nós próprios, mostrando que fomos criados à imagem de Deus e que somos chamados a uma vida de comunhão com Ele.

Os homens podem ser conduzidos à verdade plena que se revela em Cristo e atingir a sua realização verdadeira quando acolhem o significado mais profundo da existência, na busca de uma compreensão por meio do mistério de Cristo. Iluminados pela Sua luz, ensinando aos homens a passar pelos bens temporais de modo a não perder os bens eternos, podem compreender a sua própria existência. Cristo dá sentido a todas as dimensões do homem.

Em toda a criatura humana, Deus reconhece a sua imagem e semelhança. Para restituir o esplendor original e a verdadeira dignidade, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher. Como homem, Jesus Cristo foi constituído pessoa na sua própria relação pessoal com o Pai. N'Ele Deus revelou, de modo perfeito, ao mundo, como deve ser o homem, criado à imagem e semelhança de Deus. Também pela encarnação, a natureza humana foi levada à sua máxima perfeição. Assumindo a nossa humanidade, Jesus Cristo foi constituído como o primogénito dos filhos de Deus, partícipe da imensa comunidade dos homens, seus irmãos.

Portanto, Cristo é o único que conhece o homem, só Ele conhece verdadeiramente o homem por dentro. Cristo, como Novo Adão, Homem Perfeito, revela o homem ao próprio homem, a sua origem e o seu destino. A realização integral do Homem, terá a sua plenitude em Cristo, no fim dos tempos.

Falar do homem significa mostrar Cristo como origem e fonte da perfeição humana, e igualmente como modelo supremo: por isso é em Cristo que o capítulo sobre a vocação do homem é concluído, no qual se encontra a palavra última e suprema da verdade, que não exclui a própria cruz.

Em Cristo somos nova criação, nova humanidade, chamada à vida plena no Espírito, a sermos "filhos no Filho.” Na realidade, o mistério do homem só se esclarece no mistério do Verbo encarnado. Porque Adão era figura do que havia de vir. Ou seja, a fé cristã não conta com uma definição abstrata da realidade humana; o que o homem é, é-nos explicado na realidade concreta de Cristo, que, sendo "imagem de Deus", "é também o Homem Perfeito", não já em sentido moral, mas ontológico.

Só à luz de Cristo, o Homem Perfeito, se poderá compreender completamente o homem, a sua vocação e o seu destino. Em Cristo, Deus e o homem comunicam perfeitamente. Cristo revela o pai e revela o homem. O homem é para si mesmo mistério. Cristo, ao revelar o Pai e ao ser revelado por Ele, acaba por revelar o homem a si mesmo. Ao tomar posse do homem, agarrando-o e mergulhando até ao fundo do seu ser, obriga-o, igualmente, a descer até dentro de si mesmo, levando-o a descobrir, de forma inesperada, regiões até então desconhecidas. Por Cristo, a pessoa torna-se adulta, o homem emerge definitivamente do universo, toma plena consciência de si.

Aquele que é imagem de Deus é o Homem Perfeito, que restitui, aos filhos de Adão, a semelhança com Deus.

A vinda de Jesus coroa a atividade criadora e testemunha Deus que manifesta o Seu amor na comunicação da vida. Jesus vem trazer essa vida em plenitude, cumprindo o desígnio criador de Deus. Cristo, o Filho de Deus, é o modelo do homem. Deus quer que o homem alcance a sua plenitude humana e assim se torne Seu filho.

Toda a obra de Jesus consistiu em, mediante o dom do seu amor, capacitar o homem para que possa realizar em si mesmo o projeto de Deus que fez-se referência à situação do homem ferido pelo pecado, mas restaurado em Cristo. Gestos de Deus na história.

Somos obras das mãos poderosas e cuidadosas de um Deus pessoal.

Imagine uma “máquina perfeita”, composta por 640 músculos. Três bilhões de fibras nervosas. Trinta trilhões de células vermelhas. Um esqueleto leve como alumínio, resistente como aço e quatro vezes mais forte que o concreto. Um espetacular produto de engenharia, por dentro e por fora.

No interior dessa joia da engenharia, bem ao centro, a sala de máquinas bombeia sangue através de 96 mil quilômetros de veias. E repete a operação 40 milhões de vezes ao ano. E o mais espantoso: há pouco mais de 8 bilhões de exemplares espalhados pelo planeta Terra. Únicos: nenhum igual ao outro. A “máquina perfeita” dispara pelas ruas das pequenas e grandes cidades. E quem poderia detê-la? Ela é impressionante!

Claro, essa “máquina perfeita” é o ser humano. Criado para ser diferente!

O texto bíblico é claro ao descrever a natureza original do ser humano. E o faz de modo impressionante: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.

E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra” (Gn.1,26-28).

O ser humano foi criado para ser dependente de Deus. Isso significa que não lhe foram concedidas qualidades para que atue independentemente de Deus. Assim, no momento em que o ser humano se considera independente de Deus, destrói sua identidade; deixa de ser a criatura que Deus criou, o que impossibilita compreender a Deus e compreender a si mesmo.

Há um valor intrínseco no ser humano. Por partilhar da semelhança divina, possuímos valor intrínseco para Deus e os pares. Uma demonstração desse valor, no caso de Adão e Eva, foi o fato de receberem a incumbência de reinar sobre a terra, como uma espécie de vice gerentes de Deus.

Desse modo, o Senhor deixou claro que criou o ser humano com o mais elevado futuro e as mais nobres consecuções, tendo em vista uma eternidade de realizações criativas.

Foi Deus quem deu vida ao ser humano. Podemos pensar, então, que a vida humana só é possível devido à Fonte de vida. Separado de Deus, o ser humano morre, pois não tem vida em si próprio. Assim, não existe a ideia de “alma imortal”.

Gênesis 1,26-28 fala de um todo significativo. Em nenhum momento é dito que há uma parte humana mais significativa, algo como: a parte espiritual é mais importante que a mental, ou que o emocional está acima do físico. Fica claro que a imagem de Deus não está localizada em algum aspecto ou característica particular do ser humano. O ser humano, como um todo, reflete o caráter de Deus. Isso é importante para o processo da salvação, pois o que precisa ser resgatado é o todo do ser humano, e não apenas as questões de ordem espiritual.

A perfeição dos seres humanos, conforme Deus os criara, envolve pelo menos quatro dimensões. Inicialmente, a perfeição implica um estado de virtude e retidão. A inocência e ausência de malícia de Adão e Eva eram resultado de haverem sido criados moralmente virtuosos e perfeitos.

A imagem de Deus inclui aspectos espirituais. Com isso queremos dizer que nossa característica espiritual permite que nos relacionemos com Deus mediante oração, louvor e estudo da Escritura. Além disso, vivemos neste mundo pautados pela “agenda celestial” de Deus.

Os aspectos morais são essenciais na imagem de Deus no ser humano. Fomos criados como seres moralmente responsáveis por nossas ações, diante do Criador e do próximo. Além disso, diferentemente dos animais, assumimos posturas e comportamentos porque sabemos escolher conscientemente, e não meramente porque temos medo da punição ou porque esperamos recompensa. Dessa forma, nosso estilo de vida é motivado pela busca de santidade, que é nossa resposta livre ao amor de Deus.

Além disso, somos à imagem de Deus devido aos aspectos mentais. Em outras palavras, fomos criados com a capacidade de pensar, de raciocinar logicamente; também usamos linguagem abstrata e complexa. Por outro lado, porque somos capazes de raciocínio complexo, temos consciência do futuro. A razão também nos permite a capacidade inventiva, criativa, aplicada a áreas como arte, música, literatura, ciência e tecnologia.

Os aspectos emocionais também atestam nossa semelhança com Deus. Pelo fato de sermos à imagem de Deus, possuímos emoção, sentimento, numa complexidade tal que nos alegramos, choramos, chateamos; igualmente nos indignamos, sensibilizamos e ficamos irados. A imagem de Deus ainda inclui elementos sociais.

Somos capazes de relacionamentos conosco mesmos (solilóquio), caracterizando-nos como seres intrapessoais; mas também nos relacionamos com os outros, de modo íntimo, seja com uma pessoa do sexo oposto (casamento entre um homem e uma mulher) ou em relacionamentos fraternos, com amigos e amigas.

Essa capacidade relacional também nos permite estabelecer vínculos com a criação de modo geral, passando a administrar o que Deus criou.

Finalmente, aspectos físicos fazem parte da imagem de Deus. Embora não devamos pensar que, necessariamente, Deus tem um corpo como o nosso, é também verdade que, assim como Ele, temos a capacidade de ver, ouvir e falar.

Espiritualmente, demonstravam o desejo natural de amar, adorar e louvar ao Senhor; moralmente, eram responsáveis por todas as suas ações; mentalmente, eram altamente inteligentes, aptos a aprender tudo o que quisessem; emocionalmente,       possuíam emoções e sentimentos altamente complexos; socialmente, estavam preparados para se relacionar um com o outro, com Deus e com a natureza; fisicamente, eram belos, não apresentavam nenhum defeito e nem imaginavam o que era baixa autoestima.

Criado perfeito. Adão e Eva, os primeiros seres humanos, foram criados em total inocência. Gênesis 2,25 afirma que “o homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha”. Obviamente, podemos deduzir que eles não possuíam nenhum tipo de malícia e que o lugar onde estavam era também perfeito. Além disso, eles não conheciam o que era praticar um ato errado. “Em suma, além de não conhecerem nenhum tipo de culpa por qualquer tipo de pecado, eles também eram inocentes com relação ao pecado”.

Ou seja, ser uma pessoa reta não significava meramente a ausência de maldade e malícia, mas a presença de bondade. Mais do que dizer que não tinham vício nenhum, seria correto enfatizar que Adão e Eva tinham as melhores virtudes. Perfeição também tem que ver com um estado de domínio.

Por que tudo isso? Deus é amor (1João 4,8). Então podemos deduzir que Seu amor impulsionou Seu ato criador. Logo, a criação não existe por acaso.

Com esse propósito em mente, Ele constituiu o matrimônio (Gênesis 2,22-25). Ao cumprirem a ordem divina da procriação, Adão e Eva – e os seres humanos de hoje – receberam o privilégio de participar da obra criadora.

Por outro lado, no Salmo 19,1 está escrito que “os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos”. Assim, a criação desempenha o papel de testemunha de Deus, revelando Sua glória, Seu poder. E por que isso ocorre? De acordo com Romanos 1,20, Deus tem a intenção que Suas obras criadas conduzam as pessoas a Ele.
Dessa forma, conhecemos melhor Seu poder, Sua criatividade, Seu cuidado e Sua bondade. Conhecendo essas qualidades, temos a oportunidade de incorporá-las em nossa própria vida.
Somos obras das mãos poderosas e cuidadosas de um Deus pessoal; esse Ser quer continuar mantendo proximidade conosco, objetivando o dia em que a comunhão original do Éden será restaurada. Então, novamente perfeitos, poderemos tributar a Ele a honra e glória merecidas. E faremos isso por toda a eternidade.

Fontes:

ADOLFO SUÁREZ, pós-doutor em Teologia, é reitor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (SALT); Marcelo Berti.

Catecismo da Igreja Católica.

Bíblia de Aplicação Pessoal

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