Quando se entende que Satanás desejou a posição de Deus, muitas perguntas se calam, mas quando se compreende que Satanás buscava alcançar a semelhança do Altíssimo, muitas perguntas surgem.
O que é a semelhança do Altíssimo? O que há na semelhança do Altíssimo que possibilitaria ao querubim da guarda ungido ter uma posição superior a dos anjos? “Serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,14); “Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança…” (Gn 1,26). Observe que aquilo que Satanás intentou alcançar, Deus concedeu ao homem: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança!
Analisando de maneira genérica, a mentira existe em função da verdade, ou seja, ela surge na tentativa de calar a verdade, entretanto, mesmo que uma mentira dita muitas vezes não se torne uma verdade, por ser repetia por muitos acaba se transformando em consenso.
Um exemplo de consenso se observa neste provérbio que alguém deixou escrito na porta de uma igreja: “Todo homem quer ser rei, e todo rei quer ser deus…”.
Fica a pergunta: Todos desejam um reino? Todos os reis desejam ser um deus? Sabemos que generalizar é um risco que compromete o que é verdadeiro, e por isso, não podemos generalizar em nossas proposições.
Porém, este provérbio, por ser repetido por muitos, acabou por transformar-se em consenso, mesmo não correspondendo à realidade fática.
Já nos acostumamos a ouvir que Satanás quis ser igual Deus. De longa data vem sendo difundido acerca do anjo caído que o orgulho levou-o à queda, isto porque, no seu íntimo, intentou ser igual a Deus.
Dentro desta mesma linha de pensamento acerca do que levou Satanás à queda, há algumas variantes: ele quis ocupar o lugar de Deus; ele quis para si a adoração que pertence a Deus; ele procurou um reino próprio; ele quis exaltar-se tomando para si todo poder existente, usurpando a base do Trono da divindade. Será isto verdade? Seria isto possível? É factível à criatura alcançar ser igual ao Criador? Existiu alguma possibilidade de Satanás tomar o lugar de Deus? Estamos diante de uma verdade ou de um consenso?
Que Satanás quis ser igual a Deus já é consenso, visto que muitos assim afirmam. Resta-nos verificar se o consenso corresponde à verdade.
Satanás foi criado por Deus como todos os outros seres do universo. Ele foi criado e posto na posição mais sublime na ordem celestial: ele era querubim da guarda ungido, perfeito em seus caminhos, formoso e sábio. Na ordem celestial, ele estava no topo da hierarquia (Ez 28,12).
Apesar da posição elevada do querubim da guarda ungido havia um abismo intransponível entre ele e o Criador, tanto que em seu coração ele reconhecia que Deus é inatingível e inigualável ao nomeá-lo como o Altíssimo.
Jamais a criatura poderá igualar-se ao Criador. Embora Satanás estivesse no topo da hierarquia celestial, a distância entre criador e Criatura é intransponível. O mesmo abismo intransponível que impede os homens como criaturas de assumirem a condição de Criador, é o abismo que há entre os anjos e Deus.
A Bíblia demonstra que somente Deus é Criador. Este é um polo que somente Deus está e estará pela eternidade. No outro polo, as criaturas, onde figuram as incontáveis hostes celestiais e as terrestres. Por mais elevada que seja a criatura, ela permanecerá criatura, e jamais conseguira transpor a barreira que há entre o Criador e criatura.
Não podemos confundir a hierarquia estabelecida no universo: Deus, anjos, homens e animais, com as posições: Criador e criaturas. Sobre esta verdade a Bíblia diz:
“Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem entre os filhos dos poderosos pode ser semelhante ao Senhor?” (Sl 89,6).
Estas perguntas são pertinentes ao tema em questão: Haveria alguém no céu que poderia igualar-se a Deus? Se levarmos em conta os filhos dos poderosos, haveria alguém que ao menos fosse semelhante a Deus? A resposta para as perguntas é não!
O homem mais simples sabe que é impossível à criatura igualar-se, tomar ou alçar o lugar do Criador.
Porém, de tanto ouvir que Satanás quis ser igual a Deus, criou-se um consenso, e muitos se permitem concordar com tal argumento, mesmo que inconscientemente, que a possibilidade de Satanás ser igual a Deus existiu.
É estranho ao homem, que possui conhecimento limitado, afirmar que é possível alguém tornar-se o Criador, e é o cumulo do absurdo que um ser criado cheio de sabedoria tenha intentado ser o próprio Criador.
Além do mais, como Satanás conseguiu convencer um terço dos anjos que seria possível prosperarem no intento de alçarem a posição do Criador?
Deixando o consenso de lado, a Bíblia nos diz que Satanás intentou ser semelhante a Deus. Isaías apresenta qual a intenção do coração de Satanás: “Tu dizias no teu coração:”
“Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,14).
Há uma grande diferença entre a pretensão de ser semelhante ao Altíssimo e usurpar-lhe o lugar. Satanás, mesmo ‘possuído’ pela soberba, tinha plena consciência da posição inatingível do seu Criador: o Altíssimo. Embora o pecado houvesse se instalado em sua natureza, Satanás estava ciente de que a posição de Deus é inatingível.
Como alcançar o Inatingível? Como igualar-se ao Inigualável? Perceba que não é factível, ou seja, que é impossível levar a efeito qualquer plano que usurpe a posição do Criador.
Diante das evidências, de que é impossível à criatura alcançar a posição do Criador, ficam as perguntas: o que motivou a ideia de que Satanás quis ser Deus? De quem é o interesse de que se propague tal consenso? A quem tal mentira favorece?
Uma das maiores mentiras da atualidade é a de que Satanás intentou ser igual a Deus. Esta mentira deu à luz a dualidade: bem e mal; Deus e Satanás. Esta abordagem trás uma equivalência entre Deus, o Criador, e o diabo, a criatura. A quem é proveitoso que esta mentira seja propagada?
“Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira” (Jo 8,44).
Ao falar aos religiosos da sua época, Jesus descreveu algumas características do inimigo de nossas almas: ele é homicida desde o princípio; não se firmou e não há verdade nele; quando ele profere mentira, é algo de sua natureza. Mas, nem sempre ele foi assim.
Satanás era um anjo da ordem dos querubins. Ou seja, Satanás era um anjo de posição elevada perante os seus semelhantes. Ele era nomeado como o Portador de Luz (em hebraico, heilel ben-shachar, הילל בן שחר; em grego na Septuaginta, heosphoros).
A Bíblia descreve Satanás antes da queda como sendo o selo da perfeição, cheio de sabedoria e perfeito em formosura. Ele estava no jardim do Éden, Jardim de Deus, e quando da sua criação, também foi preparado os seus ornamentos (vestes).
Ele devia ficar no monte santo de Deus, exercendo a função para qual foi comissionado: guarda ungido. Ele havia assumido a maior posição da hierarquia celestial, porque Deus estabeleceu o querubim ungido naquela posição.
Porém, por se achar o pecado no querubim ungido, Deus o destituiu da sua posição, lançando-o profanado para fora do monte, e Satanás recebeu a penalidade: a morte!
Quando Deus criou os seres celestiais, ao querubim ungido disse: “Tu és o selo da perfeição, cheio de sabedoria, e perfeito em formosura” (Ez. 28,12).
Sobre o lugar em que o querubim foi posto, temos: “Estavas no Éden, jardim de Deus” (Ez 28,13). A descrição do querubim se prende na indumentária que vestia, sendo ela criada no dia em que ele foi trazido à existência “Cobrias-te de toda pedra preciosa (…) no dia em que foste criado foram eles preparados” (Ez. 28,13).
Até ser achado iniquidade no querubim ungido, ele é descrito como: “Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em que fostes criado…” (Ez. 28,15).
A missão dele era: “Tu eras querubim da guarda ungido…” (Ez. 28,14). Porém, tudo estabelecido por Deus “… e te estabeleci” (v. 14). A rotina dele era percorrer o monte protegendo-o: “Estavas no monte santo de Deus, andavas entre as pedras afogueadas” (v. 14).
Satanás intentou aferir algum tipo de lucro da missão que desempenhava, e caiu em pecado (Ez. 28,16). Por causa da iniquidade em Satanás, Deus destituiu o querubim ungido. Ele foi lançado do monte santo por ter se tornado profano. Ao fazer mal uso de sua posição buscando uma vantagem (comércio), ele se profanou.
Além de ser destituído do cargo para qual foi comissionado, e lançado fora do monte de Deus, o querubim ungido pereceu. É a primeira referência ao salário do pecado no universo: perecer, ou seja, estar separado da vida que há em Deus: Morte!
“Pelo que te lançarei profanado fora do monte de Deus, e te farei perecer, ó querubim protetor, entre pedras afogueadas” (Ez. 28,16).
Temos que, Satanás é homicida desde o princípio, ou seja, ele conduziu 1/3 dos anjos à morte. Depois ele induziu a humanidade à mesma condição: serem separados da vida que há em Deus. Toda a humanidade foi destituída da glória de Deus através da queda do primeiro Adão.
Ele não se firmou na verdade, visto que Deus é verdade. Todos quantos não estão em Deus, não são verdadeiros, e portanto, são filhos do diabo.
Satanás é mentiroso desde o princípio, porém, Isaías ao profetizar, revelou o verdadeiro intento do seu coração, o que correspondia à verdade: “Tu dizias no teu coração: Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,14).
Deus aponta a intenção do coração do querubim da guarda ungido através do profeta Isaías. É demonstrado qual foi a pretensão o querubim da guarda ungido (serei semelhante), o método (subirei acima das estrelas (anjos).
“Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono; no monte da congregação me assentarei nas extremidades do norte” (Is 14,13).
Qual foi a real intenção do querubim ungido? Ele desejou em seu coração subir ao céu (uma vez que ele foi estabelecido na terra, especificamente no Éden), acima das estrelas de Deus, exaltando o seu trono.
Sabemos que as estrelas ficam nos céus. Porém, as estrelas da qual o ex-querubim fez referência diz dos anjos de Deus. As ‘estrelas de Deus’ diz de toda a ordem angelical: querubim, arcanjo e anjos. Embora um querubim tenha uma posição hierárquica superior a um anjo, ele continua sendo anjo. Embora um querubim seja superior hierarquicamente a um arcanjo, tanto querubim, quanto arcanjos continuam sendo anjos. Toda a ordem angelical estava nos céus, e o querubim da guarda ungido, que foi estabelecido para guardar o monte santo de Deus no Éden, intentou subir aos céus, porém, queria chegar ao céu de posse de uma posição superior a de anjo.
Por que ele ‘subiria ao céu’? Porque ele estava no Éden desempenhando a missão para qual foi estabelecido: guardar o monte santo percorrendo sobre as pedras afogueadas.
Porém, o seu intento era chegar ao céu de posse de uma posição superior a das estrelas de Deus (anjos). Ele queria estar em uma posição acima (exaltarei o meu trono), superior a das estrelas de Deus.
Como alcançar uma posição superior a dos anjos? Para se alcançar uma posição superior a dos anjos, em primeiro lugar seria necessário deixar de ser anjo, e passar a outra categoria de ‘ser’ ou ‘existência’. Se ele subisse ao céu e continuasse a ser querubim, não teria ‘subido’ ou exaltado o seu trono, a sua posição na ordem celestial.
Como ele pretendia alçar uma nova posição na ordem celestial? Ele pretendia alcançar uma posição superior a das estrelas de Deus (anjos) assentando-se no monte da congregação, ns extremidades do norte. O que foi comissionado ao querubim da guarda ungido proteger (guardar), ele desejou alcançar.
Em momento algum vemos Satanás intentando alcançar a posição do Altíssimo, visto que, este intento não é factível a nenhuma criatura.
Ele desejou subir acima das mais altas nuvens, a posição de semelhança do Altíssimo.
Vemos que ele desejou ser semelhante e não igual a Deus. Ser igual a Deus não é factível, mas, para o querubim ungido, ser semelhante ao Criador pareceu plenamente factível.
Quando se entende que Satanás desejou a posição de Deus, muitas perguntas se calam. Porém, quando se entende que Satanás buscava alcançar a semelhança do Altíssimo, muitas perguntas surgem.
O que é a semelhança do Altíssimo? O que há na semelhança do Altíssimo que possibilitaria ao querubim da guarda ungido ter uma posição superior a dos anjos?
“Então disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança…” (Gn 1,26). Observe que aquilo que Satanás intentou alcançar, Deus concedeu ao homem: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança!
Analisando mais criteriosamente o fato bíblico de que Satanás intentou ser semelhante a Deus, poderemos identificar o que há por trás da mentira que vem sendo divulgada, de que satanás intentou tomar a glória de Deus, e tornar evidente a verdade, visto que, a verdade sempre será verdade, não importando o que está estabelecido pelo consenso.
O que a Bíblia diz? Satanás intentou tomar o lugar de Deus? Observe:
“Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,14).
Quando se propaga a ideia de que Satanás intentou ser igual a Deus, o homem deixa de se perguntar: o que é ser semelhante a Deus? É do interesse do inimigo de nossas almas que o homem não descubra o que é ser semelhante ao Altíssimo.
A Bíblia demonstra que é impossível a criatura ser igual ao Altíssimo:
“Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem entre os filhos dos poderosos pode ser semelhante ao Senhor?” (Sl 89,6).
A resposta é direta: ninguém pode igualar-se a Deus. Este versículo por si só demonstra que Satanás não intentou ser igual a Deus, pois é de conhecimento de todas as criaturas de Deus que Ele é inigualável.
Satanás intentou ser semelhante a Deus, e para levar a efeito a sua intenção, tinha em seu coração um plano ‘bem’ elaborado. Ele pensou que bastava subir ao céu, acima das estrelas de Deus, que alcançaria a semelhança do Criador. Ledo engano! Ele foi precipitado no mais profundo abismo.
“E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Is 14,13-14).
Qual não é a surpresa de todas as hostes espirituais quando Deus disse:
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo o réptil que se move sobre a terra” (Gn 1,26).
O que Lúcifer intentou alcançar, Deus concedeu de maneira graciosa ao homem. Ele criou Adão a sua imagem e a sua semelhança.
Quando nos perguntamos o que é ser semelhante a Deus, começamos a ver a multiforme sabedoria de Deus que é revelada aos principados e potestades nas regiões celestiais por intermédio da igreja (Ef,10 ).
Sabemos que é impossível a todas as criaturas de Deus serem iguais a Ele em poder e magnificência, porém, Deus estabeleceu que o homem receberia a semelhança d’Ele.
Este plano eterno pareceu frustrado quando da queda da humanidade em Adão, porém, através da pessoa de seu Filho, Jesus, o último Adão, Deus concede a sua semelhança àqueles que nele creem.
“No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” (Rm 5,14).
Adão era a figura de Cristo (aquele que havia de vir), e Cristo a expressa imagem de Deus. Por meio de Cristo o homem alcança a plenitude de Deus (Cl 2, 9-10), e são alçados a posição de filhos de Deus.
A posição que o homem alcança em Cristo é superior a dos anjos, arcanjos, serafins e querubins, uma vez que será da competência dos salvos julgar os anjos, não importando a categoria que pertençam (1Co. 6,3).
Àqueles que estão em Cristo hão de ser semelhantes a Ele, posição mui elevada se comparada à dos anjos (1Jo. 3.2).
“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos” (1Jo. 3,2).
“…em resultado de orgulho pela sua própria superioridade, ele procurou desviar para si a adoração devida exclusivamente a Deus”. Teologia Elementar, Emery H. Bancroft, Ed EBR, 2001, Pág. 302, II.
Satanás quis uma posição acima das estrelas de Deus, e para isso intentou apossar-se da semelhança de Deus. Para levar a efeito o seu plano, ele pretendia assentar-se no monte da congregação, nas extremidades do norte. Ele queria se apossar daquilo para qual foi estabelecido para guardar.
Para ele, estar em uma posição superior a dos seus companheiros bastava subir, ou seja, galgar uma nova posição. Porém, Deus surpreende todas as hostes angelicais ao descer e conceder a sua semelhança aos homens.
Desta maneira, verifica-se que é mentira dizer que Lúcifer intentou ser igual a Deus. O orgulho que subiu ao coração de Satanás fez com que ele não guardasse a sua posição original (principado), e intentasse alcançar uma nova posição, a de semelhante a Deus.
Satanás desejou alcançar uma posição superior, visto que, o orgulho se apossou de seu coração. Por ter sido criado perfeito em todos os seus caminhos, representar a perfeição de Deus (selo da perfeição), cheio de sabedoria, perfeito em formosura e possuir uma indumentária que o distinguia de todos os outros anjos, sentiu-se atraído a alcançar aquilo que foi comissionado a proteger.
Ele se achou grande por causa de sua formosura. Por ter focado o resplendor que possuía a sua sabedoria não o livrou da queda. Ele rejeitou o seu principado (a posição estabelecida por Deus) para tentar lançar mão de uma posição que desconhecia.
O querubim ungido, por causa do orgulho, já não via os outros anjos como sendo companheiros, antes os fitava do topo da sua posição hierárquica. O seu coração elevou-se por causa da sua formosura, e a sabedoria que deveria afastá-lo da soberba, foi corrompida pelo desejo de uma posição maior.
Os seres angelicais foram criados através do poder e da palavra de Deus: Haja, e eles vieram à existência “Quando as estrelas da alva juntas alegremente cantavam, e todos os filhos de Deus jubilavam?” (Jó 38,7); “Louvem o nome do Senhor, pois mandou, e logo foram criados” (Sl. 148,5).
Os anjos conheciam o poderio e a majestade de Deus, porém, estes desconheciam a sua multiforme sabedoria.
Eles desconheciam o propósito eterno de Deus somente revelado no evangelho de fazer convergir em Cristo todas as coisas “De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra” (Ef 1,10).
Eles desconheciam o propósito eterno de Deus em fazer Cristo o primogênito de toda criação “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1,15); “E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência” (Cl 1,18); “E demonstrar a todos qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de Jesus Cristo; Para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus, Segundo o eterno propósito que fez em Cristo Jesus nosso Senhor” (Ef 3,9-11).
Para levar a efeito o seu propósito eterno, aprouve a Deus criar a terra para ser habitada “Porque assim diz o Senhor que tem criado os céus, o Deus que formou a terra, e a fez; ele a confirmou, não a criou vazia, mas a formou para que fosse habitada: Eu sou o Senhor e não há outro” (Is. 45,18).
Na terra Deus criou o Éden, lugar onde o mistério que esteve oculto desde os séculos eternos haveria de ser revelado (Ef 3,9).
Deixou sobre o monte um protetor, o querubim da guarda ungido, investido de autoridade e posição hierárquica superior aos outros seres angelicais.
Porém, ao perceber que havia uma posição superior à posição dos anjos, que é a semelhança do Altíssimo, Satanás desejou para si.
Ele deixou o seu principado, a posição para qual foi estabelecido, e lançou-se na empreitada de se assentar no monte da congregação nas extremidades do norte. O plano decorrente do orgulho parecia factível ao querubim da guarda, que conseguiu enganar e atrair 1/3 da ordem angelical “E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho” (Ap 12,4).
Porém, aprouve a Deus desde tempos imemoriais, segundo o conselho da sua vontade, dar aos homens a sua imagem e semelhança.
O homem foi criado em uma posição inferior a dos anjos Sl 8: 4. Porém, em Cristo Jesus, o último Adão, o homem passa a uma posição superior a dos anjos.
O homem foi criado por Deus a partir do barro. Este foi o primeiro homem, criado alma vivente, sendo designado homem natural e terreno. Todos os outros homens são conforme o primeiro homem, naturais e da terra.
Em decorrência da queda de Adão, todos os outros homens nascem debaixo de uma condenação herdada do primeiro homem. Toda a humanidade traz a imagem do terreno.
O último Adão é Cristo. Ele é espírito vivificante, ou seja, ele concede vida àqueles que foram feitos alma vivente em Adão.
Jesus Cristo homem foi gerado pelo Espírito Eterno, o primogênito de toda criação (primeiro gerado de Deus). Enquanto Adão foi criado, Jesus é o gerado de Deus. Enquanto Adão foi criatura, Jesus é o Filho.
Por meio de Cristo, o último homem (homem espiritual e celestial), todos os homens terrenos que crerem são de novo gerados de uma semente incorruptível, que é a palavra de Deus. Estes são vivificados e passam a ser conforme o último Adão.
“Assim está também escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante. Mas não é primeiro o espiritual, senão o natural; depois o espiritual. O primeiro homem, da terra, é terreno; o segundo homem, o Senhor, é do céu. Qual o terreno, tais são também os terrestres; e, qual o celestial, tais também os celestiais. E, assim como trouxemos a imagem do terreno, assim traremos também a imagem do celestial” (1Co 15,45-49).
Satanás cobiçou a posição de semelhança do Altíssimo, porém, desconhecia que o próprio Deus haveria de despir-se de sua glória, se fazendo carne.
Enquanto o querubim ungido desejava subir aos céus de posse de uma posição maior do que a dos seres celestiais, o Verbo se fez carne, assumiu a condição de servo e habitou entre os homens (Fl 2,6 -11).
Porém, por ter se resignado a assumir a condição de servo, fazendo se igual aos homens, Deus elevou a Cristo soberanamente. Mesmo após assumir a posição ‘menor que’ os anjos, Jesus se humilhou ainda mais, e foi obediente até a morte, e morte de cruz.
Observe que Cristo na posição de servo não teve por usurpação ser igual a Deus, embora sendo Deus (Fl 2,7). Observe que a condição de sumo sacerdote foi outorgada pelo Pai, ou seja, Ele não lançou mão desta função “Assim também Cristo não se glorificou a si mesmo, para se fazer sumo sacerdote, mas aquele que lhe disse: Tu és meu Filho, Hoje te gerei” (Hb 5,5).
Ao ser glorificado pelo Pai com a glória que Ele tinha antes de haver mundo, Jesus adquire nome sobresselente, que é sobre todos os nomes “E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17,5). Ao retornar a glória, Cristo conduz dentre os homens muitos filhos a Deus “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles” (Hb 2,10).
O propósito eterno cumpre-se quando Cristo retorna à glória trazendo muitos filhos a Deus, visto que, Cristo passa a condição de primogênito entre muitos irmãos e primogênito dentre os mortos.
A imagem e semelhança de Deus passou aos seus filhos, que são gerados da semente incorruptível, que é a palavra de Deus. “E foi assim para que agora, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nas regiões celestiais” (Ef 2,10).
Satanás intentou alcançar uma posição, porém, desconhecia a multiforme sabedoria de Deus. Desconhecia que a posição elevada acima das estrelas de Deus decorre da filiação divina.
A posição que ele almejou, não é pertinente à criatura, e sim, ao Filho, o último Adão, por meio de quem alcançamos a condição de filhos. Somente àqueles que foram recebidos por filhos é que receberam a posição elevada de serem semelhantes ao Altíssimo (1Jo 3,2 ; Hb 2,10 -13; Rm 8,16 -17).
“No monte da congregação me assentarei, nas extremidades do norte” (Is 14,13).
Satanás intentou alcançar uma posição superior (serei semelhante ao Altíssimo), para se estabelecer acima das estrelas de Deus. Para isso, ele intentou assentar-se nas extremidades do norte, no monte da congregação de Deus.
O que era o monte da congregação? Ou, o que era o monte santo de Deus? Por que havia a necessidade de um protetor desempenhando a função de guarda?
A glória de Deus estava presente no Éden, no monte da congregação, nas extremidades do norte. Havia o ambiente da congregação, porém, o ajuntamento que se estabelecia no monte santo não pertencia às estrelas de Deus.
Observe que ‘os filhos de Deus’ apresentavam-se perante o Senhor de tempos em tempos (Jó 1,6; Jó2,1), porém, o monte da congregação que estava no Éden lhes era vetado. Deus havia constituído o querubim ungido como protetor, para que os anjos não obtivessem acesso ao mistério presente no monte da congregação.
No monte da congregação estava a glória de Deus, a mesma que o sacerdote Ezequiel em visão viu afastar-se do templo. A glória estava sobre os querubins e retirou-se para a entrada do templo (Ez 9,3; 10,4); da entrada do templo, a glória deslocou-se para a cidade, e por fim, a glória deslocou-se para o monte das Oliveiras (Ez 11,23).
A mesma glória haverá de retornar ao templo milenial (Ez 43:2-7). Quando o Senhor sair a peleja, os seus pés estarão sobre o monte das Oliveiras, que será fendido ao meio (Zc 14,4). Observe que a presença de Deus sempre esteve envolta em mistério: “Então disse Salomão: o Senhor declarou que habitaria numa nuvem escura” (1Rs 8,12).
Não sabemos detalhes do que foi tratado no monte santo da congregação, porém, sabemos que ali era o local onde se dava a reunião para tratar do mistério que sempre esteve oculto em Deus, e que tal ‘congregação’ era estabelecida sem a presença dos anjos, uma vez que o querubim ungido foi estabelecido para impedir a aproximação dos seres celestiais.
Percebe-se que o querubim da guarda ungido, que foi constituído para proteger o mistério, sentiu-se tentado a observar e vislumbrou o que estava para se desenvolver.
A conjectura de Satanás levou-o a queda, uma vez que desejou a semelhança do Altíssimo, para estar em uma posição superior a dos seres celestiais.
Quando Deus criou os céus e a terra, houve a necessidade de estabelecer o querubim da guarda ungido no Éden para impedir o acesso das hostes angelicais ao santo monte. Tempos depois, Deus estabeleceu querubins para impedir o acesso do homem lançado de sua presença, para impedi-los de ter acesso à árvore da vida (Gn 3,24).
Os querubins ao oriente do Jardim do Éden e a espada flamejante protegia o caminho da árvore da vida do homem em pecado. Já o querubim ungido, protegia o monte da congregação do acesso dos seres celestiais, para não ter acesso ao mistério oculto.
Satanás acabou por conjeturar que, se ele assentasse no monte da congregação, lugar de acesso exclusivo a Deus, ele haveria de alcançar uma posição superior a dos seres celestiais (estrelas de Deus). Por não estar em busca da posição do Altíssimo, e sim, de uma posição superior as estrelas de Deus, não viu a violência da sua intenção, ao intentar profanar o santuário do seu Criador Ez 28,16.
Ele já estava em uma posição privilegiada, a de protetor, e para isso foi investido de poder e autoridade sobre os demais (Zc 3,1-2; Jd 1,9).
Porém, o orgulho lhe fez ambicionar lucrar com sua posição de protetor (multiplicação do seu comércio) (Ez 28,16), e foi lançado do Éden profanado, ao querer ter acesso ao lugar da glória de Deus (Is 48,11).
Duas Figuras que Ilustram o Intento do Querubim Ungido
Hamã
“Quando Hamã entrou, perguntou-lhe o rei: O que se fará ao homem a quem o rei se agrada honrar? Ora, Hamã disse consigo mesmo: A quem se agradaria o rei honrar mais do que a mim?” (Et 6,6).
Hamã, o agagita, havia sido engrandecido acima de todos os príncipes do reino de Assuero (Xerxes). Todos os oficiais do rei se inclinavam quando Hamã passava, conforme o rei ordenará ( Et 3,1 -3). Porém, Mordecai não se inclinava e nem se prostrava.
Os oficiais protestaram a Mordecai, e este não lhes deu ouvidos. Estes por sua vez fizeram Hamã saber da atitude de Mordecai. Hamã ao saber do comportamento de Mordecai, propôs ao rei uma maneira de arrecadar 10.000 talentos de pratas, exterminando o povo de Mordecai, a pretexto de não cumprirem as leis do rei ( Et 3,9 ).
O que Hamã propôs ao rei visava tão somente uma satisfação pessoal. Era vaidoso, arrogante e egoísta. Quando o rei propôs honrar Mordecai, Hamã somente conseguiu ver a si mesmo como aquele que merecia as honrarias do rei.
Da mesma forma que Hamã, o querubim da guarda ungido estava cego por causa de sua formosura, e quis para si a honra e posição que Deus agradou dar aos seus filhos: a semelhança do Altíssimo.
Uzias
“Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração até se corromper; e transgrediu contra o Senhor seu Deus, porque entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso” (2Cr 26,16).
O rei Uzias foi um dos reis de Judá e fez o que era reto aos olhos do Senhor (2Cr 26,4).
Porém, após ter fortificado o seu reino com guerreiros, máquinas, lanças e flechas, o coração dele se corrompeu. Ele foi infiel ao intentar oferecer incenso sobre o altar do incenso no templo do Senhor (2Cr 26,16).
Observe que ele foi impedido pelos sacerdotes, descrito como sendo homens corajosos. Estes resistiram a Uzias, e disseram: “A ti, Uzias, não compete queimar incenso perante o Senhor, mas aos sacerdotes, filhos de Arão, que são consagrados para queimar incenso” (II Cr 26, 18).
Os sacerdotes determinaram que Uzias saísse do templo, por ter sido infiel. O alerta e completo: “nem será isto para ti honra tua da parte do Senhor Deus”. Cristo tornou-se sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque, por Deus outorgar esta honra (Hb 5,5). Uzias intentou oferecer incenso, honra dada aos filhos de Arão, o que o tornou infiel.
A cegueira chegou ao ponto dele indignar-se com os sacerdotes, que estavam a alertar acerca do seu erro. Em seguida, a lepra brotou-lhe na testa. Os sacerdotes apressaram a retirada dele do templo, e ele mesmo apressou em sair, quando percebeu que Deus havia lhe ferido (2Cr 26,20).
Da mesma forma, ao querer assentar-se no monte santo para tomar uma posição que não lhe foi dada, Satanás tornou-se profano. Ele não profanou o lugar da glória de Deus, visto que, ao se achar a iniquidade nele, Deus lançou-o profanado do monte de Deus e destituído do seu principado (Ez 28,16).
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