quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Cristianismo ou Animismo?


Ultimamente  tem-se ouvido falar com entusiasmo do "crescimento" do cristianismo no Brasil e no mundo por líderes das mais diversas denominações que se intitulam cristãs e que se classificam no ramo carismático.                                                               
Como não poderia deixar de ser, ecos e reflexos deste "crescimento" têm alcançado também os batistas brasileiros, e alguns líderes estão cada vez se encantando mais com seus efeitos de arregimentação de fiéis e estão partindo para a utilização de métodos idênticos ou semelhantes ao utilizado pelos grupos carismáticos e, infelizmente, até mesmo líderes denominacionais estão se encantando e procurando com ardor arregimentar outros lideres baptistas para as fileiras dos que se julgam vencedores por fazerem suas igrejas crescerem através do chamado carismatismo ou pentecostalismo.

Deveríamos realmente nos deixar encantar por tudo isso que está acontecendo? Deveríamos buscar uma renovação carismática com a finalidade de fazer as igrejas crescerem? O que estaria crescendo de facto, o cristianismo autêntico, bíblico, abraçado pelos batistas autênticos, ou o que estaria crescendo seria o animismo e isso em âmbito mundial?

Se estudarmos, mesmo que brevemente, a respeito do animismo e seus elementos, e se o compararmos com o carismatismo e com o cristianismo autêntico, vamos encontrar a resposta para tudo isto.

A expressão "animismo" tem sido utilizada para designar as religiões chamadas primitivas e tem origem no latim "animi", que significa espírito. Isto porque as religiões primitivas baseiam-se na crença em que tudo na natureza possui e é regida por espíritos malignos ou benignos, que são capazes de sustentá-la ou de destruí-la, inclusive seres humanos.

O animismo se originou no homem em um conjunto de sentimentos inerentes a ele próprio como ser pessoal, dotado de espírito, e em práticas e situações religiosas que se pode resumir em três aspectos principais:

1. Sentimento de existência de outra realidade além da matéria (Salmo 138.8).
O SENHOR aperfeiçoará o que me toca; a tua benignidade, ó SENHOR, dura para sempre; não desampares as obras das tuas mãos.”
O homem foi criado por Deus que é espírito. Nos primórdios da humanidade este se revelou à sua criatura pessoalmente. O homem se afastou de Deus, mas permaneceu nele o sentimento da existência dessa realidade espiritual além da realidade humana.

2. Necessidade de comunhão com um ser divino, poderoso (Êxodo 32.1-8).
“1 Mas vendo o povo que Moisés tardava em descer do monte, acercou-se de Arão, e disse-lhe: Levanta-te, faze-nos deuses, que vão adiante de nós; porque quanto a este Moisés, o homem que nos tirou da terra do Egito, não sabemos o que lhe sucedeu. ..."
O homem, por ser criado por Deus, ínfimo dentro deste universo imenso e misterioso, sente naturalmente a necessidade do cuidado divino. Mas, tendo abandonado o Criador, continuou tendo o sentimento da necessidade de receber cuidados vindos de um ser superior a ele próprio. Conforme sua limitação, fez substituições e criou em sua imaginação seres divinos conforme suas próprias idealizações.

3. Falta de conhecimento da revelação de Deus a respeito das coisas espirituais (Mateus 22.29).
“Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus.”
Afastado de Deus, não podendo receber diretamente dele os ensinamentos e revelações de realidades além do seu alcance pessoal, rejeitando ou não tendo ao seu alcance as Escrituras que foram providenciadas por Deus para registar suas revelações a respeito de sua natureza e carácter, o homem não tem condições de conhecer as coisas de Deus exatamente como são, por isso segue sua jornada errando, criando seus próprios princípios e ideias espirituais.

Assim, no seu animismo, o homem desenvolveu elementos religiosos, cujos estudiosos das religiões [chamam de]:

a) Mana - A ideia de uma força impessoal que estaria em todos os elementos da natureza, dando-lhes vida, animando-os, dando-lhes movimento,

b) Xamã - Indivíduo considerado detentor de poderes especiais recebidos de divindades ou seres espirituais. Mantém o domínio religioso do grupo através do medo, uma vez que é olhado como capaz de fazer o bem e o mal. É quem realiza os rituais de magia e purificação,

c) Fetiche - Objeto ou elemento da natureza, do qual emanaria algum tipo de poder sobrenatural que adviria naturalmente ou após algum tipo de ritual no qual o xamã conferiria poder àquele elemento. Normalmente utilizado para produzir um bem ou um mal a alguma pessoa. O fetichismo é o culto a esses objetos ou elementos,

d) Totem - Objeto construído, quase sempre de madeira, que é venerado como um ídolo protetor contra os maus espíritos,

e) Tabus - Atos e costumes proibidos (geralmente pelo xamã) e que trariam maldições sobre quem rompesse com eles, praticando o que é proibido. São passados de geração em geração e, normalmente, os indivíduos os têm arraigados em seus costumes sem saberem nem mesmo a origem de crença e costume tão rigoroso. São obedecidos irrestritamente sem questionamentos e sem buscar razão lógica,

f) Rituais de purificação - Práticas religiosas indicadas ou lideradas pelos xamãs e que visam a purificação espiritual do indivíduo. Normalmente são ritos que contém elementos penitenciais,

g) Necrolatria - Veneração de mortos em rituais e cultos onde são invocados, inclusive com o objetivo de angariar sua proteção e intermediação com as divindades ou espíritos.

Ora, diante de tudo isto que expomos a respeito do animismo, podemos fazer comparações com o pentecostalismo (carismatismo) e encontrar, com tranquilidade, muitos destes elementos neste movimento "cristão". Observe-se o que vamos colocar a seguir.
- O líder religioso carismático é, na realidade, um xamã. Ele não exerce autoridade bíblica, através de uma pregação ou ensinamento cuidadosos e profundos dos textos bíblicos, porém através de imposição de costumes religiosos que se tomam verdadeiros tabus. É olhado como ser poderoso, que tem ligação direta com Deus maior do que crentes em Cristo "comuns"; é procurado para fazer orações poderosas, para abençoar pessoas, para ministrar sacramentos, para desvendar mistérios. Há até os que chegam a lançar maldições sobre seus liderados. Abençoa recém-nascidos, locais de trabalho, casas, casamentos. Não tem qualquer base bíblica para seu comportamento mas é obedecido com rigor, sob pena de expulsão do grupo ou de recebimento de algum tipo de maldição.
- Além disso, há no meio chamado carismático elementos como fetiches que são utilizados em cultos, tais como copos de água que passam a ser abençoadores após o "pastor" orar com um copo também em sua mão; óleos "ungidos" pelos pastores são utilizados largamente como elementos de poder para cura, além de ser utilizado, também, sal grosso, arruda, fitinhas, etc.
- Há a imposição e o incentivo à prática de rituais de purificação. Tipos específicos de vestimentas são exigidos, além de abstinências sexuais, jejuns, correntes de oração, retiros espirituais e, até mesmo, baptismos completamente fora do contexto bíblico.
- Os púlpitos se transformam em totens, verdadeiras trincheiras contra espíritos malignos. Têm que permanecer purificados e ninguém (a não ser outros xamãs ou discípulos autorizados por eles) podem subir ali.
- A crença em espíritos malignos exagerada é amplamente difundida e apregoam espíritos para tudo e por tudo. Espírito da dor de coluna, da dor de barriga, da dor de cabeça, da pobreza, das tempestades, etc. Apresentam-se como poderosos para a dominação e expulsão destes espíritos.

Onde encontramos base bíblica para tudo isto? Claro que não há e, no cristianismo autêntico, não há lugar para o animismo. Os pastores realmente cristãos não são xamãs de forma alguma, porém pregadores da Palavra de Deus, guias que devem conduzir os crentes em Cristo por caminhos pré-estabelecidos por Deus nas Escrituras. Não há lugar no cristianismo para presunçosos que gostam de fomentar para si uma autoridade religiosa baseada em crendices e misticismos (Atos 8.9-13,18-24)
“... 18 E Simão, vendo que pela imposição das mãos dos apóstolos era dado o Espírito Santo, lhes ofereceu dinheiro, 19 Dizendo: Dai-me também a mim esse poder, para que aquele sobre quem eu puser as mãos receba o Espírito Santo. 20 Mas disse-lhe Pedro: O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. 21 Tu não tens parte nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus. ...”

Os pastores não são seres mais poderosos que outros crentes, porque reconhecem que o poder é de Jesus Cristo (Mt 28.18) e qualquer crente, inclusive o pastor, é somente instrumento dele. No cristianismo a oração é válida por e para qualquer pessoa que tenha fé em Jesus Cristo e que peça a Deus, em nome de Cristo (João 14.13). Qualquer crente em Cristo tem acesso direto a Deus, tendo o Senhor Jesus como seu único mediador (Colossenses 1:13- 21).
“E, chegando-se Jesus, falou-lhes, dizendo: É-me dado todo o poder no céu e na terra.” (Mt 28:18)
“E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.” (João  14:13)
“...14 Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; ... (Col 1:13-21)

No cristianismo autêntico não há ensinamento algum que leve o crente a crer em objetos de poder, porque o poder de Deus para o crente, que o vivifica, está na Palavra de Deus que deve ser interiorizada em seu coração (Salmo 119:93). No cristianismo não há a colocação da fé em objetos, mas somente em Jesus Cristo, porque por ele temos paz com Deus (Rom 5.1), porque é pela fé somente nele que temos entrada à graça divina (Rom 5.2), e porque o evangelho da salvação em Jesus Cristo é o poder de Deus (Rom. 1.16), não podendo, portanto, ser substituído por nada deste mundo.
“Nunca me esquecerei dos teus preceitos; pois por eles me tens vivificado.” (Sl. 119:93)
“1 Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; 2 Pelo qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos gloriamos na esperança da glória de Deus.” (Rm. 5:1-2 )
“Porque não me envergonho do evangelho de Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego.” (Rm. 1:16)

No cristianismo autêntico não há rituais de purificação, porque é o sangue do Senhor Jesus Cristo que nos purifica de todo o pecado (l João 1.7). O batismo não é um ritual de purificação, porém um ato simbólico de entrega total a Jesus Cristo pela crença nele como Salvador (Marcos 16.16). Nem mesmo o jejum com as características do Velho Testamento (manifestação de aflição da alma) era praticado pelos discípulos de Cristo (Mt 9.14) e Jesus ensinou que o jejum faz parte do velho pacto, não podendo ser transportado para o novo (Mt 9.16,17). Ninguém consegue encontrar nas páginas do Novo Testamento nenhuma ordem de Jesus ou seus apóstolos para a prática do jejum no sentido penitencial.

“Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado.” (1Jo 1:7)
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado.” (Mt 16:16)
“Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós e os fariseus muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam?”
(Mt 9:14)
“16 Ninguém deita remendo de pano novo em roupa velha, porque semelhante remendo rompe a roupa, e faz-se maior a ruptura. 17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.” (Mt 9:16-17)

Quanto à necrolatria (há igrejas que já estão copiando outras igrejas e promovendo o culto em memória de mortos sete dias depois da morte de alguma pessoa), não há lugar para o totemismo, não há lugar para nenhum animismo porque nada, nem ninguém deve ocupar o lugar de Jesus Cristo; porque as ordenanças de Jesus não podem servir de fetiches, rituais de purificação ou tabus. Móveis e utensílios de lugares reservados ao culto e adoração não podem servir de totens. Não pode haver lugar para o misticismo porque o cristianismo autêntico, a crença em Jesus Cristo como Salvador, aproxima o homem de Deus, faz amar as Escrituras, e faz buscar cada vez mais o conhecimento da sua revelação através da Palavra escrita.

Podemos concluir que, se o animismo é característico de pessoas afastadas de Deus e sem conhecimento da verdade espiritual a respeito dEle e de tudo o que O cerca, e se no movimento carismático mundial há todos os elementos animistas cridos e praticados por qualquer religião primitiva ou pagã; se no cristianismo não há lugar para o animismo,
então a palavra do Senhor Jesus está se cumprindo, porque na realidade continuam sendo muitos os que entram pelo caminho largo e poucos os que encontram a porta estreita; porque o mundo continua amando mais as trevas do que a luz; porque a iniquidade está se multiplicando; porque muitos, mas muitos mesmo, estão sendo enganados pelos falsos profetas. O que está crescendo é o animismo travestido de cristianismo.

Dinelcir de Souza Lima, Pastor da Igreja Batista Memorial de Bangu
Professor nos Seminários Teológicos Baptistas de Niterói e do Sul do Brasil

Copiado da revista Sã Doutrina (altamente recomendada por solascriptura-tt), Jan/Fev 2002.

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