Antes de chegarmos ao céu
O Novo Testamento também chama de paraíso o céu onde Deus habita (2Co 12.4; Lc 23.43). Nesse paraíso encontra-se o monte Sião celestial, a “cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial” (Hb 12.22) e a “árvore da vida” (Ap 2.7). A palavra vida nesse contexto merece nossa atenção, pois o paraíso é lugar da vida por excelência, onde existe “vida em abundância” (veja Jo 10.10). No céu habita a origem e a fonte de toda a vida, que é o próprio Deus vivo.
A Jerusalém celestial
Em Apocalipse 21.1-3 ficamos sabendo que um dia a Jerusalém celestial descerá à terra como “nova Jerusalém”. Essa cidade terá muros, portões de pérolas, pelo menos uma rua, no mínimo um rio, o “rio da água da vida” (Ap 22.1), e “de uma e outra margem do rio” (Ap 22.2) teremos “a árvore da vida, que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês, e as folhas da árvore são para a cura dos povos” (Ap 22.2). Essa formulação permite a conclusão de que a “árvore da vida” não seja uma só árvore, mas um tipo de árvore “celestial” a crescer e florescer às margens do rio da água da vida. Mais uma vez encontramos a ênfase em vida na cidade do Deus vivo.
Nenhuma metrópole de nosso mundo é tão viva e tão pulsante como a cidade do Deus vivo no paraíso. E com sua altura, comprimento e largura de 2.400 quilômetros, será gigantesca, suficientemente espaçosa para todos os salvos de todas as eras (Ap 21.16-17).
Duas expressões curiosas
O apóstolo Paulo usa duas expressões bem curiosas para descrever a “Jerusalém lá de cima” (Gl 4.26), como chama essa cidade incomum. A primeira palavra que Paulo usa é livre. A Jerusalém celestial é uma cidade livre, não escravizada pela Lei, pelo pecado ou por qualquer outra coisa. Só a livre graça de Deus leva uma pessoa a essa “Jerusalém lá de cima”. É o lugar mais livre desta e de todas as dimensões. Todo aquele que chegar lá estará livre, completamente livre!
A segunda palavra é mãe. Ela exprime carinho e proximidade, confiança e aconchego, características que não são necessariamente associadas a uma cidade. Mas a Jerusalém celestial é um lugar de segurança. É o lar da família de Deus. É o lugar onde reina o amor, porque o próprio Deus habita ali.
Se morrermos antes do Arrebatamento, esperaremos pela ressurreição. Mas, ansiamos muito não passar pela morte! Gostaríamos mais de ser levados ao céu pelo Senhor enquanto estivermos vivos! Pergunta: como é o céu até chegarmos lá?
Quem vive no céu?
Nessa cidade celestial vive uma multidão literalmente incontável de anjos e a “universal assembléia” (Hb 12.22) que adora a Deus, o Pai (Ap 4.11) e a Deus, o Filho (Ap 5.12), com voz de numerosa multidão, como de muitas águas e como de fortes trovões (veja Ap 19.6). Anjos são “espíritos ministradores” (Hb 1.14), que ajudam os salvos aqui na terra e observam atentamente a extraordinária ação de Deus com a Igreja (Ef 3.10). Por isso, se você crê em Jesus Cristo, encontrará no céu os anjos que o ajudaram aqui na terra, muitas vezes sem que você soubesse ou percebesse seu agir. Para muitos anjos você será um velho conhecido. Chegando ao céu, você realmente estará chegando em casa!
No céu, todos vão compreender e amar uns aos outros. Ninguém será excluído, ninguém discriminará ninguém. Os habitantes do céu formam uma família grande, harmoniosa e perfeita.
Outro grupo que habita no céu são os “espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12.23). Essa declaração singela contém algumas informações interessantes para os curiosos entre nós:
– Os habitantes humanos do céu são “espíritos”. Eles ainda não ressuscitaram. Ainda não receberam seus corpos glorificados. Ainda estão separados dos seus corpos.
– Os moradores humanos do céu são “aperfeiçoados”. São sem pecado, sem mácula e sem rugas. Chegaram ao alvo. Sua peregrinação chegou ao fim. Não precisam mais ser aprovados. Não precisam mais ser vencedores. Não serão mais provados nem purificados.
– Os habitantes humanos dos céus são “justos”. Merecem esse título porque creram em Deus quando estavam na terra. Seguiram ao Senhor e agora chegaram ao céu como “espíritos justos e aperfeiçoados” (perfeitos no sentido de estarem sem qualquer pecado).
Na Bíblia, tanto os salvos do Antigo Testamento como os da Nova Aliança são chamados de “justos” (Is 26.7; Hc 2.4; Rm 1.17; Rm 5.19). Os justos de todas as eras vivem no céu. Lá você encontrará Adão, Eva, Abel, Noé, Abraão, Sara, Isaque, Rebeca, Jacó, Davi, Ana, Samuel e muitos outros. E todos eles são espíritos justos aperfeiçoados – até o momento em que “cada um, por sua própria ordem” (1 Co 15.23) ressuscitar para a vida em um novo universo.
Isso significa que no céu só habitam pessoas que foram feitas justas e tornadas sem pecado. No céu não há brigas, não há partidarismos, nem preferências, lisonjas ou vanglórias, nem escárnios, nem mal-entendidos, nada de abusos ou exploração. Todos vão compreender e amar uns aos outros. Ninguém será excluído, ninguém discriminará ninguém. Os habitantes do céu formam uma família grande, harmoniosa e perfeita.
O mistério continua
O que significa que os crentes hoje no céu são “espíritos”? Para nós, sobre a terra, isso é e continuará sendo um grande mistério. Um ser humano é uma unidade entre homem interior e homem exterior. Faltando uma das partes, não será uma pessoa completa (veja Gn 2.7; Rm 7.22; 2Co 4.16). As ideias platônicas e entusiastas de que nosso corpo não tem valor algum, e que só o ser interior é que conta, são refutadas com muita veemência pelo apóstolo Paulo em 1 Coríntios 6.13-20. Portanto, chegaremos ao céu sem pecado (“aperfeiçoados”), mas ainda “incompletos” (apenas em “espírito”), até que, finalmente, ressuscitemos e recebamos nossos corpos glorificados (2Co 5.1-4).
Chegando ao céu
O que faremos no céu se morrermos antes da volta de Cristo? Apocalipse 6.11 fala que os mártires devem repousar “ainda por pouco tempo” até que também se complete “o número dos seus conservos e seus irmãos”. Portanto, repousarão até o último salvo chegar ao céu e também receber a vestidura branca. Apocalipse 22.3 diz que seus servos O servirão. Penso que isso será mais tarde, quando todos já estiverem junto de Deus!
O professor em Bíblia René Pache explica que no céu, no presente, a ênfase está claramente em “descanso depois das batalhas aqui na terra”. No momento, o céu é primeiramente um lugar de consolo, de recuperação dos sofrimentos passados aqui na terra. As recompensas ainda não foram distribuídas, Cristo ainda não exerceu Seu julgamento (no Tribunal de Cristo, quando serão julgadas as obras dos salvos, veja Romanos 14.10-12 e 2Co 5.10). Isso somente acontecerá após a ressurreição, quando todos os salvos forem revelados juntamente com o Senhor Jesus e assumirem seus postos de comando onde o Senhor os colocar.
no céu Deus, o Pai, vai enxugar “toda lágrima” do nosso rosto. Deus vai nos consolar e você experimentará a cura de todos os seus traumas.
Certamente uma das atividades centrais no céu consiste no louvor a Deus. Hebreus 12.23 fala da “igreja dos primogênitos arrolados nos céus”. Essa igreja é a reunião dos salvos, que se juntam diante do trono de Deus para adorá-lO, como lemos em Apocalipse 4 a 6. Louvor e adoração desempenham um papel central no céu, pois os vencedores têm toda a razão para agradecer ao seu Senhor por terem chegado seguros à mais bela cidade de todas as dimensões.
Isso também significa que, no céu, nos lembraremos da nossa vida aqui na terra. Se não fosse assim, por que teríamos de ser consolados? Por que precisaríamos de consolo se nem lembrássemos do que Deus nos salvou e livrou? Certamente Deus, por si mesmo, é digno de infinito louvor, mas Ele não tem interesse em que nós esqueçamos o que já fez por nós. E por que seria dito aos mártires de Apocalipse 6.9-11 que “repousem ainda por pouco tempo”, se nem sabem de que canseiras e de quais provações estarão repousando? Essa passagem bíblica nega qualquer ideia de que Deus irá apagar nossa memória. Os mártires conseguirão se lembrar de seus sofrimentos. Recordarão de seu próprio assassinato, certamente uma lembrança traumática. E esses mártires têm sentimentos e desejos, pois clamam por vingança pelas injustiças que sofreram.
À luz da glória e da presença de Deus você também conseguirá entender as piores lembranças; não esqueçamos que no céu estaremos “aperfeiçoados”. Além disso, no céu Deus, o Pai, vai enxugar “toda lágrima” do nosso rosto (Ap 7.17; Ap 21.4). Deus vai nos consolar e você experimentará a cura de todos os seus traumas. Mas o Senhor não vai deletar todas as memórias de sua existência terrena. Se fosse assim, não haveria necessidade de consolo.
A Palavra de Deus confirma: “Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos” (Mt 22.32). Quando você morrer, não começará tudo do zero. Será como disse Richard Sibbes:
Para nós, cristãos, a morte é somente um porteiro carrancudo que nos abre a porta para um majestoso palácio. A morte de um cristão é uma mudança, não o aniquilamento de tudo o que houve antes. A única coisa definitivamente apagada serão os nossos pecados, porque Jesus os carregou sobre a cruz.
Em Lucas 16.9, Jesus Cristo diz em relação às riquezas e aos relacionamentos, que devemos investi-los nas “moradas eternas”. O que fazemos aqui na terra tem reflexos na eternidade, mais do que pensamos. As amizades que fazemos aqui na terra não terminarão no céu. Aquilo que investimos em pessoas aqui no mundo terá reflexos nos relacionamentos que teremos no céu.
Casados no céu?
No céu os casamentos estarão dissolvidos (por razões práticas e teológicas), mas os vínculos surgidos em um casamento não terão findado. Já que no céu não haverá relações sexuais nem pecado (portanto, nem ciúmes, nem inveja), alguém, por exemplo, que casou duas vezes porque o primeiro cônjuge morreu, poderá ter vínculos profundos com seus dois cônjuges.
Isso pode soar um pouco estranho aqui para nós, mas no céu não haverá tratamento desigual nem prejudicial a ninguém. O comportamento do Senhor Jesus aqui na terra, sem pecado algum, pode nos fornecer alguma ideia de como poderiam ser os relacionamentos no céu. Mesmo que o Senhor Jesus tenha amado a todas as pessoas com o mesmo e profundo amor, teve um relacionamento mais próximo com os doze apóstolos; e com os três discípulos mais chegados o vínculo era ainda mais íntimo. Havia inclusive mulheres que tinham um relacionamento mais próximo com Jesus do que outras discípulas, e nosso Senhor certamente não foi adúltero ou imoral! Amizades mais chegadas ou relacionamentos mais íntimos não são manifestação de pecado.
Nosso lar
Se você é um filho de Deus, o céu é seu lar. Lá você tem sua cidadania. Lá você tem todos os direitos e privilégios. Lá seu nome é conhecido, lá você é amado, lá você é esperado, lá está seu povo (Fp 3.20). Você é um concidadão dos santos (Ef 2.19). No céu você estará em casa com o próprio Deus. E isto certamente será o melhor de tudo: a comunhão com o Deus vivo! Será assim como os filhos de Coré ansiavam no Salmo 42.2: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?”. Não há nada mais belo do que a reluzente, brilhante, pura e três vezes santa glória divina (Ap 4). Nos céus, Deus é o maior bem de todos!
Jesus Cristo disse: “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3). Em outras palavras, o mais belo, mais glorioso e mais precioso é conhecer a Deus, o Pai, e a Jesus Cristo, Seu Filho – isso é o céu! Um céu sem Jesus não seria céu. O pregador inglês Charles Spurgeon declarou:
Oh!, pensar num céu sem Cristo! Seria o mesmo que pensar no inferno. Céu sem Cristo! É o dia sem sol, a existência sem vida, o banquete sem comida, é ver sem luz. Isso é uma contradição em si mesma. Céu sem Cristo! Absurdo. Seria o mar sem água, a terra sem campos, o céu sem suas estrelas. Não pode haver céu sem Cristo. Ele é a soma de todas as bem-aventuranças, a fonte de onde jorra o céu, o elemento de que é formado o céu. Cristo é o céu e o céu é Cristo.
Se você não tem apreço pela pessoa de Jesus, também não gostará do céu. Se você hoje, aqui e agora, já quiser ter um gostinho do céu, busque mais comunhão com Deus, seu Pai, e com Jesus Cristo, seu Senhor. Ore com o mesmo desejo de Davi: “Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo” (Sl 27.4).
Busque as coisas lá do alto (Cl 3.1-4). Viva conscientemente com o Senhor Jesus e para Ele. Busque ativamente, em oração e no estudo da Sua Palavra, a presença de seu Deus e o trono da Sua graça. Então sua alma encontrará sossego e tranquilidade, profunda alegria e paz duradoura, pois, como já dizia o salmista, “um dia nos teus átrios vale mais do que mil; prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade” (Sl 84.10). “Maranata! Amém! Vem, Senhor Jesus!”. René Malgo
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