Nós vivemos num mundo que chora e geme, que chora e range os dentes. E a cada dia que passa o mundo tem mergulhado em mais lágrimas e dores.
Muito embora a involução, a regressão, a bestialização do ser humano possa ser fundamento e origem para dezenas de texto reflexivos, gostaria de centrar a minha (e a sua) atenção num problema que tem atingido proporções epidêmicas: a solidão.
Cada vez mais as pessoas tem se fechado em torno de si mesmas, com conseqüências desastrosas, destrutivas, mortíferas. Isto é visível e inegável. Os efeitos são claros e conhecidos. Por isso gostaria de discorrer sobre as causas e a cura da solidão.
As pessoas do mundo (inclusive aquelas que vieram para a Igreja) são naturalmente egoístas, mesquinhas e egocêntricas. E querem ser servidas, queridas, amadas, desejadas, exaltadas. Mas não querem servir, amar, desejar e exaltar outras pessoas. Aliás, normalmente nem sequer se importam com outras pessoas, preocupadas demais consigo mesmas, em satisfazer os próprios caprichos, envoltos em seus próprios problemas. Algumas vezes, por absoluta falta de amor: são indiferentes às necessidades alheias. Mesmo que possam ajudar, não o fazem por absoluta falta de vontade. Ou coragem, porque muitas vezes temos medo de ajudar outras pessoas. Medo de sermos explorados, de não recebermos a recompensa que julgamos justa, certa e natural.
A sociedade reforça a nossa mesquinharia e egocentrismo: ganhar, e ganhar sempre. Não fazer absolutamente nada de graça. Cobrar por absolutamente tudo. Associamos a perda ao fracasso. E o lucro ao sucesso. O sucesso, por sua vez, é (erradamente) associado à felicidade. "Felizes", pensamos, "são aqueles que são um sucesso". De longe se vê que nem sequer sabemos o que é felicidade. E procuramos por ela tateando no escuro... E enquanto não a encontramos, amargamos e nos amarguramos com as (nefastas) conseqüências de nossos atos.
As pessoas tem medo de abrirem suas defesas. Medo de serem controladas, manipuladas. Medo de perderem mais do que se disporiam a dar. Você já ouviu a expressão: "a gente dá um dedo, e querem a mão"? Pois é. Por aí vai...
Uma vez eu li uma frase que é atribuída a um ganhador de Prêmio Nobel:"nós deveríamos ter duas vidas: uma para aprender a viver, e outra para efetivamente viver". Infelizmente, ainda que os adeptos da teoria da Reencarnação insistam que as almas possam ir e voltar num constante processo de aperfeiçoamento, os fatos depõem contra esta teoria, porque o mundo tem mudado sim, mas pra pior...
A solidão é o resultado, a conseqüência da excessiva preocupação da pessoa consigo mesma.
É uma ironia, um sarcasmo, um paradoxo da existência humana: quanto mais nos preocupamos conosco mesmo, mais infelizes seremos.
O resultado de tudo isto é que temos uma sociedade enferma, deprimida, e... solitária. Buscando desesperadamente essa alguma coisa chamada "felicidade"na satisfação de seus próprios caprichos e desejos, na realização de seus sonhos... Mas, uma grande frustração ataca as pessoas que conseguem realizar seus sonhos, ou a quem consegue satisfazer seus caprichos e desejos. A Bíblia conta um caso desses em II Samuel capitulo 13.
Existe uma coisa chamada "lei da semeadura, que está ao longo de toda Bíblia. Só as coisas ruins e tristes são colhidas sem que haja semeadura, porque a erva má não precisa ser plantada, e cresce em qualquer lugar...
O que é bom precisa ser plantado, cuidado, regado para que possamos colher. O que é ruim, a gente colhe sem plantar... É o caso da solidão. Se você não fizer nada contra ela, ela vem e se instala dentro de você.
Precisa lutar contra isto. E não basta ter muitos companheiros de farra e festas para que a gente deixe de ser solitário.
Solitárias são aquelas pessoas que não conseguem se dar e nem se doar. Tudo que fazem, o fazem para si mesmas. E somente fazem o que lhe dará um retorno, uma volta, um troco (Mt.6). E jamais fazem algo sem que isto lhes dê lucro. Pensar "o que é que vou ganhar com isto?" é uma receita infalível para ser acometido pela solidão.
Você já reparou como a maioria absoluta das pessoas que conhecemos, os programas da TV, as propagandas, os filmes e as novelas, as conversas das rodas sociais sempre giram em torno do próprio prazer, da própria diversão?
Nunca (ou quase nunca) tais conversas giram em torno da satisfação, do alívio, da alegria, da felicidade que podemos proporcionar a outras pessoas. É a viagem de férias, a festa tal, o carro novo, e tudo o mais que gira em torno de si mesmo.
A sociedade moderna é altamente egocêntrica, individualista: somos treinados, induzidos, dirigidos a não nos preocuparmos senão conosco mesmo. A pensar que sempre haverão outras pessoas mais preparadas, mais santas, mais abençoadas para fazerem a obra de Deus. Somos ensinados, preparados, induzidos a sermos imediatistas: o retorno tem que ser já, agora. Queremos as coisas prontas e acabadas; como nas prateleiras de um supermercado. E assim nós não nos dispomos a semear e esperar a colheita. Um ciclo vicioso, maldito e destrutivo se forma: esperamos a colheita do que não semeamos; não semeamos porque não queremos nos dispor das boas sementes (tempo, carinho, atenção, dinheiro, companhia, sacrifício, amor); e também porque não queremos esperar o tempo que a colheita exige. E como conseqüência nós, cada vez mais, nos fechamos em torno de nós mesmos...
Bom, detectada está a origem da solidão. Assim, passemos à segunda parte do presente estudo: a cura.
É importante que se coloque que você tem todo o direito de discordar de minhas colocações. O que está aqui não pretende esgotar a discussão. Mas é apenas o modo como eu vejo as coisas. Deus me perdoe se estiver errado.
Não existe uma formula infalível, uma receita mágica e instantânea para a cura. Mas posso afirmar com absoluta certeza de que isto depende da disposição interior de cada um em querer quebrar o ciclo vicioso que envolve todos nós. Isto é, temos que começar a deixar de nos preocuparmos tanto conosco mesmos, e começar a nos preocupar com as pessoas que estão à nossa volta. É necessário que um sentimento de compartilhamento, de doação, de envolvimento, de engajamento, de desprendimento com as coisas materiais tome conta de nós. Temos que estar dispostos a começar a servir, sem esperar retorno. Temos que permitir que o sentimento de felicidade tome conta de nós pelo simples fato de estarmos fazendo outras pessoas felizes. E não o sentimento de frustração porque essas pessoas não nos agradecem, nem nos exaltam pelo que fizemos.
Temos que nos colocar à disposição para dar um pouco de alívio ao sofrimento alheio. E isto com nossas palavras, nosso dinheiro, nosso trabalho. Muitas vezes apenas com a nossa companhia, uma palavra de conforto ou de consolo.
Solitários são aqueles que agem como se fossem poços com um pouco de água lá no fundo. Felizes são aqueles que agem como se fossem nascentes, fontes de água que estão sempre a jorrar água que sacia a sede e dá vida à terra. Estão sempre a proporcionar e transmitir vida, alegria, conforto, alívio ao sofrimento humano.
Os mais conservadores vão ter que me perdoar, mas vou me utilizar de uma figura da filosofia oriental para transmitir a exata proporção do que quero transmitir. Conta-se que um jovem perguntou a um sábio o que era o céu. E ele respondeu que era um lugar onde as pessoas estavam separadas do arroz por um lago cheio de animais ferozes, enormes e vorazes. O arroz estava numa ilhota no centro desse lago. E as pessoas se utilizavam de longos pauzinhos para alcançar o arroz, e o colocavam na boca uns dos outros. E assim todos ficavam fartos.
Então o jovem perguntou o que era o inferno. E o sábio respondeu que era também um lugar onde as pessoas estavam separadas do arroz por um lago cheio de animais enormes, ferozes e vorazes. E as pessoas se utilizavam de longos pauzinhos para alcançar o arroz que buscavam colocar na própria boca. E não conseguiam. O arroz caia no lago, e todos padeciam fome.
Jamais seremos felizes sozinhos. A nossa felicidade depende da felicidade dos que convivem conosco. Somos felizes à medida em que são felizes aqueles que convivem conosco.
Seremos felizes quando deixarmos de buscá-la somente para nós e a buscarmos para outros. Ela nos encontrará quando e enquanto estivermos servindo a Igreja, aos irmãos, ao Senhor Jesus.
Ela nos encontrará quando deixarmos de nos preocuparmos unicamente com a nossa própria mesquinharia, nosso próprio egocentrismo, nosso próprio prazer e diversão.
Os apóstolos de Cristo foram apedrejados, serrados ao meio; morreram ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, necessitados, aflitos e maltratados (Heb.11), mas não se ouviu queixa de suas bocas. Porque eram felizes.
Libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça (Rom 6:18) Takayoshi Katagiri
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