Em fevereiro de 2008, eu publiquei um comentário sobre o discurso do Senador Cristovam Buarque entitulado: País Ameaçado. Na ocasião o ex-Ministro fazia um Raio-x da situação educacional brasileira e dizia que o Brasil sofreria a invasão de 72 milhões de pessoas que por não possuir nem o ensino fundamental poderiam engrossar nos anos seguintes as estatísticas de violência, corrupção, baixa produtividade e falta de capacidade para criar capital/conhecimento. Ele dizia tudo isto com base nas estatísticas eleitorais de 2008. O que mudou de lá para cá? É esta a nossa proposta de análise. Vou começar apresentando um quadro comparativo de instrução entre o Brasil e Estados Unidos. As bases de comparação são as seguintes: No Brasil, a base é a estatística eleitoral de 2014 do TSE. A base dos Estados Unidos é de 2013, população com 18 anos para cima, publicada pelo census.gov, o ibge americano. Na minha opinião as bases são aceitáveis para uma comparação de índices. Tabela de João Cruzué .
Vamos iniciar, comparando o déficit de instrução dos dois países. Enquanto nos EUA há 61,71% de pessoas que ainda não possuem graduação superior, no Brasil este índice chega a 94,37%. A tradução disso fica mais fácil assim: para cada 100 americanos, 38 possuem graduação superior. No Brasil há somente 6 brasileiros graduados em cada 100. Uma vergonha! A primeira Universidade brasileira, a Universidade Federal do Paraná foi instituída em 1912,ou seja 412 anos depois do descobrimento do Brasil. Harvard, a primeira faculdade americana foi fundada em 1636, passando a ser chamada de Universidade em 1780. Em 25 de junho de 2014 foi aprovado o novo Plano Nacional de Educação do Brasil, com vigência até 2024. Segundo o Senador Buarque, o Brasil já está gastando 300 bilhões de reais por ano na Educação. Nesta toada, em 10 anos serão despejados no ensino nacional 3 trilhões de reais. A julgar pelos índices do IDEB de 2013, recém divulgados pelo INEP, o país corre o sério risco de ficar estagnado ou mesmo regredir na avaliação dos próximos 10 anos, mesmo despejando 3 trilhões de reais na educação. Há vários fatores que contribuem para isto. Por exemplo, o magistério do ensino básico é um profissão que ganha um dos menores salários. Em países que se primam por uma educação de alta qualidade (Coreia do Sul, Finlândia) o cargo de professor é cobiçado porque alcança uma das melhores remunerações. Por outro lado, para pertencer ao magistérios nestes dois países, a disputa é acirrada. Somente os que concluem sua graduação entre os 10% melhores são recrutados para o magistério na Finlândia, enquanto que na Coreia do Sul a exigência é ainda maior: entre os 5% melhores. Alta remuneração, para alta qualificação. Para melhorar o ensino básico no Brasil é preciso contrariar grandes interesses corporativos: os sindicatos de professores, por exemplo. Se hoje fosse decidido que o recrutamento de professores seguisse um padrão "Finlândia" por exemplo, o edital do concurso seria declarado nulo. E se fosse melhorar o salário do professor subindo para 10 mil reais por mês, com base na qualidade de sua formação, os sindicados iriam exigir o mesmo salário para todos, independentemente de formação, graduação ou performance. Enquanto isso acontece aqui, o mundo lá fora estuda e fala no mínimo duas línguas: a nativa e o inglês. Desse jeito, sem agregar conhecimento científico à mão de obra, vamos continuar vendendo uma tonelada de minério de ferro por R$ 194 reais e comprando um kg de computador por R$ 500 reais. O mais curioso de tudo isto é que há mais de 130 anos, Rui Barbosa foi convidado pelo Imperador Dom Pedro II para uma reunião no Palácio. O jovem Rui, militante do Partido Liberal, escrevera o Primeiro Plano Educacional brasileiro, trazia tudo anotado e comentado. Mesmo sendo da oposição, impressionou sua Alteza Real, que em pouco tempo mandou condecorá-lo com o título de Conselheiro do Império. Sabe qual era o argumento de Barbosa para criação de um curso secundário voltado para o ensino técnico industrial? Que embora os Estados Unidos fossem um país agrícola, lá havia escola para capacitar os moços americanos para processar os alimentos produzidos com a finalidade de agregar-lhes valor. Com isto, em lugar de vender o produto in natura a preço baixo, vende-lo-ia já processado e mais caro. Infelizmente, hoje, em pleno século XXI ainda estamos vendendo comodities (soja, café, carne e minério de ferro) e importando produtos industrializados - inclusive, 891 mil toneladas de gasolina no último semestre deste ano. Isto com certeza é resultado de termos apenas 6 brasileiros em cada 100, com diploma de nível superior. O outro dado é o recrudescimento da violência, previsto pelo Senador Buarque. João Cruzué http://confeitariacrista.blogspot.com.br/ |
domingo, 21 de setembro de 2014
A Educação do Brasil depois de 500 anos
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