sábado, 7 de setembro de 2013

O Profeta Isaías e sua adoração a Deus

“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e o seu séquito enchia o templo. Os serafins estavam acima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobriam o rosto, e com duas cobriam os pés, e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. E os umbrais das portas se moveram com a voz do que clamava, e a casa se encheu de fumaça. Então, disse eu: ai de mim, que vou perecendo! Porque eu sou um homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is. 6,1-5).

O texto nos leva para a intimidade do notável profeta Isaías, contemporâneo dos profetas Jonas, Amós, Oséias e Miquéias e reconhecido como o mais messiânico de todos os profetas. De sua experiência registrada neste capítulo, encontramos elementos extraordinários deste que é segundo nosso catecismo, a razão maior de nossa existência – a glória de Deus.

ADORAR É TER UMA VISÃO DO SENHOR NA HISTÓRIA

Isaias viu dois reis: 1º Uzias (v.1) – 52 anos de reinado, grande edificador de cidades, amigo da agricultura, possuidor de notória sabedoria, porém estava morto; 2º Deus (v.1 "assentado num alto e sublime trono") – Senhor altamente, sublimemente, inigualavelmente e definitivamente entronizado!

Isaías viu dois guerreiros: 1º Uzias – criou uma indústria bélica de ponta, formou um exército de 307.500 homens, foi vencedor de grandes guerras, porém estava morto; 1ºDeus (v.1,5 "eu vi o Senhor... meus olhos viram o Senhor dos Exércitos") – insuperável, invencível, audacioso, corajoso, poderoso, imortal!

Isaías viu dois palácios: 1º Uzias – glória fugaz, construiu fama de conquistador, mas morreu solitário, leproso e fora do palácio! 1º Deus (v. 1 "as abas de suas vestes enchiam o templo" v. 3b "toda a terra está cheia da sua glória") – glória definitiva que se manifestava no trono eterno e se expandia por toda os limites da terra.

Isaías viu dois carácteres: 1º Uzias – um homem que não soube conviver com o seu sucesso e nem respeitar os limites de sua função real, usurpando inadvertidamente responsabilidades restritas ao sacerdote Azarias (II Crôn 26,16-23); 1º Deus – (v.2-3 "serafins estavam por cima dele, cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com duas cobria os seus pés e com duas voava e clamavam uns aos outros: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos"). Diante de Deus os serafins: se dedicavam prioritariamente à adoração (4 asas para cobrir e apenas duas para voar), falavam espontaneamente sobre o Seu caráter – "santo...", inteiramente outro, perfeito, singular, sem qualquer parâmetro humano.

O resultado imediato desta visão pessoal e contextual do Senhor foi uma profunda consciência da Sua presença: v. 4 "as bases do limiar se moveram à voz do que clamava e a casa se encheu de fumaça" (v. 4). Aprendemos assim que adoração não é alienação histórica, não é um rito religioso, não é um êxtase emocional, mas uma percepção íntima, profunda, crescente e constante de quem Deus é e de como Ele age na história.

ADORAR É TER UMA VISÃO DE NÓS MESMOS NA HISTÓRIA

"Então" – a visão do Senhor trouxe profundas transformações na visão que Isaías tinha de si mesmo: "ai de mim" – a luz da santidade divina irrompeu sobre o seu coração e revelou a grandeza de sua pecaminosidade; "estou perdido" – seu pecado o colocava numa condição de condenado e da qual não podia sair por suas próprias forças (Rom 3:23); "sou um homem de impuros lábios" – naquela que era a sua maior eficiência, ser como profeta a boca de Deus para o mundo, residia a sua maior ineficiência; "habito no meio de um povo de impuros lábios" – a impureza era uma marca notória na vida do povo como ele já denunciara nos capítulo 5 (v.8 – má distribuição de renda; v.11 – orgias; v.18, 23 – injustiça; v.20 – falta de absolutos; v. 30b – escuridão total).

Aprendemos assim que adoração genuína é aquela que resulta num diagnóstico exato de quem nós somos. Quem realmente vê o Senhor sai de Sua presença com a sensação profunda de que não vale absolutamente nada e de que, a não ser por Sua graça em Cristo, não pode em momento algum desfrutar de Sua presença santa!

ADORAR É FAZER DIFERENÇA NA HISTÓRIA

"Então" (v. 6) – da percepção de quem Deus era e de quem ele era, Isaías percebeu quem ele poderia ser: v. 6 "um dos serafins voou para mim, trazendo na mão uma brasa viva que tirara do altar com uma tenaz" – ele não poderia cumprir seu papel na história se não viesse do altar do Senhor da história uma graça aperfeiçoadora pessoal, particular, exclusiva, única; v. 7 ". com a brasa tocou a minha boca" – não era um devaneio ou alucinação, ele experimentou um genuíno e poderoso toque no foco da sua maior fragilidade – a boca; v. 7 "e disse: eis que ela tocou os teus lábios, a tua iniquidade foi tirada, e perdoado foi o teu pecado" – Deus selou com Sua palavra através do anjo aquilo que já fizera diretamente com o toque, Isaías agora teve plena consciência de que estava purificado, libertado, perdoado e renovado; v. 8"Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: a quem enviarei, quem há de ir por nós? Disse eu, eis-me aqui, envia-me a mim" – Isaias ouviu a declaração de perdão e a declaração de missão: Deus afirmou-lhe seu propósito eterno de enviar Seus representantes, homens conectados com o Seu altar e conectados com o seu povo, conscientes de que tinham uma responsabilidade pessoal inadiável na transformação da história, homens forjados na intimidade da adoração prontos para cumprirem os grandes desafios da missão – tornar Deus conhecido e amado.

Aprendemos assim que adoração é um processo contínuo que nos leva do mundo para o altar, onde conhecemos quem de fato dirige a história, e do altar para o mundo, onde fazemos diferença positiva na história cumprindo nela os desígnios do Senhor.


Somos chamados a ver O SENHOR NA HISTÓRIA – separando diariamente e disciplinadamente um tempo de qualidade para estar na Sua presença em adoração sincera; ver A NÓS MESMOS NA HISTÓRIA – admitindo nossas fragilidades e as fragilidades daqueles que estão à nossa volta; A ASSUMIRMOS O PAPEL NA HISTÓRIA QUE DEUS TEM DETERMINADO PARA NÓS (v. 8 "a quem enviarei e quem há de ir por nós? Disse eu – eis-me aqui, envia-me a mim") – discernindo que o Senhor da história nos confere uma missão pessoal, que envolve deslocamento e relacionamento.

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