quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Nossa Pátria é o Céu!

No terceiro céu está a pátria celestial, o destino final de todos os filhos de Deus. Com ajuda do último livro da Bíblia, o Apocalipse, participe comigo de uma visita guiada pelo templo celestial, a “casa do Pai”.

Você já esteve no terceiro céu? A Bíblia fala de vários céus, a começar pela atmosfera, que vemos como céu azul. O segundo céu é o cosmo, o espaço sideral, o céu astral. Durante a inauguração do templo de Salomão, o sábio rei disse: “Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que o céu, e até o céu dos céus, não te podem conter; quanto menos esta casa que edifiquei!” (1Rs. 8.27). Aqui se faz diferenciação entre os céus (em hebraico: shamayim) e o céu dos céus (em hebraico: shemey hashamayim). O céu azul e o espaço sideral não podem conter a Deus. Deus está presente em toda a criação, sendo, portanto, imanente, mas também é transcendente, pois o mundo presente não pode contê-lo.

A Bíblia ainda conhece um terceiro céu. Em 2 Coríntios 12.2-4, Paulo explica que foi arrebatado ao Paraíso, também chamado por ele de “terceiro céu”. Muitos já estiveram no primeiro céu, mas provavelmente nenhum dos leitores esteve no segundo. Essa possibilidade é muito recente na história da humanidade. Em 1961, o cosmonauta russo Yuri Gagarin foi o primeiro ser humano a chegar ao segundo céu, a bordo da “Vostok I”. Depois da sua volta, ele relatou: “Estive no céu, mas não vi a Deus”. Nem poderia, pois ele esteve apenas no segundo céu. A moradia de Deus é no terceiro céu; e, aliás, como alguém poderia vê-lo com o coração impuro? No Sermão do Monte, o Senhor Jesus disse: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” (Mt 5.8). Esse é um problema para todos nós, pois temos corações impuros. Por isso, por natureza não temos direito ao terceiro céu.

A pátria celestial

A Bíblia fala sobre a Jerusalém celestial, o Monte Sião e a pátria celestial: “Mas a Jerusalém que é de cima é livre; a qual é nossa mãe” (Gl 4.26). Fala-se aqui de uma cidade real no terceiro céu. Hebreus 11.10 diz sobre Abraão: “...porque esperava a cidade que tem os fundamentos, da qual o arquiteto e edificador é Deus”. No versículo 16, o autor fala dos patriarcas: “Mas agora desejam uma pátria melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha deles, de ser chamado seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade”. Temos aqui o segundo termo: a pátria melhor, a pátria celestial. Em Hebreus 12.22, o autor da carta aos judeus crentes diz: “...mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos”. Este Monte Sião celestial, a Jerusalém celestial, tem grande significado para o cristianismo. A carta aos Hebreus dirige-se a cristãos judeus, mas também o Apocalipse fala da “nova Jerusalém” (no capítulo 21) como uma descrição simbólica da Igreja de Deus. Em Apocalipse 21.2,9ss. é explicado ao apóstolo João que a nova Jerusalém é a noiva do Cordeiro, a Igreja de Jesus. Mas a “Jerusalém celestial”, de que falam as cartas aos Gálatas e aos Hebreus, é uma cidade real no céu, um símbolo da Igreja. Por isso, a descrição da nova Jerusalém no Apocalipse não tem um significado puramente simbólico. O arquétipo da Igreja como a nova Jerusalém é essa cidade celestial. A descrição simbólica no Apocalipse está relacionada à construção concreta da nova Jerusalém.

O templo no céu

Em Apocalipse 11.19 a Bíblia fala explicitamente de um templo no céu: “Abriu-se o santuário de Deus que está no céu...”. No Seu discurso de despedida, na véspera da crucificação, o Senhor Jesus chamou esse templo celestial de “casa do meu Pai” (Jo 14.2). A expressão aparece mais uma vez na Bíblia, em João 2. Mas ali o Senhor Jesus trata do templo em Jerusalém. Em João 14, a expressão refere-se a uma realidade celestial, o templo no céu como arquétipo da construção na terra. O templo em Jerusalém era uma cópia terrena, e a Igreja de Jesus é, finalmente, o cumprimento do símbolo. Isso vale tanto para o templo quanto para a cidade. O Senhor Jesus fala a respeito em João 14.2-3: “Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar. E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”. Essas moradas na casa do Pai estão no templo celestial, pois são, de certa forma, moradas de sacerdotes, que no templo em Jerusalém ficavam abrigados junto à “Casa da Lareira”, bem próxima do Santo dos Santos.

Em Apocalipse 6.9-11, os mortos por causa da Palavra estão junto ao altar no céu. Entendemos que as almas dos mortos estão no templo celestial, e assim é possível compreender muito melhor algumas coisas. Em Lucas 23, Jesus diz ao ladrão na cruz: “Hoje estarás comigo no paraíso”. Onde era esse paraíso? No terceiro céu, no local do templo celestial, da cidade celestial e da pátria celestial. Qual é o livro que nos dá as melhores informações sobre o céu? Em nenhum outro encontramos tantas quanto no último livro da Bíblia. Por quê? O Apocalipse nos mostra para onde estamos indo. O primeiro livro da Bíblia (Gênesis) nos mostra de onde viemos, e o último, para onde vamos. Nunca conseguiríamos descobrir isso por nós mesmos. Não há métodos científicos que nos ajudem a descobrir como o mundo se formou. Não temos como voltar ao início. Também não há métodos que nos permitam ir para o futuro, a fim de vermos o que está pela frente. Precisamos da revelação divina sobre essas questões básicas.

Uma visita ao templo celestial

Em Apocalipse 4.1, João vê primeiro uma porta aberta no céu. Essa porta não estava se abrindo naquele momento, ela já estava aberta. Em Ezequiel 1, o profeta vê o céu se abrindo diante de seus olhos. São duas situações diferentes. No Apocalipse, o céu já está aberto, pois estamos na época depois do Gólgota: “O céu está aberto, coração, sabes por quê? Porque Jesus lutou e sangrou – por isto!”


João entrou no céu e ouviu uma voz como de trombeta, ou seja, de um shofar, que também será ouvida por ocasião do Arrebatamento (veja 1Ts 4), quando o Senhor descerá com a trombeta de Deus.

Lidamos com um céu aberto! Quando João entra no céu, ele vê o Cordeiro de Deus: “Nisto vi, entre o trono e os quatro seres viventes, no meio dos anciãos, um Cordeiro em pé, como havendo sido morto” (Ap 5.6). Só que esse Cordeiro imolado está vivo. É o Senhor Jesus no céu, e nós ainda veremos as marcas da cruz nEle – no Seu lado, em Suas mãos e em Seus pés. Mas o contexto é grandioso – o céu aberto e o Cordeiro que foi morto! No Talmude Babilônico o tratado Tamid 30b fala sobre a abertura matutina da porta de Nicanor. Essa majestosa porta, que levava do átrio das mulheres ao acampamento da Shekinah (a glória de Deus), era tão pesada que só podia ser aberta pelo esforço conjunto de vários sacerdotes. Essa porta abria-se no momento em que o sacrifício matinal era imolado por volta das seis horas. Também o acesso ao céu só é possível porque o Senhor Jesus, o Cordeiro de Deus, foi morto por nós. João entrou no céu e ouviu uma voz como de trombeta, ou seja, de um shofar, que também será ouvida por ocasião do Arrebatamento (veja 1Ts 4), quando o Senhor descerá com a trombeta de Deus. De acordo com 1 Coríntios 15.51ss, essa é a última trombeta. O exército romano tinha três trombetas. A primeira significava: “Levantar acampamento!” A segunda trombeta comandava: “Em forma!” A terceira e última trombeta era o sinal para marchar. A voz como de trombeta que João escutou dizia: “Sobe aqui”, e ela corresponde ao chamado do Arrebatamento, da última trombeta. O sinal para a marcha não está relacionado às sete trombetas do juízo, que só soarão mais tarde.

O altar do holocausto e seu serviço

O apóstolo João entrou diretamente no Santo dos Santos, o coração do céu. Mas faremos nossa viagem pela ordem, começando no átrio dos sacerdotes, o “acampamento da Shekinah”, como diz a literatura rabínica. É lá que está o altar do holocausto: “Quando [o Cordeiro] abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que deram. E clamaram com grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano, santo e verdadeiro, não julgas e vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? E foram dadas a cada um deles compridas vestes brancas e foi-lhes dito que repousassem ainda por um pouco de tempo, até que se completasse o número de seus conservos, que haviam de ser mortos, como também eles o foram” (Ap 6.9-11). João vê no céu o Cordeiro de Deus, que é digno de abrir o Livro de Deus, selado com sete selos.

Não devemos nos esquecer que os acontecimentos no céu acontecem simultaneamente com o terrível juízo futuro sobre o mundo. O Apocalipse descreve a guerra do templo celestial contra uma humanidade afundada no pântano do pecado. Esse livro bíblico relata uma guerra de Deus contra o mal, a guerra do santuário celestial contra a humanidade que rejeitou o sacrifício de Cristo. O templo no céu é essencialmente o local da reconciliação e do sacrifício vicário. Mas quando a humanidade rejeita esse sacrifício, vem o juízo, e assim tudo no céu que se refere a salvação e reconciliação se transformará em maldição para os habitantes da terra.

Lemos que João viu o altar do holocausto no céu, e as almas ao pé dele. O sangue é a essência da vida, pois Levítico 17.14 diz: “Porque a vida da carne está no sangue”. Na época do Segundo Templo, o sangue dos animais sacrificados era derramado ao pé do altar, para dentro de duas cavidades especiais, que ficavam perto do canto sudoeste. É justamente nesse ponto que João vê as almas dos mortos – no local para onde corria o sangue dos holocaustos. Essas almas estão plenamente conscientes, apesar de se tratar de mártires no céu. Elas podem falar, e falam de vingança. É óbvio que já estamos na época posterior ao Arrebatamento. Hoje ainda vivemos na época da graça, mas depois do Arrebatamento vem a época do juízo, e então esses mártires exigirão vingança. João vê-os junto ao altar, e eles recebem vestimentas sacerdotais, porque ainda precisam esperar algum tempo. Essas almas são de pessoas que, depois do Arrebatamento, estavam dispostas a entregar tudo em favor do Senhor Jesus, inclusive de sofrer o martírio. Mas o que esses fatos celestiais têm para nos ensinar? O altar mostra que o Senhor Jesus entregou tudo por nós. As almas ao pé do altar são, portanto, as pessoas que dizem: “Se nosso Redentor pode dar tudo, nós também estamos dispostos a entregar tudo”. Mesmo que sejamos poupados do martírio, deveria valer para nós o lema de 2 Coríntios 5: “Pois o amor de Cristo nos constrange, porque julgamos assim: se um morreu por todos, logo todos morreram; e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (vv.14-15). Não vivemos mais para nós mesmos, mas para Cristo! O altar no céu demonstra que o Senhor Jesus se dispôs a entregar tudo em sacrifício.


No fim das contas, o judaísmo é totalmente “cristão”, já que o seu templo é uma cópia do original do céu, o lar dos cristãos (Fp 3.20).

O Apocalipse também menciona sete taças de ouro em conexão com o altar. Tratam-se dos cálices usados no templo durante os sacrifícios. Esses cálices terminavam em forma de ponta na parte inferior, pois os sacerdotes não podiam depositá-los em lugar nenhum. Eles tinham de coletar o sangue nas taças e levá-lo ao altar. Esse sangue não podia ser depositado, e por isso as taças tinham este formato peculiar. Mas o que acontece em Apocalipse 16 em relação a essas sete taças? “O segundo anjo derramou a sua taça no mar, que se tornou em sangue como de um morto, e morreu todo ser vivente que estava no mar. O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes das águas, e se tornaram em sangue” (vv.3-4). As taças do sacrifício, que na verdade tratavam de reconciliação, transformam-se em juízo para o mundo! Vale aqui novamente o princípio: quando alguém não aceita, ou até mesmo rejeita o sacrifício de Jesus, só resta a essa pessoa tornar-se ela mesma um holocausto.

Quando o Apocalipse fala das sete trombetas, a linguagem usada também estabelece uma relação com o altar, pois diariamente eram tocadas sete trombetas durante os holocaustos matutinos e vespertinos. Isso também é relatado no Talmude Babilônico, no tratado Sucá 53b. As sete trombetas estão ligadas ao sacrifício vicário no templo, mas no Apocalipse tornam-se sinais do juízo para aqueles que não quiseram aceitar esse sacrifício. Quando lemos os textos do Apocalipse sob esse ângulo, obtemos um perfil bem diferente. Em última instância, vemos que o Apocalipse é um “livro do templo”, já que o templo caracteriza o céu. Disso também podemos concluir que o céu é muito “judaico”. Provavelmente, esse fato surpreenderá muitos cristãos na sua chegada ao céu. Mas também podemos dizê-lo de outra forma: no fim das contas, o judaísmo é totalmente “cristão”, já que o seu templo é uma cópia do original do céu, o lar dos cristãos (Fp 3.20).

A pia e o canto dos levitas

Em nossa caminhada pelo terceiro céu chegamos agora à pia: “E vi como que um mar de vidro misturado com fogo; e os que tinham vencido a besta e a sua imagem e o número do seu nome estavam em pé junto ao mar de vidro, e tinham harpas de Deus. E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos. Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Pois só tu és santo; por isso todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos” (Ap 15.2-4). Não existe oceano no templo celestial. Em 1 Reis 7.23, a palavra “mar” designa o “mar de bronze”, a grande pia no átrio do templo. O hebraico rabínico usa essa expressão também para um recipiente coletor, por exemplo, para farinha. Aqui o mar designa a pia. Mas por que se fala de um “mar de vidro, misturado com fogo”? Tanto no tabernáculo quanto no Templo de Salomão a pia era de bronze, uma liga de cobre. Quando o bronze era especialmente bem trabalhado, ele ficava parecido com um espelho. Na época de Moisés as mulheres entregaram seus espelhos de bronze para que a pia fosse confeccionada a partir deles (Êx 38.8). O arquétipo celestial dessa pia é tão perfeito que parece de vidro. “Misturado com fogo” – o que significa isso? Quando a luz celestial é refletida no bronze finamente trabalhado dessa pia, surge um jogo de luzes e sombras que lembra labaredas de fogo.

Junto à pia diante do templo João vê Aquele que derrotou a besta, o ditador vindouro, a sua imagem e o número do seu nome, isto é, a idolatria na qual a humanidade será jogada pelo Anticristo. Depois do Arrebatamento, quando o Anticristo instituir um novo sistema financeiro, todos os habitantes da terra receberão um código aplicado em sua mão direita ou na fronte. O número 666, oculto no código, expressará o seguinte: “Estou disposto a honrar este ditador, a besta que saiu do mar, como deus”. Aqueles que não o aceitarem não receberão o código. Mas naquela época não haverá mais dinheiro vivo, e só será possível fazer pagamentos por meio do código. O que acontecerá quando alguém não puder mais comprar ou vender? O que fazer? Orar! A situação ficará muito precária, e a única oração possível será: “O pão de cada dia nos dá hoje”. O que significa essa oração para nós atualmente, se já temos na geladeira provisões para as próximas duas semanas? A situação das pessoas depois do Arrebatamento será tão precária que essa oração adquirirá um novo significado. Aliás, a palavra “precário” deriva do verbo em latim “precari”, donde vem a palavra “prece”*. As pessoas junto à pia no átrio do templo celestial chegam ao céu vindas de uma situação precária, isto é, do martírio. Elas trazem as harpas de Deus, apresentando-se assim como músicos e cantores levitas e entoando o cântico de Moisés e do Cordeiro. O apóstolo João entendeu imediatamente o significado. Encontramos o cântico do Cordeiro em Êxodo 15. Trata-se do cântico que os israelitas entoaram depois da primeira ceia da Páscoa e da saída do Egito, durante a passagem pelo mar. O cântico de Moisés está em Deuteronômio 32.4: “Ele é a Rocha; suas obras são perfeitas, porque todos os seus caminhos são justos; Deus é fiel e sem iniqüidade; justo e reto é ele”. Por isso, os vencedores cantam no céu: “Grandes e admiráveis são as tuas obras, ó Senhor Deus Todo-Poderoso; justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos séculos”. Na época do Segundo templo, esse cântico de Moisés era entoado no momento do sacrifício vespertino do sábado, enquanto o cântico do Cordeiro era entoado no sacrifício adicional no sábado de manhã. É o que relata o Talmude babilônico, no tratado Rosh Hashaná 31a. João entendeu imediatamente: no céu vigora o sábado, ou o descanso sabático. Isso não deveria nos surpreender, pois em Hebreus 4.9 lemos: “Portanto resta ainda um repouso sabático para o povo de Deus”. Os vencedores entraram no descanso celestial! Mas o que é esse descanso no céu? Não se trata de passividade, mas de descanso da pressão da tentação e da sedução. Os vencedores também não estão passivos, mas tocam harpas. No Antigo Testamento havia dois tipos desse instrumento. Um era o nevel, o outro, o kinnor. O Novo Testamento traz apenas um termo, a palavra grega kithara, da qual deriva a nossa “guitarra”. Essas pessoas no céu tocarão harpas e cantarão. Concluímos daí que no céu não haverá passividade, mas atividade que se desenrola no repouso de Deus.


Se quisermos ser vencedores, precisamos arrumar a nossa vida diariamente à luz da Bíblia.

Por que João vê esses cantores junto ao mar de vidro? A água servia para a limpeza das mãos e dos pés dos sacerdotes. Efésios 5.25 explica que a Palavra de Deus tem efeito purificador, como a água. Como os crentes também são sacerdotes, eles precisam purificar-se diariamente pela leitura da Bíblia. Se analisarmos a pia, e por extensão a Bíblia, vemos que ela age como um espelho, pois nos mostra tudo o que não está certo em nossa vida (Tg 1.23-25). Por isso os leitores da Bíblia são, em geral, pessoas corajosas, pois estão dispostas a olhar no espelho da Palavra de Deus. Quando temos consciência do que não está certo em nossa vida, esse reconhecimento deve sempre nos levar à auto-avaliação: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo 1.9). Precisamos aplicar essa auto-avaliação de forma constante (veja 1Co 11.28-31), assim como os sacerdotes da Antiga Aliança lavavam regularmente os pés e as mãos. As mãos falam daquilo que fazemos, e os pés, dos lugares aonde vamos. Quando vivemos neste auto-escrutínio diário e não permitimos que as injustiças se acumulem na nossa vida, isso nos protegerá contra pecados mais graves. Todos nós temos naturezas pervertidas e somos capazes de cometer qualquer tipo de pecado. Ficaremos protegidos se consertarmos diariamente diante de Deus aquelas coisas que reconhecemos como pecado. Em geral, os pecados graves resultam de um longo caminho, e não deveríamos deixar que chegue esse ponto. Mas vamos nos questionar: como os vencedores junto ao mar de vidro terão sobrevivido à pressão da sedução? É muito simples, pois essas pessoas vão se sujeitar ao auto-escrutínio diário. Também é digno de nota que seu cântico não traz nenhum traço de amargura, apesar das tribulações que enfrentarão. Isso só é possível por meio da comunhão viva com o Senhor no dia-a-dia. O mar de vidro também nos ensina algo prático para a nossa vida como cristãos: se quisermos ser vencedores, precisamos arrumar a nossa vida diariamente à luz da Bíblia.

No Lugar Santo

Em nossa viagem pelo terceiro céu continuamos agora em direção ao candelabro de sete braços, entrando em pensamentos no Lugar Santo, o templo em si: “E do trono saíam relâmpagos, e vozes, e trovões; e diante do trono ardiam sete lâmpadas de fogo, as quais são os sete espíritos de Deus” (Ap 4.5). Sete lâmpadas brilham diante do trono no santuário – são as sete chamas do candelabro de ouro, a menorá. O texto explica aqui que as chamas são os sete espíritos de Deus. Talvez você pense: “Mas só existe um Espírito de Deus”. Afinal, é o que diz Efésios 4: há “um só Espírito”. Mas no Apocalipse o Espírito Santo, o único, é representado em toda a sua perfeita multiplicidade. O Espírito, que Isaías 11.2 diz repousar sobre o Messias, é descrito da seguinte forma: “E repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”. São sete nomes que representam o Único Espírito em toda a perfeição e multiplicidade da sua ação. O Espírito Santo inspirou maravilhosamente esse versículo no texto original. Primeiro é citado um nome mais geral, o Espírito do Senhor. Seguem-se duplas de nomes ligados pela palavra “e”. Isso corresponde à aparência do candelabro de sete braços: uma chama principal no centro, ladeada por três pares de braços. No texto acima, esses braços são representados com a descrição “o espírito de sabedoria e de entendimento, o espírito de conselho e de fortaleza, o espírito de conhecimento e de temor do Senhor”.

Quando vemos as sete chamas no santuário, somos lembrados do Espírito de Deus que nos conduziu neste mundo. O espírito da sabedoria: numerosas vezes sentimos que nos faltava sabedoria, mas o espírito da sabedoria sempre a providenciava para nós. O espírito de entendimento: algumas pessoas acham que entendimento e fé são mutuamente excludentes, mas o Espírito Santo é o espírito do entendimento! Os pensamentos dos seres humanos estão obscurecidos por Satanás (veja 2Co 4.3ss.), mas o Espírito Santo ilumina nosso entendimento. Ele não anula nosso espírito de forma que desfaleçamos. Isso não é ação do Espírito de Deus, o espírito de sabedoria e entendimento. O espírito de conselho e de fortaleza: muitas vezes não soubemos tomar uma decisão. Mas o Espírito de Deus nos aconselha. Sentimo-nos fracos, mas o Espírito de Deus nos dá força. Não entendemos a Bíblia, mas o Espírito de conhecimento nos dá compreensão. Não sabíamos quem é Deus, mas o espírito de temor do Senhor colocou em nosso coração uma profunda percepção da grandeza e da majestade de Deus.

O altar do incenso

Em pensamentos dirigimo-nos agora para o dourado altar do incenso. “Veio outro anjo, e pôs-se junto ao altar, tendo um incensário de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para que o oferecesse com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante do trono. E da mão do anjo subiu diante de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos. Depois o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o lançou sobre a terra; e houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto” (Ap 8.3-5). Aqui vemos um sacerdote executando seu serviço no altar celestial. No Apocalipse há quatro textos em que o Senhor Jesus é chamado de “outro anjo”. A palavra grega angelos significa “mensageiro”. Pode ser um homem ou um anjo, mas também o Filho de Deus, o Enviado do Pai, assim como no Antigo Testamento “o anjo do Senhor” (mal’akh adonai) era o próprio Deus, o Filho de Deus. O “outro anjo” é citado pela primeira em Apocalipse 7, mas ainda sem revelar ao certo de quem se trata. No capítulo 8 descobrimos que se trata de um sacerdote. No capítulo 10 ele coloca Seus pés sobre a terra e sobre o mar, demonstrando assim o Seu direito ao mundo, pois, afinal, ele é o Rei. Em Apocalipse 18 Ele anuncia a queda da Babilônia, e toda a terra é iluminada pela glória desse mensageiro. Nesse texto ele é um profeta. Jesus é tudo para nós: Rei, Sacerdote e Profeta.

Como nosso Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus está junto do altar do incenso. Ele dá poder às orações dos santos na terra. Pouco antes foi aberto o sétimo selo, dando início à Grande Tribulação. Em Mateus 24, Jesus diz aos judeus crentes: “que a fuga não aconteça num sábado”. As pessoas descobrirão o real significado da oração, pois agora sabem que chegou a hora. Durante meia hora há silêncio no céu (veja Ap 8.1), e então o Sumo Sacerdote dá poder às orações. Ele toma o incensário, um vaso de ouro com um suporte, uma tampa e um anel. Dentro dele há incenso, essa maravilhosa mistura de componentes botânicos aromáticos. No Antigo Testamento o sacerdote junto ao altar de ouro pegava incenso do incensário com os dois polegares e deixava-o cair sobre o carvão em brasa do altar. A fumaça gerada dessa forma subia em linha reta. Esse incenso aromático expressa a múltipla glória da pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo. Dessa forma, Ele adiciona sua glória pessoal às orações dos santos, dando-lhes peso diante de Deus. Só então é possível falar de oração em nome de Jesus, que precisa acontecer em concordância com a vontade do Filho de Deus (Jo 14.13-14). Essas orações chegam a Deus como se o seu próprio Filho as dissesse.

O Senhor Jesus dá a essas orações, que concordam com a Sua vontade, toda a glória da Sua pessoa, e assim elas chegam diante de Deus. Se tivermos a impressão de que nossas orações não estão passando do teto do quarto, podemos ter esta certeza: se orarmos de acordo com a vontade de Deus, revelada na Bíblia, é claro que essas orações serão atendidas. Apocalipse 9.13 menciona explicitamente os quatro chifres no altar de ouro no céu. Chifres são um símbolo de força e poder; os quatro chifres no altar pretendem deixar claro que a oração em nome de Jesus tem grande poder e efeito, e isso em todo mundo. Por isso os chifres também apontam para os quatro pontos cardeais. Dessa cena no céu aprendemos que a oração realmente tem efeito. Muitos pensam: “Na verdade, Deus acaba fazendo o que Ele quer, de qualquer forma. Qual é, então, a utilidade das nossas orações?” Mas em Tiago 4.2 está escrito: “Nada tendes, porque não pedis”. Por um lado, há coisas que Deus não faria se Seus filhos não pedissem por elas. Por outro lado, há coisas que Deus faz, quer peçamos, quer não peçamos por elas. Afinal, Deus é soberano. Mas também há coisas que Deus não faz se nós não pedirmos por elas.

O melhor ainda virá: no Santo dos Santos


O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses diante de mim”. É a condenação de todas as religiões do mundo!

Guardei para o fim o destino mais belo da nossa viagem pelo céu. Por isso, em pensamentos entramos agora no Santo dos Santos. “Imediatamente fui arrebatado em espírito, e eis que um trono estava posto no céu, e um assentado sobre o trono; e aquele que estava assentado era, na aparência, semelhante a uma pedra de jaspe e sárdio; e havia ao redor do trono um arco-íris semelhante, na aparência, à esmeralda. Havia também ao redor do trono vinte e quatro tronos; e sobre os tronos vi assentados vinte e quatro anciãos, vestidos de branco, que tinham nas suas cabeças coroas de ouro... também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal; e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás; e o primeiro ser era semelhante a um leão; o segundo ser, semelhante a um touro; tinha o terceiro ser o rosto como de homem; e o quarto ser era semelhante a uma águia voando” (Ap 4.2-4,6-7). Do que é feito o trono de Deus? De acordo com o Salmo 132.7-8, a Arca da Aliança é o apoio dos pés de Deus. Em Apocalipse 11.9 a Arca da Aliança é expressamente mencionada no céu. No Antigo Testamento havia dois querubins sobre a tampa da arca. Esses seres são descritos em detalhes em Ezequiel 1.8-11. Trata-se de anjos com rostos de leão, boi, homem e águia. No texto do Apocalipse que acabamos de citar os quatro seres viventes são querubins no Santo dos Santos. É verdade que sobre a Arca em si havia só dois querubins, mas durante a construção do templo Salomão mandou fazer mais duas figuras de querubins revestidas de ouro (1Re 6.23-28). Portanto, havia ao todo quatro desses seres viventes em torno do trono de Deus. A Arca da Aliança é, assim, o apoio dos pés de Deus, e Ele está entronizado entre os querubins. Por isso, o Salmo 80.2 diz: “...tu, que estás entronizado sobre os querubins, resplandece”. O trono de Deus é citado 37 vezes no Apocalipse, mais do que em qualquer outro livro da Bíblia. Justamente o livro que mostra como o mundo será abalado pelas maiores catástrofes, de modo que puderíamos pensar que Deus perdeu o controle, nos mostra: Deus ainda está seguindo Seu plano, e tudo Lhe está sujeito! A lembrança do trono de Deus nos dá grande segurança: o que quer que aconteça em nossa vida, o trono de Deus é inabalável. A Arca é o local da reconciliação. Originalmente a Arca era local de juízo, pois dentro dela estavam os Dez Mandamentos. O primeiro mandamento é: “Não terás outros deuses diante de mim”. É a condenação de todas as religiões do mundo! A Arca da Aliança como parte do trono de Deus condena a humanidade, mas também era o local onde o sumo sacerdote aspergia o sangue. Por isso, ela também fala de reconciliação. Quando chegarmos ao céu e virmos o trono de Deus, teremos a certeza de ter sido aceitos com base no sangue de Jesus. O véu foi rasgado, como aconteceu com a sua cópia terrena (veja Mt 27.51), abrindo-nos assim o acesso ao Santo dos Santos. Em Hebreus 10.19 somos convidados a entrar. Hoje só podemos nos colocar na presença de Deus em pensamento, mas virá o dia em que entraremos de fato no Santo dos Santos, pois lá é o nosso lar. Então experimentaremos o que agora antecipamos em pensamento, pois o melhor ainda virá! (Roger Liebi - http://www.chamada.com.br)


* De acordo com o dicionário Houaiss: “lat. precarius; obtido por meio de prece; concedido por mercê revogável; tomado como empréstimo; alheio, estranho; passageiro”.

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