“E ele lhes disse: Qual era o traje do homem que vos veio ao encontro e vos falou estas palavras? E eles lhe disseram: Era um homem vestido de pelos e com os lombos cingidos de um cinto de couro. Então, disse ele: É Elias, o tisbita” (2Rs 1,7-8).
INTRODUÇÃO
Um dos homens mais enigmáticos da Bíblia é, sem dúvida, o profeta Elias. Sobre sua origem pouco se sabe, além do fato de que era oriundo de uma localidade citada apenas nos relatos relacionados à sua vida, Tisbi, nos arredores de Gileade. Apesar de sua origem humilde, era um homem que estava diante do Senhor (1Rs 17:1). Estar diante de Deus é a melhor posição para quem deseja ter um ministério frutífero. Quando Acabe se deparou com o profeta Elias, surgido do nada, encontrou uma pessoa simples, vestido de forma simples, com uma mensagem simples, mas que estava, acima de tudo, diante de Deus. Sua mensagem foi direta e contundente; ele foi direto com o rei Acabe, mostrando que Deus estava irritado com as atitudes do monarca.
Acabe acreditava que Baal era o responsável por enviar a chuva e trazer plantações que alimentassem toda a nação. Se isso era verdade, então Israel realmente não precisava do Senhor. Mas Deus estava naquele momento usando Elias para dizer ao rei que o Deus de Israel faria com que a nação passasse por privações por causa de sua idolatria. E a estiagem duraria pelo menos três anos, tempo suficiente para amolecer o coração do povo e mostrar-lhe que o Deus de Abraão, Isaque e Jacó era o Deus que abençoava o povo com suas dádivas.
Após desafiar o rei, Elias se tornou conhecido em todo o reino, e foi procurado por Jezabel em diversos lugares. A obediência de Elias o preservou em segurança das mãos de Jezabel nos anos de seca, e o preparou para os próximos desafios que iria enfrentar para que o povo retornasse aos caminhos do Senhor. Temos habilidade de imitar esse grande homem de Deus?
I. A IDENTIDADE DE ELIAS
A Bíblia Sagrada não nos dá conhecimento sobre a vida de Elias antes do inicio de seu Ministério, o que vem demonstrar que a Palavra de Deus tem o intuito de revelar aquilo que é pertinente à salvação do homem. Elias aparece nas páginas das Escrituras em 1Reis 17:1 e de forma repentina, sem qualquer explicação, nem mesmo da sua genealogia, como é costumeiro fazer-se quando se trata, pelo menos, de personagens da história de Israel. É apresentado apenas como “Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade”.
Elias foi profeta do Reino do Norte, nos reinados de Acabe e do seu filho Acazias. O nome Elias, que significa “o Senhor é meu Deus”, fala da convicção inabalável que destacou esse profeta (1Rs 18:21,39). A vida dele girou em torno do conflito entre a religião do Senhor e a religião de Baal. Sua missão era levar os israelitas a reconhecerem sua apostasia e reconduzi-los à fidelidade ao Deus de Israel (1Rs 18:21,36,67). Elias era pois um restaurador e um reformador, empenhado em restabelecer o concerto entre Deus e Israel.
Elias tinha um traje característico, diferente daqueles usados pelas pessoas de seu tempo, tanto que bastava a descrição desta vestimenta para identificá-lo, a saber: “…um homem vestido de pêlos e com os lombos cingidos de um cinto de couro…” (cf. 2Rs 1:8). Isto nos dá a entender que Elias deveria ter uma vida mais ou menos retirada da comunidade, uma espécie de “eremita” no deserto. No entanto, embora Elias demonstre, pelos seus trajes e pela forma repentina com que se apresenta na história sagrada, que deveria viver um tanto quanto retirado da comunidade, não é correto dizer que haja respaldo bíblico para dizer que vivia isolado dos demais homens do seu tempo. Pelo que podemos observar do texto sagrado, percebemos que Elias tinha uma relação bem próxima aos chamados “filhos dos profetas”, ou seja, aos jovens que se dedicavam ao estudo da Palavra de Deus e a uma vida de serviço ao Senhor nas “escolas de profetas”, cuja origem remonta aos tempos de Samuel (1Sm 10:5;19:20). Com efeito, as páginas sagradas permitem-nos vislumbrar que Elias tinha um estreito relacionamento com estes grupos (2Rs 2:2,4), sendo até possível que Elias tenha sido uma figura proeminente de tais grupos quando se apresentou ao rei Acabe, o que, aliás, explicaria a facilidade com que tenha conseguido se apresentar ao rei.
Apesar de tão parcos conhecimentos a respeito de Elias antes do início do embate com Acabe, Jezabel e os responsáveis pelo culto de Baal, tais informações já nos são preciosas no sentido de se mostrar que alguém, para ser usado eficazmente pelo Senhor, precisa ter três pontos que havia na vida de Elias: um distanciamento do mundo, fidelidade a Deus e um comprometimento com a Palavra de Deus. Aliás, a fidelidade inabalável de Elias a Deus e o comprometimento com a sua Palavra, faz dele um exemplo de fé, destemor e lealdade a Deus, ante a intensa oposição e perseguição às falsas religiões e aos falsos profetas.
II. O MINISTÉRIO DO PROFETA ELIAS
1. Sua vocação e chamada. A vocação de Elias é logo percebida quando o vemos colocar Deus como a fonte de suas enunciações proféticas: “Tão certo como vive o Senhor, Deus de Israel, perante cuja face estou” (1Rs 17:1). Em outra passagem bíblica Elias diz que suas ações obedeciam diretamente a uma determinação divina (1Rs 18:36). Somente um profeta chamado diretamente pelo Senhor poderia falar dessa forma.
Mas, o que é vocação? Vocação é o apelo (chamado) de Deus a uma pessoa. Ele faz seu convite a cada pessoa, homem ou mulher, independente de raça, cor, idade, ou posição social. No trabalho do Senhor, é Ele quem sabe verdadeiramente escolher a pessoa certa para a missão que Ele determinar. Quando assim o faz, certamente, o caminho à vitória é certo e inevitável. Elias foi levantado por Deus para transmitir mensagens à nação de Israel(o reino do norte, o reino das dez tribos), à época do rei Acabe, considerada uma das piores do povo de Israel. Nesta época a vida espiritual do povo de Israel estava muito aquém do padrão estabelecido por Deus. Mas, mesmo nos momentos de decadência espiritual, Deus não deixa o seu remanescente sem profeta.
Não é fácil assumir um compromisso tão grande qual esse de Elias. Não sei se hoje existiria alguém com um quilate espiritual e compromisso com a Palavra de Deus à altura. O fato aqui é que Deus quando vocaciona algum servo seu para o desempenho de uma tarefa, seja para confortar ou confrontar, nada poderá se colocar no caminho de Deus. Elias foi enviado para confrontar, não confortar, e transmitiu a mensagem do Senhor a um rei que frequentemente rejeitava sua mensagem só porque ele a trazia. É interessante pensar nos incríveis milagres que Deus realizou através de Elias, mas faríamos bem em enfocar a comunhão que compartilhavam.
O Senhor tem tarefas para fazermos, mesmo quando sentimos medo e fracasso. Embora possamos desejar realizar milagres incríveis para o Senhor, devemos, em vez disso, enfocar o desenvolvimento de nossa comunhão com Ele. O verdadeiro milagre da vida de Elias foi a sua amizade extremamente pessoal com Deus. E este milagre também está disponível a nós.
2. A natureza do Ministério de Elias. A natureza do ministério de Elias é atestada pela inspiração e autoridade que o acompanhavam. Em muitas partes dos livros de Reis encontramos as marcas da inspiração profética no ministério de Elias. Essas são virtudes inerentes ao homem que é vocacionado por Deus à realização de seu serviço. Deus jamais chamaria o seu servo se lhe não dotasse de autoridade e inspiração. Foi assim que aconteceu com os apóstolos no inicio da igreja: Jesus os encheu de poder e inspiração para enfrentar as imensas dificuldades que eles teriam que enfrentar (cf At 1:8).
O primeiro livro de Reis atribui ao profeta Elias sete grandes milagres: faz cessar as chuvas; multiplica a comida da viúva; restaura à vida o filho da viúva; faz descer fogo do céu no monte Carmelo; restaura as chuvas; invoca fogo sobre soldados e divide as águas do Jordão. Assim como Elias predisse, aconteceu! Elias possuía inspiração e autoridade espiritual. “Mas, não são somente os milagres e a inspiração divina os elementos autenticadores do ministério profético de Elias, o seu caráter também. As palavras de Elias eram autenticadas por suas ações. Os falsos profetas também possuem uma certa margem de acertos em suas predições, todavia as suas práticas distanciadas da Palavra de Deus são quem os desqualificam. Elias, portanto, possuía carisma e caráter. Podemos então dizer que o caráter pode não ter dado fama a Elias, mas com certeza lhe deu nome (1Rs 17.1); pode não lhe ter dado notoriedade, mas certamente lhe conferiu autoridade (1Rs 17.1); não o transformou em herói, mas o fez reconhecido como profeta (1Rs 17:2,3); e fez com que ele enxergasse Deus até mesmo onde aparentemente Ele não estava (1Rs 17:8-9 – foi sustentado por uma mulher, gentia, viúva e pobre)” (pr. José Gonçalves – Porção dobrada, CPAD).
III. ELIAS E A MONARQUIA
Na história do profetismo bíblico, principalmente nos períodos monárquicos dos reinos de Judá e de Israel(reino do Norte), observamos a ação dos profetas exortando, denunciando e repreendendo aos reis (cf 1Rs18:18). O livro de 1Reis mostra que o profeta Elias foi o primeiro a atuar dessa forma.
Elias, profeta do Senhor, natural de Gileade, foi o homem que Deus usou para falar contra as perversidades do reinado de Acabe e de sua mulher – a maléfica Jezabel. A punição de Deus sobre as atrocidades de Jezabel tinha chegado ao extremo. A rainha praticamente havia acabado com quase todos os profetas. O terror era espalhado sobre o reino. Baal tinha sido decretado como o deus de Israel. Para Jezabel a lei era seu desejo, a ordem era seu pensamento. Mas, a Palavra de Deus veio a Elias: “Então Elias, o tisbita, dos moradores de Gileade, disse a Acabe: Vive o Senhor Deus de Israel, perante cuja face estou, que nestes anos nem orvalho nem chuva haverá, senão segundo a minha palavra“(1Reis 17:1). A ordem de Deus foi imperativa, Elias tinha que chegar até o rei Acabe, e dizer as palavras que o Senhor havia ordenado. Imagine a revolta de Jezabel, o descrédito, pois quem mandava no reino era ela. Quando Deus ordena alguma coisa para seus servos, não precisamos se preocupar com o futuro; Deus dirige tudo. Começava a punição de Deus através da seca. Foram três anos e meio sem chover. Animais mortos, a plantação não existia mais; a fome e as doenças proliferavam todo Israel.
O reinado de Acabe foi um período crucial para o povo da antiga nação de Israel(reino do Norte). Através da influencia da rainha Jezabel, e dos esforços de seus sacerdotes, o baalismo ameaçava extinguir a adoração a Deus tanto no Reino de Judá como no Reino de Israel. O próprio Acabe se tornou um adorador de Baal e construiu um templo para seu culto em Samaria, que foi ocupado pelas centenas de sacerdotes de Jezabel (1Rs 18:19). Ele construiu uma espécie de símbolo de Aserá, uma indicação de que o degradante culto à fertilidade estava instalado em Samaria. De certo modo, ele aparentemente tentou permanecer fiel a Deus (1Rs 21:27-29), mas a adoração a Baal era a sua verdadeira religião. Certamente, era uma época que exigia pessoas corajosas para que a causa do Senhor permanecesse viva, e Deus tinha à sua disposição a coragem de Elias.
Em épocas difíceis Deus levanta homens e mulheres dispostas a enfrentar as mais duras situações, e concede-lhes da sua graça para que cumpram seu ministério. Elias foi um profeta de seu tempo. Ele era uma pessoa disposta a, por Deus, enfrentar diversos desafios. Dentre suas características, encontramos a coragem. Esta fala sobre a intrepidez diante de situações hostis, como no caso do desafio aos profetas de Baal e Astarote (ao todo 850: 450 de Baal de 400 de Astarote – 1Rs 18:19). Aproximar-se do rei e dizer que não haveria chuva por um determinado número de anos e ser sustentado pelos corvos são atitudes que exigem coragem e fé.
Restaurar o altar do Senhor e encharcá-lo com água, para que a combustão do sacrifício fosse ainda mais difícil, também exigiu fé e coragem. Como se não bastasse, Elias ainda foi mantido por uma viúva, numa época em que a seca predominava e os recursos dessa mulher eram tão escassos que ela mesma disse que iria preparar a última refeição para ela e seu filho, e depois iriam morrer. Ele simplesmente obedeceu a Deus: “Levanta-te, vai para Sarepta, que pertence a Sidom, e habita ali; eis que eu ordenei a uma mulher viúva ali que te sustente”(Rs 17:9). É preciso ter coragem para depender de Deus em situações bastante adversas e crer que Ele é responsável por nos sustentar.
IV. ELIAS E A LITERATURA BÍBLICA
No Antigo Testamento, a história de Elias encontra-se em 1Reis 17:1 até 2Reis 2:11. Ele também é mencionado em 2Crônicas 21:12-15; Malaquias 4:5,6. No Novo Testamento, em Mateus 11:14; 16:14; 17:3-13; 27:47-49; Lucas 1:17; 4:25,26; João 1:19-25; Romanos 11:2-4; Tiago 5:17,18.
CONCLUSÃO
Devemos aprender com Elias a ter disposição, prontidão em fazer a vontade de Deus. Elias não é visto titubear nenhuma vez. Mandado falar a Acabe de que não choveria, sem qualquer resistência atendeu ao chamado do Senhor, como também quando mandado a falar com o rei de que choveria, mesmo sabendo que seria hostilizado, como o foi. E como explicar que enfrentasse um povo totalmente idólatra, com 850 profetas, sozinho? Para Elias, o importante era saber que o que fazia era sob a direção divina. Ao contrário de outros profetas, que têm seu receio e titubeio registrados nas páginas sagradas, Elias é sempre determinado e bem disposto. Devemos ter este comportamento, enquanto salvos na pessoa de Jesus Cristo. Jesus era assim, determinado a cumprir a vontade do Pai (Hb 10:7,9). A propósito, este comportamento é requerido pelo Senhor de todos os Seus servos, apesar das adversidades da vida, pois assim nos diz: “…no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo; eu venci o mundo.” (João 16:33b).
Também, com Elias aprendemos que se faz necessário termo uma contínua experiência pessoal com o Senhor. Devemos andar de fé em fé (Rm 1:17), num crescimento espiritual contínuo e ininterrupto. Os santos têm de se aperfeiçoar (Ef 4:12), necessitam crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador (2Pe 3:18). Os justos devem brilhar mais e mais (Pv 4:18). Nosso amor deve aumentar a cada dia (Fp 1:9).
Luciano de Paula Lourenço
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