segunda-feira, 4 de julho de 2011

Religioso por fora, perdido por dentro

O apóstolo Paulo está escrevendo uma carta no ano 57 d.C., escrevendo para várias igrejas nos lares espalhadas por todo o Império Romano. Essas igrejas eram compostas de ambos, Judeus e Gentios, Judeus e não-Judeus que creram no Evangelho e se tornaram seguidores de Jesus Cristo. E aqui no capítulo 2 Paulo continua seu argumento de que todas as pessoas em qualquer lugar são pecadoras. No capítulo 1, ele se dirigiu a todas as pessoas de uma forma geral, com uma ênfase especial sobre os Gentios, e aqui no capítulo 2 ele volta sua atenção para os Judeus. E o seu enfoque nesses versículos de hoje de manhã – versículos 17 até o final do capítulo no versículo 29 – seu enfoque é mostrar que enquanto os Judeus eram pessoas privilegiadas, eles não eram necessariamente pessoas salvas. Ou seja, o fato de eles terem a Lei, por exemplo, não garantiu que eles estivessem numa boa situação com Deus.
Talvez a maior necessidade da igreja hoje seja a necessidade de Crentes declarados realmente se examinarem para ver se eles estão verdadeiramente na fé. A Bíblia diz em 2 Coríntios 13:5:Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos.”
Há uma perigosa possibilidade de auto desilusão, pensando que estamos bem quando não estamos nada bem. De fato, nós podemos pensar: “Examinar a mim mesmo? A Mim?! Como o cara que fala para o policial: “Eu não sei por que você está me prendendo. Há uma porção de gente fazendo muito pior do que eu!”
Paulo está lembrando ao judeu que ele não está O.K.. No capítulo 1 ele mostrou que todas as pessoas em qualquer lugar não estão O.K, e agora ele se volta para o Judeu e diz, em essência: “Se você acha que só porque você é judeu, e só porque você é privilegiado por ter a Lei e, como nós vamos ver no final do capítulo, só porque você carrega o símbolo da aliança – circuncisão – se você acha que está O.K. só porque tem esses privilégios, eu quero te lembrar que você não está O.K.”
E esse é exatamente o perigo que nós enfrentamos. Nós podemos nos sentar nesta congregação e acharmos que estamos O.K diante de Deus. Nós dizemos para nós mesmos que estamos numa boa com Deus. Afinal de contas, a maior parte de nós é “freqüentador da igreja”, fomos batizados, somos boas pessoas e nos vestimos direitinho e penteamos nosso cabelo essa esta manhã e sorrimos para nossos vizinhos e trouxemos nossas Bíblias para a igreja e aqui estamos nós ouvindo à pregação. “Nós somos pessoas boas, de boa moral.” Esse é o perigo. Nós podemos ser religiosos por fora , mas estarmos perdidos por dentro.
Bem, se nós vamos humildemente nos curvar diante do texto esta manhã, Deus vai abrir nossos corações e mentes para duas grandes áreas do auto-exame. Eu te convido a se juntar a mim neste auto-exame à medida que a Palavra de Deus penetra nossa alma.

I. Nós precisamos examinar nossa Hipocrisia (17-24)
Hipocrisia é dizer para os outros fazerem alguma coisa que nós não fazemos. Nós pregamos ou ensinamos que algo é ruim, mas nós mesmos fazemos esta mesma coisa, como dizer para uma criança não fumar cigarro enquanto nós tragamos um cigarro. Isso é hipocrisia. Paulo, ele mesmo um Judeu, chama a atenção dos seus irmãos Judeus. O que ele diz nesses versículos é: “Aqui vocês têm a Lei e vocês ensinam a Lei, mas vocês mesmos violam a Lei.” É aí que ele está querendo chegar quando ele diz lá no versículo 21: “Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo?” Ele está chamando atenção para a hipocrisia deles. Mas antes dele se dirigir à hipocrisia deles, observem as coisas positivas que ele tem a dizer sobre o povo Judeu. Versículo 17 e seguintes:
17 Eis que tu que tens por sobrenome judeu, e repousas na lei, e te glorias em Deus;
18 E sabes a sua vontade e aprovas as coisas excelentes, sendo instruído por lei;
19 E confias que és guia dos cegos, luz dos que estão em trevas,
20 Instrutor dos néscios, mestre de crianças, que tens a forma da ciência e da verdade na lei;
O Judeu tinha muito do que se gabar. Ele era o guardador da Lei. Ele carregava os rolos do Antigo Testamento e era considerado um “guia para o cego, luz para os que estão em trevas.” Ele era um mestre que tinha “a forma da ciência e da verdade na lei.” Isso é, na Lei, o Judeu tinha materialização da ciência e da verdade. Essas são coisas boas, mas o seu amor em ouvir a Lei e o ensino da Lei era comprometido e manchado pela forma como eles viviam. Eles mesmos falhavam em viver de acordo com a Lei que eles esperavam nos outros. Versículo 21:
21 Tu, pois, que ensinas a outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas que não se deve furtar, furtas?
22 Tu, que dizes que não se deve adulterar, adulteras? Tu, que abominas os ídolos, cometes sacrilégio?
Paulo diz para o Judeu examinar-se a si mesmo. Não é ele culpado das mesmas coisas das quais ele está acusando os outros? Talvez Paulo quisesse dizer que esses Judeus eram culpados de literalmente roubar e cometer adultério e roubar templos, ou talvez ele simplesmente quisesse dizer para eles considerarem a verdade que todo mundo é culpado pelo pecado, quando entendemos a maneira pela qual Jesus tornou isso mais amplo para nós. Lembrem, por exemplo, quando Jesus disse: “Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu, porém, vos digo, que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.”(Mateus 5:27-28) Jesus nos ajuda a enxergar que todos nós somos pecadores.
Então o argumento de Paulo é: “Vocês estão aqui ensinado “Faça isso” e “Não faça aquilo”, mas vocês são culpados por fazerem essas mesmas coisas. Vocês são hipócritas. Vocês violam a mesma lei que vocês ensinam..”
Lembrem que o propósito final de Paulo é demonstrar que a Lei é insuficiente pra salvar os Judeus. Embora os Judeus tivessem a Lei, eles violavam a Lei e essa violação da Lei apontava para a necessidade deles quanto ao Evangelho, mais precisamente a necessidade de um Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Eles precisavam de uma justificação diante de Deus que eles não conseguiam obter sozinhos. Eles precisavam da justificação de Cristo.
É para esse ponto que Paulo está indo, mas ao fazer isso, nós ficamos sabendo do terrível impacto da hipocrisia sobre o mundo que está assistindo. Versículo 23:
23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
E a resposta é “Sim”. Sim, vocês Judeus se gloriam na Lei, mas então vocês violam essa mesma Lei na qual vocês se gloriam e ensinam os outros. Paulo está dizendo que os Judeus se gloriavam na Lei, mas regularmente violavam a Lei e assim traziam desonra para Deus. É essa “desonra a Deus” que realmente acerta em cheio. Versículo 24:
24 Porque, como está escrito, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós.
A frase “como está escrito” é uma referência a Isaías 52:5. Paulo está citando Isaías 52:5 aqui no versículo 24. Ele faz esta acusação por causa da hipocrisia dos Judeus: “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios. Deixe-me dizer isso de outra maneira. Paulo nos mostra o impacto da hipocrisia religiosa sobre aqueles que não são crentes. Qual é o impacto? Aqueles que não são seguidores de Deus, aqueles que observam os outros que declaram conhecer Deus, eles observam o comportamento hipócrita dos chamados “religiosos” e eles abanam a cabeça e dizem: O Deus deles não deve ser grande coisa. Olha só para a forma lamentável que vive o povo desse Deus.”
Agora nós estamos prontos para compreender como essa questão da hipocrisia em 57 d.C. se aplica a nós hoje em 2009. Nós dizemos que somos crentes, seguidores de Cristo. Dizemos que vivemos de acordo com a Bíblia, mas será que vivemos? Nós vivemos regularmente observando as coisas que nós pregamos e ensinamos? Ou – e atentem para isso – ou: “o nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vós?” Isso é, os não crentes são desviados por causa de nós? Os não crentes são atraídos para Deus por causa do nosso comportamento ou eles são desviados para mais longe. Os Gentios – os não crentes – estão sempre observando.
Você tem algum símbolo ou adesivo cristão no seu carro? Quando você dirige mais rápido do que deveria e você viola a lei, você está vivendo em desacordo com os ensinamentos de Deus que você professa – e os Gentios estão observando. Os não crentes vêem isso e “o nome de Deus é blasfemado por causa de vós”.
Quando você perde uma tacada no jogo de golfe e você com raiva solta um palavrão, os não crentes estão observando e o nome de Deus é blasfemado por sua causa.
Quando você fica a toa no trabalho ou na escola ou participa de uma fofoca ou piadas sujas e discussões mundanas, os não crentes estão observando, e o nome de Deus está sendo blasfemado por causa de você.
As pessoas de fora da igreja estão sempre tirando conclusões a partir do que elas observam em nós: como nós tratamos a Bíblia, como nós falamos sobre outras pessoas, como usamos nosso tempo. Que Deus nos guarde de fazer com que o nome de Dele seja blasfemado por nossa causa.
Aqueles de vocês que estão lendo o devocional de Charles Spurgeon, Manhãs e Noites, vão ter lido na leitura de hoje sobre o perigo da hipocrisia. Muito providencial. Eu mesmo o li hoje cedo. Spurgeon escreve sobre aquele que se declara crente que prejudica o testemunho da igreja atacando o Cristianismo com “a adaga da hipocrisia”. Ele acrescenta: “Os que se declaram crentes e que são inconstantes prejudicam o Evangelho mais do que o crítico debochado ou o herege.” A maior ameaça para o Cristianismo não vem de fora da igreja, vem de dentro da igreja.
E quanto à sua chamada “alegria no Senhor?” Nós crentes saímos falando para todo mundo que “a alegria do Senhor é a minha força. (Neemias 8:10)” Será? Os não crentes estão observando para ver se isso é verdade. Quando você perde seu emprego, o não crente está observando para ver como você reage. Quando você está doente, o não crente está observando para ver como você lida com a doença. Quando a tragédia assola a sua família e você perde sua casa ou um ente querido – se você levanta sua mão para o alto e balança seu punho para Deus – o que você fez? Você deu um bom motivo para os não crentes sempre atentos ao seu redor, e você blasfema o nome de Deus. Eles dizem: “É evidente que o Deus deles não significa nada para eles.” Assim não temos poder nenhum para alcançar as nações para Cristo. Nosso zelo missionário é ineficaz e morto porque a máscara é removida e as pessoas vêem que nossa alegria não estava no Senhor, afinal de contas, mas no mundo. Nós trocamos a glória de Deus por mentira e servimos à criatura ao invés do Criador.
Vamos examinar nossa hipocrisia. Nós realmente encontramos nossa “alegria no Senhor?” Nós realmente O amamos com todo nosso coração, alma, mente e força? Nós realmente fomos transformados pelo poder do Evangelho ou nós somos apenas religiosos por fora e perdidos por dentro? Essa análise da nossa hipocrisia está intimamente ligada ao segundo auto-exame.
II. Nós devemos Examinar nossa Santidade (25-29)
Isso é, deve haver uma mudança dentro das nossas almas. Se somos seguidores do Único Deus Verdadeiro então nós somos pessoas diferentes. Há uma mudança dentro dos nossos corações que conduz a um viver santo. Vejam Paulo tratar disso ao cuidar da questão da circuncisão Judaica. Versículo 25:
25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão.
Circuncisão, literalmente “cortar ao redor”, era a remoção do prepúcio dos homens Judeus como um símbolo para indicar que os Judeus eram o povo especial de Deus. A circuncisão era um sinal da aliança especial de Deus de amor com os Judeus. Era um símbolo, assim com a aliança é hoje um símbolo. Eu uso uma aliança para indicar que eu estou numa aliança de amor com minha esposa. A marca da circuncisão era bem parecida com isso. Ela indicava que os Judeus estavam numa aliança de amor com seu Deus. A circuncisão era um símbolo que mostrava para os outros que os Judeus pertenciam ao único Deus verdadeiro.
Mas o símbolo visava refletir um coração comprometido por parte daquele que estava portando o símbolo. A circuncisão era para ser um sinal exterior de um coração que amava a Deus. Os Judeus, lamentavelmente, começaram a considerar a circuncisão mais como uma espécie de “garantia” da sua aceitação diante de Deus, independente da maneira como eles viviam, do que um compromisso interior espiritual. Seria mais ou menos com se eu dissesse que minha aliança garante meu casamento, a despeito da minha infidelidade à minha esposa - embora eu possuísse outros relacionamentos ao longo da semana, mas apontasse para minha aliança de casamento e disse: “Bem, tudo isso que está acontecendo está O.K. porque eu, afinal de contas, sou casado. Vejam, aqui está minha prova!”
E esse era o problema dos Judeus. Eles tinham recebido o favor especial de Deus, o presente da graça que tocou o coração para resultar em uma vida de fidelidade e santidade. A verdadeira medida de um Judeu, então, era determinada pelo que se passava no interior, não pelo símbolo exterior. O Judeu, contudo, se gloriava no que era meramente exterior. Ele se gloriava no exterior. Ele se gloriava no sinal, no símbolo, nas coisas físicas do lado de fora, ao invés das coisas interiores espirituais. Ele descansava e se baseava no símbolo externo, a despeito do seu comportamento. Consequentemente, ele se tornou religioso por fora e perdido por dentro. Então Paulo diz no versículo 25: “Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se tu guardares a lei; mas, se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão se torna em incircuncisão.”
O que nós somos por fora pouco importa se nós não mudamos por dentro. Deus precisa tocar o coração e quando Ele faz isso nós temos que viver uma vida comprometida com a obediência, seguindo nosso Senhor e Sua Palavra por gratidão. Sem o trabalho interior da graça, o exterior não significa nada.
Paulo realmente chama a atenção dos Judeus mostrando como os Gentios – os incircuncisos – são melhores do que os Judeus se eles viverem o que eles professam. Versículo 26 e seguintes:
26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?
27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, não te julgará porventura a ti, que pela letra e circuncisão és transgressor da lei?
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
29 Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus.
O argumento de Paulo aqui é que os símbolos exteriores não significam nada se não há mudança interna no coração. É parecido com o que Jesus diz em Mateus 5:8: “Bem aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.”
A Santidade é um trabalho interior que mostra seu exterior na vida cristã. Deus toca o coração e isso resulta em comportamento que glorifica a Deus.
Os Judeus estavam confiando no exterior, em símbolos exteriores de circuncisão para serem admitidos diante de Deus, da mesma forma como muitas pessoas hoje se baseiam no exterior, em símbolos exteriores de batismo ou o fato de serem membro da igreja, para serem aceitos diante de Deus.
Paulo está dizendo: “Não! Os símbolos exteriores não garantem salvação e aceitação. Não importa há quanto tempo seu nome esteja inscrito no rol de membros da igreja ou quantas vezes você foi batizado ou o quanto sua família é religiosa, salvação é uma obra do coração.” Isso é algo que eu quis enfatizar semana passada para nossos casais durante o culto de dedicação de criança. O que nós fizemos não era um ritual que assegurava algum tipo de graça sobre um bebê. Por mais preciosos que os bebês sejam, eles precisam de um salvador. Todos nós precisamos de um salvador e nós precisamos ser transformados por Deus de dentro para fora. A santidade começa, primeiro, no coração. Nós precisamos nascer de novo.
É por isso que Jesus faz a preocupante afirmação em Mateus 7:21: “Nem todo aquele que Me diz “Senhor, Senhor” entrará no reino dos céus.” A Salvação não é simplesmente professar que se crê em alguma coisa. A Salvação é o agir de Deus no coração. É um trabalho interior da graça.
Então enquanto você examina sua santidade, examina seu coração, deixe-me perguntar a você: você tem fome ou sede de justiça? Seu coração foi transformado? Você anseia que o Espírito Santo governe sua vida? Você odeia o pecado? Há uma mudança de conversa quando você entra numa sala porque as pessoas sabem que você é diferente e elas te respeitam? Você ama todo mundo neste lugar? Você ama a Palavra? É por isso que você participa dos cultos nos domingos? Porque você realmente ama a Palavra de Deus? Há evidência do seu amor crescendo por todas as coisas espirituais?
Examine-se e veja se você permanece na fé. Analise a si mesmo (2 Coríntios 13:5)

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