Não seria um mandamento, mas um conselho eis aqui as palavras mais sábias que já li da boca de Jesus, o filósofo. Não existe nada mais sábio do que não se preocupar com os prazeres da vida e a busca frenética em que estão inseridos alguns homens do século XXI na road rats (corrida de ratos).
Certa vez ouvi da boca de um colega dizer o seguinte: “Farei uma graduação, depois uma pós, depois um mestrado e depois o doutorado e depois eu morro”, elementar caro Watson! Para que estudar tanto e não usufruir a vida? Bem postou Salomão quando disse que o muito estudar é só enfado (Ec 12:12), não que esteja condenando o estudar mas as outras coisas têm que ser exploradas e desfrutadas.
Uns procuram riquezas, outros conhecimento, outros fama, alguns poder, mas o conselho de Jesus é: Não andeis ansiosos, não ambicioneis, pois aí reside a felicidade. Ainda que a plena só nEle é que encontramos (Jo 15:11) digamos então que “NÃO ANDEIS ANSIOSOS” seria o início de uma jornada bem melhor, uma saída, um escape portanto.
Algumas pessoas ensaiaram este sábio ensinamento como o filósofo Diógenes de Sinope (413-323 a.C.), que viveu uma vida de disciplina e aversão aos prazeres mundanos. Em seu tempo foi um zombador social; viveu isolado e resignadamente sem casa e dinheiro, portanto pobre e sem teto. Seus bens mais valiosos eram o tonel onde morava, um alforje e sua lanterna
Protágoras acertadamente, falou sobre as riquezas: “o homem que não procura (ambiciona) riquezas é exatamente o homem que não precisa de mais nada”.
Há ainda os que não procuram nada a não ser o instante. Aldous Huxley, bem traduziu – já em sua época – esta indisposição do homem para com valores perenes ao perceber sua preocupação apenas com o imediato, por isso bem descreveu as aspirações deste homem moderno: “Dê-me televisão e hambúrguer e não me venha com sermões sobre liberdade e responsabilidade”, mas ainda assim se debatem quando este instante se lhe ausenta caindo na RESPONSABILIDADE de Sartre.
A busca incontrolável pela diversão a qualquer preço, isto é, pelos prazeres sensuais, encaminham o ser humano a viver esteticamente, como um simbólico Don Juan desses novos tempos.
Assim, nesse viver mergulhado apenas nas questões que lhe oferecem prazer, o homem vive, conforme Kieerkegaard, o instante. Vale, tão-somente, o estágio estético da existência, que o move incessantemente na busca do prazer pelo prazer. Depois, quando tudo se esvai e, portanto, acaba. Ei-lo então depressivo, melancólico e vazio. Surge aí o desespero, pois o instante é fugaz e quando se vai deixa apenas um buraco e estrago no ser do homem; assim, com palavras do poeta T. S. Eliot, assinalamos este momento. Consola-te, pois, com aquilo que não te consuma e nem leve ao desespero.
Ah! Mas esperem aí! Parece-me que li algo em I Tm 6:8, é verdade, mas não exagerar como Diógenes. E as muitas riquezas trazem infelicidade? Sim. Numa rápida pesquisa que fiz com alguns ganhadores da loteria (sena, megasena) a maioria ou foi assassinado ou voltou a ser pobre, como diria um provérbio inglês: “Deus castigou alguns homens dando muito dinheiro”. O assunto é muito extenso, apesar de sê-lo mais filosófico do que teológico quero enfatizar apenas as palavras de Jesus e não de fazer um tratado sobre a felicidade, sofrimento ou riqueza.
Em alguns casos o homem limita-se à busca pelo sucesso e a vencer o outro. Se isto é verdade, devemos compará-lo a Sísifo, “condenado pelos deuses a carregar, nos Infernos, uma rocha para o alto de uma montanha, sem que esse trabalho jamais termine, porque, ao chegar ao topo, a rocha cai de suas mãos e volta a cair no vale”. Como o personagem de Camus, o homem parece condenado a realizar um trabalho infernal, onde a busca pelo topo e primeiro lugar do pódio tiram-lhe a liberdade e a felicidade.
Essa sim seria a maior preocupação de Jesus que algo nos tirasse a liberdade, a felicidade, a paz, etc.
Não andeis ansiosos parece-me carregar ainda um eterno despojar de seus desejos que não sejam os desejos do Todo-Poderoso (Jo 4:34; I Jo 2:17).
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