"O que acontece a homens e mulheres comuns quando, de repente, se encontram aprisionados, rodeados de estranhos, sob a mira de uma arma? O que acontece com seus relacionamentos, crenças e princípios? Que tipo de mundo eles criam quando todo o seu conforto e tudo que lhes é familiar é de repente tirado?
Em 1943, dois mil estranhos tiveram que construir uma civilização do zero.
Seguindo-se ao ataque japonês a Pearl Harbor, civis europeus e americanos que permaneceram na China sob controle japonês foram presos e mandados para campos de concentração. Um desses campos no norte da China ficou conhecido como "Acampamento Shantung". Gilkey passou a encarar essa experiência como um tipo de laboratório onde as pessoas eram testadas, estruturas sociais eram formadas e um novo mundo era criado.
Essa experiência provou ser uma revelação da humanidade em seus aspectos bons e ruins. Os habitantes do Acampamento Shantung representavam todas as facetas da sociedade. Havia executivos de companhias de petróleo e viciados em drogas, monges católicos e missionários protestantes, secretárias inglesas e jogadores de beisebol americanos. Todos ficavam amontoados em dormitórios e barracos, forçados à intimidade com pessoas totalmente estranhas. Aos poucos, essas pessoas tiveram que inventar um jeito de sobreviver em meio a condições tão adversas. A comunidade tinha que se alimentar, as construções tinham que ser consertadas, um sistema sanitário necessitava ser montado, um hospital tinha que ser criado. O grupo precisava se organizar e as tarefas deviam ser delegadas, e isso tudo sob os olhos atentos dos inimigos japoneses.
Sabe, de certa forma nós todos temos muito em comum com esses civis do Acampamento Shantung. Podemos ver um reflexo da nossa realidade atual nesse campo de concentração. Esse mundo, como um todo, é mantido preso pelo poder do pecado. Veja esta declaração: "Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno" (I João 1:9).
Sabe, amigo, existe um adversário, um inimigo que transformou a Terra num acampamento. Suas armas demoníacas estão apontadas para nós assim como as metralhadoras naquele campo de concentração em Shantung.
Vejamos o que diz a Bíblia: "... O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar" (I Pedro 5:8:).
Palavras familiares, não? É a nossa realidade, amigo. Estamos em território inimigo e assim como aqueles internos de Shantung, não conseguimos afastar a sensação de que pertencemos a outro lugar. Pense nisso. O lar não é aqui onde bebês nascem com AIDS, onde as guerras nunca acabam, onde pais alcoólatras maltratam terrivelmente seus filhos. As coisas não deviam ser assim. Sabemos que há um jeito melhor e um mundo melhor, como uma lembrança quase esquecida a qual nos agarramos. Então a pergunta é: Como nós vivemos no acampamento Terra? Existe meio de se ter uma vida saudável enquanto este adversário está rosnando para nos devorar?
Langdon Gilkey descobriu muita coisa sobre a vida sob pressão lá no Acampamento Shantung que eu acredito tem muito a nos dizer. Naquele pequeno modelo de mundo, logo se tornou muito claro quais valores realmente importavam e quais não importavam. Entre os internos amontoados naquele campo, havia homens e mulheres de posições e classes sociais amplamente diferentes: de industriais super ricos a trabalhadores comuns, de senhoras da alta sociedade a empregadas. Mas quando as pessoas passavam pelos portões do acampamento nada disso importava muito. A única coisa que contava era sobreviver. Isso significava que as pessoas tinham que colocar a cozinha para funcionar, tinham que limpar os vasos sanitários entupidos. Todos os símbolos de "status" se tornaram irrelevantes: dinheiro, laços de família, sofisticação e até a educação. Nada disso podia colocar um indivíduo acima de seu vizinho. O que importava era cada pessoa fazer o que lhe cabia para manter todo mundo vivo. Então, um presidente de companhia cortava legumes ao lado de um ex-viciado em drogas. Esposas ricas e mimadas tinham que levar o lixo para fora com ex-prostitutas. Todos os acessórios que os seres humanos normalmente acalentam foram postos de lado no Acampamento Shantung. Cada pessoa era um indivíduo que tinha que contribuir para o bem comum. Mas um tipo de valor fazia um diferença enorme naquele acampamento. Havia uma coisa que realmente distinguia os indivíduos, uma coisa que finalmente importava, e isso era o caráter moral.
No Acampamento Shantung, Gilkey percebeu que os valores morais e espirituais não eram apenas um boa opção; eram valores mais altos. Eles determinavam, mais que qualquer coisa, se os internos iriam sobreviver. Havia sempre o problema, por exemplo, de se arrumar espaço para todo mundo. Quando chegavam mais internos ao campo, tinha-se que arranjar espaço. Mas todos estavam insuportavelmente amontoados. Quem iria abrir mão de seu precioso espaço? Nessa situação de extrema pressão, eram somente aqueles dispostos a fazer sacrifícios pessoais que salvavam o dia. Sem eles, o campo teria se degenerado num infindável conflito por causa de espaço.
Durante os primeiros dias, as latrinas estavam entupidas e terrivelmente imundas. Alguém tinha que limpar aquela sujeira, mas essa era uma tarefa muito repulsiva! No final, foram vários missionários, com um pano amarrado à boca, que entraram nos banheiros para os limpar.
Havia o problema da justa distribuição de comida para pessoas famintas. Sem restrições morais, haveria infindáveis discussões quanto a quem se serviu a mais. Também havia uma grande tentação de se roubar certos produtos escassos de cozinha. Sempre se poderia justificar um pequeno furto dizendo que havia crianças famintas em casa. Sem valores morais e espirituais, aquele campo teria caído numa grande anarquia, com todos brigando por sua respectiva porção de alimentos. Homens e mulheres de total confiança foram escolhidos para presidir a preparação da comida e sua distribuição. Sua justiça era fundamental naquele mundo faminto e inseguro do Acampamento Shantung.
Um dos que melhor ilustrou os valores que mais importavam foi um missionário escocês chamado Eric Liddel. Ele foi descrito por outro interno como "sem dúvida alguma, a pessoa mais solicitada e mais respeitada e amada no campo." Uma prostituta russa mais tarde relataria que Liddel foi o único homem que fez alguma coisa por ela sem querer alguma coisa em troca. Logo que ela chegou ao campo, sozinha e desprezada, ele lhe fez umas prateleiras das quais ela muito precisava.
Numa nervosa reunião dos internos, cada um dos presentes exigia que o outro desse um jeito nos jovens irrequietos do campo que criavam confusão. Liddel sugeriu uma solução. Ele organizou esportes, artesanato e aulas para os meninos e começou a passar as tardes com eles. Mas ele não participava dos jogos aos domingos. Liddel guardava esse dia como sendo o dia sagrado do Senhor. Na verdade, ele era o ex-corredor mundial cuja história foi contada no filme "Carruagens de Fogo". Ele tinha sacrificado a medalha de ouro nas Olimpíadas de 1924 em sua modalidade favorita, os 100 metros rasos, porque a prova de qualificação estava marcada para um domingo. Embora pressionado por todos, desde o treinador ao Príncipe da Inglaterra, ele não cedeu. Ele não violaria um princípio pela glória olímpica. Então a equipe relutou mas o escalou para os 400 metros rasos, considerada um corrida de fundo naquela época. Liddel, sem outra opção, deu tudo de si naquela prova e ganhou o ouro.
Então, no Acampamento Shantung, ele disse aos jovens que sentia muito mas não podia participar de jogos aos domingos. A maioria protestou, e os rapazes decidiram organizar uma partida de hóquei por conta própria. Terminou numa terra de ninguém porque não havia quem os controlasse. No domingo seguinte, Liddel apareceu no campo para ser o juiz do jogo. Foi um ato pequeno mas jogou muita luz sobre seus valores. Ele não disputaria o ouro olímpico se tivesse que violar seu dia de descanso para isso, mas impediria que um grupo de jovens aprisionados brigasse.
O caráter de Eric Liddel era cativante e eloqüente. Ele não usava sua posição para dominar, mas a usava como uma expressão dos princípios mais importantes, valores que ele nutria cada dia que passava. Todo dia, às 6 da manhã, ele passava na ponta dos pés pelos companheiros que dormiam. Sentava-se a uma mesa chinesa baixa, acendia uma lamparina sobre sua Bíblia e a lia. O Acampamento Shantung jogou um faixo de luz no que realmente importava.
Amigo, será que os valores que contavam lá também são os valores que contam aqui no Acampamento Terra? Como podemos viver uma vida sã e saudável num mundo dominado por um leão devorador? A resposta é: agarrando-nos a valores morais e espirituais. Eles são o que conta. São tudo o que podemos levar conosco deste Planeta.
Em sua segunda epístola, Pedro fala sobre a segunda vinda de Cristo como um evento que separa o que é de valor supremo do que não é. Ele descreve os elementos se derretendo e o céu desaparecendo com furor e depois ele diz: "Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do dia de Deus" (II Pedro 3:11 e 12).
Qual é única coisa que importa, que realmente importa depois do Apocalipse? Vidas santificadas. Tudo mais é destruído, exceto nossa relação com Deus.
Todos aqueles símbolos de "status" varridos no Acampamento Shantung, também serão varridos na segunda vinda. Riqueza, posição, poder, contatos, não vão significar nada. A única coisa que vai importar é a qualidade de nossa vida com Deus. Isso é que é eterno. Isso é o que vai durar. O Acampamento Terra está se acabando, meu amigo, mas podemos trabalhar agora pelo que é eterno. Centralizar nossa vida em Jesus como Salvador e Senhor é a garantia de sermos parte do que é duradouro. Nós não seremos varridos com o que é temporário e superficial.
No Acampamento Shantung havia muito motivo para as pessoas se desesperarem. Longe de seus lares e sempre sob a mira das armas de seus inimigos. A pior coisa era a insegurança, entende amigo? Os internos nunca tinham certeza se teriam o que comer. Não podiam saber quando os guardas poderiam ficar agressivos. A possibilidade real de extermínio sempre pairava sobre eles. Com esse tipo de incerteza, era fácil para alguns mergulharem na apatia, sentirem-se vítimas indefesas. Mas uma coisa impedia que a vida perdesse seu sentido. Langdon Gilkey se recorda: "Havia um vívido significado que mantinha todos espiritualmente vivos: a esperança do fim da guerra". Os internos especulavam sem cessar sobre quando esse dia chegaria. Mas como Gilkey coloca: "Por mais distante que o grande dia parecesse com os anos se passando, seu brilho nunca se apagou. Nós vivíamos literalmente pela nossa fé nele. Então, tudo que tornava nossa vida ali negra seria retirado e todas as coisas boas de que sentimos falta nos seriam devolvidas".
Sabe amigo, nossa vida adquire sentido por uma esperança semelhante hoje. Ela nos mantém espiritualmente vivos. I João 3 fala do dia em que Cristo irá aparecer gloriosamente e nós O veremos tal como Ele é. Depois o apóstolo continua: "E qualquer que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, como também ele é puro" (I João 3:3).
A esperança de ver Jesus chegando triunfante para acabar essa longa guerra contra o pecado nos mantém lutando. Nós somos motivados a nos purificar, a abrirmos mão de distrações menores e a nos concentrarmos nos valores que realmente contam. Essa esperança é que dá sentido a cada dia que vivemos no Acampamento Terra.
Pois bem, na manhã de 16 de agosto de 1945 um menininho correu pelo Acampamento Shantung gritando que tinha vislumbrado um avião no céu. Todos os residentes saudáveis correram para o campo de esportes olhando para as nuvens. Lá estava ele! Do tamanho de uma gaivota, chegando pelas montanhas ocidentais. Enquanto o avião se aproximava, os 1.500 residentes que restavam sentiram que ele podia estar vindo buscá-los. Uma grande corrente elétrica parecia ter disparado naquela multidão. Alguns começaram a gritar: "Mas é um avião grande! Está quase tocando nas árvores"! À medida que o barulho da aeronave aumentava, alguém gritou: "Vejam! Tem a bandeira americana pintada na lateral! "E aí, num atordoamento incrédulo, vozes se agitavam: "Vejam! Estão acenando para nós! Eles sabem quem nós somos! Vieram nos buscar"!
Bem, nesse ponto a excitação era mais do que aqueles sobreviventes cansados e saudosos podiam conter. O pandemônio se instaurou. As pessoas corriam em círculos gritando com toda a força de seus pulmões, sacudindo os braços. Pessoas dignas começaram a abraçar outras com quem mal tinham falado durante dois anos. Mulheres e homens ingleses distintos não continham a emoção. Outros riam histericamente ou choravam como bebês. Langdon Gilkey relata o que sentiu: "Aquele avião era o nosso avião. Tinha sido mandado para nós, para nos dizer que a guerra tinha acabado. Era aquele toque pessoal, a garantia de que seríamos de novo incluídos no mundo mais amplo". De repente toda gritaria parou. 1500 pessoas engoliram em seco quando viram a porta do avião se abrir e de lá saltarem homens que começaram a descer lentamente em pára-quedas. Isso era demais para acreditar! Seus salvadores não viriam apenas qualquer dia. Eles viriam hoje, agora, para o meio deles! Essa descoberta explodiu como uma bomba na multidão e todos começaram a correr em direção ao portão do campo. Ninguém parou para pensar no perigo dos guardas armados, nas metralhadoras apontadas para eles das torres. Dois anos e meio de frustração, solidão e dor transformaram-se numa avalanche humana. Ela se espalhou pela estrada do campo, chegou ao portão da frente e o derrubou. Os guardas espantados só olhavam. A inundação de pessoas em êxtase que corriam e gritavam passou por um vilarejo chinês vizinho e chegou a um campo de milho. Os pára-quedas estavam descendo lá. Aproximando-se, Gilkey recorda, os soldados eram quase como deuses: altos, sadios, enérgicos. Afinal, tinham vindo das nuvens para salvá-los. Rapidamente inteirando-se da situação, o pára-quedista chefe pediu para ser levado ao campo, para que pudesse, segundo ele, "assumir o comando lá". Essa declaração casual levou os internos a outro rompante de excitação. Era um pensamento maravilhoso: "O inimigo não vai mais nos governar".
Então, aquela inundação humana carregando os pára-quedistas nos ombros e comemorando alegremente voltou ao acampamento e entrou no alojamento do comandante japonês. Bom, ele e os outros guardas se renderam sem resistência. A guerra tinha acabado. A liberdade tinha chegado. O mundo nascera de novo.
Amigo, essa é a esperança que podemos nutrir agora, no Acampamento Terra. Nosso Deus, nosso Salvador, vai descer das nuvens para nos salvar. Essa longa noite de tristeza e sofrimento vai desaparecer. Essa longa história de terror, da crueldade do homem contra o homem, finalmente vai cessar. A luta solitária e abatida num mundo dominado pelo pecado vai acabar. Vai haver júbilo no dia de Sua vinda. Haverá gritos de alegria quando percebermos: "Ele está chegando! Eu posso ver os anjos tocando suas trombetas"!
O som fica mais alto, a nuvem de glória mais brilhante e nós perceberemos: "Ele está me vendo. Ele sabe quem eu sou. Ele veio me buscar! "Sim, amigo, nós vamos querer correr, gritar e sacudir os braços. Vamos nos tornar uma inundação humana que será levada ao Filho de Deus. Vamos saber com uma alegria indescritível: Esse é o meu Deus. Ele vem me buscar. Não qualquer dia, mas hoje. Neste minuto"!
Meu amigo, eu quero de todo o coração estar lá. Quero estar olhando para cima, quero estar pronto para receber meu Salvador. Quero estar pronto para ir para casa. E você? Então junte-se a essa viva esperança, agora!
Pr. Vandeman
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