Santidade sempre é um tema bom para se discutir, propício para ser lembrado e necessário para viver nos dias de hoje. Mas – por infelicidade – é um assunto pouco citado num modus vivendi tão consumista, terreno, ambicioso e simplório que muitos crentes têm adotado.
Você conhece a expressão “politicamente correto”? Pois bem. No meio cristão, existe o “politicamente crente”. É aquela vida vivida no limite, na superfície, na normalidade. É o que muitos chamam de maturidade cristã: “já sou crente o suficiente para entrar nos céus e agradar a Deus”, argumentam.
O grande problema é que essa maturidade nem sempre é estável. Tudo que é maduro demais acaba apodrecendo. Crentes com 10, 15, 20 anos de Evangelho acham que – por estarem acostumados com a rotina cristã – já alcançaram o estágio final da fé e o amadurecimento necessário para não se dedicarem mais a uma consagração profunda e íntima com Deus.
Somado a isso, poucos se atentam àquele devocional pessoal, diário e disciplinado que todo crente que se preza faz. Não me refiro a um culto obrigatório, coercitivo e imposto, mas um momento de introspecção com Deus de forma voluntária, disposta e natural.
Alie-se também o fato de a santidade ser negligenciada nos dias atuais [em tempo, regras de português: o correto é “o fato de a santidade ser”, e não “o fato da santidade ser”]. Quando alguém jejua um pouco mais, o vizinho diz: “quer dar uma de santo”. Se alguém passa muito tempo orando, é chamado de “fanático”. Ir à igreja constantemente é sinônimo de ociosidade.
Em suma, buscar a Deus incomoda muita gente. Repito. Muitos se inquietam por ver outras pessoas querendo mais de Deus. Por quê? Porque, em tempos de exibicionismo, de farisaísmo e de ostentação, confunde-se o coração contrito com a chamada jactância impura, isto é, aquela forma de ensoberbecer para mostrar que Deus é mais Deus para este soberbo do que para o próximo.
A santidade do vizinho incomoda também porque se cria um sentimento repugnante que trata Deus como um produto único, que não pode ser “emprestado” para o próximo. “Meu próximo não pode usufruir a presença de Deus mais do que eu”, maquina o coração. Isso resulta na inveja maldosa, que não é simplesmente querer ter o que o próximo tem, mas na realidade é não querer que o próximo tenha algo (por exemplo, Acabe e a vinha de Nabote – I Rs 21).
Citemos, por exemplo, o fato de um grupo de adolescentes se reunirem para orar ou para estudar a Palavra de Deus visando uma futura pregação em algum culto. O que muitos pensam? “Esses adolescentes estão querendo aparecer”, “É mais um grupo querendo se exibir para o pastor”.
É claro que nem todos têm o objetivo de se dedicar a Deus. Mas, em tempos de promiscuidade, libertinagem e desprezo aos valores mais dignos, ser como Daniel tem sido difícil. A inveja corrói aqueles que querem a o estilo do “politicamente crente”. Em tempos de corrupção espiritual, é complicado agir como Samuel ante os filhos de Eli. É doloroso ter irmãos invejosos como os de José, o qual agradava ao seu pai em tudo o que fazia.
Portanto, se há um coração movido pela inveja da santidade alheia ou relaxado pela ilusória maturidade plena, lembre-se de que nunca é tarde para conhecer a Deus e prosseguir em conhecê-lo. Afinal, sem a santidade, ninguém o verá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário