Não existe verdadeira santidade à parte dos recursos que Deus colocou à nossa disposição. Se esses recursos não forem usados, qualquer tentativa de santidade não passará de mero legalismo religioso. A santificação deve ser buscada por todo crente sincero, pois sem ela “ninguém verá o Senhor” (Hb. 12:14). “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?” É a pergunta que faziam as pessoas que chegavam para o culto.
O Salmo 15 é um canto para a chegada das pessoas ao santuário. A resposta do versículo 2 em diante era dada pelo sacerdote. As pessoas queriam ser aceitas por Deus e por isso perguntavam pelos requisitos que alguém deveria apresentar para entrar e cultuar.
A pergunta revela uma preocupação do adorador para com Deus, que seria cultuado. Ele não queria entrar indignamente na presença do Senhor.
Como seria bom se cada um de nós pensasse na condição pessoal antes de adorar a Deus. Quantos de nós passaria no teste?
Habitar no tabernáculo do Senhor e morar no seu santo monte são formas para expressar o culto, a adoração, a presença reverente diante de Deus.
Estar na presença do Senhor era o maior desejo, mas o ideal era estar de forma santa. Quem é digno disso? Aquele que é santo, pois só pode morar no “santo monte” quem é santo.
É importante destacar bem a resposta que é dada à pergunta do v. 1. Em vez de uma lista de exigências dos rituais que envolvem o culto , é requerida uma reflexão mais profunda das motivações das ações. A consciência precisa ser examinada, para ver se os verdadeiros valores da fé em Deus são os que estão motivando nossas atitudes.
A vida de santidade tem um reflexo direto sobre a vida dos outros. Não se vive só para si mesmo, mas principalmente para Deus e para os outros.
A verdadeira santificação não é vivida só na igreja aos domingos e em dias de culto, nem somente nas orações particulares em casa, nem em jornadas de orações no meio das matas, nos montes ou em lugares desertos, mas também é vivida no dia-a-dia, com as outras pessoas, no emprego, na escola, nos ônibus aborratados, no trânsito congestionado, nos lares com pouco espaço, na família com problemas.
O verdadeiro desafio da santificação está no convívio com as pessoas, para as quais damos o verdadeiro testemunho de nossa fé. É por isso que o Salmo 15 fala em justiça, verdade, difamação, mal, afronta, etc. Todos se referem ao trato com o próximo.
Neste Salmo temos expresso o “amor ao próximo como a si mesmo” da lei. O amor a Deus neste Salmo é o mais importante, porém é o mais fácil de se mentir sobre ele. Em relação ao amor ao próximo, contudo, não há como apenas ficar nas palavras: é preciso agir; caso contrário, as palavras são mentirosas.
1. A vida de santidade se mostra numa vida íntegra (v.2)
A integridade é característica daquele que está com sua vida ajustada com o justo padrão da vontade de Deus revelada na lei.
A prática da “justiça” (v.2) é que dá esse caráter íntegro ao homem de Deus. O íntegro “fala a verdade” (v.2), ou seja, diz aquilo que é, não aquilo que parece ser. A integridade se revela no falar, pois ela exige que se diga o que é correto, o que é direito, não o que é conveniente.
Não esqueçamos de que devemos viver voltados para os outros e que somente em relação aos outros tem sentido vivermos de modo irrepreensível, em justiça e em verdade. Há pessoas que buscam somente a felicidade própria, sem respeitar o direito alheio. A vida de santidade deseja o bem-estar dos demais e o pleno fluir em todas as relações.
2. A vida de santidade se mostra também na busca pela paz no convívio (v.3).
“Não difama com a sua língua, nem faz o mal ao seu próximo, nem contra ele aceita nenhuma afronta” (v.3).
Difamar, fazer o mal e afrontar são atitudes destruidoras no convívio. Existem muitas pessoas que estão longe de Cristo e fora da igreja, por causa da maledicência, da calúnia e da “fofoca”.
Santidade exige um vida comedida nas palavras. Seria uma incoerência muito grande dizer-se santo e difamar os outros. A maledicência é a prova de que alguém está enganando a si mesmo e aos outros. O que começa com calúnia pode evoluir para uma atitude de tentar fazer o mal às pessoas. É comum encontrar pessoas que tentam prejudicar alguém, envolvendo outras pessoas no esquema maldoso.
A maldade pode tomar caminhos de afronta pessoais. Não é uma vergonha para os crentes quando há discussões e brigas entre eles? É sinal que a santificação está do lado de fora de suas vidas.
3. A vida de santidade se mostra ainda numa vida de comportamento consistente (v.4)
O versículo 4 mostra que o crente que vive a santificação sabe o que deve ser desprezado e o que deve ser aceito por ele, pois tem senso de juízo de valor.
Este versículo está muito próximo do ensino do Salmo 1, de que o segredo da felicidade está em escolher a Lei do Senhor como o melhor caminho.
A vida do crente deve ser consistente. Ele não deve ser levado como uma folha solta sob a ação do vento. Deve pensar bem nos compromissos que assume, pois deve assumir as responsabilidades e mesmo “com dano seu não muda” (v.4).
Quando percebe o erro, deve tratar de resolver bem o assunto, não dando prejuízo a ninguém. Tal pessoa sabe também a quem deve ser leal, aos “que temem ao Senhor” (v.4).
O Salmo 1 deve ser lembrado para nos advertir contra a tentação de sermos leais àqueles que nada têm com Cristo.
4. A vida de santidade se mostra também na maneira como agimos nos negócios (v.5)
O versículo 5 proíbe emprestar dinheiro com usura e aceitar suborno contra o inocente. O problema do empréstimo não está no “juro” propriamente dito, mas na cobrança abusiva e extorsiva, principalmente quando o tomador de dinheiro está em situação difícil.
Aproveitar-se da desgraça de outro é proibido na Lei ( “Ao teu irmão não emprestarás com juros, seja dinheiro, seja comida ou qualquer coisa que é costume se emprestar com juros... para que o Senhor te abençoe em todos os teus empreendimentos na terra a qual passas a possuir”- Dt.23:19,20; “Não receberás dele juros nem ganho; teme, porém, ao teu Deus, para que teu irmão viva contigo. Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás o teu mantimento por causa de lucro”.Lv.25:35-38).
Se confessamos a Cristo como Senhor e afirmamos que estamos buscando uma vida santa, e levamos uma vida desonesta nos negócios, estamos errados e precisamos corrigir nossa falsidade e levarmos a sério o nome de Cristo em nossas vidas.
Conclusão:
1. Devemos ter grande respeito quando chegamos até o Senhor para cultuá-lo.
Não se vai à Sua presença de qualquer maneira. Temos tido reverência diante de Deus, principalmente na Igreja? Não temos tratado os momentos de culto com desprezo, como se fosse qualquer momento da vida?
2. A santificação é um processo na vida cristão que depende de nossa participação
Precisamos dar abertura para que Deus, por meio do Espírito Santo, aja em nossas vidas. É preciso que sejamos obedientes à Sua vontade.
3. A santidade consiste não em uma lista de preceitos legais, mas em uma vida de plena dedicação a Deus.
Santidade não é somente perfeição moral, mas é dedicação total.
4. A santidade não é subjetiva, como se acontecesse só dentro de nós.
A mudança é interior, mas a conseqüência está no exterior, principalmente em nossas relações com os outros.
O Salmo termina com uma expressão de segurança para aquele que procura viver a santificação em sua vida: “Aquele que assim procede nunca será abalado” (v.5).
Willeam Campelo
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