“Baleias não me emocionam” é o título de uma crônica escrita por Lya Luft na revista Veja.
Assim que li tive uma imediata identificação, apesar de nunca ter possuído animais de estimação. Lya expõe com sensibilidade a valorização do ser humano e sua condição no mundo em oposição à valorização aos animais.
Assim como a cronista, eu preferia que todo esse zelo com os animais fosse feito depois de não haver mais crianças nos faróis, adultos famintos dormindo nas ruas, famílias inteiras morando embaixo de pontes ou adolescentes morrendo drogados nas calçadas.
Hoje, muitos se comovem mais com cães abandonados do que com moradores de ruas; mendigos se tornaram tão comuns a ponto de ficarem invisíveis, enquanto os animais não se cansam de ganhar fiéis protetores e ONGs pelos quatro cantos da Terra.
Que os mais entusiastas da causa não me interprete mal, sou sim a favor de proteger e cuidar dos animais; o que está em pauta aqui é o excesso.
Após muitas observações pude constatar que o apego aos animais tem crescido de forma assustadora, beirando a idolatria. Essa reflexão ganhou força após ser testemunha de um episódio dantesco.
Há pouco tempo em uma cidade do interior presenciei um cachorro latindo muito próximo a um motoqueiro dificultando assim a sua passagem, um homem que estava por perto jogou algumas pedras na direção do cão para afastá-lo, uma típica protetora dos animais chamou a atenção desse homem por atacar o pobre cão, o homem justificou sua atitude explicando-lhe que o cão estava atrapalhando o motoqueiro passar, a tal protetora retrucou: - Deixa ele.
Ficou evidente a inversão de valores ser humano x animais. Esse “deixa ele” pareceu-me um” dane-se”, afinal o bem estar do cãozinho está acima do bem estar do homem, a protetora pareceu não se importar a segurança do piloto e com a hipótese de um possível acidente.
Minha indignação diante de tal fato assume a forma de uma questão: quando foi que a vida do ser humano se banalizou?
Vejo inúmeras reportagens em TV, jornais e revistas sobre o cuidado com os cães, eles tem salão de beleza, supermercado, festa de aniversário, alguns donos chegam a gastar mais de R$ 1.000,00 por mês com seu bichano, que o diga um certo jogador da Vila Belmiro, é vergonhoso mencionar os mimos extravagantes que alguns recebem.
Como aceitar o gasto de R$ 1.000,00 com um animal quando a maioria da população mundial vive com menos de um dólar por dia?! E a grande miséria brasileira?
Já tive também o desprazer de conhecer alguém cujo pai vivia em cima de uma cama doente e sempre que precisava comprar remédios para o pai reclamava do dinheiro gasto, mas quando levava seu animal de estimação ao veterinário apresentava um ar de alegria e satisfação por atender as necessidades (?!) do cão, saindo da clinica repleto de biscoitinhos caninos e exibindo a bela tosa que lhe havia sido feita.
Evidentemente a higiene do seu animal lhe trazia maior contentamento do que os remédios para o progenitor.
Será que a coroa da criação sobreviverá ao Planeta dos Cachorros?
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