Não sou doutor em educação, muito menos formado em pedagogia; contudo, tenho vivido uns poucos anos na área, talvez o suficiente para registrar aqui, a minha indignação quanto ao modelo pedagógico do nosso atual Sistema Educacional de Ensino. Assim, mesmo não lidando com alunos diretamente na educação escolar mas, por ter ligação com questões disciplinares que faz parte do meu cotidiano profissional, oito horas do dia, lado a lado dos mesmos, resolvi retratar minhas experiências, procurando entender e buscar soluções que ajudam amenizar esse problema. Vejo que é possível reverter esse quadro que adentra os portões escolares, as salas de aulas, os professores, direção, coordenação e funcionários e que, se não houver uma mudança radical, num futuro bem próximo, perderá todos os seus princípios e valores, metas e objetivos.
Quero também, protestar contra as arbitrariedades nas escolas e exigir melhores condições de ensino! Questionar a escola, tira dela a autoridade? Claro que não! Posso escolher o Presidente da República, mas não posso manifestar-me contra os gestores da escola onde trabalho? Estranha essa democracia brasileira, não acham? Nesse país continua-se a educar mal. Confunde-se autoritarismo com autoridade. A escola continua profundamente autoritária e por vezes hipócrita. Ah! A disciplina na escola: Educação ou repressão? Sim, porque há muito tempo venho notando certo ranço de autoritarismo nas escolas por onde passei... Um lugar que tem por direito ser democrático e de todos mas que alguns gestores se acham verdadeiros proprietários das unidades que administram. Às vezes, quando um prefeito municipal escolhe a dedo uma simples professorinha de nível “primário” para dirigir uma escola, esta olha pelo espelho ou para o seu nariz, ao ponto de fazer daquele espaço, um quartel do exército, dos tempos da repressão militar! Não é um poço de autoritarismo? Eis a personificação da soberba! Quero crer que não há verdugos por vocação. Há, os de ocasião.
Querem saber quem são os autoritários da escola moderna? São aqueles que dizem aos funcionários: _ Entre EU e você, há uma grande diferença! Para chegar ao MEU nível, você precisa estudar muito! Portanto, EU de cá, você de lá! Você aí, e EU aqui!. Discriminação? São os professores que oprimem seus alunos legitimando a cultura do silêncio na sala de aula, gritando: _Calem a boca! Muitos professores não sabem dialogar e tratam os alunos de forma quase desumana, ameaçando-os com faltas disciplinares, realçando que têm faltas quando chegam de manhãzinha, cinco minutos atrasados à sala de aula (e esse recado não deveria ser para os pais?). Mas eles, nem todos, são os primeiros a não cumprir alguns dos seus deveres.Também chegam atrasados! Também ficam na sala dos professores mais uns minutos na conversa! Muitos alunos murmuram: é uma injustiça! Que adianta, nesta escola em que os direitos são dos professores e os deveres são dos alunos? Como vamos chegar lá, num país onde o professor decepa a ponta do dedo de uma criança; chama o aluno de “anta”, “nojento”? Grita alto e em bom som dizendo que detesta os alunos!. Pratica agressão verbal e física com aquiescência das autoridades; enfim, agentes de um sistema autoritário e corrupto, a verdadeira causa do fracasso da nossa educação e da famigerada evasão escolar! Chega de manhã ao prédio, assina o ponto, distribui tarefas aos funcionários e sai de mansinho..., para passar o dia nas praias de Ubatuba! Depois que o superior permite ao funcionário fazer a refeição na escola, uma educadora de “nível primário”, dando aulas para o prezinho, diz: _Aqui, não vai comer! Eu não quero! E se auto-proclama, a poderosa! Santa arrogância! E as reuniões com funcionários marcadas para depois do expediente? Se não participar, leva falta! Ora, desde quando o tempo pós-expediente do funcionário deve ficar refém ou à mercê do horário que a escola adotar?
Autoritário é aquele gestor que, na reunião, diz na frente de todos:_ Eu não quero saber se aqui tem funcionário com problemas de pressão alta ou doente! O negócio aqui é trabalhar! E mais ainda, quando os pais vão à escola, têm que levar apenas o ouvido e não a boca; (aliás, esse é o melhor comportamento de um pai ou uma mãe, para uma direção autoritária).
Quantas e quantas vezes o aluno tem suspensão por pura “bobagem”, e ainda os pais são “obrigados a irem à escola, senão o filho não entra na sala”. Não querem saber se eles estão trabalhando, se vão perder o dia de trabalho, se estão doentes, se moram longe... E, quando os pais desconfiam da atuação do professor ou do diretor em relação ao comportamento do filho, aí o tempo fecha! Embora fale muito da integração da família na escola, muitos diretores ficariam muito felizes se os pais fossem nas reuniões e ficassem calados só ouvindo propaganda da escola, que não tem nada a ver com a realidade. (por sorte alguns pais já sabem dessa realidade e nem aparecem por lá).
Imagine a cena: a mãe da criança ou do adolescente escuta os detalhes que a diretora apresenta com palavras mágicas pedagógicas, dando maior lição de moral, como se a filha dela fosse o maior exemplo do mundo. Entretanto, pega somente a informação do professor que foi destratado e, toma isso como verdade inquestionável. Pronto! A mãe, para deixar a diretora satisfeita, avisa o pai e pede para ele dar uma surra bem dada no filho, porque a verdade e a sentença já foram dadas. Logo pergunto: - O que esta escola ensinou? Ensinou o filho a odiar a própria escola e não ir lá nem o pai e nem ele. O melhor remédio é a rua; é muito mais acolhedora. É por isso que nenhum aluno avisa o pai sobre seu comportamento na escola; esse aluno não é ouvido, nunca.
Quero falar do Grêmio. O grêmio na escola é uma enganação sem tamanho, pois quando se elegem, imediatamente o gestor dá as cartas de como deve ser seu funcionamento. Isso vale para prefeito e sindicato. Logo, vai se criando uma bolha linda e sustentada pela imprensa que, nunca foi numa escola entrevistar alunos. Esses não têm sindicato, pois o “Grêmio” simplesmente, NÃO EXISTE!.
Há gestor autoritário de escola que sufoca as diferenças e adora bajulação, tipo: A nossa chefe chegou, a mãe chegou; Chefe você vai deixar a gente sair mais cedo hoje? Mãe, quer que eu limpe a sua sala? Nossa que roupa linda, que sapato, é escarpam? Maravilhoso! Que pulseira! Adorei seu corte de cabelo! Há gestores de escola que se perder o cargo de direção e voltar para a sala de aula é a morte! Fez PEDAGOGIA para sumir da sala de aula! Adora o cargo, dá STATUS e com ele tem PODER para inventar moda e, claro, quem tem que cumprir é o burro de carga, o professor, que insiste em dizer que devem ser unidos, formar uma família, uma equipe, onde? Na China? Utiliza do cargo para ter status, poder, e em último lugar para servir ao aluno. Aluno bom é aluno com a boca fechada; ladrão bom é ladrão morto, e aí vai. Claro que isso não se aplica a você, gestor exemplar.
Não vou mais alongar-me nestas recordações incômodas. Autoritarismo está ligado a arbítrio e a práticas antidemocráticas e anti-sociais. Autoridade ao contrário, refere-se a uma prática pró-social, que tem como objetivo levar o ser humano a perceber as normas colocadas pela sociedade, a julgar sua legitimidade e a avançar no sentido de tornar mais humana e mais democrática a vida em sociedade. A visão autoritária tende a utilizar o medo como forma de manter o controle. As regras são impostas aos alunos, às famílias e aos funcionários, no sentido vertical, de cima para baixo, como um pacote fechado, um decreto do governo, como no tempo da ditadura, que precisam obedecer cegamente. Quando a obediência não ocorre, estabelece-se uma punição
Concluindo: (Escola desvalorizada, sistema educacional de má qualidade).
Falta democracia no Sistema de Ensino! Uma gestão não-autoritária, verdadeiramente participada e não imposta! Uma gestão democrática! Resgatar o papel da escola, do professor e do gestor no século XXI. A escola é o espaço em que crianças e jovens aprendem não apenas um conjunto de conteúdos curriculares, mas também pautas de sociabilidade e comportamento cidadão. A escola tem a função de facilitar o processo de socialização do indivíduo e para cumprir com essa função numa sociedade democrática a escola tem que educar para o exercício da democracia. Não há como ensinar crianças e adolescentes a exercer a democracia em um processo de ensino-aprendizagem autoritário, em uma vivência autoritária. A minha sugestão é de que os educadores precisam olhar para fora da janela, esquecer um pouco do giz e livros e se mostrarem mais humanos; precisam procurar dentro de si mesmos e buscar respostas como se fossem para si próprios, a forma que gostariam de estudar, de que maneira gostariam de participar, pois a maioria deles descarta sua própria culpa no desenvolvimento do autoritarismo na escola.
Presbítero Maurício
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